quarta-feira, 9 de maio de 2018

Reserva Nacional Coyhaique (Chile) - fev/2018

Coyhaique vista do Cerro Cinchao


A Reserva Nacional Coyhaique foi criada em 1948 e é administrada pela Conaf, órgão florestal oficial do Chile. Situa-se na Patagônia chilena, mais exatamente na região de Aysén, de número XI (as regiões no Chile têm nome e número romano).

O setor da reserva aberto a visitação possui basicamente dois grandes circuitos de trilhas que iniciam e findam na portaria e se sobrepõem em parte. O circuito mais curto passa por todas as lagunas e percorre somente as partes mais baixas, já o circuito mais longo sobe às partes mais altas e tem seu ponto máximo no Cerro Cinchao, de 1359m de altitude.

Há também um circuito ainda menor por uma estrada de rípio que pode ser percorrido de carro ou bicicleta. Para completar, há trilhas transversais que conectam em diversos pontos o circuito mais curto e a estrada de rípio e são marcadas no mapa como trilhas para bicicletas.

Eu planejei passar dois dias na reserva (acampando dentro dela) e fazer cada um dos dois circuitos de trilha em um dia. Pensei em caminhar pelo circuito mais curto no primeiro dia e deixar o mais longo para o segundo dia, mas durante o percurso mudei de idéia pois o dia estava ensolarado e perfeito para subir às partes mais altas. A visão seria total. No dia seguinte talvez o dia não estivesse tão bonito, afinal estava na Patagônia e lá o tempo é uma incógnita.

Laguna Verde



04/02/18 - 1º DIA - circuito do Cerro Cinchao

Início e final: portaria da Reserva Nacional Coyhaique
Duração: 7h15
Distância: 17,9km
Maior altitude: 1359m
Menor altitude: 386m
Dificuldade: média (muita subida e muita descida)

Saí do Hostal Natti e passei pela Plaza de Armas de Coyhaique às 9h43. Tomei a Rua Condell no sentido nordeste e ao final dela a Avenida General Baquedano à esquerda, sentido norte. Na saída da cidade ela se transforma na rodovia 240 e há um regimento do exército à esquerda com um tanque de guerra exposto na calçada. A estrada desce e encontra com a Carretera Austral (Rota 7) num trevo, onde vou para a direita e cruzo a ponte sobre o Rio Coyhaique. Ali diversos mochileiros esperam por carona para o norte. Sigo à direita numa bifurcação e encontro a placa da Reserva Nacional Coyhaique às 10h14, uns 370m depois da ponte. A seta aponta para uma estrada de rípio que sobe à direita. Uma outra placa com horários e preços avisa "camping no habilitado"... só faltava essa! A reserva está a 1500m segundo outra placa (no meu gps deu 1,6km) e é só subida até lá. Nessa estradinha de rípio há muitas casas, algumas muito bonitas, e há até um aviso de que há câmeras de segurança, talvez para ninguém querer acampar clandestinamente por ali. 

Cheguei enfim à portaria da reserva às 10h38 e os atenciosos guardaparques confirmaram o que eu temia... por causa de gente teimosa que insiste em fazer fogueira quando acampa não é mais permitido acampar dentro da reserva. O fogo é um medo constante na Patagônia pois já causou enormes desastres ambientais, como em Torres del Paine em 2005 e 2011. Pelo menos eles permitiram que eu deixasse a mochila cargueira ali na guarderia para resgatá-la no final do dia, no máximo até 18h45. Paguei a entrada de CLP 3000 (R$ 16), peguei o folheto com mapa e informações sobre as trilhas, tirei algumas dúvidas e parti às 11h10 pelo Sendero Los Leñeros, no sentido leste-nordeste. Altitude de 386m.

Cerro Cinchao



No início da trilha as árvores estão identificadas por plaquinhas, mas só no início. A trilha tem pontes, passarelas, corrimãos, escadas, toda a estrutura. Às 11h40 cheguei ao primeiro mirante com vista para a cidade de Coyhaique e os cerros Mackay e Divisadero ao fundo. Fiquei 10min ali e subindo mais 4min cheguei à Casa Bruja, que seria o primeiro local de acampamento (o outro seria a Laguna Verde). Quando vi a estrutura montada ali, com quincho e ótimos banheiros, fiquei mais p da vida com essa gente que faz fogueira em local proibido. Por causa deles não se pode usufruir de tudo isso num lugar tão incrível. O Museu Histórico estava fechado também. A estrada de rípio passa ao lado e algumas pessoas chegam de carro ali.

Sentei numa grande sombra para almoçar e então resolvi que era melhor subir o Cerro Cinchao nesse dia. Voltei a caminhar às 12h36 e a trilha muda de nome para Los Carreros. Subo mais e às 12h58 alcanço o segundo mirante, este já próximo à Laguna Verde. Dele se avista novamente Coyhaique e os cerros Mackay e Divisadero de forma mais panorâmica. A trilha desse mirante até a Laguna Verde toma o rumo norte e está adaptada para cadeirantes, mas tem apenas 330m (pode-se chegar à Laguna Verde pela estrada de rípio da reserva). 

Há uma trilha que contorna a Laguna Verde mas com a decisão de subir o Cerro Cinchao deixei-a para o dia seguinte. Parti direto para o Sendero Los Troperos, ainda na direção norte, deixando a Laguna Verde às 13h14. Em apenas 7min surge uma outra trilha à direita, o Sendero Las Piedras, e aí saio do circuito curto das lagunas e começo a subida para o circuito longo do Cerro Cinchao. A subida é puxada e avança em zigue-zague. Os mirantes proporcionam uma visão ainda mais ampla de Coyhaique e dos cerros Mackay e Divisadero. Às 14h03 passo por uma fonte de água e 10min depois saio do bosque de lengas, passando a caminhar por pedras. Às 14h17 a última fonte de água da subida. Reentro no bosque de troncos curvados devido à camada de terra mais rasa e às 14h23 saio do limite das árvores, passando a caminhar pela areia.

Cerro Cinchao



Às 14h27 atinjo o platô e a trilha se encaminha para noroeste, em direção ao Cerro Cinchao, com visão espetacular de 360º. Dia perfeito! Contorno o Cerro Cinchao pela direita (norte) e ao percorrer a sua face oeste resolvi tentar a subida. Havia outras pessoas por ali mas não vi ninguém subindo. Não vi trilha inicialmente mas depois encontrei pegadas. E a subida foi muito fácil! Às 15h23 estava no cume, de altitude 1359m. Na mata logo abaixo se destacam as lagunas Verde e Los Mallines. Fiquei até 15h41 e iniciei a longa descida de volta à portaria. 

