sábado, 24 de abril de 2010

Travessia Horto de Campos-Barreira (SP-MG) - abr/10


As fotos estão em http://lrafael.multiply.com/photos/album/113.

Transmantiqueira - do Horto de Campos às portas do Marins

A idéia de realizar uma grande travessia Transmantiqueira foi se definindo nos últimos meses, após sucessivas explorações em diversos segmentos dessa serra. A conexão entre esses segmentos foi parecendo viável pela análise dos mapas e imagens de satélite, restando ir aos próprios locais para avaliar os caminhos possíveis e tentar obter informações mais concretas.

Tendo já feito numa ocasião a travessia entre o Pico do Diamante e os limites do Parque Estadual de Campos do Jordão (mais conhecido como Horto de Campos) e noutra a travessia Marins-Itaguaré, restava explorar a conexão entre ambas.

Há uma estrada de terra que liga o Horto ao sul de Minas, porém queria algo mais interessante do ponto de vista trilheiro/montanhista (segundo informação do parque, essa estrada não está em condições de tráfego para carros comuns por causa das valetas deixadas pelos caminhões das madeireiras). Resolvi então pegar exatamente o ponto onde termina a travessia do Pico do Diamante, num local chamado Sertão do Moreira, e continuar dali por estrada - ou trilha, de preferência - até o mais próximo possível do Marins, o que acabou sendo o posto fiscal da divisa, no bairro da Barreira, às margens da BR459, rodovia que liga Piquete a Itajubá.

E é esse o roteiro que descrevo a seguir, o qual pode se tornar bem mais interessante com a inclusão dos picos do Carrasco, do Vista Alegre e do Cabrito, ótimos mirantes para a Mantiqueira e o Vale do Paraíba. Desta vez ninguém topou ou pôde me acompanhar e parti para a empreitada em carreira-solo.

Algumas informações deste relato foram atualizadas em novembro de 2016, quando voltei ao local com mais tempo e pude fazer algumas explorações.

1º DIA: DO HORTO DE CAMPOS AO BAIRRO DO CHARCO (QUASE)

No sábado, peguei o primeiro ônibus para Campos do Jordão, às 6h. Na rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro (SP-123), pude finalmente identificar o pico que parece ser o mais alto quando se observa a Mantiqueira a partir da Dutra na altura de Taubaté: é o Pico Agudo, de Santo Antônio do Pinhal. E a Floriano alcança o alto da serra pelo selado à direita dele, ou seja, entre o Pico Agudo e a torre solitária do Pico do Diamante.

Chegando à rodoviária de Campos, atravessei a avenida que acompanha os trilhos do trem e esperei o ônibus para o Horto ao lado do posto de gasolina. Esse ponto de ônibus é identificado apenas por um poste pintado de azul. O dia estava esplêndido: havia sol e ainda um ligeiro friozinho matinal. As folhas douradas dos plátanos completavam o clima outonal da serra.

O circular para o Horto sai do bairro Santa Cruz a cada hora exata+10minutos e passa por ali à hora exata+40minutos, isto é, passa de hora em hora. Peguei o que passou ali às 9h40 e cheguei ao Horto pouco depois das 10h. Desci na guarita do parque pois o ponto final é ainda 800m à frente. A altitude é de 1529m.

Dali voltei menos de 200m e entrei na estrada de terra à esquerda com placa indicando Mirante São José dos Alpes. Aí começou a minha longa jornada, exatamente às 10h23. E de cara enfrentei uma subida de cerca de duas horas. Em 10 minutos passei por um conjunto de casas de madeira com um largo gramado à esquerda. E ali é que a subida começou de verdade, mas por sorte o caminho é bem sombreado. Às 11h10 a paisagem se abriu à direita e pude vislumbrar a Pedra do Baú com um perfil um pouco diferente do habitual. Mais subida e às 11h40 alcancei o grande portão da Fazenda Céu Estrelado. E bem do lado direito o final da trilha do Sertão do Moreira, a conexão com a parte oeste da Transmantiqueira já que leva ao Pico do Itapeva, Diamante e além. A subida continua tendo agora a cerca da citada fazenda do lado direito. Mais à frente, numa parte plana da estrada, é possível ver longe, à direita, as torres de vigilância de outra fazenda, a imensa Fazenda Lavrinhas, a qual vou percorrer pelo restante do dia ainda. Essas torres não são somente para impressionar, realmente há vigias nelas e já tivemos algum contratempo com eles por tentar usar um atalho através da cerca. Logo em seguida, às 12h, chego à primeira bifurcação. Para a direita fica o tal Mirante São José dos Alpes, apesar de a placa não apontar a direção e isso confundir os motoristas (tive de orientar um casal que se perdeu). Para a esquerda as placas apontam Gomeral, hospedagem para romeiros, etc. Aqui chego aos domínios da citada Fazenda Lavrinhas e vejo a primeira casa da fazenda atrás das placas, porém vazia. Durante todo o percurso até aqui, e ainda mais à frente, tenho sempre à esquerda os limites do Horto.

Até aqui cruzei com apenas dois carros que devem ter ido até o mirante e com um homem fazendo caminhada com seu fiel amigo de quatro patas.

Tomo o ramo da esquerda e a subida logo ameniza. Desnível de 400m até aqui. Minha direção geral, que desde o Horto vinha sendo sudeste, aos poucos muda para nordeste. Às 12h24 passo por uma guarita (abandonada) de vigilância do parque, exatamente na divisa deste com a fazenda, e daqui em diante tenho a cerca da propriedade dos dois lados da estrada. Atinjo o ponto culminante de toda a travessia, a 1976m. As placas por todo o caminho me lembram sempre que estou andando cercado (literalmente) pelo latifúndio e que ali tudo é proibido. O preciosismo é tanto que até os mourões (uma parte deles) têm o nome "Fazenda Lavrinha" gravado.

Às 12h40 cruzo um riachinho, o primeiro ponto de água, que parecia limpa porém do outro lado da cerca, como tudo ali. Ao lado tenho mais uma casa da fazenda, esta também vazia. Em seguida uma casa de criação de carneiros acima à direita, alguns chalés de dois andares e às 13h a segunda bifurcação. As placas indicam que em frente é a Estrada das Pedrinhas, bairro de Guaratinguetá, e logo um grupo de motos e carros 4x4 passa por mim vindo de lá. Seria perfeitamente possível descer a serra por esse caminho e no bairro Pedrinhas tomar o ônibus para Guará que passa a cada duas horas, porém não era esse o meu objetivo.

De todas as placas dessa bifurcação nenhuma me dizia o que eu iria encontrar se fosse para a esquerda, mas era essa a direção que eu queria. A lacônica e única placa no ramo da esquerda apenas alertava "área de proteção ambiental permanente". E foi por ali que eu fui. Assim deixo de caminhar pela estrada mostrada pelo gps e passo a confiar na carta topográfica do IBGE apenas (pobre de mim!). Até aqui não havia cruzado com nenhum morador que pudesse me confirmar o percurso que pretendia fazer.

Em cinco minutos passo por mais um ponto de água (é bom abastecer o cantil aqui pois pelas próximas 3h não haverá água fácil e confiável) e logo depois por uma cachoeira um pouco distante do lado esquerdo. Às 13h15 a paisagem se abre completamente à minha frente (nordeste) e fotografo o inconfundível perfil do Pico dos Marins, ainda muito pequeno no horizonte. Mais placas da Fazenda Lavrinhas e por volta de 13h30 chego à casa de uma família que trabalha na fazenda, junto a um grande curral. A conversa foi bastante proveitosa e o atencioso morador até me ofereceu a sua antiga casa para eu passar a noite! Ele me disse que eu encontraria mais à frente uma outra área de criação de carneiros, com grandes portões de ferro, mas que são mantidos sem cadeado porque ali é rota de romeiros. E que muitos deles descem a serra por uma trilha larga (que eu havia notado) cerca de cem metros antes dali. Coisa a ser explorada em futuras incursões.

