A cidade-base para conhecer o Parque Nacional da Serra das Confusões é Caracol, no sudeste do Piauí, distante 87km de São Raimundo Nonato por estrada asfaltada em bom estado.
O parque dista 17km da cidade de Caracol por estrada de terra precária. Um carro comum (Corsa, por exemplo) consegue chegar à guarita do parque mas não consegue seguir em frente. Daí em diante é preciso seguir a pé ou em veículo 4x4. Há guias que não aceitam ir ao parque de moto pois a grossa camada de poeira dessa estrada torna a viagem uma aventura bastante arriscada.
O parque é atravessado por uma estrada aberta a picareta que liga Caracol a Cristino Castro e há camionetes "de linha" (paus-de-arara) com tração 4x4 que fazem esse percurso, cruzando o parque. Porém a entrada com fins de visita é controlada pelos vigias da guarita do lado de Caracol (e, segundo me disseram, por outra guarita do lado de Cristino Castro) e o acompanhamento de um guia é obrigatório. Quem quiser arriscar passar pelas guaritas com a maior cara de turista dizendo que só vai atravessar o parque, depois me conte como foi a experiência.
O Serra das Confusões era o maior parque nacional da região nordeste (com área três vezes maior que o segundo colocado) até a criação em 2002 do Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba. Segundo o site do Ibama, o parque tem esse nome curioso pelo fato de a paisagem mudar de configuração de acordo com a iluminação do dia.
(Todos os preços são de julho de 2008)
O guia pode ser contratado em Caracol através da Associação dos Condutores do PN da Serra das Confusões (ACOPANASC).Os roteiros disponíveis são:
1. Zona de uso intensivo:
. Andorinhas
. Mirantes do Sertão
. Gruta do Riacho dos Bois
. Olho d'água escondido
valor do serviço de condução: R$20,00
(possível fazer a pé a partir da guarita de Caracol)
2. Zona histórico-cultural (trilhas e sítios arqueológicos)
. Toca do Enoque
. Toca do Muquem
. Toca das Andorinhas
valor do serviço de condução: R$30,00
(necessário carro 4x4)
Normas da associação:
. A visitação será viabilizada de segunda-feira a domingo
. O horário de visita se estenderá por todo o dia a critério do visitante, não sendo permitido pernoite
. Número de visitantes por condutor: 15 pessoas
. O tempo de duração de cada visita será de 6 horas
. Em caso da visita ultrapassar o tempo de 6 horas, o preço do serviço será majorado em R$10,00 a cada hora excedente (observação minha: o preço do condutor é perfeitamente negociável)
. O transporte do condutor ficará por conta do visitante
Ibama em Caracol: 89-3589-1208
Em Caracol há quatro hotéis/pousadas bem simples e um restaurante.
1. Pousada Caracol (89-3589-1132):
R$20 com banheiro e café
(me disseram que era a melhor da cidade)
2. Pousada Recreio (89-3589-1167):
R$10 com banheiro, R$8 sem banheiro e R$5 o café
(quartos pequenos e o dono nada simpático)
3. Hotel São Bento (89-3589-1219):
R$10 sem banheiro e R$6 o café
(fica na própria casa da família)
4. Pousada do Valdir (89-3589-1120):
R$10 com banheiro e R$5 o café
(quartos enormes e atendimento muito bom)
Abaixo faço um breve relato da minha visita ao parque:
Em primeiro lugar gostaria de falar da dificuldade que foi chegar até esse parque. Antes da viagem, eu consegui muito pouca informação nos guias impressos e virtuais e nos fóruns de viagens. Na internet os poucos relatos eram de aventureiros que tinham chegado ao parque de bicicleta ou veículo 4x4, o que não era o meu caso. Eu estava indo sozinho e sem carro. Em Teresina e São Raimundo Nonato perguntei para muita gente e cheguei a fazer um contato com o diretor do parque em Caracol, que não me deu muita esperança de conhecer o parque nas condições em que eu viajava. A solução veio muitos dias depois, no contato telefônico com o guia Agnaldo (89-3589-1360), de Caracol, que foi o primeiro a me dizer que a visita ao parque já estava organizada, que havia uma associação de condutores com uma tabela de preços e dois roteiros básicos, e que havia carro para frete em Caracol . Só então fui até lá para conversar pessoalmente com o diretor do parque e negociar com o Agnaldo os preços do serviço dele e do frete do carro para me levar até o parque.
