Levei oito dias para completar esse roteiro pois não
conhecia o caminho e tinha relatos e tracklogs apenas de alguns trechos.
A ligação entre esses trechos foi feita através de caminhos desenhados
no Google Earth e gravados no gps. Mas na hora H valeu muito a navegação
visual também, e para isso tive muita sorte com o tempo, com quase
todos os dias limpos e abertos. Porém nada disso me livrou de alguns
caminhos errados, o que me fez perder bastante tempo. Explorações de
possíveis atalhos e outras trilhas também me tomaram um tempo
considerável.
Certamente é possível fazer esse roteiro em menos
tempo tendo o tracklog completo e correto na mão. Ou ainda eliminando
algum local (ou mais de um) do roteiro que signifique um desvio na rota
principal.
Antes de partir para o texto, é bom saber que:
. as
estradas que cito a partir do segundo dia são na maioria restos de
antigas estradinhas, todas abandonadas e sem a menor possibilidade de
trafegar carro ou mesmo 4x4 pois são muito precárias e em algum ponto
estreitam e viram trilha
. as trilhas são na maioria caminhos
abertos pelo gado que pasta pelos campos de cima da serra já que todo
esse percurso que descrevo está dentro de grandes fazendas
. as
poucas casas e currais que vi pelo caminho estavam desertos, não
encontrei uma alma viva a partir do segundo dia (exceto alguns
boiadeiros com quem cruzei rapidamente no 4º dia), mas vi algum gado
pastando
. os nomes de rios e riachos que coloco no texto são
baseados nas cartas topográficas do IBGE (links abaixo, nas informações
adicionais) e podem não bater com as denominações dadas pelas pessoas da
região ou podem mesmo estar incorretos
1º DIA: DO TREVO DE LOMBA ALTA AO SOPÉ DO MORRO DA PEDRA BRANCA
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaDaSerraGeralCampoDosPadresECanionDoEspraiadoSC1DiaAbr13.
Paredões do extremo norte da Serra Geral
Na
rodoviária de Floripa peguei o ônibus das 12h da empresa Reunidas para
Lages e desci às 14h35 no acesso ao distrito de Lomba Alta, no km 114 da
rodovia BR-282, 10km depois da parada em Alfredo Wagner. A única placa
de Lomba Alta na estrada fica virada para quem vem de Lages e isso
causou uma certa dúvida em mim e no motorista, mas desci no lugar certo.
Altitude de 770m. Caminhei pela rodovia mais 270m, cruzando a ponte
sobre o Rio São João, e entrei na primeira estrada de terra à esquerda,
junto à placa "Pedra Branca".
A estradinha passa por algumas
casas aqui e acolá, sobe um pouco e às 15h33 tomo a direita na primeira
bifurcação que aparece, subindo um pouco mais e tendo a primeira visão
dos paredões do extremo norte da Serra Geral. Vista magnífica! A trilha
que sobe esses paredões fica bem no meio do conjunto rochoso e o Morro
da Pedra Branca está ligeiramente à esquerda dela. Mas primeiro a
estradinha vai percorrer todo o vale do Rio das Águas Frias e depois
subir o Rio Santa Bárbara até suas nascentes. Havia muito chão ainda até
chegar próximo aos paredões.
Após algumas subidas e descidas,
passei por um local onde estava acontecendo um ruidoso e animado rodeio,
diversão de fim de semana do povo local, com direito a boi bravo dando
trabalho e diversas crianças montadas e vestidas a caráter. Às 16h55 fui
à esquerda numa bifurcação e com mais 200m passei pela igreja do bairro
Pedra Branca, que fica no alto à direita (Capela de São João, segundo a
carta). Logo depois encontrei um ponto de água na estrada, fui para a
esquerda em outra bifurcação e passei por mais outra fonte de água
(essas águas ficam próximas a áreas de reflorestamento e preferi não
pegá-las). Às 17h20 sou surpreendido por uma pousada nesse lugar de tão
poucos habitantes, a Hospedaria das Montanhas (48-8412-4383), onde parei
alguns minutos para um dedo de prosa. Menos de 200m depois alcanço o
pequeno cemitério gramado do vilarejo.