Alguns minutos à frente começo a ter ótima visão do Vale do Paraíba, com Guaratinguetá e Aparecida à direita. E 15min depois novamente a silhueta do Marins. Às 14h25 um grande portão de madeira com um chalé ao lado e uma estrada que leva à sede da fazenda, a qual pude começar a ver dois minutos depois, exatamente no local em que cruzei com uma romaria de homens a cavalo (já havia passado uma outra nesse dia). À medida que a estrada contorna a casa-sede, ela vai se mostrando cada vez mais impressionante no alto da colina. Abaixo já consigo ver os galpões de criação dos carneiros, que alcancei às 14h40.

Após fotos dos curiosos bichos, cheguei aos tais portões de ferro muito altos, que estavam realmente sem cadeado. Placas bem em frente a eles indicavam hospedagem para romeiros e uma delas advertia para a proibição da "passagem pela trilha do antigo Bretas", que é a continuação da estrada por onde vim. Passei pelos dois portões, cumprimentei de longe os funcionários que cuidavam da ração do rebanho e continuei, agora por uma estrada bem mais precária. Alguns minutos à frente, ao parar para fotos de outros carneiros no alto de um morro, ouvi um barulho no chão e era uma cobra de uns 80cm, que fugiu rapidamente. Mais à frente, o horizonte se abre amplamente e ao Marins junta-se o majestoso desenho da Serra Fina e mais à direita Itatiaia. Paisagem belíssima!

Às 15h40, mais uma bifurcação. A estrada continuava reta em frente e uma outra descia à esquerda, em direção noroeste. Fiquei um pouco em dúvida mas notei pelo mapa que se fosse para noroeste estaria me aproximando da estrada que vem do Horto e isso me levaria ao bairro do Charco. Tinha informação também de que o Charco é rota dos romeiros e se seguisse as marcas dos cavalos chegaria lá. Uma placa na bifurcação voltada para a estrada que vinha de baixo indicava pousada para romeiros (outra!) e me dava a dica de que eu deveria abandonar aquela estrada e descer à esquerda.

Desci ainda um pouco inseguro por não conseguir ver a continuação da estrada, mas logo avistei uma casa e um chalé, o que batia com a descrição (um pouco confusa) daquele morador com quem conversei lá atrás. Bati palma nas casas mas não havia ninguém. E a estradinha tomada pela erosão terminava ali, num gramado... pois bem, resolvi continuar seguindo as marcas dos cavalos dos romeiros e a direção norte/noroeste a fim de cruzar a divisa SP-MG e chegar ao Charco. Isso me levou a cruzar a ponte de madeira (água boa e acessível) e subir a encosta à frente por uma trilha em diagonal, atravessar uma matinha, subir um trecho muito erodido e alcançar um campo de capim baixo. A próxima descida com muita erosão termina num riacho mas a água é de difícil acesso. Cruzo mais um trecho de mata e no campo seguinte a trilha é mais estreita, mas continua bem marcada. Às 16h35 cheguei à divisa SP-MG, exatamente numa clareira com restos de uma cerca e um pouco de lixo. Não fosse pelo gps não saberia que estava enfim entrando em terras mineiras. Parei para um pequeno descanso e para conferir na carta onde estava. Percebi que ainda bem longe do bairro do Charco e que não conseguiria chegar antes do anoitecer, o que já me deixava em alerta para um bom local de acampamento dali em diante.

Deixando a clareira da divisa, um curto trecho de mata e novamente no aberto uma visão ainda mais bela das montanhas de Minas bem à minha frente. Nova descida e ao sair de outra pequena mata tive a impressão de ver uma trilha secundária saindo para a esquerda, junto às árvores. Não fui conferir, afinal eram 17h, o sol estava baixo e nem sinal de vida à frente. E eu já havia caminhado 23km até ali... Ao final de uma descida mais longa pela trilha dupla no capim baixo, chego a uma bifurcação em T marcada por uma árvore solitária e um gramado. À esquerda me pareceu ser a continuação daquela trilha que não fui investigar ao sair da mata (posso estar enganado). À direita havia marcas de cavalos e fui por ali. (atualizando em nov/2016: a esquerda é uma alternativa mais longa porém mais segura de não se perder no caminho para o Charco já que a "bifurcação discreta" que menciono abaixo já se tornou "bifurcação invisível". Para a esquerda basta seguir as plaquinhas do Caminho de Aparecida, só que ao contrário.)

Passei entre altas touceiras de capim, um ponto de água complicado e cheguei a uma bifurcação muito discreta. O caminho em frente (direita) era bem mais aberto e segui por ele, porém deu numa mata (logo após restos de uma cerca) e a trilha se perdeu. Dei algumas voltas, insisti um pouco porque via algumas marcas no chão, mas resolvi voltar à bifurcação discreta. Tomei a trilhazinha à direita (esquerda quando eu vim) e logo vi que ela se abria mais e continuava bem batida após um riacho. Com a escuridão iminente, tratei de encontrar um bom lugar para montar a barraca ali próximo, antes do riacho. A noite foi bem fria naquele vale e só saí da barraca por um instante para contemplar o céu coalhado de estrelas, com a Via Láctea cruzando quase toda a imensidão do firmamento.

Distância percorrida: 25km em 7h20min

2º DIA: DO BAIRRO DO CHARCO ÀS PORTAS DO MARINS

No dia seguinte, acordei bem cedo e comecei a caminhar às 6h50 pois tinha muito chão pela frente e queria chegar ao bairro da Barreira a tempo de pegar o ônibus das 16h40 para Guaratinguetá. O próximo só daí a duas horas, já de noite.

A trilha cruza o riacho, continua pela mata como um sulco de erosão e quando sai no aberto passa a bordejar a mata pelo lado esquerdo. Mais campos de capim baixo e às 7h avistei bem longe, à esquerda, uma estrada, mas não sei se é a que vem do Horto ou uma secundária. Quando a trilha se aproxima de uma cerca do lado direito entro novamente numa pequena mata e, ao sair dela, uma nova bifurcação em T e uma porteira coberta de líquen (atualizando em nov/16: nessa porteira as duas trilhas da bifurcação da árvore solitária se encontram). O caminho era bem marcado de ambos os lados, mas resolvi ir para a direita, passando por alguns alagados, outra porteira e um riacho de fácil acesso. Altas e imponentes araucárias adornam esse caminho, que segue paralelo ao Córrego da Mãe-d'água e à estrada de terra, poucas centenas de metros à esquerda (mas não visível).

Às 7h33 cheguei a uma curva de estrada, que para mim se mostrava como mais uma bifurcação. O ramo da esquerda estava mais próximo da direção norte e tinha marcas de cavalos, então segui por ele. Logo avistei as primeiras casas do Charco e às 7h45 atingi a estrada que vem do Horto, bem atrás da igreja do bairro. Fiz os cálculos no gps e para a esquerda seriam 19km de retorno ao Horto. Uma placa ali indicava "Campos do Jordão a 35km" - o gps calculou 30km até o Capivari. Mas a minha meta era a Barreira, cuja estrada sai bem do lado esquerdo da igreja (olhando-a de frente), sinalizada por uma placa indicando a Fazenda da Onça. Dali seriam mais 25km de chão (acabou dando 28km)!