Desci pela trilha de areia e pedras e às 16h10 reentrei no bosque. Inicialmente as lengas são baixas e curvas pelo solo raso. Há alguns mirantes nessa descida. Às 17h07 o Sendero Las Piedras termina no Sendero Los Tejueleros, onde as placas indicam Laguna Vênus à esquerda e Coyhaique à direita. Fui para a direita, passei por uma fonte de água (a primeira desde a subida do Sendero Las Piedras) e cheguei à Laguna Los Sapos às 17h37. Ali a trilha muda de nome para Sendero El Chucao (nome de um pássaro) e toma o rumo sul de vez. Há uma porteira e um final de estrada do lado esquerdo mas a trilha continua mesmo à direita. A descida continua, passo por mais uma fonte de água e às 18h26 alcanço a portaria do parque a tempo de resgatar a mochila.

Descansei um pouco e iniciei a descida pela estrada às 19h09. Às 19h33 estava de volta ao asfalto da Carretera Austral (Rota 7), fui para a direita apenas 40m e entrei no Camping Alborada, onde acampei num espaçoso gramado.

Altitude de 230m.

Laguna Vênus



05/02/18 - 2º DIA - circuito das lagunas

Início e final: portaria da Reserva Nacional Coyhaique
Duração: 7h25
Distância: 15,1km (com as explorações extras que fiz)
Maior altitude: 754m
Menor altitude: 386m
Dificuldade: fácil

Desmontei a barraca e deixei a mochila cargueira com a dona do camping para pegar mais tarde. Saí às 8h14 só com a mochila de ataque com roupa de frio, roupa de chuva, lanche e água. Subi toda a estrada de novo até a portaria da reserva, aonde cheguei às 8h38. Os guardaparques eram outros. Paguei de novo a entrada de CLP 3000 (R$ 16) e iniciei a caminhada às 8h47 no sentido contrário ao do dia anterior, pelo Sendero El Chucao. Passei pelo primeiro ponto de água às 8h58 e cheguei à Laguna Los Sapos às 9h53. A trilha muda de nome para Sendero Los Tejueleros e passei por outra fonte de água. Às 10h34 aparece o final do Sendero Las Piedras e daí em diante o caminho era novidade para mim.

Visitei a Laguna Vênus às 10h42 e a trilha muda de nome para Los Carboneros. Às 11h07, num cruzamento de trilhas vou em frente. Às 11h20 subo a plataforma de madeira do Mirador Los Mallines para fotos da lagoa de mesmo nome, pequena e distante. Apenas 60m adiante alcanço uma bifurcação: em frente a trilha continua com o nome de Los Troperos, para a direita é um final de estradinha, marcado no mapa como trilha para bicicleta. Há uma fonte de água aí. Para esticar um pouco mais meu percurso vou para a direita e acabo me aproximando mais da Laguna Los Mallines. Essa estradinha encontra a estrada-circuito para carros e sigo para a direita. Mais um ponto de água. Com uns 630m nessa estrada principal entro noutra estradinha marcada como trilha de bicicleta à direita e retorno ao cruzamento por que passei às 11h07. Sigo em frente nesse cruzamento para conhecer outras trilhas. Pego a direita na bifurcação e vou em frente no cruzamento seguinte. Logo a trilha dá uma guinada para a direita, vai se tornando paralela ao Sendero Los Carboneros e acaba encontrando-o naquela confluência com a trilha Los Troperos (onde há água e um final de estradinha). 

Depois dessa exploração toda prossigo pela trilha Los Troperos às 13h24 e passo pela entrada da trilha Las Piedras, local conhecido no dia anterior. Chego à Laguna Verde às 13h53 e percorro o Sendero Laguna Verde, que dá uma volta completa na lagoa. Depois de um lanche, às 14h55,  tomo a trilha adaptada a deficientes até o mirante e retorno à portaria descendo pelas trilhas Los Carreros e Los Leñeros, no sentido oposto ao do dia anterior. No caminho ainda saboreei cerejas diretamente do pé. Às 16h13 estou na portaria e logo pego a estradinha para descer ao camping. No caminho um carro para e me oferece carona. Poderia ter aproveitado essa gentileza até a cidade mas precisava pegar a mochila. Por sorte a dona do camping também estava saindo de carro e me deu carona até o centro de Coyhaique.

Laguna Verde



Informações adicionais:

A entrada na reserva custa CLP 3000 (R$ 16). O camping está proibido há mais de um ano por conta dos campistas que não respeitam as regras e ainda insistem em fazer fogueira quando acampam. Por causa dessas pessoas ninguém mais pode usufruir da boa estrutura de camping que a reserva possui.

O Camping Alborada é o mais próximo da reserva (1,6km de distância e 156m de desnível) e custa CLP 4500 (R$ 24) por pessoa por noite com banho quente.

O grau de dificuldade que coloco nos relatos é uma avaliação pessoal e considera que o trilheiro esteja acostumado a caminhadas de vários dias com mochila cargueira. Para um iniciante considere todas as trilhas como difíceis. Para um iniciante que não esteja em boa forma física é melhor procurar trilhas fáceis de um dia para ganhar experiência e condicionamento.

Rafael Santiago
fevereiro/2018

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Travessia do Santuário El Cañi (Chile) - mar/2018

Laguna La Vaca Hundida


Início: portaria Pichares do Santuário El Cañi

Final: povoado de Coilaco
Duração: 2 dias
Distância: 22,9km
Maior altitude: 1549m
Menor altitude: 354m
Dificuldade: fácil (para quem está acostumado a caminhadas de vários dias com mochila cargueira)

A palavra cañi significa na língua dos mapuche "outro olho" ou "outra visão", ou num significado mais profundo "a visão que transforma". O Santuário El Cañi é um parque particular administrado pela Fundación Lahuén e foi criado em 1992 para proteger os bosques, lagunas e a biodiversidade de um local sagrado para a cultura mapuche-pehuenche. Situa-se na região da Araucanía, de número IX (as regiões no Chile têm nome e número romano), próximo à cidade de Pucón. 


13/03/18 - 1º DIA - da portaria Pichares à Laguna Negra e subida ao Mirador Melidekiñ


Duração: 4h à Laguna Negra + 46min ida e volta ao Mirador Melidekiñ + 1h15 do Circuito de las Lagunas

Distância: 7,8km à Laguna Negra + 1,9km ida e volta ao Mirador Melidekiñ + 2,1km do Circuito de las Lagunas
Maior altitude: 1549m
Menor altitude: 354m
Dificuldade: fácil (apesar do desnível de 1195m da portaria ao mirador não há nenhuma dificuldade)

No terminal de ônibus Pullman em Pucón tomei o micro-ônibus das 8h50 para El Cañi, que saiu de verdade às 9h (ver horários abaixo em Informações Adicionais). Esse ônibus vai para diversas termas próximas à cidade e eu saltei na portaria do Santuário El Cañi às 9h28. Altitude de 354m. Ali fica a administração da reserva. Fui recebido pelos atenciosos guias/guardaparques que me passaram todas as informações sobre a travessia a Coilaco, caminhada que pouca gente faz. A grande maioria dos visitantes se limita a um bate-volta dessa portaria ao Mirador Melidekiñ. Eu não iria desperdiçar um contato maior com um lugar tão bonito, então fui com barraca e comida para passar uma noite ali e curtir a natureza ao máximo (acabei passando duas noites por causa do mau tempo, mas isso estava previsto).