Até aqui percorri o vale
do Rio das Águas Frias. Uns 50m depois de uma ponte de madeira (sobre o
Rio Santa Bárbara), fui para a direita na bifurcação às 17h39 e adentrei
o vale do Rio Santa Bárbara, um dos formadores do Águas Frias. Cruzei
uma porteira, uma casa de madeira vazia à esquerda e logo passo a
caminhar pela margem direita do pedregoso Rio Santa Bárbara, por um
gramadão com cavalos e vacas. Na porteira seguinte uma placa:
"Propriedade particular - acesso mediante autorização do proprietário",
que ignorei. Na próxima bifurcação fui para a esquerda pois a direita
leva diretamente a algumas casas. Na porteira seguinte, às 18h12, a
noite já caía e tratei de arranjar um espaço plano no gramado que
margeia o rio para montar a barraca. Do local onde acampei podia ver os
paredões claros do Morro da Pedra Branca. Altitude de 887m.
Nesse dia caminhei 12,9km.
2º DIA: DO SOPÉ DO MORRO DA PEDRA BRANCA AO EXTREMO NORTE DO CAMPO DOS PADRES
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaDaSerraGeralCampoDosPadresECanionDoEspraiadoSC2DiaAbr13.
Paredões do vale do Rio Santa Bárbara
Desmontei
acampamento e comecei a caminhar às 7h58. Com 200m me deparo com um
galpão à frente mas a estradinha continua subindo à esquerda dele.
Estradinha essa que vai se tornando um gramado ralo e se transformando
numa trilha. Às 8h27 um grande portão de ferro trancado e uma nova placa
tentam intimidar quem pensa em passar: "acesso restrito ao proprietário
e funcionários - não insista!". Mas insisti. Na bifurcação seguinte fui
para a direita, cruzei um riacho, me mantive na esquerda na próxima
bifurcação e cruzei mais dois riachos espantando as vacas que estavam
por ali sossegadas. Na subida pelo pasto após esse último riacho a
trilha desapareceu no capim e me aproximei da mata à frente para tentar
encontrar a continuação. Não havia trilha batida ali no final do pasto,
então voltei um pouco na direção do riacho e encontrei a trilha à
direita, bastante discreta (nas fotos do Picasa fiz uma marcação do
início dela). A trilha logo entra na mata e é larga e batida, correndo
bem próxima a um riacho (à esquerda) que é um dos tributários do Rio
Santa Bárbara.
Água nesse início de dia não foi problema (embora
a presença do gado a torne meio suspeita), porém é melhor abastecer
todos os cantis nesse riacho pois a subida é cansativa e a água só
reapareceu para mim no final do dia.
Após uma cerca começou às
10h22 a tão aguardada subida da Serra Geral, feita em ziguezagues, na
cota dos 1178m. À medida que ganho altitude a visão do caminho
percorrido e das escarpas da serra vai se ampliando, cada vez mais
bonita. Até que às 11h16 me deparo com uma cerca improvisada de troncos e
galhos, nos 1480m. Atravessei-a pensando que o caminho para o Campo dos
Padres continuasse depois dela, mas não. Ao cruzá-la atingi a borda da
serra, com visual de 360º de tirar o fôlego, e o que encontrei à frente
foi o caminho para o Morro da Pedra Branca, que fica à esquerda (norte)
de quem sobe a serra. O Campo dos Padres fica ao sul. Como o topo do
Morro da Pedra Branca não estava muito perto, descartei a idéia de
subi-lo e passei a procurar uma trilha para o lado oposto (sul).
Eu
estava na beirada da serra e podia ver os imensos paredões da face
leste da Serra Geral, mas e a trilha para chegar a eles? Voltei até a
cerca de troncos, cruzei-a de volta e percebi uma trilha quase fechada
pelas plantas saindo para a esquerda. Entrei nela e galguei uma crista
florestada que me lançou às 12h08 num extenso campo, o extremo norte do
Campo dos Padres, finalmente. Altitude de 1553m. Ali, próximo aos
paredões, tive meu primeiro contato com o urtigão-da-serra (Gunnera
manicata), uma planta impressionante, de folhas imensas, nativa da Serra
Geral. E também não demorei muito a rever as famosas turfeiras, nome
local para um tipo de vegetação rasteira, "esponjosa", que acumula água e
é o terror de quem caminha pelos altos da serra catarinense e gaúcha
por significarem botas e pés molhados.