Do Charco também sai uma estrada para Itajubá, distante 37km segundo a placa, e é esse justamente o caminho dos romeiros.

Bem, agora era pé na estrada a passo firme para chegar com luz do dia ao meu objetivo, considerando que poderia haver percalços pelo longo caminho. Aqui meu sentido geral deixa de ser norte e volta a ser leste e nordeste.

Por sorte a estrada é bastante arborizada e praticamente não trafegam carros. Apenas um passou por mim. Alcancei a porteira da Fazenda da Onça às 9h e as placas avisam ser uma área militar. O município é Delfim Moreira-MG. Há diversos pontos de água na descida para a sede da fazenda, pequenos afluentes que vão desaguar no Córrego da Onça, que corre num profundo vale à direita. Após a citada porteira, mais 25min e chego à sede da fazenda, com uma pequena represa, vertedouro, bica d'água, campo de futebol e mensagem de boas-vindas, parecendo mais um local de recreação. Uma placa apontava para uma cachoeira, mas não havia tempo de ir lá conferir. Parecia haver moradores numa das casas mas não vi a cara de ninguém.

Fui encontrar gente dois minutos à frente, numa cena quase insólita. Dois ou três carros parados junto a uma fonte (Mina Clara Anil) e uma família se refestelando num piquenique no meio do nada, embaixo de um sol já bem quente. Aproveitei para uma prosa e ter mais informações sobre o que viria pela frente. Eles disseram que não haviam feito o caminho pela Barreira porque a estrada estava muito ruim, coisa que eu pude comprovar dali em diante. Do Charco até ali a estrada estava viável para um carro comum, mas logo à frente uma ponte em frangalhos e sucessivos caldeirões de lama tornavam a viagem arriscada. É interessante encher o cantil nessa mina pois água limpa e de acesso fácil deve reaparecer mais de duas horas mais tarde.

Continuei o caminho pela estrada completamente cercada de mata alta, com uma deliciosa sombra, e às 10h15 cheguei à bifurcação (à esquerda) para a Fazenda Boa Esperança, que funciona como hotel e tem trilhas e cachoeiras. Colado num tronco próximo um aviso dizia que de 23 a 28 de novembro de 2009 seria realizado na Fazenda da Onça um exercício de tiro e que as estradas de acesso estariam bloqueadas. A partir daí a estrada teve trechos de sombra e outros completamente expostos, com sol forte na cabeça. E mais lama onde o sol não batia.

Às 10h48 uma bifurcação onde continuei em frente, à esquerda. Às 11h25 um entroncamento em que uma placa diz "Campos do Jordão 36km" - continuei pelo caminho mais aberto, à esquerda. Essa placa está completamente errada pois se lá no Charco a distância era de 35km, como pode ser de apenas 36 depois de eu ter caminhado mais de três horas? O gps calculou 31,8km até o Horto (seguindo a estrada, não em linha reta) e mais 11,2km do Horto até a cidade, num total de 43km.

Às 11h50 alcancei o portão do antigo Hotel do Barão, hoje uma residência particular. Daí em diante, a sombra tornou-se mais rala e o sol cada vez mais forte, o que me desgastou bastante e me fez diminuir bastante o ritmo. Por sorte reapareceram os pontos de água.

Às 12h42, assim que cruzei com motoqueiros e em seguida um fusca, encontro uma bifurcação com uma placa, porém voltada para quem vem da estrada da esquerda. Ela apontava para a direita (por onde eu vim) e indicava "Campos do Jordão 33km" - ué, diminuiu! E para a esquerda umas tais "ruínas do sanatório" a 800m. Como aquela família do piquenique havia falado desse sanatório, fiz um pequeno desvio na rota para ver do que se tratava. Satisfeita a curiosidade e fotografadas as paredes de pedra do sanatório de 1906, voltei à bifurcação e fui para a direita.

Enfrentei uma subida que pareceu longa demais para o meu cansaço e parei um pouco bem no topo, num local que talvez seja o Alto da Lavrinha. Daí em diante foi uma longa descida de mais de 6km (quase 400m de desnível) e às 14h15 volto a vislumbrar à esquerda no meio do arvoredo o conjunto do Marins. Cruzei diversos pontos de água nessa descida.

Às 15h parei alguns instantes para fotografar as imensas e impressionantes paredes de pedra que vistas no Google Earth pareciam uma pedreira ou algo semelhante. Uma altíssima cachoeira despenca em meio aos paredões e forma um pocinho raso. Essa parte da estrada estava bem precária, com lamaçal e ladeiras de pedras soltas.

O final da longa jornada, depois de tantas belas paisagens, não poderia ter sido mais inglório: um enorme e estéril reflorestamento de eucaliptos. Às 15h45 alcanço finalmente a rodovia BR459 (que liga Piquete a Itajubá) junto ao bairro da Barreira. Ali há um posto de gasolina e um posto de fiscalização da Receita Estadual, já que a divisa SP-MG fica a menos de 2km. Esperei o ônibus da Pássaro Marron para Guaratinguetá, que passa ali por volta de 16h40, porém passou um pouco antes.

A descida da serra em direção ao Vale do Paraíba é espetacular, com visão das montanhas da Mantiqueira, das cidades do vale e a Serra do Mar ao fundo.  O ônibus parou em Piquete e Lorena antes de chegar ao final, em Guará, às 17h40, onde tomei o próximo ônibus, das 18h, para São Paulo.

Distância percorrida: 33,4km em 9h

Saldo da jornada: uma bolha no pé esquerdo, diversas dores musculares e 58km de belas paisagens da sempre sedutora e surpreendente Serra da Mantiqueira.

Informações adicionais:

O circular para o Horto sai do bairro Santa Cruz a cada hora exata+10minutos e passa perto da rodoviária à hora exata+40minutos. O circular sai do Horto em direção ao centro de Campos do Jordão a cada hora exata+20minutos. Mais informações: empresa Viação Na Montanha: 0800 770 5727.

Parte desse trajeto foi incluído no caminho peregrino chamado Caminho de Aparecida (www.caminhodeaparecida.com.br) e você vai encontrar muitas plaquinhas de sinalização.

Rafael Santiago
abril/2010

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Volta completa na Ilha Grande (RJ) - dez/09

As fotos estão em:
1º e 2º dias: http://lrafael.multiply.com/photos/album/108
3º e 4º dias: http://lrafael.multiply.com/photos/album/110
5º e 6º dias: http://lrafael.multiply.com/photos/album/111
Pico do Papagaio: http://lrafael.multiply.com/photos/album/112

Após muitas idas à querida Ilha Grande, com explorações diversas a cada viagem, finalmente posso dizer que conheço aquele paraíso de ponta a ponta. E posso afirmar sem medo que a volta na Ilha Grande é o trekking de praia mais bonito do Brasil. E um dos mais pesados também.

A diversidade é o ponto forte dessa caminhada, já que as praias e vilas voltadas para o oceano conservam um clima bastante primitivo, inexistindo meios de hospedagem fora os campings rústicos. Já no lado continental surgem pousadas para todos os gostos e bolsos, embora muitas pequenas praias também conservem ainda um clima selvagem. Por outro lado, muitas das pousadas foram adaptadas sobre antigas fábricas de pescado, o que ajuda a ver esses locais e toda a ilha também com uma perspectiva histórica.

