domingo, 18 de novembro de 2012

Parque Estadual da Pedra Azul (Domingos Martins-ES) - set/12

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Pedra Azul e Pedra do Lagarto

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/1165318991 ... insESSet12.

O Parque Estadual da Pedra Azul é um parque bem organizado e estruturado, ao contrário de muitos que já visitei. Ele tem portaria, um pequeno centro de visitantes, agendamento de visitas por telefone e e-mail e acompanhamento obrigatório de um monitor do próprio parque. É administrado pelo governo do estado do Espírito Santo através do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) e está localizado nos municípios de Domingos Martins e Vargem Alta. É bem pequeno e foi criado em 1991 para proteger um conjunto de formações rochosas de granito e gnaisse em que se destaca a Pedra Azul, de 1822m de altitude.

A visita é gratuita e ocorre apenas aos sábados, domingos e feriados, com duas saídas para caminhada por dia, às 9h e 13h30. O agendamento é obrigatório e deve ser feito pelo telefone (27)3248-1156 ou pelo e-mail pepaz@iema.es.gov.br.

As trilhas são:
. trilhas da base da Pedra Azul: Trilha do Cedro Sentado, Trilha da Pedra Azul e Trilha do Lagarto (mais duas trilhas de retorno ao centro de visitantes)
. Trilha das Piscinas, que é uma trilha de subida ao "ombro" da Pedra Azul, feita com grupos menores

O circuito da base totaliza meros 1,8km e a subida até as piscinas tem apenas 330m de extensão, com desnível de 87m. O número máximo de pessoas por grupo é de 25 para a trilha das piscinas naturais e de 40 para as trilhas da base.

Apesar de o parque estar quase todo dentro dos limites do município de Domingos Martins, a sede do município fica a 54km do parque, portanto não é a melhor opção de hospedagem, principalmente para quem está sem carro e precisa estar no parque para a caminhada das 9h. Há algumas opções de hospedagem na estrada que leva ao parque (Rota do Lagarto), porém todas muito caras. Na vila de Pedra Azul, a 3km do parque, há hospedagem um pouquinho mais em conta, com pacote de fim de semana a partir de R$340 para casal. A opção de hotel mais barato mesmo é na cidade de Venda Nova do Imigrante, a 18km do parque e ligada a ele por seis horários diários de ônibus (veja abaixo).

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Piscinas Naturais

Cheguei a Venda Nova do Imigrante numa sexta-feira de garoa e neblina que me privou da vista panorâmica da Pedra Azul a partir da rodovia BR-262. Havia contatado o parque de manhã e a funcionária disse que a agenda de visitação estava lotada por várias semanas, porém para eu tentar ir ao parque assim mesmo pois com o mau tempo poderia haver muitas desistências de última hora.

Para minha sorte, o sábado amanheceu espetacular, com sol e céu limpo. Peguei o ônibus da Águia Branca das 6h50 (R$1,57) e saltei em frente ao Restaurante Peterle's (km 88) às 7h40 (ele fica 2km depois da vila de Pedra Azul). Segui pela estreita estrada à direita do restaurante, a chamada Rota do Lagarto, passei pela sofisticada Pousada Pedra Azul e cheguei à portaria do parque às 8h07. Até ali é um percurso de 2km que pode ser feito de carro, porém da portaria ao centro de visitantes todos têm de encarar uma subida de 750m que já leva alguns ao infarto agudo do miocárdio (rs). Fui o primeiro a chegar, só o vigia estava lá. Depois foram chegando alguns casais, o monitor e depois das 9h um grupo enorme de uma excursão de igreja. Eu e mais alguns fomos até lá sem ter conseguido agendar, mas o monitor separou o grupo maior para fazer só o circuito da base, e assim consegui fazer a caminhada completa, inclusive a Trilha das Piscinas, que é a que realmente vale a pena.

Iniciamos por volta de 9h30 pela Trilha do Cedro Sentado (1273m de altitude) e o ritmo foi bem lento, com o monitor fazendo várias pausas para explicações. Paramos um pouco numa pedra-mirante para fotos e dali saía à direita a Trilha do Lagarto, que leva à Pedra do Lagarto e ao Mirante do Forno Grande, mas infelizmente não pudemos fazê-la pois estava em manutenção. Continuando o passeio já estávamos na chamada Trilha da Pedra Azul e com apenas 100m pudemos tocar a parede da enorme pedra. Acompanhamos a parede até uma bifurcação com banco para todos descansarem da extenuante caminhada às 10h38. Ali termina a Trilha da Pedra Azul e começa a Trilha das Piscinas, à direita e à esquerda: à direita subindo para elas e à esquerda descendo para o centro de visitantes. Já num grupo reduzido, tomamos a direita e às 10h45 começamos a subir o ombro da Pedra Azul por uma corda fixa de 70m para pegar a continuação da trilha mais acima. Chegamos às piscinas em poucos minutos (1448m de altitude) e alguns se atiraram imediatamente na água. Dali o visual é bem interessante, com a vila de Pedra Azul e a rodovia BR-262 bem abaixo, ao norte, e a Pedra das Flores mais acima, a sudeste. Voltamos pelo mesmo caminho, descemos pela corda fixa, e na bifurcação do banco fomos para a direita, chegando ao centro de visitantes, início da caminhada, às 12h05.