Vista do Mirador Melidekiñ para as lagunas Negra (dir) e Bella (esq)



Na portaria paguei a tarifa de entrada de CLP 4000 (R$ 21) e de camping de CLP 3000 (R$ 16) por noite e recebi um folheto com mapa bastante detalhado e informações de fauna e flora. Esse folheto descreve 9 pontos de observação e é bastante interessante parar em cada um e ler o respectivo texto.


Saí às 9h50. A caminhada começa por uma estrada de terra que passa logo atrás da administração, indo para a esquerda. Percorri esse trecho parando muitas vezes para saborear as amoras maduras que dão em arbustos espinhentos. Às 10h20 encontrei o estacionamento da reserva à esquerda e um caminho largo que sai à direita com uma seta. A sinalização aqui merece uma nota: é toda feita com placas de madeira com símbolos em lugar de palavras. A localização e explicação de cada símbolo estão no folheto. As setas são feitas de pedaços de bambu. 


O caminho largo da direita sobe e passa por uma guarita, que estava vazia. Subindo mais uns 4 minutos (desde a guarita) encontrei água e parei para um lanche. Voltei a caminhar às 10h47 e a subida é constante. Às 10h53 passei pelo Camping La Loma mas não vi ninguém. Uma torneira ali fornece água. Às 11h12 uma bifurcação com símbolos e setas de bambu: a caminhada continua para a esquerda, mas à direita vale a pena ir até o Mirador Kutralko (a apenas 25m) e ler o que o folheto do parque explica sobre a história da comunidade de Pichares. A visão é para o vale do Rio Liucura a oeste.


Voltando à trilha principal, apenas 3min à frente vi o símbolo de água (uma gota azul) e entrei na mata para ver uma pequena e singela cachoeira. Às 11h49 alcancei o Mirador Mamüll, com vista também para o vale do Rio Liucura a oeste, além do Lago Caburgua a norte-noroeste. As rosas-mosquetas já perderam suas flores e estão com frutos crescidos porém ainda verdes. É uma planta muito abundante no Chile. Às 12h09, ainda subindo pelo caminho largo, cheguei ao Refúgio Aserradero (serraria, em espanhol). Ali há um quincho, uma construção de madeira bem grande com espaço para fazer fogo dentro. Neste havia uma plataforma elevada onde se pode pernoitar. Também se pode acampar nesta área e havia uma barraca apenas. Uma construção de madeira elevada mais abaixo deve ser o banheiro.


Vulcão Villarrica



Continuei a caminhada às 12h19 e o caminho largo se converte em trilha em meio a um bosque muito bonito. Às 12h49 passei pela Estação Silêncio. A leitura do folheto para este local convida a "tomar um minuto e escutar a vida destes bosques" repletos de grandes coigües e habitat de pássaros como o carpintero (pica-pau da Patagônia). Realmente vale a pena parar um pouco, ficar em silêncio e se integrar a essa natureza tão acolhedora.


Às 13h02 cheguei à primeira das muitas lagunas, a Laguna Seca ou Laguna Las Totoras. Como os nomes já dizem, há muito mais capim (totora) do que água. E infelizmente há vacas pastando. Às 13h23 encontro uma bifurcação e vou para a esquerda (à direita é um dos caminhos para Coilaco, mas tomaria outro no dia seguinte que encontra esta trilha 1,1km adentro).


Às 13h29 chego ao local denominado Pewen, território das lindas araucárias, árvore sagrada para os mapuche-pehuenche, que tinham o pinhão como base de sua alimentação. Para esses povos é importante pedir permissão às araucárias para entrar no bosque. Além dessas árvores quem me dá as boas-vindas é uma raposinha moradora do local. Às 13h47 alcanço enfim a Laguna Negra e sua área de acampamento. Antes de subir ao mirante já reservei o melhor lugar, um gramado plano e espaçoso perfeito para essa noite. Montei a barraca, fiz rapidamente uma mochila de ataque com roupa de frio, de chuva, lanche, água e comecei a subir ao mirante às 14h14. Muitos zigue-zagues para amenizar a inclinação e atinjo o Mirador Melidekiñ às 14h37. Visão espetacular, dia maravilhoso. Além de todos os lagos da reserva, do Lago Villarrica, do Lago Caburgua e das cidades de Pucón e Villarrica, o folheto me informa que vulcões avisto lá de cima: Villarrica a sudoeste, Quetrupillan ao sul, Lanin a sudeste e Llaima ao norte. Havia bastante gente no mirante, estava meio congestionado até... rs. Mas o pessoal do bate-volta logo começou a descer e restaram poucas pessoas admirando o lugar com mais calma. Uma brasileira apareceu por lá mas desceu logo também. Altitude de 1549m, desnível de 1195m desde a portaria.


Iniciei a descida às 16h16 e havia várias pessoas subindo ainda ao mirante. Às 16h42 estava de volta à barraca e parti para o Circuito de las Lagunas, de 2,1km de extensão. Fiz no sentido horário, como sugerem as placas do caminho. Pela ordem passei pelas lagunas El Risco, La Vaca Hundida (a vaca afundada), Escondida e Bella. Completei o circuito todo em 1h10 tranquilamente. Todas lagunas muito bonitas em meio a bosques deliciosos de se caminhar.


No mapinha do parque esse acampamento da Laguna Negra possui banheiros mas na realidade não há. Vi a base do que pode ter sido uma cabana ou um banheiro, mas não resta mais nada. Água se pode coletar da laguna (e tratar) ou de um fio d'água que corre ao lado do acampamento. Nessa noite havia mais 3 barracas e todas montadas na pura terra úmida para sujar bastante.


Altitude de 1334m.


Vista do Mirador Melidekiñ 



14/03/18 - dia inteiro de chuva, granizo, ventos, neblina e muito frio. Saí da barraca após as 17h e os meus vizinhos haviam ido embora. Desmontaram acampamento embaixo de chuva e desceram com aquele tempo horrível.


15/03/18 - 2º DIA - da Laguna Negra a Coilaco


Duração: 3h20

Distância: 11,1km
Maior altitude: 1451m
Menor altitude: 660m
Dificuldade: fácil

A temperatura mínima da noite foi 0,2ºC, mas saiu o sol como previu o site www.yr.no (os outros erraram).


Logo cedo subi ao mirante de novo e consegui fotos bem melhores pois pela manhã o céu é muito mais limpo, à tarde as nuvens começam a se acumular. Na volta desmontei acampamento e comecei a caminhar às 13h28. O plano era atravessar o parque e sair por Coilaco, uma localidade ao sul da reserva onde há ônibus para voltar a Pucón. Água nesse dia só a das lagunas mesmo.