Os grandes campos de cima
da serra parecem a distância locais fáceis de caminhar, mas não é bem
assim. Quase sempre são terrenos úmidos ou mesmo alagados, o que causa
uma certa dificuldade e cansaço. Junto à borda da serra, na parte mais
alta dos campos, costuma ser mais fácil andar pois o solo é menos
encharcado e há até trilhas abertas pelo gado que pasta solto ali.
Pois
bem, atingido o alto da serra passo a caminhar pelo campo sempre
próximo à beirada dos paredões e aos focos de mata (pelos motivos
acima). O primeiro morrinho que surgiu tentei transpor por cima, mas a
vegetação fechou no alto. Voltei e o contornei pela direita mas dei de
cara com um precipício. Voltei devagar contornando o morro novamente e
encontrei às 16h33 um caminho bem largo à direita, bem junto ao pé do
morro. Largo, encharcado e enlameado, um corredor entre as árvores que
me lançou em outro campo onde o abismo de um pequeno cânion me obrigou a
ir para a direita, encontrando um longo muro de pedra. Cruzei-o por um
colchete e comecei a subir o alto morro à frente. A certa altura dessa
subida a trilha se divide. Tentei primeiro à direita mas topei com mata
fechada, voltei e fui para a esquerda, terminando a subida do morro e
reencontrando água logo a seguir, às 17h49. Como sempre, para diminuir o
esforço da caminhada fui em direção a um foco de mata junto à borda da
serra, a leste. Pelo horário, já estava na hora de montar a casa.
Altitude de 1649m.
Nesse dia caminhei 9,7km (já excluídos os caminhos errados que tomei e tive de voltar)
3º DIA: DO EXTREMO NORTE DO CAMPO DOS PADRES AO MORRO DO CHAPÉU (OU MORRO DA BELA VISTA DO GHIZONI)
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaDaSerraGeralCampoDosPadresECanionDoEspraiadoSC3DiaAbr13.
Morro do Chapéu (ou Morro da Bela Vista do Ghizoni)
Desmontei
acampamento e comecei a caminhar às 7h46. Tinha um novo morro pela
frente e sem muita certeza da direção a seguir quando estivesse no seu
topo. Atravessei todo o cansativo campo de turfa até ele, com uma parada
para descansar junto a uma fonte de água no caminho. Atingi o sopé do
morro bem abaixo de uma faixa de capim que descia do topo, por onde subi
e segui uma trilha de boi para a esquerda, subindo mais. Assim, no
alto, às 9h22, tive a primeira visão do Morro da Bela Vista do Ghizoni,
ou Morro do Chapéu (conhecido pelo formato de seio de mulher), e do
Morro da Boa Vista à direita dele, respectivamente terceiro e primeiro
pontos mais altos do estado de Santa Catarina (segundo o Anuário
Estatístico do Brasil 2012, do IBGE -
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/20/aeb_2012.pdf). Porém entre mim e eles havia o imenso cânion do Rio Kuhl, cujo vértice fica do lado esquerdo.
Fui
então para a esquerda (leste) e comecei a procurar algum caminho na
mata do meu lado direito que me levasse na direção do vértice desse
grande cânion. Acabei encontrando um totem de pedras que sinalizava uma
trilha de vacas que descia e adentrava a mata. Ótimo! Mas antes
aproveitei a proximidade do Morro Perdido (assim chamado no site
Wikimapia) e fui subi-lo, bastando continuar no sentido leste/nordeste.
No topo, às 10h20, encontrei um marco geodésico e o penhasco da borda da
Serra Geral. 1760m de altitude.
Porém gastei mais de uma hora
ali na expectativa de a neblina se dissipar para ter uma paisagem melhor
para as fotos e poder navegar visualmente, planejando o melhor caminho
até o Morro do Chapéu entre campos e focos de mata. Só às 11h40 voltei
ao totem e entrei na trilha que me levaria ao vértice do cânion. Ela
está bem marcada pela passagem das vacas mas com a vegetação um pouco
fechada, com muitas samambaias num certo trecho. Saí da mata às 12h17 e
me aproximei da beirada da serra (à esquerda) novamente para mais fotos,
agora com neblina zero. Acompanhei a borda por uma trilha e cheguei às
13h08 a um muro de pedra pequeno onde desci, atravessando um trecho de
mata de pouco mais de 100m sem dificuldade. Lá embaixo mais um campo de
turfeira me esperava. Procurei contorná-lo pela esquerda, mas não era
melhor do que pelo meio, ou seja, tudo afundando e encharcado mesmo. Só
ao me aproximar da beirada do paredão é que encontrei um caminho seco.