Desci até a portaria do parque e tomei a Rota do Lagarto à direita para voltar à rodovia. Logo passou um casal que fez a caminhada comigo e me deu carona até a BR, onde esperei o ônibus para descer até Domingos Martins a fim de visitar a cidade e preencher o restante do dia.

O circuito da caminhada no parque totalizou 3km. A distância do ponto do ônibus na rodovia BR-262 ao centro de visitantes do parque é de 2,8km.

Informações adicionais:

O site oficial do parque é www.meioambiente.es.gov.br/defau ... gina=16711, mas uma fonte bem melhor de informações é www.pedraazul.com.br/user/?id=28.

O plano de manejo do parque está em www.meioambiente.es.gov.br/downl ... Manejo.pdf (26,73 MB).

Horários de ônibus de Venda Nova a Marechal Floriano passando pelo restaurante Peterle's:
empresa Águia Branca (www.aguiabranca.com.br):
seg a sáb (inclusive feriado): 6h50, 7h45, 11h45, 13h50, 14h20, 16h30
dom: 6h50, 11h45, 14h20, 16h20, 16h50, 17h35, 17h45

Hospedagem mais barata em Venda Nova do Imigrante:
1. Hotel Canal - Avenida Ângelo Altoé, 214 (marginal da BR 262, km 103) - fone (28) 3546-1322
R$25 com café e WC no corredor, mas tem também apartamentos

2. Hotel Esmig - Avenida Ângelo Altoé, 920 - fone: (28) 3546-1213 e 3546-2842 (www.hotelesmig.com.br)
R$45 com café e WC privativo

Carta topográfica de Conceição do Castelo (http://biblioteca.ibge.gov.br/visualiza ... A-II-4.jpg).

Rafael Santiago
setembro/2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Trilhas em Santa Maria Madalena (RJ) - set/2012

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/1165318991 ... enaRJSet12.

Em Santa Maria Madalena (RJ), depois de caminhar pelo Parque Estadual do Desengano (http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2012/11/parque-estadual-do-desengano-santa.html), explorei três trilhas catalogadas no guia "Trilhas - Parque Estadual do Desengano", o qual pode ser adquirido pela internet ou baixado do site www.inea.rj.gov.br/publicacoes/publicacoes.asp.

TRILHA DA PEDRA DUBOIS

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Pedra Dubois

Mal pisei na praça da igreja matriz de Santa Maria Madalena vindo do Parque do Desengano e já tomei a direção da Pedra Dubois (lê-se diboá), montanha bem próxima à cidade, com intenção de acampar no seu cume. Eram 15h e a altitude na praça é 598m. Peguei a Av Francisco Fajardo Rodrigues, que passa em frente ao Horto, e depois dele entrei na primeira rua à direita, Rua Dr Manoel Verbicário, passando pela Pousada Itaporanga. Subi a ladeira até o fim do bairro tendo visão da pedra e na curva que a rua fez à direita o asfalto terminou e já entrei na zona rural. Bastou seguir em frente que a estrada terminou no grande portão da Fazenda Diboá às 15h34. Não cruzei o portão, em vez disso entrei por uma passagem estreita à esquerda dele e comecei a caminhar pelo pasto por uma trilha bem marcada. Atravessei uma cerca por um colchete e depois dela não há uma trilha certa, ora há diversas trilhas variantes ora não há trilha nenhuma, mas o sentido é óbvio, basta acompanhar a cerca que sobe diretamente para a mata em frente. Eu precisava de água mas subi esse pasto por caminhos que me desviaram de um riachinho que só encontrei na volta. Segui a cerca de perto e cruzei-a às 15h56 num ponto em que havia uma abertura nos arames e do outro lado uma trilha que atravessava o pasto e subia para sudeste na direção da mata que recobre a crista de acesso à pedra. Entrei nessa mata e encontrei a trilha bem marcada que sobe pela crista para a esquerda (norte/nordeste). Às 16h50 uma rampa de pedra bem íngreme e escorregadia foi o único ponto de atenção nessa subida.