Refiz uma parte do Circuito de las Lagunas porém no sentido anti-horário para alcançar mais rapidamente a saída para Coilaco a partir de uma bifurcação explorada no dia anterior. Essa bifurcação fica junto à Laguna Escondida. Ali tomei a direita, passei pela laguna e enfrentei uma longa subida. Na descida seguinte me vi entre dois lagos e tomei a trilha da direita na bifurcação às 14h27. Essas são as Lagunas Las Mellizas (última água do dia). Ao contornar uma delas surge uma bifurcação. Meu caminho é à direita mas subo à esquerda para visitar a Laguna del Cráter (cratera), porém chegando lá só se avista a laguna bem do alto, não encontrei trilha para descer a ela. Voltei à trilha principal, subi alguns poucos metros e atingi o ponto mais alto, daí em diante só descida pela mata. Às 15h02 saio da mata e encontro uma grande clareira com a Laguna El Carpintero, na realidade uma depressão sem uma gota d'água. A trilha continua reentrando na mata ao sul, logo à esquerda do local da chegada à laguna (há uma placa de madeira "Laguna Carpintero" sinalizando a trilha). Com 25m alcanço a trilha principal que vem daquela bifurcação citada no primeiro dia (entre a Laguna Seca e Pewen). 


Vulcão Lanin na fronteira com a Argentina



Às 15h36 pulo uma porteira com cadeado e saio da reserva. Placas dão as boas-vindas a quem faz o caminho contrário e indicam que ali é a Entrada Coilaco. Mas não há guarita ou casa por perto para cobrar a entrada de quem chega. O caminho se alarga e vai se tornando uma estradinha à medida que sai do bosque. Sigo sempre descendo pela principal. Passo por pilhas de madeira extraída da mata, plantações cercadas e às 16h08 me deparo com um portão de ferro com cadeado, ao lado outro portão de ferro destrancado por onde pude passar. Cerca de 50m adiante entroncou uma outra estradinha à direita, fui para a esquerda. Cruzei uma porteira de arame bem no meio da estrada. A essa altura já estava caminhando bem rápido pois o ônibus saía de Coilaco às 17h e o caminho era mais longo do que eu previa. Consegui chegar à estrada de Coilaco às 17h em ponto, mas não havia ninguém para perguntar se o ônibus já havia passado (e era o último do dia). Altitude de 660m. Sentei para descansar e comecei a pedir carona para os poucos carros que passavam. Até que um sitiante parou a camionete e me deu carona até o asfalto entre Vila San Pedro e Pichares. Cruzamos com o ônibus ainda indo em direção a Coilaco, estava bem atrasado. Mas o sitiante me confirmou que esse ônibus é irregular, nem sempre passa nos horários marcados na tabela do terminal de Pucón. No local onde ele me deixou há ônibus mais frequentes, esperei cerca de 20 minutos me fartando com as amoras silvestres em pencas bem ao lado do ponto.


Informações adicionais:


Os horários de ônibus entre Pucón e El Cañi são:


. saindo do Terminal Rural situado à Rua Uruguay, em frente ao Terminal JAC:


Pucón-El Cañi-termas:

seg a sáb - 7h, 10h30, 13h30, 15h40, 17h30
dom e feriado - 10h30, 13h30, 15h40, 17h30

termas-El Cañi-Pucón:

seg a sáb - 8h10, 11h30, 14h30, 16h30, 18h30
dom e feriado - 11h30, 14h30, 16h30, 18h30

. saindo do Terminal Pullman situado à Rua Palguin:


Pucón-El Cañi-termas:

seg a sáb - 8h15, 8h50, 10h, 12h30, 14h30, 15h30, 17h, 18h30, 20h20
dom e feriado - 8h15, 10h, 12h30, 15h30, 19h

termas-El Cañi-Pucón:

seg a sáb - 9h10, 9h30, 11h, 13h30, 15h30, 17h, 19h30
dom e feriado - 9h10, 11h, 13h30, 17h

Tarifa de CLP 1000 (R$ 5,35)


Horários de ônibus entre Pucón e Coilaco (ônibus irregular segundo informaram, melhor confirmar com alguém do terminal ou algum motorista se o ônibus vai sair mesmo):


Pucón-Coilaco: 11h30, 16h15, 18h45
Coilaco-Pucón: 7h, 12h30, 17h

A entrada na reserva custa CLP 4000 (R$ 21) e o camping custa CLP 3000 (R$ 16) por pessoa por noite. Os locais permitidos para camping são Refúgio Aserradero e Laguna Negra.


Para saber mais: www.santuariocani.cl


O grau de dificuldade que coloco nos relatos é uma avaliação pessoal e considera que o trilheiro esteja acostumado a caminhadas de vários dias com mochila cargueira. Para um iniciante considere todas as trilhas como difíceis. Para um iniciante que não esteja em boa forma física é melhor procurar trilhas fáceis de um dia para ganhar experiência e condicionamento.


Rafael Santiago

março/2018

domingo, 6 de maio de 2018

Circuito pelo Vulcão Lonquimay (Chile) - mar/2018

Vulcão Lonquimay e Cratera Navidad




Início: localidade de Los Pinitos
Final: portaria Malalcahuello da Reserva Malalcahuello-Nalcas
Duração: 5 dias
Distância: 90,7km
Maior altitude: 1883m
Menor altitude: 915m
Dificuldade: média (para quem está acostumado a trekkings longos)

O Vulcão Lonquimay, seu escorial (sua extensa área de pedras e areia vulcânicas resultante de erupções) e os bosques ao redor estão protegidos por duas reservas florestais contíguas administradas pela Conaf, órgão florestal oficial do Chile. São elas a Reserva Nacional Malalcahuello (ao sul do vulcão) e a Reserva Nacional Nalcas (ao norte). A Conaf mantém as trilhas, a sinalização e eventualmente fecha algumas delas se há incêndio florestal ou alto risco de haver algum. 

O circuito ao redor do Lonquimay é uma das 31 caminhadas descritas no guia Trekking in the Patagonian Andes da editora Lonely Planet, a bíblia do trekking na Patagônia chilena e argentina (bem como em regiões um pouco mais ao norte). No caso do Lonquimay a região é a Araucanía, de número IX (as regiões no Chile têm nome e número).

Esse guia teve sua última edição em 2009, já há muito tempo, porém trilheiros experientes têm retomado essa pernada nos últimos anos e deixado seus preciosos e detalhados relatos como atualização das informações do guia. Entre eles nossos colegas Renato Oliveira e Peter Tofte. Baseado na experiência dos colegas (que se depararam com a proibição de acampamento nessa reserva e o fechamento de algumas trilhas) e sabendo que a Conaf já estava fechando outras reservas pelo risco de incêndio florestal, eu desenhei um percurso que não entrava pelas portarias oficiais do parque, no máximo saía por elas. Se eu encontrasse algum guardaparque diria que não sabia do eventual fechamento da trilha. Portanto, assim como os colegas, seria mais um clandestino a caminhar pela reserva... Infração? Não encaro assim pois jamais faço fogueira durante uma caminhada, com certeza não seria eu o responsável por algum problema sério ali. Eu deveria apenas ficar atento a possíveis fumaças e focos de incêndio, o que me faria desviar ou retornar.