No
alto à minha frente visualizava uma longa crista que deveria subir para
alcançar o Morro do Chapéu, que se eleva na extremidade direita dela.
Mas para chegar lá parei um pouco para estudar o melhor caminho entre as
extensas faixas de mata da encosta dessa crista. Subi ao primeiro platô
pela única passagem existente e prossegui para a direita em nível por
um 400m, passando por três fontes de água (as últimas desse dia). Voltei
a subir forte à esquerda por uma língua de capim baixo que descia do
topo, seguindo em parte trilhas de vaca.
Às 15h26 alcanço o alto
da longa crista (do Morro do Chapéu) e continuo caminhando em direção ao
outro lado dela, onde passo a ter visão de um novo e imenso vale e de
mais uma porção da borda da Serra Geral, um pouco mais ao sul, com
predomínio de campos, pastagens e alguns morros, incluído aí o Morro do
Campo dos Padres (1790m). Mas o que me chama mesmo a atenção nesse
momento são os gritos de um boiadeiro direcionando o gado já que não via
ninguém desde a tarde do primeiro dia da travessia. Esse local é o vale
do Rio Campo Novo do Sul, mas ainda não conseguia ver o rio
propriamente dito, teria de caminhar mais um pouco para sudoeste para
conseguir vê-lo serpenteando lá embaixo.
Tomei a direção do Morro
do Chapéu (lembrando aqui que eu já estava na crista dele) e mais no
alto pude ver às 16h06 uma casa de fazenda bem aos pés do Morro do Campo
dos Padres, e também o Morro da Boa Vista a sudoeste.
Aproximei-me
do Morro do Chapéu, terceiro ponto mais elevado do estado, e o
contornei pela esquerda, não o subi. Ao contorná-lo me aproximei da
beirada dessa crista e pude visualizar lá embaixo as curvas do Rio Campo
Novo do Sul, cortado pela estradinha precária que leva à casa da
fazenda.
A seguir eu deveria descer até essa estradinha,
caminhar um pouco por ela na direção da casa e subir a crista seguinte
tendo como objetivo o Morro da Boa Vista. Havia ainda cerca de uma hora
de luz natural mas resolvi parar ali no alto mesmo pois corria o risco
de acampar ou me aproximar muito da casa da fazenda e talvez não ser
bem-recebido. Montei a barraca então aos pés da face sul do Morro do
Chapéu. Altitude de 1745m.
Nesse dia caminhei 8,8km (na verdade, andei um pouco mais pois tomei alguns caminhos errados).
Importante
dizer que a estradinha que avistei continua para oeste e liga a fazenda
à cidade de Bom Retiro, servindo portanto como um acesso mais rápido ao
Morro do Chapéu ou mesmo uma rota de fuga para essa minha travessia.
Mas são 30km dali até Bom Retiro.
4º DIA: DO MORRO DO CHAPÉU (OU MORRO DA BELA VISTA DO GHIZONI) ÀS NASCENTES DO RIO CANOAS
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaDaSerraGeralCampoDosPadresECanionDoEspraiadoSC4DiaAbr13.
Morro do Campo dos Padres e Rio Canoas
Desmontei
acampamento e comecei a caminhar às 8h. O meu primeiro objetivo desse
dia era o Morro da Boa Vista, que eu podia ver claramente do local onde
acampei, porém o imenso vale do Rio Campo Novo do Sul se colocava entre
nós. Seria preciso contorná-lo pela esquerda (leste).
Para ter
acesso ao vale eu deveria descer toda a encosta sul da crista do Morro
do Chapéu, porém toda ela é recoberta de mata. Procurei um local onde a
passagem pela mata fosse menos extensa e encontrei uma descida formada
de capim baixo com uma faixa mais estreita de árvores abaixo e depois um
pasto com cavalos. Fui por ali e cruzei menos de 150m de mata, sem
grandes dificuldades. No pasto com cavalos notei que a estradinha vista
ontem saía para a esquerda e passei a caminhar por ela (na verdade, ela
atravessa o pasto e continua para a direita, sendo o caminho que vai dar
na cidade de Bom Retiro e que pode ser uma rota de fuga, como já
mencionei).