Quando atingi os 1138m de altitude achei que já estava quase no cume e estranhei a trilha começar a descer. A explicação veio quando a mata se abriu um pouco e à minha frente surgiu o enorme rochoso do cume. Ainda faltava subir muito e a parede parecia ser íngreme demais e arriscada. Desci até ficar frente a frente com a parede e vi que não era tão perigoso. Deixei a cargueira ali e comecei a subir por canaletas que davam segurança no caso de queda. Depois vieram rampas de pedra mas sem risco também, era só ficar atento onde pisar. E assim cheguei aos 1227m do cume da Pedra Dubois às 17h32. A visão é de 360º, espetacular, com a cidade a sudoeste e o Parque do Desengano no lado oposto, a nordeste. Todos os picos do parque estavam sob uma espessa e escura nuvem. Lá embaixo a sede da Fazenda Diboá. Havia ótimo espaço para a barraca, mas era impossível acampar ali por causa do vento. Desci rapidamente de volta pois o dia já findava, peguei a mochila e voltei até um ponto mais plano da trilha, onde montei a casa.

O dia seguinte amanheceu com sol e céu bem limpo. Desarmei acampamento bem cedo e às 7h30 já estava subindo de novo o cume para uma visão ainda mais bonita da paisagem. O parque estava ensolarado também, porém uma grande nuvem cobria o topo da Pedra do Desengano. Às 7h55 comecei a descer pelo mesmo caminho da subida. Atravessei a mata, o pasto, cruzei a cerca e resolvi tomar uma trilha mais à direita, me afastando um pouco da cerca, e foi aí que encontrei água. Às 9h44 passei pelo colchete e vi a pedra ser quase toda tomada pela neblina, provando mais uma vez a inconstância do tempo por aqui.

Caminhada de 10,4km, ida e volta, a partir da praça da matriz. Desnível de 629m.

TRILHA DO MORRO DO CRUZEIRO

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Santa Maria Madalena vista do Cruzeiro

Nesse mesmo dia, deixei a mochila na pousada e fui explorar a trilha do Morro do Cruzeiro, roteiro nº 3 do guia "Trilhas - Parque Estadual do Desengano". Às 12h10 tomei novamente a rua que leva ao Horto, Av Francisco Fajardo Rodrigues, e depois da curva para a direita subi a primeira rua à direita, entrando num bairro mais pobre. Contornei o campo de futebol e subi até as antenas de telefonia, bem visíveis. À direita delas, peguei um atalho para chegar à rua de cima e subi mais 130m para entrar numa trilha meio escondida do lado direito da cerca de uma casa, exatamente onde a rua quebra para a esquerda. Acompanhei essa cerca por 120m e entrei numa trilha que penetrou a mata que estava à minha direita. Nas bifurcações tomei sempre a direita até que encontrei a cerca-limite entre a mata e o pasto. Dali há uma bonita vista para a Pedra Dubois. A trilha desaparecia na mata, mas continuava do outro lado, no pasto. Cruzei a cerca por baixo e subi bem junto a ela por 140m, quando há uma bifurcação. O ramo da esquerda continua pelo pasto até desaparecer, mas o certo é ir para a direita nessa bifurcação, passando por baixo da cerca novamente e reentrando na mata. Mais 70m e chega-se ao Cruzeiro, com bonita vista do centro da cidade e da praça da matriz (835m de altitude). Eram 13h39. Mas o roteiro continua, teoricamente até sair num outro pasto e voltar à praça central, fechando um circuito. Após algumas fotos, continuei caminhando, porém à medida que desço a trilha vai se tornando mais fechada e logo tive de improvisar um cajado para bater a grande quantidade de capim-navalha e abrir caminho. Desviei de árvores caídas e fui insistindo naquela trilha fechada até que num ponto da descida estava bem difícil arranjar até um lugar para pisar e vencer o mato todo cerrado. Resolvi parar ali e tentar uma bifurcação que parecia sair para a direita mas também ficou impossível devido à grande quantidade de vegetação emaranhada. Abortei ali e voltei pelo mesmo caminho, passando pelo Cruzeiro às 14h56. Voltei ao bairro, desci às antenas pelo atalho e logo em seguida peguei outro atalho à esquerda. E assim por atalhos que ligavam as curvas das ruas cheguei a uma passarela de acesso ao bairro que desemboca na Av Francisco Fajardo Rodrigues às 15h39 (não dei toda aquela volta pelo campo de futebol).

