Laguna La Vaca Hundida |
Início: portaria Pichares do Santuário El Cañi
Final: povoado de Coilaco
Duração: 2 dias
Distância: 22,9km
Maior altitude: 1549m
Menor altitude: 354m
Dificuldade: fácil (para quem está acostumado a caminhadas de vários dias com mochila cargueira)
A palavra cañi significa na língua dos mapuche "outro olho" ou "outra visão", ou num significado mais profundo "a visão que transforma". O Santuário El Cañi é um parque particular administrado pela Fundación Lahuén e foi criado em 1992 para proteger os bosques, lagunas e a biodiversidade de um local sagrado para a cultura mapuche-pehuenche. Situa-se na região da Araucanía, de número IX (as regiões no Chile têm nome e número romano), próximo à cidade de Pucón.
13/03/18 - 1º DIA - da portaria Pichares à Laguna Negra e subida ao Mirador Melidekiñ
Duração: 4h à Laguna Negra + 46min ida e volta ao Mirador Melidekiñ + 1h15 do Circuito de las Lagunas
Distância: 7,8km à Laguna Negra + 1,9km ida e volta ao Mirador Melidekiñ + 2,1km do Circuito de las Lagunas
Maior altitude: 1549m
Menor altitude: 354m
Dificuldade: fácil (apesar do desnível de 1195m da portaria ao mirador não há nenhuma dificuldade)
No terminal de ônibus Pullman em Pucón tomei o micro-ônibus das 8h50 para El Cañi, que saiu de verdade às 9h (ver horários abaixo em Informações Adicionais). Esse ônibus vai para diversas termas próximas à cidade e eu saltei na portaria do Santuário El Cañi às 9h28. Altitude de 354m. Ali fica a administração da reserva. Fui recebido pelos atenciosos guias/guardaparques que me passaram todas as informações sobre a travessia a Coilaco, caminhada que pouca gente faz. A grande maioria dos visitantes se limita a um bate-volta dessa portaria ao Mirador Melidekiñ. Eu não iria desperdiçar um contato maior com um lugar tão bonito, então fui com barraca e comida para passar uma noite ali e curtir a natureza ao máximo (acabei passando duas noites por causa do mau tempo, mas isso estava previsto).
Vista do Mirador Melidekiñ para as lagunas Negra (dir) e Bella (esq) |
Na portaria paguei a tarifa de entrada de CLP 4000 (R$ 21) e de camping de CLP 3000 (R$ 16) por noite e recebi um folheto com mapa bastante detalhado e informações de fauna e flora. Esse folheto descreve 9 pontos de observação e é bastante interessante parar em cada um e ler o respectivo texto.
Saí às 9h50. A caminhada começa por uma estrada de terra que passa logo atrás da administração, indo para a esquerda. Percorri esse trecho parando muitas vezes para saborear as amoras maduras que dão em arbustos espinhentos. Às 10h20 encontrei o estacionamento da reserva à esquerda e um caminho largo que sai à direita com uma seta. A sinalização aqui merece uma nota: é toda feita com placas de madeira com símbolos em lugar de palavras. A localização e explicação de cada símbolo estão no folheto. As setas são feitas de pedaços de bambu.
O caminho largo da direita sobe e passa por uma guarita, que estava vazia. Subindo mais uns 4 minutos (desde a guarita) encontrei água e parei para um lanche. Voltei a caminhar às 10h47 e a subida é constante. Às 10h53 passei pelo Camping La Loma mas não vi ninguém. Uma torneira ali fornece água. Às 11h12 uma bifurcação com símbolos e setas de bambu: a caminhada continua para a esquerda, mas à direita vale a pena ir até o Mirador Kutralko (a apenas 25m) e ler o que o folheto do parque explica sobre a história da comunidade de Pichares. A visão é para o vale do Rio Liucura a oeste.
Voltando à trilha principal, apenas 3min à frente vi o símbolo de água (uma gota azul) e entrei na mata para ver uma pequena e singela cachoeira. Às 11h49 alcancei o Mirador Mamüll, com vista também para o vale do Rio Liucura a oeste, além do Lago Caburgua a norte-noroeste. As rosas-mosquetas já perderam suas flores e estão com frutos crescidos porém ainda verdes. É uma planta muito abundante no Chile. Às 12h09, ainda subindo pelo caminho largo, cheguei ao Refúgio Aserradero (serraria, em espanhol). Ali há um quincho, uma construção de madeira bem grande com espaço para fazer fogo dentro. Neste havia uma plataforma elevada onde se pode pernoitar. Também se pode acampar nesta área e havia uma barraca apenas. Uma construção de madeira elevada mais abaixo deve ser o banheiro.