Com a decisão de não entrar pelas portarias do parque não tive nenhuma informação concreta sobre a situação das trilhas e dos acampamentos ao longo do percurso. E ao final tive uma surpresa...

Vulcão Lonquimay





24/03/18 - 1º DIA - de Los Pinitos aos pés do Vulcão Lonquimay

Duração: 2h26 (já descontadas duas paradas longas)
Distância: 8,5km
Maior altitude: 1552m
Menor altitude: 957m
Dificuldade: baixa

No Terminal Rural de Temuco tomei o micro-ônibus das 11h para Curacautín (ver horários abaixo em Informações Adicionais). Foram 2h até o terminal de Curacautín, onde peguei o ônibus das 13h30 para Lonquimay com a intenção de saltar na parada Los Pinitos, na rodovia 181 (rodovia que cruza a fronteira com a Argentina pelo Passo Pino Hachado). Acontece que eu dei uma "pescada" maior que devia e quando me dei conta já estava chegando a Malalcahuello. Pedi para descer imediatamente e voltei caminhando pela estrada. Com isso iniciei a caminhada na parada Los Pinitos somente às 14h43. Curioso é que nesse trecho de asfalto um senhor numa camionete parou e me ofereceu carona, sem eu pedir e sem ver a minha cara já que eu estava caminhando de costas para ele. Às vezes a carona no Chile vem até de forma inesperada...

Entrei na estrada de rípio ao lado da parada de ônibus já com visão do Vulcão Lonquimay ao fundo, na direção norte. Altitude de 957m. Parei para um lanche numa boa sombra ao lado da estrada e quando retomei a caminhada me deparei com uma porteira às 15h39. Não estava trancada e não havia aviso de entrada proibida, então continuei. Passei por algumas casas mas não vi ninguém. Fui à esquerda numa bifurcação logo após uma casa (seria a última) e a estrada ficou mais precária. Cruzei uma porteira de arame farpado e fui em frente num cruzamento de caminhos. Às 16h08 cheguei à porteira da reserva com placa de bienvenido e um mapa me informando que estava no Sendero El Coloradito, com marcação feita por balizas amarelas. 

Araucárias





Nessa clareira dos letreiros fui para a direita seguindo as estacas amarelas, ainda por um caminho largo. Havia setas nas bifurcações também, sinalização muito boa. Às 17h parei para pegar água num riacho que corria à direita pois não sabia se haveria acima e logo iria parar para acampar. Quando descansava perto do riacho passou um sujeito de uniforme numa moto. Pensei que fosse um guardaparque em ronda e o meu plano estava indo por água abaixo logo no início. Mas ele apenas assobiou e foi embora. Depois vi pelas placas que motos são proibidas na reserva, então não podia ser um guardaparque e era o sujeito quem estava fazendo algo errado.

Na continuação às 18h38 subi por um bonito bosque de araucárias e outras espécies características da região como lengas e coigües. Aliás as lindas araucárias seriam minhas parceiras constantes nessa aventura e nem era preciso levantar a cabeça para notar a sua presença pois os pinhões no chão já me davam o aviso de que eu estava passando por baixo delas. Ao final do bosque a visão se abriu para o norte e pude fotografar o Vulcão Lonquimay bem mais perto. Cerca de 330m após sair do bosque alcanço às 18h55 o cruzamento desta trilha Coloradito (amarela) com a trilha Laguna Blanca (laranja). A trilha Coloradito (amarela) segue para o centro de esqui e será o meu caminho de volta. Nesse momento quebrei à esquerda e peguei a trilha laranja. 

A visão mais espetacular era do Lonquimay mas no horizonte também chamavam a atenção o Vulcão Llaima e a Serra Nevada, estes no Parque Nacional Conguillío. Pela proximidade com o vulcão o terreno ali era de areia vulcânica (formada de pedrinhas) e já estava me arrependendo de não ter acampado no gramado plano ao lado da água onde parei (olha a dica!). Subi um pouco mais pela trilha laranja e fui à esquerda numa bifurcação em que a sinalização apontava para a direita (19h25) para tentar encontrar um terreno mais plano e limpo. E encontrei 200m adiante. Observei ainda que essa trilha continuava mas não a explorei.

Altitude de 1552m.

Vulcão Llaima


25/03/18 - 2º DIA - dos pés do Vulcão Lonquimay ao Estero Laguna Verde

Duração: 7h40
Distância: 15,8km
Maior altitude: 1868m
Menor altitude: 1552m
Dificuldade: média (há pouco desnível mas o lugar é árido)

A temperatura mínima da noite foi -0,6ºC. Às 8h30 fazia 5ºC. Saí da barraca de manhã pisando na terra congelada.

Felizmente amanheceu mais um dia lindo de céu limpo. Levantei acampamento tardíssimo e voltei 200m até a última bifurcação sinalizada (onde saí do trajeto da travessia), seguindo para a esquerda. Ali às 10h49 iniciei uma subida em que tive o primeiro (e ainda discreto) contato com o escorial do Lonquimay. Às 11h08 alcancei o Passo Huamachuco (1712m de altitude), à direita do cerro (colina) de mesmo nome, e o panorama à frente era bem árido, de muita pedra, areia vulcânica e nenhuma sombra no caminho. Mas eu já sabia pelos relatos e fotos dos colegas que enfrentaria esse tipo de terreno e que sombra seria um presente que eu teria somente em alguns trechos da caminhada.

Nesse Passo Huamachuco saio da área da Reserva Malalcahuello e somente na confluência da trilha laranja (Sendero Laguna Blanca) com a trilha lilás (Sendero Tolhuaca) é que entrarei na Reserva Nacional Nalcas. Esse trecho intermediário, apesar da sinalização feita pela Conaf, não está na área de nenhuma das duas reservas.

Desci do passo e cruzei esse escorial ainda com visão no horizonte ao sul do Llaima e da Serra Nevada. Ao meu redor observei as formas curiosas das pedras resultantes da lava solidificada. Mas percebi logo que era complicado parar ali ou colocar a mochila no chão pela enorme quantidade de formigas, que logo invadiam tudo. Outra coisa estranha é que o solo era instável em alguns lugares e o pé afundava ao pisar, às vezes até o alto da bota, entrando areia nela.

Aos poucos as gramíneas foram rareando e a subida ao Passo Pancutra foi na pura areia vulcânica e depois entre a lava petrificada. Alcancei o passo, de 1768m de altitude, às 12h57, e tive a primeira visão do majestoso Vulcão Tolhuaca, também coberto de neve. No caminho um escorial de pedras enorme que eu torcia em não ter que atravessar... doce ilusão. O nome desse passo consta no guia Lonely Planet mas não está nos mapas da Conaf.

A descida do passo foi em direção a um bosque e aproveitei a sombra das primeiras araucárias para almoçar. Parei das 13h08 às 13h57.