Caminhada até o Cruzeiro: 3,2km, ida e volta, a partir da praça da matriz. Desnível de 258m.

TRILHA DO MORRO DA TORRE

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Santa Maria Madalena e Morro da Torre vistos do cume da Pedra Dubois

Esse roteiro, nº 2 do guia, foi o mais confuso e o mais frustrado, pois a trilha fechou também.

Saindo da praça da igreja matriz, peguei a rua principal de Santa Maria Madalena, Rua Barão de Madalena, na direção da entrada da cidade, passei pela biquinha e subi mais 290m até a primeira rua à direita, Rua Pedro Kelly, na qual entrei. Caminhei 130m e entrei no terreno à esquerda, pulando a porteira trancada (645m de altitude) e subindo pela rua de terra. Caminhei 80m e passei por baixo de uma cerca. A rua faz uma curva fechada para a direita e 140m depois, numa nova curva fechada para a esquerda, fui em frente e passei por baixo de outra cerca. Dali em diante ficou meio indefinido mesmo com o caminho desenhado no guia pois não há trilha, apenas alguns vestígios de trilha que não levam a lugar nenhum. O que tinha à minha frente era a encosta de um morro muito alto com capim baixo no começo e mata alta mais acima. Bati cabeça algum tempo, mas a dica é subir bem junto à última cerca atravessada por uns 100m ou mais e depois tomar a direção dos postes de energia elétrica. Só quando me aproximei dos postes é que encontrei a trilha e entrei na mata. Mas mesmo na mata alguns trechos estão mais fechados e podem gerar alguma dúvida. Samambaias altas e capim cerrado dificultam a passagem. Até que consegui alcançar uma laje de pedra e avistei a pontinha das torres, ainda um pouco distantes. Da laje tentei avançar por uma suposta trilha mas estava bem difícil, mato muito fechado. E ainda estava a 829m de altitude, as torres a 1039m, segundo o guia. Eu todo sujo e arranhado e uma distância de uns 550m de vara-mato ainda pela frente. Resolvi parar por ali e voltei pelo mesmo caminho. Em apenas 42 minutos desci tudo o que levei quase 2 horas para subir desde a porteira da Rua Pedro Kelly.

Até onde cheguei: caminhada de 3,9km, ida e volta, a partir da praça da matriz. Desnível de 223m.

Informações adicionais:

Horários de ônibus:
empresa 1001 (www.autoviacao1001.com.br)
. do Rio para Santa Maria Madalena:
diariamente: 8h10 e 15h10 (sextas também 20h)
. de Nova Friburgo (rodoviária sul) para Santa Maria Madalena:
diariamente: 11h10 e 18h20 (sextas também 23h10)
. de Nova Friburgo (rodoviária norte) para Santa Maria Madalena:
diariamente: 11h40 e 18h50 (sextas também 23h40)
. de Santa Maria Madalena para Nova Friburgo e Rio:
diariamente: 5h30 e 14h15 (domingos também 23h40)

empresa Macabu (www.transportadoramacabu.com.br)
. de Macaé para Santa Maria Madalena:
diariamente: 8h45 e 18h10
. de Santa Maria Madalena para Macaé:
diariamente: 6h30 e 16h

Hospedagem mais em conta em Santa Maria Madalena:
1. Pousada Colônia de Férias da ASPERJ (hospedagem muito simples)
Rua Gwyer de Azevedo, 5 - centro - (22)2561-1871 (a 100m da igreja matriz)
R$30 por pessoa o quarto com café e WC no corredor

2. Pousada Kentinha (www.pousadakentinha.com.br)
Rua Cel. Manoel Portugal, 1 - centro - (22)2561-1148 (ao lado da igreja matriz)
R$40 por pessoa o quarto com café e WC no corredor
R$55 com WC privativo

Há opções de pousadas mais confortáveis na cidade e também nos arredores, em ambiente rural, com trilhas, cachoeiras e observação de pássaros.

Cartas topográficas:
Renascença: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualiza ... C-IV-3.jpg
Santa Maria Madalena: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualiza ... D-VI-4.jpg

Rafael Santiago
setembro/2012

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Parque Estadual do Desengano (Santa Maria Madalena-RJ) - set/2012

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Pedra do Desengano num raro momento sem nuvens encobrindo o topo

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/ParqueEstadualDoDesenganoSetorMorumbecaDosMarreirosRJSet12.