30/07/2008 - qua - de São Raimundo Nonato a Caracol
Há vans e apenas um ônibus por dia de São Raimundo Nonato a Caracol. Peguei a van (R$10) das 12h30 e cheguei a Caracol às 14h45, após uma longa parada no caminho. Esse trecho da estrada foi asfaltado há vários anos e está em boas condições. O problema são os jegues, cavalos, vacas e cabras que perambulam soltos nela. Pesquisei o preço das pousadas da praça central e acabei me hospedando na pousada do Valdir, perto do mercado municipal, onde a relação custo/benefício era bem melhor (R$10 a diária sem café, com banheiro no quarto). Fui em seguida conversar com o diretor do parque (o Júnior, que substituía o Mitinha, de férias) para saber das condições de visitação e se algum carro do parque estaria indo no dia seguinte para lá e se poderia me dar uma carona. Infelizmente não havia nenhum. Só me restou negociar com o guia Agnaldo o preço de uma camionete para nos levar e depois buscar no fim da tarde. O melhor que consegui foi R$60 bastante caro para quem estava viajando sozinho. De moto poderia sair mais barato porém ele desaconselhou pois a estrada de Caracol até o parque é de terra e tem uma grossa camada de pó que encobre valetas traiçoeiras. O preço do seu serviço de guia para o roteiro número 1 ficou em R$40 (para o dia todo). Ou seja, a brincadeira ficaria em R$100. Como eu não tinha mais ninguém para dividir, mesmo estando em pleno mês de férias, era pegar ou largar. Decidi pagar.
A distância de Caracol ao parque nem é tão grande, 17km, porém o acompanhamento de um guia é obrigatório e há guarita na entrada do parque para controlar isso. Nenhum guia vai querer fazer esse percurso a pé. O melhor mesmo é ter outras pessoas para rachar a despesa do carro (ou de um carro alugado). Ou ter muita sorte de conseguir uma carona.
31/07/2008 - qui - conhecendo o parque
O motorista passou na pousada às 6h30, quando ainda estava bem frio (sim, por incrível que pareça faz frio nessa cidade do Piauí à noite e de madrugada). Pegamos a tal estrada de terra que vai para Guaribas e depois desviamos para a direita. Chegamos à guarita do parque às 7h15, onde há uma cancela e um funcionário. Não é cobrado entrada. Carros comuns costumam ir só até essa guarita. A camionete seguiu um pouco mais e nos deixou antes do areião. Caminhamos um pouco e chegamos ao trecho da estrada que foi aberta a picareta na rocha. Dali o visual da planície logo abaixo e das serras ao fundo já é impressionante. Descemos por essa estrada, subimos e descemos algumas das elevações rochosas para tirar belas fotos e chegamos a uma nascente, algo raro de se ver na caatinga. Dali subimos de volta um pouco e fomos conhecer o atrativo mais famoso do parque, a Gruta do Riacho dos Bois. A entrada dela fica bem escondida e é preciso descer o barranco rochoso por escadas fixadas nas paredes, porém o local não é tão preservado quanto se espera pois já foi ponto de reunião dos farofeiros da região antes da criação do parque nacional. Há muitas pichações na entrada, uma delas ironicamente clamando "Preserve a natureza". A gruta é na verdade um cânion muito estreito em que o teto se fecha em certos trechos e se abre em outros formando clarabóias. Nos trechos escuros é necessário ter uma lanterna para não tropeçar nas pedras e para desviar dos sapos. Há uma grande quantidade de andorinhas também, que ficam muito agitadas ao sentirem nossa presença. Fomos até o local batizado de Jardim, uma área aberta maior onde árvores bem altas cresceram.
Voltamos até a entrada da gruta e fomos conhecer o Olho d'água escondido. Caminhamos por um leito seco de rio por cerca de 45 min e chegamos a essa bela nascente, que forma um poço de água verde e transparente.
Retornamos novamente até a entrada da gruta, onde havia um ruidoso grupo de adolescentes, e começamos a cansativa volta à guarita do parque, num horário em que o calor estava insuportável (13h30). Foram só 3km da gruta à guarita, porém o sol escaldante multiplicou por dez o cansaço.
Recuperamos as forças à sombra da casa que serve de abrigo aos funcionários do parque e às 14h40 fomos conhecer o local chamado de Andorinhas. Uma trilha começa bem junto à cancela e penetra na vegetação viçosa, onde encontramos maracujás e cajus maduros e suculentos. Com uns 40 min de caminhada já é possível ver novamente a morraria rochosa que compõe a paisagem típica desse parque, agora por outro ângulo. O nome do local guarda semelhança com o Baixão das Andorinhas do Parque Serra da Capivara pois é aqui que esses pássaros fazem seus ninhos e se recolhem no fim do dia. Infelizmente faltava muito tempo ainda para o pôr-do-sol e tive de me contentar com fotos só da paisagem.
Às 17h estávamos de volta à guarita, onde o motorista da camionete já nos esperava.
No retorno à cidade, fizemos uma breve parada numa casa de farinha para ver de perto o processo de transformação da mandioca-brava, plantada ali ao lado, em farinha.
À noite, jantei (R$8) e voltei logo em seguida à pousada porque estava um pouco frio para caminhar pela cidade.
01/08/2008 - sex - de Caracol a São Raimundo Nonato
A van (R$10) saiu de Caracol às 7h25, depois de percorrer todo o centro e periferia para pegar passageiros em suas casas, e chegou a São Raimundo Nonato às 8h50. Tomei o café da manhã na Pousada Zabelê (R$5) e parti às 11h no ônibus da Gontijo para Salvador (R$88,50).
O link das fotos não abre =/
ResponderExcluirOi, Lindemberg!
ExcluirPois é, infelizmente o site Multiply saiu do ar já faz muito tempo. E esse relato já tem mais de 10 anos também... precisa ser revisado.
Boas trilhas!
Abs