Atualmente 87% da ilha está protegida pelo Parque Estadual da Ilha Grande, instituído em 1971 e ampliado em 2007, e pela Reserva Biológica da Praia do Sul, criada em 1981, que fizeram com que algumas praias ainda se mantenham praticamente intocadas, o que parece impossível tendo em vista que a ilha situa-se no mais que explorado eixo Rio-São Paulo.

A volta na ilha é uma caminhada sem dificuldade de orientação pois grande parte está sinalizada e as trilhas foram segmentadas e numeradas de T1 a T16. Ao longo do percurso há placas grandes (painéis) que mostram um mapa da região e seus atrativos e há placas menores apenas apontando a direção das praias. A rigor, a volta completa não existe oficialmente pois alguns trechos não estão sinalizados, como Santo Antônio-Caxadaço e Parnaioca-Aventureiro (este último dentro da reserva biológica).

Uma ótima fonte de informações sobre a Ilha Grande é o site www.ilhagrande.org.

1º DIA - 19/12/09 - SÁB - do Abraão ao Caxadaço

Partimos, eu e Ronald, às 7h15 da manhã de São Paulo e seguimos para Angra dos Reis via Barra Mansa e Lídice. A maior curiosidade desse caminho são os três túneis na descida da serra, depois de Lídice, que foram escavados na pedra e parecem grutas. Deixamos o carro no estacionamento Dois Irmãos mais próximo do cais, onde a diária é de R$20 para vaga descoberta e R$30 para vaga coberta. O dono disse que poderia dar um desconto se deixássemos o carro na filial deles que fica em frente à rodoviária. Comemos numa lanchonete próxima e pegamos a barca das 13h30, chegando ao Abrãao às 15h e iniciando imediatamente a caminhada. A barca custou R$14 (durante a semana o preço é R$6,50).

Resolvemos fazer a volta no sentido horário e seguimos pela trilha T10 na direção da Praia de Palmas, mas com a intenção de alcançar ainda naquele dia a Praia do Caxadaço. Cruzamos com um grupo de três trilheiros e entre eles reconheci a Vivian, amiga até então apenas virtual. Ela e dois amigos estavam terminando a volta no sentido anti-horário.

Já nesse começo de caminhada deu para sentir, e forte, o cheiro que iria nos acompanhar por todo o percurso de seis dias: cheiro de jaca muito madura no pé e jaca podre estourada no chão, muitas bem no meio da trilha.

Na passagem pela Praia Grande de Palmas, às 16h25, fomos abordados pelos donos dos campings locais e um deles tentou nos intimidar dizendo que não havia mais campings dali até Parnaioca e que se fizéssemos camping selvagem nosso material seria apreendido. Se ele pensa que vai conseguir clientes dessa forma, está dando um tiro no pé.

Às 17h passamos pela Praia de Mangues, inteiramente ocupada pelo Hotel Fazenda Paraíso do Sol. Aqui os barcos deixam e apanham os turistas que querem conhecer a Praia de Lopes Mendes. Logo em seguida vem a Praia do Pouso e no meio dela a continuação do caminho, agora pela trilha T11. Nove minutos depois da Praia do Pouso, na direção de Lopes Mendes, surge uma placa à direita indicando a trilha para a Praia de Santo Antônio, que é também o início do caminho para a Praia do Caxadaço (que oficialmente não existe). Porém seguimos em frente mais 6 minutos e fomos contemplar por instantes a bela e deserta praia de Lopes Mendes.

Voltamos rapidamente e às 17h44 entramos na trilha para Santo Antônio, agora à esquerda.
Bem, esse é o trecho mais difícil de toda a volta pois não há nenhuma sinalização e a trilha apresenta diversas bifurcações que exigem muita atenção. Difícil também é descrevê-la, mas vou tentar. Há alguns restos de esparadrapo em alguns troncos para auxiliar, mas são poucos.

Cerca de 7 minutos depois da placa surge a primeira bifurcação: a esquerda leva à Praia de Santo Antônio e a direita, ao Caxadaço. Com o avançado da hora, seguimos à direita para alcançar logo o nosso destino. Treze minutos depois um local que exige muita atenção: ao cruzar um riachinho (que pode até estar seco) há uma grande pedra (de mais de 2m de altura) à direita e a trilha (errada) segue visivelmente em frente; aqui deve-se procurar uma trilha que sobe à direita logo depois da pedra. Três minutos depois a trilha chega a ficar escura por passar no meio e por baixo de grandes rochas. Vinte e dois minutos depois um corrimão de cordas colocado à direita, junto a uma enorme pedra, ajuda a passar por uma laje escorregadia. Mais 4 minutos e é preciso estar atento e pegar uma trilha que sobe íngreme à direita enquanto a principal parece seguir em frente. Um minuto depois, na bifurcação, deve-se subir à direita. Mais 38 minutos e o ponto mais crítico: após cruzar um riacho, há diversos caminhos. Para chegar ao Caxadaço: após cruzar o riacho, siga alguns passos pela trilha mais batida e pare na primeira bifurcação que sai para a direita; não vá nem para a direita nem para a esquerda, mas procure um terceira trilha escondida que sai no meio das duas (ligeiramente à direita). Esse caminho sai da mata fechada e sobe muito forte entre samambaias para em seguida adentrar novamente a mata. Daqui em diante é se manter na trilha mais batida pois a descida dá direto na Praia do Caxadaço.

No ponto mais crítico que citei, o caminho sempre em frente leva a um bom local de acampamento, plano e do outro lado do riacho (acampamento que pode até ser uma boa opção dependendo do horário pois não é nada recomendável fazer esse trecho com pouca luz). Depois o caminho continua até um costão rochoso, mas não é uma boa alternativa tentar chegar ao Caxadaço por esse costão.Lembro-me de dois bons pontos de água em todo esse trecho de Lopes Mendes ao Caxadaço.Chegamos à praia às 20h25 com o auxílio de lanternas e acampamos na parte plana mais próxima ao riacho. Não custa lembrar que o camping aqui é proibido, assim como em todas as praias entre Palmas e Parnaioca.

2º DIA - 20/12/09 - DOM - do Caxadaço a Parnaioca

Levantei às 6h30 para curtir aquela maravilha de praia, lugar que eu sonhava conhecer há muitos anos. E era só nossa. Ao subir no costão à esquerda, vi duas tartarugas-marinhas e uma lontra nadando despreocupadas. Infelizmente às 10h30 apareceu a primeira lancha de turistas e resolvemos retomar a caminhada.

A trilha para Dois Rios começa depois do riacho, que deve ser cruzado pela ponte-tábua e depois saltando pelas pedras. Daqui em diante entramos numa trilha oficial, a T15, sinalizada e sem nenhuma dificuldade. Num trecho ela tem calçamento antigo, feito pelos escravos, que denominaram Caminho das Pedras. Em 1h35 alcançamos a estrada Abraão-Dois Rios, bem no local onde há um painel da trilha T15, um pouco antes da alameda de palmeiras-imperiais que marca a entrada dessa vila, descendo à esquerda. Na chegada à primeira praça, um guarda nos abordou e anotou nossos nomes e nosso destino. Dissemos que iríamos só até Parnaioca, o que é permitido (depois começa a área da reserva biológica).

Comemos um lanche na praia (um bar ali serve PF) e fomos visitar o antigo presídio, ou Instituto Penal Cândido Mendes, desativado e implodido em 1994. Quem se impressiona com o estado atual desse local, não sabe o que era aquilo antes da "reforma". Eram só escombros abandonados na última vez em que lá estive. Hoje melhoraram o aspecto geral com uma pintura, isolamento das ruínas não recuperadas e a criação do Museu do Cárcere, com muitas fotos antigas, painéis com textos e uniformes dos detentos.