O Parque Estadual do Desengano é uma das mais antigas unidades de conservação do Rio de Janeiro (criado em 1970!) e está situado no nordeste do estado, cobrindo áreas dos municípios de Campos, Santa Maria Madalena e São Fidélis. É administrado pelo governo estadual através do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e possui uma infra-estrutura que foi realizada recentemente, neste ano de 2012, como placas de informação e orientação, portarias com guarita (ainda sem funcionário), pontes e corrimãos ao longo das trilhas. Sua sede fica no Horto de Santa Maria Madalena, completamente fora de seus limites. O plano de manejo de 2005 pode ser acessado no site http://sosimbe.blogspot.com.br/2009/10/ ... al-do.html.

Todo o planejamento que fiz para me aventurar por essa região completamente desconhecida para mim foi baseado no excelente guia "Trilhas - Parque Estadual do Desengano", que pode ser comprado pela internet ou baixado do site www.inea.rj.gov.br/publicacoes/publicacoes.asp. Nele, as trilhas e travessias estão divididas em cinco setores: Santa Maria Madalena, Morumbeca dos Marreiros, Itacolomi, Sossego do Imbé e Mocotó. Para uma primeira incursão e sem carro foquei nos dois primeiros setores. O setor Santa Maria Madalena tem três trilhas praticamente dentro da cidade, com acesso muito fácil (as três fora do parque), e mais uma próxima. O setor Morumbeca dos Marreiros tem cinco trilhas, todas concentradas numa área do parque e muito próximas uma da outra, porém a uma distância de 20km do centro de Madalena.

O tempo, tanto na cidade quanto no parque, é totalmente instável, pelo menos no mês de setembro, o que eu estranhei bastante. O dia todo é uma sequência de sol, nuvens carregadas, chuva, frio, depois sol e começa tudo de novo. Nos três dias que caminhei pelo parque, a Pedra do Desengano se manteve encoberta quase o tempo todo, quando não com chuva. Notei que a instabilidade era maior no lado sul das serras do que no lado norte, devido à ocorrência dos ventos úmidos do mar e o efeito orográfico.

Cheguei a Madalena numa tarde de terça-feira e consegui um carro que me levasse no dia seguinte ao parque ou o mais próximo possível da trilha da Pedra do Desengano. A cidade não tem ônibus municipais e nenhuma linha intermunicipal passa perto do parque.

1º DIA: DE SANTA MARIA MADALENA À ESTALAGEM MORUMBECA EMBAIXO DE MUITA CHUVA

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Pedra do Desengano e Pedra Verde com sol no último dia

Uma chuvinha fraca na noite da terça foi o prenúncio do que estava por vir. Começou a chover mais forte de madrugada e saímos da cidade ainda com mau tempo, mas não desisti nem adiei a caminhada. Rodamos 12,1km pela estrada de terra até a portaria do parque, logo depois da Árvore do Arco. Passamos pela portaria vazia mas na primeira subida o carro patinou na lama. O jeito foi descer e começar a caminhada ali mesmo, sem saber ao certo qual a distância e o desnível até a Estalagem Morumbeca.

Essa estalagem é um abrigo de montanha, porém particular. É preciso combinar a estadia com a dona, fazer o pagamento e depois pegar a chave com um morador próximo. É uma casa grande de alvenaria e a 400m dela um chalé de madeira. Eu fui com barraca, não planejava ficar no abrigo, apenas o tinha como referência pois as trilhas do Poço do Padre, da Mina e da Pedra do Desengano começam ali, a trilha da Serra Pedra Marial inicia a apenas 1,4km, além de ser o caminho do Circuito da Cascata. Essas trilhas estão todas detalhadas com mapas e pontos de gps no guia citado.