Mas não andei nem 50m pela tal estradinha precária
que fui obrigado a subir o barranco e liberar o caminho pois os
boiadeiros vinham na minha direção tocando um grupo grande de vacas e me
pediram para sair pois poderia assustá-las. Esse foi o único momento em
que cruzei com gente em toda a travessia (sem contar as pessoas do
povoado de Pedra Branca, antes de entrar na trilha). Voltei em seguida a
caminhar pela estradinha e às 9h05 cruzei o Rio Campo Novo do Sul,
largo e raso, saltando pelas pedras. Porém abandonei a estradinha ali
mesmo e segui por uma trilha junto ao rio, à direita.
Nesse
ponto o terreno por onde o Rio Campo Novo do Sul desliza deixa de ser
suave e passa a ter cortes abruptos, prenunciando o estreito cânion que
irá emparedá-lo logo abaixo. Nesses cortes lindas cachoeiras despencam
de uma altura e tanto. Passei por baixo de uma cerca e logo comecei a
subir o morro à direita (sul), tendo como meta a crista do Morro da Boa
Vista. Atingido o primeiro platô, contornei o morrinho seguinte pela
direita e logo pude ver a casa da fazenda abaixo à esquerda, já ficando
para trás. Subi um pouco mais e alcancei a crista que culmina no Morro
da Boa Vista a sudoeste. Dessa crista, nova e espetacular visão dos
campos e morros mais ao sul, junto à borda da Serra Geral, com destaque
para o grandioso vale do Rio Canoas e suas nascentes.
Para o
Morro da Boa Vista, bastou continuar subindo pela crista na direção
sudoeste até um grupo de grandes pedras, onde deixei a cargueira para o
ataque ao cume, um pouco mais ao sul. Vacas pastavam na encosta do Boa
Vista, cujo topo alcancei às 11h34. Altitude de 1823m. Dois marcos
geodésicos guardam o ponto culminante do estado de Santa Catarina. Dali
tinha visão impressionante do vale do Rio Canoas bem junto à borda da
Serra Geral a leste, do Morro do Campo dos Padres a nordeste, do Morro
do Chapéu e Morro Perdido ao norte, além dos morros e picos da Serra do
Corvo Branco, do Parque Estadual da Serra Furada e o Morro da Igreja,
bem distantes ao sul.
Notei também uma trilha larga (ou
estradinha abandonada) passando logo abaixo do morro e indo para o sul,
como uma continuação das trilhas de boi que eu havia pego até ali, e foi
para ela que me dirigi ao descer do Morro da Boa Vista, às 12h20. No
grupo de pedras onde tinha deixado a cargueira, havia sinal de celular e
consegui enviar uma mensagem pela Claro. Depois de um lanche, retomei a
caminhada pela trilha larga e bastante encharcada passando às 14h50 por
um ponto de água, o segundo do dia, considerando como primeiro o Rio
Campo Novo do Sul.
Eu abandonei essa trilha larga logo em
seguida mas é importante destacar que ela alcança uma outra estrada de
terra 5km à frente, a qual leva a Urubici em mais 36,6km, podendo ser um
acesso mais rápido ao Campo dos Padres (já que boa parte dela deve ser
trafegável) ou uma segunda rota de fuga dessa travessia.
Como
disse, 130m depois da água deixei a trilha larga em favor de um trilho
de boi à esquerda que descia até outro riacho já que meu próximo
objetivo era chegar ao Rio Canoas. Mais 50m e passo pelos restos de uma
antiga cerca, tendo o vértice de um pequeno cânion à esquerda. Procurei o
melhor caminho para a descida até o Rio Canoas e encontrei uma trilha
de gado que descia na direção de um cocho, mas antes de chegar a ele saí
para a direita, diretamente para o Rio Canoas, que alcancei às 16h36.
Aqui ele está muito próximo das nascentes porém já é um rio "de
respeito", com alguns metros de largura, mas de travessia fácil pelas
pedras. A primeira coisa que me atraiu foi o barulho de uma cachoeira e
caminhei 50m para a direita para fotografá-la. Aqui também o relevo
plano e suave do leito do rio sofre um corte súbito, fazendo-o despencar
em forma de bela queda-d'água.