A trilha T16 começa exatamente do lado direito do presídio, seguindo o muro, e tem como atrativos a Toca das Cinzas, local onde, segundo a lenda, os escravos ladrões eram mantidos presos em argolas até virarem pó, e uma figueira gigante, tão grande que uma trilha a circunda. Mais à frente observei à esquerda altos muros de pedra que um dia foram a base para uma ponte pois nesse local já passou uma estrada (converse com a Janete do camping de Parnaioca que ela poderá lhe contar essa incrível história).

Gastamos 3 horas entre Dois Rios e Parnaioca. É a trilha mais extensa dentro da mata fechada e nela tivemos o primeiro contato com o estranho e intimidador barulho emitido pelos bugios. Há pelo menos quatro pontos de água boa e de fácil coleta no caminho.

Na chegada a Parnaioca, o primeiro terreno para camping é o da mãe da Janete, que estava sendo reativado, faltando ainda alguns detalhes como iluminação. Montamos as barracas ali. Em seguida vem a casa da própria, com mais espaço para barracas, bem mais perto da praia. Seguindo pela praia há o camping do Sílvio também. A Janete nos disse que o limite de pessoas para os três campings agora é de apenas 50 pessoas e que o controle será feito em Dois Rios.

O pernoite custa R$15 e o PF R$10. Há uma "cozinha" disponível na varanda da casa da Janete com fogão e pia. A luz vem de gerador a diesel que cada família possui e o banho é frio.
Ainda tivemos tempo de ir conhecer a igreja (com cemitério bem-cuidado ao lado) e a cachoeira, que é como eles chamam o rio cheio de pedras e pequenas quedas-d'água. E ainda assistir a um belíssimo pôr-do-sol.

Como o movimento no camping estava bem tranquilo, tivemos a oportunidade de conversar com a Janete após o jantar e saber de muitas histórias interessantes do passado da Ilha Grande, que já teve grandes fazendas de café e cana-de-açúcar.

3º DIA - 21/12/09 - SEG - de Parnaioca à Praia Grande de Araçatiba

Acordamos cedinho com o barulho muito alto das cigarras e também dos bugios, que devem ser bem numerosos naquela mata. Nos despedimos da Janete logo cedo, às 7h25, pois pairava uma suspeita de que pudesse haver algum fiscal na Praia do Leste, a primeira da reserva, impedindo a passagem em direção ao Aventureiro. Achamos que quanto mais cedo, maior nossa chance de cruzar as praias do Leste e do Sul sem sermos abordados (os fiscais estavam passando de lancha também).

Dois cachorros que estavam no camping resolveram nos seguir e foram nossa companhia durante todo o dia. Eles haviam acompanhado dois caras que caminharam do Abraão até ali no dia anterior. Felizmente nos livramos deles no fim do dia pois estavam causando alguns problemas.

Andamos até o outro extremo da praia (direita), atravessamos o rio tirando as botas e no fim da grande laje de pedra entramos numa trilha não oficial. No caminho, ainda na mata, uma placa advertia de que era "obrigatório o retorno a Dois Rios". Mais alguns minutos e pudemos avistar a bela e imensa enseada com o Aventureiro bem ao fundo e as praias do Sul e do Leste à direita. Chegamos a esta última às 8h38 e não havia ninguém. Cruzamo-la o mais breve possível (cerca de 20 minutos), o que foi uma pena pois o mar é belíssimo: verde e incrivelmente transparente.

Nesse ponto é preciso desmitificar duas coisas que nos relatos e comentários as pessoas fazem alarde demais e deixam todos apreensivos (inclusive eu): a passagem pelo mangue e pelo Costão do Demo. O mangue está situado atrás do costão que separa as praias do Leste e do Sul e que avança um pouco para o mar. Tem gente que recomenda levar até tábua de marés para saber em que momento é possível passar pelo mangue. Nós encontramos a água na altura da canela. O Ronald já passou ali outras quatro vezes e disse que a água nunca chegou aos joelhos. Outra coisa: nada de complicar, é só seguir a primeira passagem entre árvores que aparece à esquerda, o mais próximo do grande costão rochoso. São poucos metros de travessia e ainda com o chão de areia, sem lama ou lodo. Pelo que já li e ouvi a respeito, eu arrisco dizer que em condições normais de tempo a profundidade não deve mesmo passar do joelho, após uma chuva muito longa pode chegar à cintura e mais fundo que isso deve ser em situações bem raras (ou é pura conversa fiada mesmo).

Depois de calçadas as botas, saímos pela primeira trilha que apareceu à esquerda. Na chegada à areia da Praia do Sul, havia uma lancha parada bem em frente, perto do costão. Voltamos um pouco e discutimos o que fazer caso fosse a fiscalização. Depois vimos que se tratava de uma lancha de turistas e que a praia não era tão deserta assim pois cruzamos com alguns grupos (até de gringos) vindo do Aventureiro. Levamos 35 minutos para atravessá-la.

O segundo mito: o Costão do Demo. Outro lugar que dizem para olhar a tábua de marés, que há grande perigo de escorregar e cair no mar, etc. A verdade: há realmente algumas línguas escorregadias porém são muito estreitas e é só prestar atenção e não pisar nelas. A única língua mais larga, a que poderia causar algum acidente, tem pedras concretadas para as pessoas pisarem com segurança. Simples assim. Talvez sob chuva seja difícil identificar as línguas pois toda a pedra estará molhada e nessas condições é melhor evitar passar por ali.

Ao final do Costão do Demo, às 10h24, uma das mais belas visões de toda a caminhada: as praias do Aventureiro e do Demo juntas formam um conjunto de beleza tão sedutora que fiquei paralisado por alguns minutos admirando (e não acreditando no que via).

Ali é que encontramos um fiscal de plantão, que perguntou ao Ronald (que estava na frente) seu nome e o fotografou, advertindo-o de que era proibido passar por ali. Porém ao ser questionado sobre as pessoas com quem cruzamos dentro da reserva ele disse que não tinha como impedir a entrada (!?!?).

No Aventureiro fotografei o famoso coqueiro inclinado e depois paramos um pouco no Camping do Luis. Ali é possível almoçar (R$10 o PF), mas eu fiquei só no lanche pois levei muita comida. Há muitos campings nessa praia e para a temporada há um limite de 560 pessoas, o que já parece exagero para o tamanho do lugar, porém disseram que nos feriados mais movimentados o número de pessoas acampadas já passou de 3 mil! O camping do Luis custava R$10 antes do Natal e R$20 depois. A energia elétrica vem de geradores a diesel em cada casa, como em Parnaioca.

A continuação da trilha não é no fim da praia mas bem próximo ao Camping do Luis, junto ao painel da trilha T9. Saímos às 13h26. O caminho é bem largo mas a subida é muito forte. Tive de parar para descansar por uns 20 minutos pois o calor também era insuportável, fazendo-me suar excessivamente e perder muito líquido. O desnível chega a 347m e é possível ver a Praia do Leste lá de cima, por entre a vegetação. A descida estava bem escorregadia apesar dos dias secos. Passei por uma pedra com curioso formato de cabeça de tubarão em que alguém pintou a boca escancarada e os olhos do bicho. Há dois pontos de água nessa descida.