Na sequência a trilha desceu um pouco mais e entrou na borda do bosque. Às 14h13 encontrei um lugar plano em meio às árvores onde caberiam duas barracas. Água gotejava numa parede 30m à esquerda da trilha. É a primeira água desde o riacho da tarde anterior e ainda demoraria para aparecer outra, portanto é recomendável ter paciência e completar os cantis.

Vulcão Lonquimay e seu escorial





Às 14h26 a moleza acabou: a trilha saía do bosque e entrava diretamente no escorial. Por mais de duas horas seria uma caminhada entre a lava vulcânica solidificada em forma de pedras ásperas e até cortantes, grande parte em subida pela areia vulcânica, sem nenhuma sombra. Um lugar muito seco, uma paisagem quase lunar. Eu seguia a sinalização laranja de estacas e pedras pintadas da Conaf para avançar pelo caminho mais fácil no meio daquela pedreira toda. Sentar para descansar era difícil por causa das formigas. 

Interessante é ver o Vulcão Lonquimay mudando de forma, desde a face sul no Passo Huamachuco até a face norte ao final dessa trilha laranja. A Laguna Blanca estava a noroeste mas não era possível vê-la escondida bem abaixo.

Depois da pedreira o caminho foi se tornando mais fácil por campo mais aberto e às 16h57 alcancei uma estrada de terra. Altitude de 1764m. Era o final da trilha Laguna Blanca (laranja) e início da trilha Tolhuaca, de cor lilás. Nesse ponto estava entrando na Reserva Nacional Nalcas. Fui para a direita pela estrada e parei um pouco abaixo para descansar. Quando olhei para cima havia uma camionete. Pensei que poderia ser da Conaf... mas logo deu meia volta e foi embora. É que essa estrada vem da rodovia 181 e passa pela Laguna Blanca. Notei que algumas pessoas percorrem esse trecho de carro como passeio.

Na descida pela estrada fiquei impressionado com o escorial alto de pedras amontoadas bem à direita, junto à estrada (mas o que eu veria dois dias depois seria muito mais impressionante). Cruzei três riachinhos, as primeiras fontes boas de água deste dia.

Mais à frente a paisagem se abre à direita para um incrível vale todo coberto pelo escorial. Me deparei com outra camionete e em seguida com a família que estava passeando por ali. A camionete estava parada ali por causa de dois deslizamentos na estradinha que impediam a passagem de carros, ou seja, dali em diante deveria voltar a ficar isolado. Voltando a caminhar em meio às árvores, me chamou a atenção uma enorme araucária com galhos grossos como se fossem novas árvores saindo do grande tronco principal, algo que nunca tinha visto. Depois apareceriam mais algumas como essa.

E às 18h30 finalmente alcanço o Estero Laguna Verde, boa fonte de água com um gramado limpo e razoavelmente plano para a barraca um pouco antes.

Altitude de 1601m.

Vulcão Tolhuaca





26/03/18 - 3º DIA - do Estero Laguna Verde ao Rio Lolco

Duração: 8h20
Distância: 18,4km
Maior altitude: 1623m
Menor altitude: 915m
Dificuldade: baixa pois a maior parte do percurso é descida

A temperatura mínima da noite foi 1,1ºC. Às 8h30 fazia 2ºC.

Felizmente mais um dia de muito sol. Nesse dia eu caminharia por um terreno bem mais amigável, com bosques e várias fontes de água.

Comecei a caminhar bem tarde de novo, às 10h50. Cruzei o Estero Laguna Verde (na verdade dois riachos paralelos) e continuei pela estradinha. Para trás tinha visão do Vulcão Tolhuaca e à direita do Lonquimay. Depois avistei a Laguna Verde, porém muito abaixo e aparentemente sem acesso. Às 11h50 um vale enorme e verdejante se abriu à esquerda e acima dele uma visão espetacular do Vulcão Tolhuaca com uma linda cachoeira resultante do degelo. À frente, bem distante, o Vulcão Callaqui. Caminho agora pela encosta direita desse vale enorme, que segundo o mapa é do Rio Nalcas. Depois de dois pontos de água, a estradinha já era uma trilha. 

Às 13h34 uma placa indica a continuação do Sendero Tolhuaca por uma trilha que sobe à direita e entra na mata, enquanto a trilha por onde vim desce numa curva à esquerda para o fundo do vale. E assim vou cruzando bosques, fontes de água e bons locais de acampamento até que às 16h40 desviei alguns metros à esquerda da trilha para conhecer a Laguna Uribe, pequena e quase seca. Não há placa na trilha principal indicando a existência da lagoa.

Nesse trecho da caminhada pude observar bem a chegada do outono pois as folhas já estavam avermelhando, ficando com cor de ferrugem. Uma mudança de paisagem muito bonita.

Depois de descer bastante cheguei às 17h13 a um riacho com pinguela. Apenas 90m depois dele havia ótimos lugares para acampar, mas eu continuei pois tinha a intenção de passar pela guarderia do Rio Lolco após 18h e ter menor risco de encontrar algum guardaparque. Passei por mais três fontes de água mas a segunda era na área de uma fazenda com gado que apareceu à esquerda. 

Às 18h39 alcancei uma estradinha e fui para a esquerda. À direita talvez seja o caminho para o Cerro Mocho Chico, não tenho certeza. Cinco minutos depois passei por uma casa à esquerda. Como havia cavalos e cachorros pensei que fosse uma casa particular, sede da fazenda de gado. Os homens estavam ocupados e não me falaram nada (devem ter me visto pois os cachorros latiram). O gps indicava a guarderia do Rio Lolco mais adiante, onde encontrei apenas um grande curral. Só 1,6km depois da casa é que percebi por uma placa que era ali mesmo a guarderia. Às 19h10 cruzei uma ponte e encontrei um ótimo gramadão para acampar, exatamente onde a estrada fazia uma curva fechada à direita. Havia água corrente porém muitas vacas. Ainda estava dentro da área da Reserva Nacional Nalcas.

Altitude de 915m.

Laguna Esmeralda





27/03/18 - 4º DIA - do Rio Lolco a Corralco com subida da Cratera Navidad

Duração: 7h08 (com carona)
Distância: 30,6km (com carona e subida da Cratera Navidad)
Maior altitude: 1883m
Menor altitude: 915m
Dificuldade: para quem for fazer tudo a pé a dificuldade é alta pois a estrada sobe muito e o lugar tem pouca água

A temperatura mínima foi -2,4ºC registrada às 8h05 da manhã. A barraca amanheceu congelada e tive de estendê-la um tempo ao sol para não colocá-la na mochila toda molhada.

Voltei a caminhar pela estradinha às 10h43 e 350m à frente encontrei a placa de bienvenido à reserva, um mapa, uma ponte de madeira com porteira de ferro trancada e uma placa de "cierre preventivo y temporal del área - riesgo de incendio", o que me confirmava que eu havia feito a trilha Tolhuaca desde ontem como clandestino. Passei por uma tronqueira à direita da porteira de ferro saindo da reserva e ganhando uma estrada reta e cercada nos dois lados que desembocou na estrada principal de terra.