Bem, mas eu ainda estava perto da portaria do parque e a chuva por sorte havia dado uma trégua. Conversei com um morador para confirmar o caminho e botei o pé na estrada, ou melhor, no barro às 8h30 (361m de altitude). A estradinha sobe entre pastos e a visão da região vai se ampliando, embora o tempo nublado não ajudasse muito. Passei por uma casa isolada (mas com morador) às 9h40, e essa foi a última. Aliás só passei por duas casas habitadas e um chalé vazio em toda a subida até o abrigo. Depois dessa última casa, a estrada piora ainda mais, com muita pedra. Às 10h14 alcancei um portal do parque com placa indicando distâncias e uma bifurcação (711m de altitude). À esquerda a cascata e o mirante, em frente o abrigo. Nesse ponto eu já estava com capa pois a chuva havia voltado. Dali em diante a subida e a chuva só pioraram, às vezes eu dava o passo e escorregava para trás no barro. Às 11h22 finalmente cheguei ao chalé Morumbeca (1045m de altitude) e pude me abrigar do frio e da chuva, com a roupa um pouco molhada mesmo com a capa. Fiquei muito tempo na varanda do chalé (trancado) meditando o que iria fazer naquele lugar tão isolado com aquele tempo horrível. Comi um lanche e só saí dali com a roupa mais seca, depois das 14h. Li num papel colado no chalé que a chave deveria ser pega com um tal de Nelson e resolvi procurar essa pessoa nas casas que ficavam além do Ribeirão do Macapá indicadas nos mapas do guia (mapas esses reproduzidos nas placas informativas do parque). Assim, descobri a estalagem Morumbeca principal, uma casa mesmo, apenas 400m além do chalé, e logo depois dela a ponte sobre o Macapá, que é a divisa entre São Fidélis e Santa Maria Madalena. Depois da ponte uns 100m (já em São Fidélis), uma casa pequena à direita com cerca mas deserta. Um riacho, um colchete e a trilha entra na mata. Sobe e quando sai da mata uma nova cerca à direita, uma bifurcação que tomei para a direita, subindo ao longo da cerca até uma porteira, onde entrei e enfim descobri a casa do Nelson, que mora ali naquele local tão afastado com esposa e filha. Ele disse que seu vizinho mais próximo está a 4km de distância. Conversamos um bom tempo e ele, além de conhecer bem as trilhas por ali, ajudou na pesquisa de campo para fazer o guia, tanto que ganhou um exemplar, que guarda com todo cuidado. Me falou das trilhas e me deu boas dicas. A chuva parou finalmente.

Voltei à estalagem e ainda dava tempo de fazer a Trilha da Mina, que é bem curta. Uma placa sinaliza o início, é só caminhar na direção do riachinho atrás dela, atravessá-lo e pegar a trilha, que sobe um pouco. Dá uns 15 minutos até as três minas, que hoje são apenas buracos no barranco tomado pela mata. Ida e volta dá pouco mais de 800m e há água no caminho.

Nesse dia caminhei 11,4km.

2º DIA: DA ESTALAGEM MORUMBECA ATÉ (QUASE) A CACHOEIRA DA CASCATA

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Serra Santo Aleixo vista do mirante do Circuito da Cascata

O dia amanheceu ensolarado e isso me animou, porém precisava ver como estava a Pedra do Desengano para decidir se valia a pena subi-la ou não. Caminhei até próximo da casa do Nelson, num lugar mais alto, para ter visão do pico. Ao chegar lá o tempo já havia fechado, o céu estava cinzento e o pico já parcialmente encoberto por nuvens. O tempo nessas montanhas realmente é instável! Dei um tempo para ver se melhorava e saía o sol de novo, mas nada. O Desengano é o mais alto do parque e eu não queria subir lá para não ver nada, então deixei para a próxima vez.

Às 11h57 saí da porteira da casa do Nelson na direção norte, continuando pela trilha bem marcada, a fim de fazer o Circuito da Cascata, roteiro nº 9 do guia. Logo me surpreendi com mais duas pontes de madeira (troncos) bem novas em plena mata e às 12h29 topei com a placa que indica o início da trilha da Serra Pedra Marial à direita (como disse, essas placas são recentes, nas fotos do guia elas nem aparecem). Entrei nessa trilha já sabendo que provavelmente não iria até o final, até o cume, por causa de uma passagem exposta ao abismo. A trilha logo de início é bem mais estreita e fechada que a principal e percorre a mata até sair dela, depois começa a subir entre samambaias altas que dificultam a passagem em alguns pontos. À medida que subo vou notando o estreitamento da crista da montanha, com quedas abruptas de ambos os lados, mas sem risco ainda. Porém quando a subida ameniza, a trilha se estreita demais e paro de repente por medo da altura. Tanto à esquerda (norte) quanto à direita (sul) as paredes são verticais e estão separadas pela trilhazinha à minha frente. Tive receio de pisar um pouco fora e encontrar o vazio, despencando de uma grande altura. Até tentei mas não me senti seguro, principalmente sozinho. Depois lembrei que o trecho crítico ainda estava bem pra frente, então sentei e curti a paisagem dali mesmo (1400m de altitude). E não era pouca coisa, belas montanhas e serras por todos os lados. Ao norte a estradinha que deveria tomar para fechar o Circuito da Cascata, ao sul a Serra dos Marreiros e a Pedra do Desengano com o cume encoberto quase todo o tempo, a nordeste a Serra Santo Aleixo e a oeste a continuação da Serra Pedra Marial. Às 15h comecei a sentir um vento úmido e tratei de descer rapidamente, passando pelas samambaias, atravessando a mata e chegando às 15h31 à placa de início dessa trilha.