Mais um pouco e a mata se abre para uma esplêndida visão da Praia de Provetá, a famosa praia dos evangélicos. Do alto já se avista o grande templo da igreja Assembléia de Deus. Na descida há um entroncamento em que se deve seguir à direita. À esquerda chega-se a uma pousada/camping. Em Provetá, às 15h33, reencontramos a energia elétrica e uma vila com calçamento, coisa rara na ilha. Há bares, padaria e casas que vendem sacolé. Informaram que há duas pousadas e um camping ali. A continuação oficial é a trilha T8, que leva a Araçatiba, porém, como queríamos visitar no dia seguinte a Gruta do Acaiá, resolvemos pegar uma trilha não oficial para a Praia Vermelha, que fica mais próximo da gruta. Estávamos certos de que encontraríamos camping por lá.

Às 16h10, entramos na rua à direita da igreja Assembléia de Deus, seguimos entre casas até a ponte, atravessamo-la e entramos imediatamente à direita. Seguimos os cabos de energia elétrica e na encosta à direita podíamos ver os cabos que acompanham o caminho para Araçatiba (trilha T8). Essa subida também foi muito dura, íngreme demais em alguns pontos. Há uma bifurcação em que se deve subir à esquerda pela trilha mais marcada. O calor e o cansaço novamente me obrigaram a parar um pouco para descansar antes de atingir o topo, aos 290m de altitude.

Às 17h50 chegamos a um entroncamento e seguimos à esquerda. Mais 5 minutos e num segundo entroncamento, ao lado de uma casa, fomos para a direita. Chegamos à Praia Vermelha às 18h08 e começamos a perguntar sobre camping. Falamos com cinco pessoas, chegamos a ir à casa de moradores que antes permitiam acampar no quintal, mas não conseguimos encontrar um lugar para ficar. A única opção foi dada pelo sr.Salvador, que disse que não haveria problema em acamparmos na areia da praia em frente ao seu bar. Como havia tempo de chegarmos à Praia Grande de Araçatiba ainda com luz, resolvemos procurar algo melhor. Pegamos a trilha T7 em direção a Araçatiba e passamos por pelo menos dois pontos de água. Em 40 minutos pegamos à esquerda no entroncamento (à direita é a trilha T8 que vem direto de Provetá sem passar pela Praia Vermelha), passamos pela pequena Praia de Araçatiba (que tem apenas uma fábrica de pescado abandonada) e em mais 5 minutos chegamos ao camping Bem Natural, um pouco antes da Praia Grande de Araçatiba.

Estávamos exaustos porém o preço absurdo do camping (R$25) me fez recuperar as energias e procurar outro lugar para ficar. Caminhei mais alguns minutos até a Praia Grande de Araçatiba e comecei a perguntar. Acabei chegando ao camping do Benê (na verdade apenas o pequeno quintal na frente da casa dele e um banheiro com ducha fria), onde fui atendido pelo Nei, que me pediu R$10. Jantei no restaurante bem ao lado, dele também, um PF por R$12. E soube de pousadas ali na praia que têm diária de R$20 e R$25 por pessoa.

4º DIA - 22/12/09 - TER - da Praia Grande de Araçatiba à Enseada do Sítio Forte (com a Gruta do Acaiá)

Encontrei o Ronald no Camping Bem Natural às 9h e fomos (sem mochilas) visitar a Gruta do Acaiá. Voltamos portanto 50 minutos pela trilha T7 até a Praia Vermelha e lá pegamos a continuação dela para a gruta, que começa ao lado da igreja Assembléia de Deus, no canto esquerdo da praia. Logo vem uma subida por uma área de vegetação baixa (melhor evitar o sol forte) e depois algumas casas, sendo que numa delas há dois cachorros bem nervosos, mas nada que um galho grande não resolva. Água fácil na trilha não há, mas um curto desvio à esquerda leva a um reservatório onde mangueiras despejam água captada de uma mina.

A trilha termina num portão, aonde chegamos às 10h47. Batemos nas primeiras casas abaixo mas ninguém atendeu. Seguimos um caminho dentro do terreno e chegamos a uma outra casa, onde fomos recebidos por um homem que nos cobrou os R$10 da visita (chorei mas não houve desconto). Ele nos emprestou uma lanterna, nos levou à entrada da gruta e nos deu as orientações de como nos locomovermos lá embaixo.

A entrada é bem estranha, um buraco no chão entre grandes pedras. Deve-se descer por duas escadas de madeira e daí em diante é preciso usar a lanterna e andar bem abaixado pois a altura é de apenas 60cm. Na parte mais baixa do salão a água do mar penetra por uma fenda submersa e a luz do sol provoca uma ilusão de fluorescência verde na água. Interessante, porém quem já foi à Chapada Diamantina vai se decepcionar com a simplicidade do fenômeno. Pelo que li no relato da Carol (http://carolemboava.multiply.com/photos/album/93/93), a melhor forma de aproveitar esse lugar é mergulhando com snorkel.

Ao sair, fomos dar uma espiada no costão sobre a gruta, local onde as lanchas de passeio param para a visita. Na volta para a Praia Vermelha, pude avistar do alto da trilha os barcos parados na Lagoa Verde e a bela Praia de Itaguaçu. Parei nessa praia para fotos, apenas 7 minutos depois da Praia Vermelha, num desvio de alguns metros à esquerda da trilha principal para Araçatiba (T7).

Ronald almoçou no camping, pegamos as mochilas e saímos da Praia Grande de Araçatiba às 15h35. É só caminhar até o fim da areia dessa praia para pegar a trilha T6 em direção à Enseada do Sítio Forte. Chegamos à Praia da Longa às 16h20, onde, para evitar tirar as botas num riacho mais largo que deságua no mar, é melhor entrar numa rua à direita, virar na primeira à esquerda e seguir o calçamento passando pela ponte e pela Cachoeira da Longa (apenas um rio com pequenas quedas). Depois, em vez de voltar à praia, deve-se passar pela igreja Assembléia de Deus (outra!) e seguir os cabos de energia elétrica, subindo. Saí dessa praia às 16h47, descansei um pouco na subida e cheguei à Praia de Ubatubinha às 17h43, tendo o primeiro contato com a bela Enseada do Sítio Forte.

Para chegar a Ubatubinha, passamos pela lateral direita da cerca que há na trilha antes de descer à praia e acabamos caindo no gramado da propriedade pois essa é mais uma das praias inteiramente tomadas (e cercadas) por um único dono. É melhor evitar isso e descer pela trilha à esquerda ao lado da cerca. Parece que há inclusive um ponto de água nesse caminho.

A trilha continua no fim da praia, sobe e na curva à direita tem-se uma linda visão da Enseada do Sítio Forte, com três praias (da esquerda para a direita): Marinheiro, Sítio Forte e Tapera. Na Praia da Tapera há um bar-restaurante que tem saracuras como mascotes; o restante da praia é cercado por uma propriedade. A Praia de Sítio Forte pertence ao Banco Safra mas tem moradores, uma escola e uma ducha com torneira para encher os cantis. A Praia do Marinheiro não conhecemos. Nas três não há hospedagem e é proibido acampar, mas conversamos com algumas pessoas e montamos as barracas com o cair da noite. De Ubatubinha à Praia da Tapera levamos menos de 20 minutos. Dali até a Praia de Sítio Forte mais 10 minutos.

5º DIA - 23/12/09 - QUA - da Enseada do Sítio Forte à Praia de Japariz

Saímos da Enseada do Sítio Forte e chegamos à Praia de Maguariqueçaba às 8h. Aqui entramos na trilha T5 e no território das pousadas de japoneses. Maguariqueçaba e Passaterra, 8 minutos à frente, são ocupadas cada uma por uma grande pousada de família japonesa que se fixou ali para trabalhar nas antigas fábricas de pescado. O mar é belíssimo, transparente, e pude ver uma estrela-do-mar e uma tartaruga-marinha quando fui tirar fotos a partir do trapiche. Saímos de Passaterra às 8h41 e às 9h05 passamos por uma enorme figueira branca que cresceu sobre uma rocha também gigante, com as longas raízes parecendo tentáculos.