Vulcão Villarrica |
Continuei a caminhada às 12h19 e o caminho largo se converte em trilha em meio a um bosque muito bonito. Às 12h49 passei pela Estação Silêncio. A leitura do folheto para este local convida a "tomar um minuto e escutar a vida destes bosques" repletos de grandes coigües e habitat de pássaros como o carpintero (pica-pau da Patagônia). Realmente vale a pena parar um pouco, ficar em silêncio e se integrar a essa natureza tão acolhedora.
Às 13h02 cheguei à primeira das muitas lagunas, a Laguna Seca ou Laguna Las Totoras. Como os nomes já dizem, há muito mais capim (totora) do que água. E infelizmente há vacas pastando. Às 13h23 encontro uma bifurcação e vou para a esquerda (à direita é um dos caminhos para Coilaco, mas tomaria outro no dia seguinte que encontra esta trilha 1,1km adentro).
Às 13h29 chego ao local denominado Pewen, território das lindas araucárias, árvore sagrada para os mapuche-pehuenche, que tinham o pinhão como base de sua alimentação. Para esses povos é importante pedir permissão às araucárias para entrar no bosque. Além dessas árvores quem me dá as boas-vindas é uma raposinha moradora do local. Às 13h47 alcanço enfim a Laguna Negra e sua área de acampamento. Antes de subir ao mirante já reservei o melhor lugar, um gramado plano e espaçoso perfeito para essa noite. Montei a barraca, fiz rapidamente uma mochila de ataque com roupa de frio, de chuva, lanche, água e comecei a subir ao mirante às 14h14. Muitos zigue-zagues para amenizar a inclinação e atinjo o Mirador Melidekiñ às 14h37. Visão espetacular, dia maravilhoso. Além de todos os lagos da reserva, do Lago Villarrica, do Lago Caburgua e das cidades de Pucón e Villarrica, o folheto me informa que vulcões avisto lá de cima: Villarrica a sudoeste, Quetrupillan ao sul, Lanin a sudeste e Llaima ao norte. Havia bastante gente no mirante, estava meio congestionado até... rs. Mas o pessoal do bate-volta logo começou a descer e restaram poucas pessoas admirando o lugar com mais calma. Uma brasileira apareceu por lá mas desceu logo também. Altitude de 1549m, desnível de 1195m desde a portaria.
Iniciei a descida às 16h16 e havia várias pessoas subindo ainda ao mirante. Às 16h42 estava de volta à barraca e parti para o Circuito de las Lagunas, de 2,1km de extensão. Fiz no sentido horário, como sugerem as placas do caminho. Pela ordem passei pelas lagunas El Risco, La Vaca Hundida (a vaca afundada), Escondida e Bella. Completei o circuito todo em 1h10 tranquilamente. Todas lagunas muito bonitas em meio a bosques deliciosos de se caminhar.
No mapinha do parque esse acampamento da Laguna Negra possui banheiros mas na realidade não há. Vi a base do que pode ter sido uma cabana ou um banheiro, mas não resta mais nada. Água se pode coletar da laguna (e tratar) ou de um fio d'água que corre ao lado do acampamento. Nessa noite havia mais 3 barracas e todas montadas na pura terra úmida para sujar bastante.
Altitude de 1334m.
Vista do Mirador Melidekiñ |
14/03/18 - dia inteiro de chuva, granizo, ventos, neblina e muito frio. Saí da barraca após as 17h e os meus vizinhos haviam ido embora. Desmontaram acampamento embaixo de chuva e desceram com aquele tempo horrível.
15/03/18 - 2º DIA - da Laguna Negra a Coilaco
Duração: 3h20
Distância: 11,1km
Maior altitude: 1451m
Menor altitude: 660m
Dificuldade: fácil
A temperatura mínima da noite foi 0,2ºC, mas saiu o sol como previu o site www.yr.no (os outros erraram).
Logo cedo subi ao mirante de novo e consegui fotos bem melhores pois pela manhã o céu é muito mais limpo, à tarde as nuvens começam a se acumular. Na volta desmontei acampamento e comecei a caminhar às 13h28. O plano era atravessar o parque e sair por Coilaco, uma localidade ao sul da reserva onde há ônibus para voltar a Pucón. Água nesse dia só a das lagunas mesmo.