Continuei então a caminhar pela trilha principal para a direita e em menos de 100m ela terminou numa porteira, tornando-se uma estrada estreita de terra (com mais placas do parque), justamente a estrada que vi lá de cima. No guia ela aparece com o nome de Estrada Morumbeca-Santo Aleixo. Desci bastante por ela tendo sempre visão da face norte da Serra Pedra Marial, cada vez mais próximo da Serra Santo Aleixo, e saí dos limites do parque às 16h03, com placa sinalizando. Passei um ponto de água às 16h14 e às 16h26 cheguei a uma bifurcação em T, onde fui para a esquerda. Em 8 minutos cruzei um riacho raso e largo na estrada e tropecei em mais placas do parque, estas apontando a continuação do Circuito da Cascata numa subida precária à esquerda da estrada. Antes de tomar esse caminho, desci até uma portaria do parque que avistei do alto, com uma guarita que, assim como a primeira, estava totalmente vazia (823m de altitude). Poucos metros abaixo, uma casa, mas parecia desabitada. Subi de volta às placas e entrei às 16h50 no caminho precário, que atravessou um pasto e tomou o sentido sudoeste, mais ou menos paralelo à estradinha que eu descera. Logo virou uma trilha bem marcada e começaram a aparecer corrimãos e até bancos rústicos de troncos para descanso. Essa trilha atravessa segmentos de mata e sobe entre elevações da Serra Pedra Marial. Às 17h35 cheguei enfim ao mirante, o ponto mais alto desde a estrada, com uma visão magnífica para as serras ao norte (1076m de altitude). Colocaram ali um banco comprido para sentar e admirar a paisagem e até uma mesa de troncos. Pelo horário já comecei a procurar um local plano para montar acampamento, porém ali ventava muito. Cruzei uma cerca e comecei a descer por trilha bem marcada na mata, topando com uma nova placa de "limite do parque" às 17h45. Pouco mais de 100m depois dela encontrei um gramado protegido do vento e armei a casa móvel.
Essa placa lacônica me deu a falsa idéia de que estava reentrando no parque, porém estava na realidade saindo dele e nem percebi em que momento havia reentrado. Examinando os mapas depois vi que os limites do parque nessa trilha estão na cota dos 1000m, o que significa que reentrei no parque ao atingir essa altitude, em um ponto em que não vi nenhuma placa na trilha.

Nesse dia caminhei 7,7km.

3º DIA: DA CACHOEIRA DA CASCATA A SANTA MARIA MADALENA

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Cachoeira da Cascata

Às 7h já estava com o pé na trilha e voltei até o mirante para fotos da paisagem com uma luminosidade melhor que a de ontem à tarde. Depois retomei a caminhada, passando às 7h45 por um ponto de água. Desço mais 250m e deparo com a placa que indica à esquerda a entrada para a Cachoeira da Cascata, a 60m da trilha principal. Tomei meu café ali, junto a essa belíssima queda do Ribeirão do Macapá, que despenca de uma parede rochosa de cerca de 70m de altura (867m de altitude). Às 8h50 voltei à trilha e em 6 minutos cruzei uma grande e caprichada ponte de troncos sobre o Macapá, onde uma placa do parque informa que estou saindo do município de São Fidélis e voltando a Santa Maria Madalena.

A trilha sai da mata e às 9h19 paro no mirante da Garganta do Macapá para fotos. É o local onde o rio corre espremido num cânion formado pela Serra Pedra Branca à esquerda e a Serra Pedra Marial à direita. Às 9h32 outro local de água e uma placa de sinalização do parque, exatamente onde a trilha se transforma em estradinha de terra. Passei por mais um ponto de água e às 9h47 alcancei o portal sem guarita que cruzei no primeiro dia, fechando assim o Circuito da Cascata. Dali bastou descer toda a estrada que já conhecia para chegar à portaria com guarita (vazia) às 11h27. Exatamente nessa hora, quando eu deixava definitivamente o parque, o céu limpou e o sol saiu para iluminar até a Pedra do Desengano, que permaneceu os três dias encoberta na maior parte do tempo. Paciência!