Às 9h14, pegamos o acesso à esquerda para a Praia da Jaconema, que é quase um pequeno paraíso escondido se não fosse ocupada pela Pousada Nautilus. Vê-se grande quantidade de peixes coloridos sem nem mesmo precisar entrar na água. Saímos dali às 9h48 e chegamos à Praia de Matariz às 10h, atravessando uma ponte e percorrendo o muro de uma grande fábrica de pescado abandonada. Em Matariz há um mercadinho e um camping/pousada. Uma ducha em frente ao mercadinho tem torneira para encher o cantil. Paramos para tomar algo gelado e às 10h35 continuamos. Na saída dessa praia há uma bifurcação, mas ambos os lados levam à próxima praia, a do Bananal, onde há mais pousadas de japoneses e até um torii, um portal japonês. Chegamos ali às 11h06.

Logo depois que passei a igreja do Bananal mais um cachorro bravo quase me mordeu. Pelos painéis da trilha T4 ficamos sabendo de um tal Mirante do Bananal e resolvemos subi-lo. Pegamos informações na Pousada do Preto (mais uma adaptada de uma antiga fábrica de pescado) e pedimos para deixar as mochilas lá. A trilha é um pouco confusa no começo. Há dois caminhos a partir da praia. Nós entramos à direita da Igreja do Divino Espírito Santo e continuamos por trás dela por uma longa escadaria. Mais acima há uma trifurcação e uma casa à direita. Pegamos a esquerda. Mais alguns metros e deve-se subir na direção da primeira casa à direita, passando pela sua direita para pegar o início da trilha. Mais acima deve-se pegar a esquerda numa bifurcação. O mirante fica a 382m de altitude e tem vista apenas para as praias do Bananal e Bananal Pequeno, mas vale a pena.

Na volta, pegamos as mochilas e prosseguimos, agora pela trilha T4. A saída da Praia do Bananal fica no fim da praia, sob um quiosque alto, mas deve-se continuar subindo à direita pois a descida logo à esquerda leva a uma prainha sem saída. Saímos do Bananal às 14h32 e chegamos a Bananal Pequeno às 14h45. Praia pequena tomada por uma propriedade. No canto direito há uma ducha com torneira para abastecer os cantis.

A trilha sobe novamente e é possível avistar os barcos na Lagoa Azul e a Praia da Grumixama. Há um ponto de água aqui. Mais alguns minutos e se vê a Praia de Baixo (ou Praia do Araçá), aonde chegamos às 15h42. É mais uma praia deserta e tem um cemitério mais à direita. Numa trilha de 5 minutos a partir da Praia de Baixo chega-se à também deserta Praia da Grumixama, que naquele instante era área de lazer de uns ricaços com seu iate. Tentei encontrar uma trilha a partir dessa praia para me aproximar mais da Lagoa Azul mas não tive sucesso.

Continuando pela trilha T4, chegamos às 16h26 a um entroncamento (com um painel) e fomos para a esquerda para conhecer a Igreja da Freguesia de Santana, de 1843, monumento religioso mais importante da ilha. Chegamos pelos fundos da igreja em 3 minutos. Percorremos toda a praia, que também é completamente fechada pela cerca de uma propriedade, e pegamos uma trilha curta no final até a Praia da Baleia, deserta porém repleta de lixo trazido pelo mar. No final dessa praia uma outra trilha leva a uma praia minúscula e em seguida à Lagoa Azul, que só não estava mais bonita porque o sol havia sumido. Esse ponto é o extremo norte da Ilha Grande - o que se vê em frente, mais ao norte, é a Ilha dos Macacos.

Voltamos à Praia de Freguesia de Santana e saímos dela pela lateral do galpão no canto direito, sem passar pela igreja, às 17h35. Entramos assim na trilha T3, passamos por dois pontos de água e chegamos à próxima praia, Japariz, às 18h24. Estávamos bem cansados e ainda um pouco longe do Saco do Céu. Como a pousada da Praia de Japariz aceitava barracas (nos fundos), resolvemos pernoitar ali mesmo, com possibilidade de jantar um PF. A garota quis cobrar R$15 pelo camping mas consegui baixar para R$10. O PF custou R$12. Consegui tomar um banho quente num dos quartos da pousada, o primeiro de toda a caminhada.

6º DIA - 24/12/09 - QUI - da Praia de Japariz ao Abraão

Deixamos a Praia de Japariz às 8h16 e em 5 minutos passamos pela Praia do Funil, sem placa de sinalização mas facilmente identificada pelo campo de futebol à direita. A grama desse campo estava muito alta para improvisar um camping mas havia boas áreas planas e de grama baixa ao lado. A praia propriamente dita praticamente não existe. O que há é uma pequena área de areia que antecede um corredor de mata tomado pelo mar, o que pode ter lembrado a alguém um funil. Oito minutos depois pegamos o acesso à esquerda para a Praia da Guaxuma e descemos até ela em 9 minutos. O lugar é surreal pois foi ocupado por um cara que ergueu barracos e galinheiros com materiais diversos. As galinhas passeiam pela bela enseada de areia dourada.

De volta à trilha principal, às 9h15 pisamos no gramado da Praia do Conrado e tivemos a primeira visão da grande Enseada das Estrelas, ou Saco do Céu, com seu característico mangue. Descansamos um pouco nesse convidativo gramado. Poucos metros à frente, antes da Igreja de Cosme e Damião, notamos uma trilha à direita que leva diretamente à Praia do Bananal sem passar pelas oito últimas praias que percorremos.

Contornamos o Saco do Céu no sentido anti-horário pela trilha T2 e passamos pela pequenina Praia do Galo às 10h. Após um corredor de árvores com cercas em ambos os lados, saímos do Saco e reencontramos o mar aberto às 10h35 na Praia de Perequê (ou Praia da Fazenda), com algumas casas mas de vegetação bastante preservada. Uma curta trilha no fim dessa praia nos levou à Praia da Camiranga, onde olhando para trás foi possível ver a Praia de Perequê, a Praia de Fora depois das pedras e a Praia do Amor, esta com uma casinha branca isolada na outra extremidade do Saco do Céu.

A Praia da Camiranga é bem preservada também e tem apenas uma casa no canto direito. A trilha continua no final da areia mas logo surge o portão de uma propriedade da qual é preciso desviar subindo por uma escadaria à direita. Nove minutos depois chega-se à bifurcação para a Praia do Iguaçu à esquerda. Na descida para a praia pegamos a esquerda no entroncamento e fomos barrados pelo muro alto de uma casa. Voltamos e seguimos para o outro lado, alcançando a bela Praia do Iguaçu às 11h20, após percorrer toda a extensão de uma cerca. Mais uma praia toda tomada (e cercada) por uma propriedade, mas ao menos pude desfrutar de acerolas e pitangas que estavam ao alcance da mão sem invadir o terreno, aliás muito bem-cuidado.

Saímos da Praia do Iguaçu às 11h33, voltamos à trilha principal T2, cruzamos um riacho que deve vir da Cachoeira da Feiticeira e às 12h encontramos o acesso à Praia da Feiticeira, à esquerda. Infelizmente um grupo grande de turistas estava vindo da praia e se dirigia à cachoeira, o que nos fez desanimar de ir visitá-la.