Refiz uma parte do Circuito de las Lagunas porém no sentido anti-horário para alcançar mais rapidamente a saída para Coilaco a partir de uma bifurcação explorada no dia anterior. Essa bifurcação fica junto à Laguna Escondida. Ali tomei a direita, passei pela laguna e enfrentei uma longa subida. Na descida seguinte me vi entre dois lagos e tomei a trilha da direita na bifurcação às 14h27. Essas são as Lagunas Las Mellizas (última água do dia). Ao contornar uma delas surge uma bifurcação. Meu caminho é à direita mas subo à esquerda para visitar a Laguna del Cráter (cratera), porém chegando lá só se avista a laguna bem do alto, não encontrei trilha para descer a ela. Voltei à trilha principal, subi alguns poucos metros e atingi o ponto mais alto, daí em diante só descida pela mata. Às 15h02 saio da mata e encontro uma grande clareira com a Laguna El Carpintero, na realidade uma depressão sem uma gota d'água. A trilha continua reentrando na mata ao sul, logo à esquerda do local da chegada à laguna (há uma placa de madeira "Laguna Carpintero" sinalizando a trilha). Com 25m alcanço a trilha principal que vem daquela bifurcação citada no primeiro dia (entre a Laguna Seca e Pewen).
Vulcão Lanin na fronteira com a Argentina |
Às 15h36 pulo uma porteira com cadeado e saio da reserva. Placas dão as boas-vindas a quem faz o caminho contrário e indicam que ali é a Entrada Coilaco. Mas não há guarita ou casa por perto para cobrar a entrada de quem chega. O caminho se alarga e vai se tornando uma estradinha à medida que sai do bosque. Sigo sempre descendo pela principal. Passo por pilhas de madeira extraída da mata, plantações cercadas e às 16h08 me deparo com um portão de ferro com cadeado, ao lado outro portão de ferro destrancado por onde pude passar. Cerca de 50m adiante entroncou uma outra estradinha à direita, fui para a esquerda. Cruzei uma porteira de arame bem no meio da estrada. A essa altura já estava caminhando bem rápido pois o ônibus saía de Coilaco às 17h e o caminho era mais longo do que eu previa. Consegui chegar à estrada de Coilaco às 17h em ponto, mas não havia ninguém para perguntar se o ônibus já havia passado (e era o último do dia). Altitude de 660m. Sentei para descansar e comecei a pedir carona para os poucos carros que passavam. Até que um sitiante parou a camionete e me deu carona até o asfalto entre Vila San Pedro e Pichares. Cruzamos com o ônibus ainda indo em direção a Coilaco, estava bem atrasado. Mas o sitiante me confirmou que esse ônibus é irregular, nem sempre passa nos horários marcados na tabela do terminal de Pucón. No local onde ele me deixou há ônibus mais frequentes, esperei cerca de 20 minutos me fartando com as amoras silvestres em pencas bem ao lado do ponto.
Informações adicionais:
Os horários de ônibus entre Pucón e El Cañi são:
. saindo do Terminal Rural situado à Rua Uruguay, em frente ao Terminal JAC:
Pucón-El Cañi-termas:
seg a sáb - 7h, 10h30, 13h30, 15h40, 17h30
dom e feriado - 10h30, 13h30, 15h40, 17h30
termas-El Cañi-Pucón:
seg a sáb - 8h10, 11h30, 14h30, 16h30, 18h30
dom e feriado - 11h30, 14h30, 16h30, 18h30
. saindo do Terminal Pullman situado à Rua Palguin:
Pucón-El Cañi-termas:
seg a sáb - 8h15, 8h50, 10h, 12h30, 14h30, 15h30, 17h, 18h30, 20h20
dom e feriado - 8h15, 10h, 12h30, 15h30, 19h
termas-El Cañi-Pucón:
seg a sáb - 9h10, 9h30, 11h, 13h30, 15h30, 17h, 19h30
dom e feriado - 9h10, 11h, 13h30, 17h
Tarifa de CLP 1000 (R$ 5,35)
Horários de ônibus entre Pucón e Coilaco (ônibus irregular segundo informaram, melhor confirmar com alguém do terminal ou algum motorista se o ônibus vai sair mesmo):
Pucón-Coilaco: 11h30, 16h15, 18h45
Coilaco-Pucón: 7h, 12h30, 17h
A entrada na reserva custa CLP 4000 (R$ 21) e o camping custa CLP 3000 (R$ 16) por pessoa por noite. Os locais permitidos para camping são Refúgio Aserradero e Laguna Negra.
Para saber mais: www.santuariocani.cl
O grau de dificuldade que coloco nos relatos é uma avaliação pessoal e considera que o trilheiro esteja acostumado a caminhadas de vários dias com mochila cargueira. Para um iniciante considere todas as trilhas como difíceis. Para um iniciante que não esteja em boa forma física é melhor procurar trilhas fáceis de um dia para ganhar experiência e condicionamento.
Rafael Santiago
março/2018
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