Dali da guarita restava conhecer dois lugares próximos: a Cachoeira do Escorrega e a Árvore do Arco. Para o Escorrega, peguei a estrada principal para a direita e desci 850m até uma curva onde há uma área grande de estacionamento e uma escada que leva ao Córrego do Leitão. Há uma queda mais acima, à direita, e uma grande laje por onde a água escorre e depois se lança num poção. Por ser dia de semana não havia ninguém, mas eu torcia para que passasse algum carro na direção de Madalena pois eu estava a 13km de lá. Depois de um lanche voltei pela estrada, passei a guarita do parque e subi mais 480m até uma porteira à esquerda, de onde já se avista a Árvore do Arco. É a entrada da Fazenda Desengano e a apenas 110m da porteira está a curiosa árvore, de tronco retorcido formando um portal com as montanhas ao fundo, com destaque para a Pedra do Desengano e a Pedra Verde.

Agora restava a longa jornada de volta a Madalena. Pela estrada rural e tranquila, destoa a longa e pesada tubulação da Usina Tudelândia subindo até a represa, passando pela tradicional Fazenda Tudelândia, com belo e antigo casarão. O tempo mudou novamente e nuvens escuras se dirigiram aos picos, encobrindo e enegrecendo a Pedra do Desengano mais uma vez. Às 14h30 uma alma bondosa me ofereceu carona e veio em boa hora mesmo pois faltava muito ainda. Aliás, por esses lados, nem é preciso pedir carona, o motorista para e oferece, mesmo para um desconhecido. Ainda existem lugares assim!

Nesse dia caminhei 16,1km.

Imagem
Ribeirão do Macapá

Distâncias por trecho:
de Santa Maria Madalena à portaria do parque: 12,1km
da portaria do parque ao portal onde começa o Circuito da Cascata: 4,8km
do portal onde começa o Circuito da Cascata à Estalagem Morumbeca: 3,3km
da Estalagem Morumbeca ao início da trilha da Pedra do Desengano: 400m
da Estalagem Morumbeca ao início da trilha do Poço do Padre: 700m
da Estalagem Morumbeca ao início da trilha da Mina: 40m
da Estalagem Morumbeca ao início da trilha da Serra Pedra Marial: 1,4km
Circuito da Cascata completo: 12,7km

Algumas altitudes:
Santa Maria Madalena: 609m
portaria do parque: 327m
portal onde começa o Circuito da Cascata: 711m
Estalagem Morumbeca: 1067m
Ponto mais alto do Circuito da Cascata: 1202m

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Cachoeira do Escorrega

Informações adicionais:

Montanhas mais altas do parque segundo o guia "Trilhas - Parque Estadual do Desengano":
1. Pedra do Desengano - 1761m
2. Pico Itacolomi - 1723m
3. Alto da Serra Grande - 1696m
4. Pedra Marial - 1692m
5. Pico Macapá - 1677m

O site oficial do parque é www.inea.rj.gov.br/unidades/pqdesengano.asp.

Horários de ônibus:
empresa 1001 (www.autoviacao1001.com.br)
. do Rio para Santa Maria Madalena:
diariamente: 8h10 e 15h10 (sextas também 20h)
. de Nova Friburgo (rodoviária sul) para Santa Maria Madalena:
diariamente: 11h10 e 18h20 (sextas também 23h10)
. de Nova Friburgo (rodoviária norte) para Santa Maria Madalena:
diariamente: 11h40 e 18h50 (sextas também 23h40)
. de Santa Maria Madalena para Nova Friburgo e Rio:
diariamente: 5h30 e 14h15 (domingos também 23h40)

empresa Macabu (www.transportadoramacabu.com.br)
. de Macaé para Santa Maria Madalena:
diariamente: 8h45 e 18h10
. de Santa Maria Madalena para Macaé:
diariamente: 6h30 e 16h

Santa Maria Madalena não tem ônibus municipais e nenhuma linha intermunicipal passa perto do parque. O único transporte gratuito que se pode tentar é o ônibus escolar, que circula 3 vezes por dia, segundo informações.

Hospedagem mais em conta em Santa Maria Madalena:
1. Pousada Colônia de Férias da ASPERJ (hospedagem muito simples)
Rua Gwyer de Azevedo, 5 - centro - (22)2561-1871 (a 100m da igreja matriz)
R$30 por pessoa o quarto com café e WC no corredor

2. Pousada Kentinha (www.pousadakentinha.com.br)
Rua Cel. Manoel Portugal, 1 - centro - (22)2561-1148 (ao lado da igreja matriz)
R$40 por pessoa o quarto com café e WC no corredor
R$55 com WC privativo

Há opções de pousadas mais confortáveis na cidade e pousadas mais próximas do parque, em ambiente rural, com trilhas, cachoeiras e observação de pássaros.

Carta topográfica de Renascença: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualiza ... C-IV-3.jpg.

Rafael Santiago
setembro/2012