Ali minha sorte estava lançada para conseguir uma sonhada carona pois teria uma estrada de 20km pela frente (até a Cratera Navidad) e não estava a fim de andar tudo isso por uma estrada seca, com pouca sombra e muita subida.

Fui para a direita na estrada, passei por duas fontes de água e... apareceu a tão esperada carona! Mal fiz sinal e a camionete parou. Eram dois caras que estavam a trabalho. 

Às 11h50 cruzamos uma porteira e reentrei na Reserva Nacional Nalcas muito próximo de onde fica a trilha para o Salto La Holandesa, que queria muito conhecer porém não podia perder essa carona já que passam pouquíssimos carros nessa estrada.

Vulcão Tolhuaca e o enorme escorial





E daí em diante eu comecei a ter idéia da dimensão do escorial do Vulcão Lonquimay. É algo impressionante, nunca tinha visto nada igual. A lava petrificou numa área enorme e a estrada passa bem ao lado. O que se vê é uma parede assustadora de pedras que parece desabar sobre a estradinha. É preciso bastante cuidado ao dirigir nesse lugar. A Laguna Escorial também impressiona pela quantidade de árvores mortas com os galhos brancos acima da superfície da água.

E aí a estrada começa a subir, subir, subir, com visão dos vulcões Lonquimay e Tolhuaca no horizonte e aquele "mar" de lava petrificada abaixo. Nessa subida longa, árida, poeirenta e exposta ao sol lembrei do relato do Peter, que não conseguiu carona e enfrentou, junto com o Ramon e a Paula, tudo aquilo na pernada.

Às 12h18 passamos por um mirante em forma de plataforma à direita e no ponto mais alto da estrada (1843m) comecei a avistar a Cratera Navidad e sua trilha de subida, o que me pareceu bem difícil pela inclinação. Cinco minutos depois da plataforma saltei da camionete para subir a cratera. Já podia dispensar a abençoada carona pois estava próximo de Corralco e até lá seria só descida. 

Eles me deixaram bem no início da trilha para a cratera num local indicado no gps como sendo o limite entre as reservas Nalcas e Malalcahuello. Dali segui as estacas azuis e desci a uma baixada antes de iniciar a ascensão propriamente dita. O lugar ali parece outro planeta, totalmente sem árvores ou plantas, somente areia vulcânica e pedras, nada de água. Às 13h06 deixei a mochila próximo ao início da ladeira e comecei a subir. Cruzei com dois caras descendo e um deles me ofereceu o seu cajado, o que foi muito bem-vindo pois a subida pela terra solta e pedras era um passo para cima e dois para baixo. Às 13h30 alcancei a beirada da cratera. O que se vê é um grande buraco de areia e pedras com dois "olhos", dois buracos mais fundos e escuros. A última erupção do Lonquimay ocorreu em 1988 através dessa cratera. Como era 25 de dezembro ela foi batizada de Navidad (Natal, em espanhol).

Dei a volta completa ao redor da cratera e a visão do escorial imenso abaixo continuava impressionante. O vulcão Lonquimay obviamente está bem ao lado, a noroeste o Tolhuaca e distante os vulcões Callaqui (norte) e Copahue (nordeste). A altitude no ponto mais alto da cratera é de 1883m.

Cratera Navidad





Às 14h26 iniciei a descida, resgatei a mochila e subi de volta à estrada por uma trilha que me levou um pouco mais ao norte. Ainda caminhei pela estrada voltando um pouco mais (direção norte) para fotografar o Vulcão Lonquimay com a cratera na frente, tal como havia visto da janela da camionete.

Agora era descer a estrada seca e poeirenta de rípio até Corralco e procurar um lugar para acampar. Às 16h30 passei de novo pelo início sinalizado da trilha para a Cratera Navidad e era muito bonita a visão do Vulcão Llaima ao fundo. Mais abaixo comecei a visualizar as estações de esqui com seus teleféricos no meio da areia vulcânica e o Hotel Valle Corralco já na borda do bosque onde predominam as araucárias. 

Às 17h27 a estrada de rípio desembocou numa estrada de asfalto. À direita o asfalto terminava e era rípio também até as estações de esqui. À esquerda a estrada descia em asfalto a Corralco e à rodovia 181. Fui para a esquerda, mas procurava uma sombra para descansar e comer alguma coisa. Entrei então no bosque de araucária à direita da estrada que deve pertencer ao Hotel Valle Corralco. Eu queria evitar o encontro com qualquer funcionário do parque para não ter de dar explicações de onde eu vinha e por onde estava caminhando, como aconteceu com o Peter. Então pensei em descansar um pouco ali e passar pela portaria Corralco só depois das 18h como fez o Renato. A partir da portaria retomaria a trilha amarela, aquela do primeiro dia da caminhada, para me levar de volta à bifurcação com a trilha laranja e dali descer a Malalcahuello. Mas olhando o gps vi que a trilha amarela passava a 500m dali onde eu estava. Resolvi procurá-la. Não havia trilha nesse bosque de araucárias mas o avanço era bem fácil, sem nenhuma mata fechada impedindo. Com isso, encontrei a trilha amarela sem nenhuma dificuldade, o que me poria no caminho de volta no dia seguinte sem ter de passar pela portaria Corralco. Aproveitei para fotografar uma "araucária milenária" que havia ali.

Mas onde passar a noite? Ali mesmo no bosque encontrei um lugar plano para a barraca, só tive de limpá-lo de pedras e gravetos. Fora do bosque o terreno era mais pedregoso e eu estaria mais exposto.

Altitude de 1421m.

Araucária milenária


28/03/18 - 5º DIA - de Corralco a Malalcahuello

Duração: 6h48
Distância: 17,4km
Maior altitude: 1796m
Menor altitude: 954m
Dificuldade: média pois há bastante subida

A temperatura mínima da noite foi 2,2ºC. Às 8h fazia 12ºC, bem "quente" em comparação com os dias anteriores.

Saí do acampamento às 9h08 e refiz o caminho até a trilha amarela (Sendero El Coloradito). Nele tomei a direita, me afastando do bosque de araucárias e passando a caminhar por areia vulcânica na direção do Vulcão Lonquimay (noroeste), que hoje estava encoberto pela primeira vez. As estacas amarelas me davam a direção, com o limite da floresta e uma vala profunda à minha esquerda. Essa vala escavava a terra da beirada da floresta causando o desabamento de algumas árvores grandes. À minha direita podia ver (e ser visto) o Hotel Valle Corralco e as estações de esqui, bem como a estrada por onde desci no dia anterior.

Eu às vezes afundava o pé quase todo na areia, como acontecia no segundo dia de caminhada. A subida suave inicial foi se tornando mais inclinada em direção ao selado entre o Cerro Colorado (esq) e o Lonquimay (dir). Nessa subida vi que havia água corrente abaixo à esquerda, mas não desci para pegar. Atingi o Passo Colorado, de 1796m de altitude, às 10h22 e a visão para o outro lado era familiar: o local onde acampei na primeira noite e a subida ao Passo Huamachuco que encarei no início do segundo dia. Mas como decidi terminar a caminhada pela trilha Piedra Santa ainda faltava muito chão para caminhar.