A Praia da Feiticeira é deserta (sem casas), mas é local de parada dos barcos de passeio. Naquele momento havia "apenas" oito barcos ancorados e duas barraquinhas improvisadas vendendo guloseimas e refrigerantes. No retorno à trilha principal notei uma bifurcação que talvez leve de volta à Praia do Iguaçu ou a uma tal Praia da Cachoeira, mas não fui explorar.

Foram 12 minutos de volta da Praia da Feiticeira até a trilha principal T2. Alguns metros à frente já encontramos à direita o acesso principal para a Cachoeira da Feiticeira, mas passamos direto (às 12h47). Mais 10 minutos e encontramos um outro acesso a ela, um atalho mais recente em forma de escadaria de troncos para quem vem do Abraão, porém estava interditado.

Subimos o derradeiro morro, que atingiu 115m de altitude, e às 13h42 chegamos ao imponente Aqueduto, construído em 1893 para abastecer de água o Lazareto. Passamos pelo Poção do Córrego do Abraão, bastante concorrido naquele horário, e subimos o Mirante da Praia Preta, onde avistamos um navio imenso bem em frente que havia despejado centenas de gringos nas praias todas da redondeza.

Às 14h20 paramos para almoçar na casa da Mulata (PF por R$10) e demos por encerrada a belíssima e dura volta na Ilha Grande, comemorando com uma cerveja bem gelada para rebater o insuportável calor. Depois passamos no Centro de Visitantes para ver a maquete da ilha feita pelo José Bernardo e refazer mentalmente todo o nosso percurso de seis dias por esse paraíso.

Seguimos a sugestão do Augusto (http://agsts.multiply.com/journal/item/42) e fomos procurar o Camping do Bicão (R$15 com chuveiro quente e cozinha disponível). E fazendo de conta que não estávamos cansados, fomos relaxar um pouco nas prainhas a leste do Abraão: Júlia, Biquinha, Comprida, Crena, Guaxuma (por uma trilha a partir da Crena) e finalmente Abraãozinho, onde tomamos um merecido banho de mar. Voltamos até o centro do Abraão em 35 minutos.

O Camping do Bicão tem boas instalações porém os banheiros não foram limpos durante toda a nossa estada e as lonas azuis que cobrem quase todo o terreno transformam o local numa estufa, o que dificulta dormir.

Não posso deixar de registrar o meu espanto ao ver como está mudada a Vila do Abraão. O turismo explodiu nos últimos anos e a vila, antes bastante provinciana e tranquila (fora dos feriados e temporada, claro), agora tem um movimento enorme de turistas estrangeiros que chegam através dos cruzeiros marítimos já que a ilha entrou na rota desses navios. Isso transformou a vila radicalmente, aumentou muito o número de restaurantes e pousadas confortáveis e hoje as placas do comércio são todas escritas em inglês, muitas só em inglês, ou com o português em segundo lugar. Felizmente a ilha é muito grande e há dezenas de lugares lindos e tranquilos que ainda podemos curtir. Só não gostaria de ver o Abraão se transformar num lugar de badalação, uma outra Búzios... Para quem, como eu, gosta de um contato mais próximo com os moradores mais antigos para bater papo e ouvir histórias, o Abraão já deixou de ser o lugar.

25/12/09 - SEX - Pico do Papagaio e Circuito do Abraão

Para esse dia pensamos em duas opções: se o céu estivesse limpo, sem muitas nuvens, subiríamos o Pico do Papagaio; caso contrário faríamos mais uma caminhada (um pouca longa) até o Farol dos Castelhanos. Como o tempo amanheceu bom e era possível ver o Papagaio já do portão do camping, resolvemos subi-lo. O Pico do Papagaio não é o ponto mais alto da ilha, e sim o Pico da Pedra d'Água, com 1031m, a oeste do Papagaio, que é o segundo mais alto.

Tomamos café numa padaria felizmente aberta em pleno dia de Natal e pegamos a estrada para Dois Rios às 8h08. Às 8h31 alcançamos o início da trilha, à direita da estrada e devidamente sinalizada por um painel (T13).

A trilha sobe muito e a água só aparece depois de 26 minutos, ainda um pouco escassa. Mais uns 10 minutos e já na altitude de 350m surge uma sequência de três riachos com água abundante e de fácil coleta. É bom aproveitar para matar a sede e encher os cantis aqui pois só há mais um ponto de água, não tão bom, depois de mais de uma hora de caminhada. A subida é longa mas não é tão íngreme, às vezes até nivela um pouco, o que não me obrigou a parar para descansar.

Às 10h23 uma placa sinalizava o cume à esquerda e a base à direita. Fui obviamente para o cume. A trilha se aproxima da imensa rocha que sustenta a "cabeça" do papagaio e depois sobe bastante íngreme. Cheguei ao topo às 10h40 e o GPS marcava 960m de altitude (e de desnível, percorridos em 2h32). Meu medo de altura não me atrapalhou em nada e pude chegar bem perto da ponta do enorme bloco de pedra que se equilibra bem no topo.

Apesar de o céu estar com muitas nuvens, pudemos vislumbrar a vila e toda a enseada do Abraão, Lopes Mendes, Dois Rios e várias praias de Angra, no continente. Notamos áreas planas no cume onde é possível armar duas ou três barracas com alguma proteção contra o vento. Depois fui conhecer a base do pico por uma trilha não muito bem marcada. É interessante ver a cabeça do Papagaio tão próxima e num ângulo e formato bem diferentes do que se vê lá de baixo. Na descida, iniciada às 12h36, parei para um lanche junto ao riacho e cheguei ao Abraão às 15h14. De lá vi que o pico continuava com tempo instável, desaparecendo constantemente em meio às nuvens.

Almocei na Mulata e fui terminar o chamado Circuito do Abraão (trilha T1): rever a Praia Preta e as ruínas do Lazareto, que continuam como antigamente, com exceção dos painéis que explicam a formação mineral da praia e a história do Lazareto. Caminhei até a Praia do Galego, que fica depois da Praia Preta, mas dali em diante não é possível continuar pois placas advertem que o Sítio do Galego é uma propriedade particular.

Nesse dia foi um navio procedente da Argentina que ancorou em frente ao Abraão e despejou argentinos, uruguaios, europeus e muitos outros turistas que lotaram as praias todas da enseada.

26/12/09 - SÁB - de volta a Angra dos Reis

Nesse dia o camping e toda a ilha começaram a lotar e percebemos que era hora de dizer "até breve, Ilha Grande". Partimos na barca das 10h para Angra, aonde chegamos às 11h20.

IMPRESSÕES BASTANTE PESSOAIS

Tenho a satisfação e o privilégio de conhecer a Ilha Grande desde 1989 e esse lugar sempre fez parte das minhas melhores lembranças. Já havia estado em localidades como Bananal, Freguesia de Santana, Maguariqueçaba, Lopes Mendes, Dois Rios e Saco do Céu em diferentes momentos da minha vida. E já ouvira histórias e descrições de quase todas as outras praias e vilas ao redor da ilha. Essa caminhada portanto teve um sabor muito especial de reencontro com lugares quase perdidos na memória e de primeiro contato com lugares quase míticos para mim, já que nunca havia pisado ali antes. Muitas lembranças (principalmente de pessoas queridas) vieram por todo o percurso e a viagem se interiorizou em muitos momentos, o que me fez por diversas vezes me sentir um peregrino, tanto pelo desgaste físico quanto pela viagem que fiz para dentro de mim mesmo durante esses seis maravilhosos dias.

Rafael Santiago
dezembro/2009