Desci do passo caminhando ainda pela areia vulcânica e alcancei o cruzamento da trilha amarela (Sendero Coloradito) com a trilha laranja (Sendero Laguna Blanca) às 10h54. Altitude de 1486m. Nesse cruzamento, na subida do primeiro dia, fui para a esquerda para entrar no Sendero Laguna Blanca. Agora descendo tomei a esquerda também, porém em sentido oposto pela mesma trilha Laguna Blanca (mais adiante ela se transforma em Sendero Piedra Santa, de cor azul celeste). Esse caminho me levaria à portaria Malalcahuello e, ao contrário do que eu imaginava, é longo, tem várias subidas e pouquíssima água. Mas felizmente tem bastante árvore.

Araucária com galhos grossos como troncos
Às 11h24 parei num riacho com ponte de madeira para fazer um lanche (não sabia que demoraria muito a aparecer outra água corrente e abundante como essa de novo). Às 12h04 apareceu um gramadão à direita onde caberiam muitas barracas (parece que há água nos arredores mas não procurei). Na subida seguinte observei que era possível avistar no horizonte não só o Passo Huamachuco como também o Passo Pancutra, ambos do segundo dia. Mas não era possível ver mais distante pela neblina que insistia em permanecer. 

Esse caminho está repleto de araucárias e o tronco de várias delas lembram não as araucárias brasileiras mas sim as árvores de tronco ressecado do nosso cerrado, cheio de gomos. 

Para quem imaginava que ia ser só descida até a rodovia, tal como no Sendero El Coloradito, me enganei totalmente. Esse caminho subiu acima dos 1700m de altitude por duas vezes antes de iniciar a descida. Haja perna!

Nessa caminhada por cristas avistei em certo momento a rodovia 181 passando lá embaixo com casas ao longo. Às 13h19 cheguei a uma placa que informava o final do Sendero Laguna Blanca (laranja) e início do Sendero Piedra Santa (celeste). O caminho é o mesmo, não há nenhuma bifurcação que marque esses limites. O que muda é que a trilha celeste se interna de vez na mata e é praticamente só descida. 

Às 14h16 passei pelo primeiro mirante-plataforma com vista e texto sobre o Rio Cautín que corre bem abaixo no fundo do vale. A mata foi se tornando mais densa e comecei a notar as enormes árvores com troncos muito grossos bem ao lado da trilha. Às 15h o segundo mirante-plataforma com vista para o vale do Rio Coloradito, por onde subi no primeiro dia (a neblina não me deixou ver o Vulcão Lonquimay). 

Às 15h27 passei por um gramado à esquerda com espaço para várias barracas e água fácil ao lado, mas não creio que a Conaf permita acampar ali e estava a apenas 1,2km da administração. Cinco minutos depois outra fonte de água e mais 2 minutos fui à esquerda numa bifurcação com um mapa da reserva. Às 15h40 passei por um galpão à direita e finalmente às 15h56 cheguei à portaria Malalcahuello. Altitude de 954m. Se quisesse poderia ter saído sem ninguém me notar, mas queria saber se poderia acampar ali para fazer as trilhas mais curtas El Raleo, Las Araucarias e 3 Arroyos. A garota que me recebeu disse que essas trilhas estavam fechadas por falta de manutenção e que todas as outras estavam abertas, inclusive o circuito ao redor do vulcão! E que era permitido acampar em qualquer lugar ao longo do circuito... e aquela placa de "cierre preventivo y temporal del área - riesgo de incendio" que vi na portaria Rio Lolco? 

Ela tinha uma tabela com todos os horários de ônibus e vi que já ia passar um diretamente a Temuco, então não estendi mais a conversa e tratei de correr para o ponto para pegar o ônibus, que passou exatamente no horário (16h15). Dali foram 40min até Curacautín e mais 2h até Temuco.

Vulcão Lonquimay





Informações adicionais:

Ônibus de Temuco a Lonquimay passando por Malalcahuello:
. saindo do/indo para o Terminal Buses Bio Bio em Temuco:
ver horários atualizados em www.busesbiobio.cl
. saindo do Terminal Rural em Temuco:
seg a dom: 7h30, 15h55, 18h25

Ônibus de Temuco a Curacautín:
Temuco-Curacautín:
. saindo do Terminal Buses Bio Bio em Temuco:
ver horários atualizados em www.busesbiobio.cl
. saindo do Terminal Rural em Temuco:
seg a sáb: a cada 30min/1h das 6h25 às 21h
dom e feriados: 8h, 10h, 13h, 14h30, 17h, 19h, 21h
. saindo do Terminal Rodoviário de Temuco:
seg a sex: 6h45, 7h25, 9h, 13h50, 15h40, 16h, 17h, 17h20, 18h25, 19h30, 20h
sáb: 6h45, 9h, 13h50, 16h, 18h25, 19h25, 20h
dom e feriados: 9h, 11h, 11h50, 15h30, 16h30, 18h, 20h10

Curacautín-Temuco:
. indo para o Terminal Buses Bio Bio em Temuco:
ver horários atualizados em www.busesbiobio.cl
. indo para o Terminal Rural em Temuco:
seg a sáb: a cada 15min/30min das 5h45 às 20h30
dom e feriados: 8h, 11h, 12h, 16h, 17h

Ônibus de Curacautín a Lonquimay passando por Malalcahuello:
Curacautín-Malalcahuello:
seg a sex: 8h, 10h, 12h, 14h, 16h, 17h55
sáb: 8h, 10h, 12h, 14h, 17h55
dom e feriados: 10h, 17h55
(ver mais horários em www.busesbiobio.cl)

Malalcahuello-Curacautín:
seg a sáb: 7h, 7h45, 9h30, 10h, 12h15, 15h30, 15h40, 18h15, 19h50
dom e feriados: 9h15, 13h, 17h, 18h30, 19h50
(ver mais horários em www.busesbiobio.cl)

Nome, cor e trajeto das trilhas que percorri:
. Sendero Coloradito - amarelo - porteira Los Pinitos à portaria Corralco
. Sendero Laguna Blanca - laranja - placa no final da trilha celeste ao início da trilha lilás (pés do vulcão Tolhuaca)
. Sendero Tolhuaca - lilás - final da trilha laranja (pés do vulcão Tolhuaca) ao Rio Lolco
. Sendero Piedra Santa - celeste - portaria Malalcahuello à placa no início da trilha laranja

O grau de dificuldade que coloco nos relatos é uma avaliação pessoal e considera que o trilheiro esteja acostumado a caminhadas de vários dias com mochila cargueira. Para um iniciante considere todas as trilhas como difíceis. Para um iniciante que não esteja em boa forma física é melhor procurar trilhas fáceis de um dia para ganhar experiência e condicionamento.

Rafael Santiago
março/2018