Em seguida subi a encosta de
capim e me aproximei da borda da Serra Geral, da qual eu havia me
afastado desde a tarde do dia anterior. Com o dia limpo, sem nenhuma
nuvem, aproveitei para fotos da paisagem catarinense a se perder no
horizonte. Encontrei uma trilha bem marcada correndo junto à borda e
segui por ela para a direita (sul), mas às 17h50, com o sol já se
escondendo, tratei de arranjar um lugar para dormir. E fiz questão de
ficar junto aos paredões para ter a mesma paisagem de manhã, com
oportunidade de fotografar tudo de novo com outra luz. Altitude de
1553m.
Nesse dia caminhei 10,7km da travessia propriamente dita (mais alguns desvios para explorações).
5º DIA: DAS NASCENTES À GRANDE CACHOEIRA DO RIO CANOAS
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaDaSerraGeralCampoDosPadresECanionDoEspraiadoSC5DiaAbr13.
Vale do Rio Canoas e Morro do Campo dos Padres
Nesse
quinto dia me afastei novamente das bordas da Serra Geral e tive como
referência o vale do Rio Canoas, tendo o rio ora bem próximo ora um
pouco mais afastado. Só retornaria à borda da serra no final do dia
seguinte.
Só porque eu pernoitei próximo à borda da serra e seus
belos mirantes, o dia amanheceu totalmente encoberto, sem visão nenhuma
por causa da neblina. Como eu não tinha pressa e queria fotografar a
paisagem, fiquei enrolando na barraca. Quase 10h da manhã o sol deu as
caras e começou a dispersar aquele nevoeiro todo. Desmontei acampamento e
comecei a caminhar às 10h42, já com céu limpo, o que me permitiu tirar
boas fotos.
Continuei pela trilha bem marcada na direção sul com
a beirada dos penhascos à minha esquerda. Logo atravessei um trecho de
mata fácil de uns 80m e desci ao vale do Rio Canoas contornando o morro à
frente pela direita por trilha de gado. Cruzei um colchete e sem querer
botei algumas vacas para correr.
Aproveitei a aproximação do
Rio Canoas às 11h53 para pegar água e fazer um lanchinho rápido num
local bem agradável. Pelos restos de fogueira que havia ali na margem,
não fui o primeiro a ter essa idéia. É que a Trilha dos Índios, um
acesso a partir da zona rural de Anitápolis, alcança o Campo dos Padres
muito próximo dali. Fica então como dica esse outro caminho, a Trilha
dos Índios, que pode servir como um acesso mais rápido ao Campo dos
Padres ou como uma terceira rota de fuga dessa travessia.
Continuo
pela margem esquerda do Rio Canoas mas me afasto um pouco dele,
cruzando alguns riachinhos seus tributários e um colchete logo depois de
um cocho. Uns 500m antes de uma casa azul que aparece no meio do nada,
subo um morrinho à direita sem trilha para conhecer às 13h05 o antigo
cemitério de pedra, que conserva os muros e apenas três cruzes de ferro
quase completamente enterradas. Bem bonita a vista dali para o Rio
Canoas, na direção das suas nascentes, com o Morro do Campo dos Padres
ao fundo.
Desci pelo mesmo caminho e retomei a trilha principal
até a casa azul e o grande (e interessante) curral de pedra que a
antecede. A casa parecia nova e desocupada, não havia viva alma. A
partir dali, caí numa estradinha bem precária, cruzei uma cerca de arame
farpado fechando a estrada e às 14h15 desci a encosta gramada do lado
direito para me aproximar de uma bela queda do Rio Canoas, com grande
poço para banho e bonita vista do vale para leste e oeste.
Continuando,
a estradinha virou trilha com os arbustos prestes a fechá-la de vez,
sinal de que nenhum tipo de veículo passa mesmo por ali. Quando abriu
novamente e voltou a ser uma estradinha, topei às 14h47 com uma
bifurcação em T com uma casa à direita, a cerca de 600m, do outro lado
do Rio Canoas. Mas fui para a esquerda, caminhando em meio ao pasto com
vacas, até que alcancei o final da estradinha, exatamente numa cerca de
arame, que cruzei por baixo. Uns 50m à direita vi alguma coisa diferente
e fui conferir: era a carcaça de uma espécie de trator pequeno e
comprido que se usa na região. Carcomido e enferrujado, estava sendo
engolido pelo mato.
Voltando à cerca continuei pela estradinha,
que logo virou uma trilha entre as árvores. Uns 300m depois da cerca, às
15h30, surge uma outra trilha descendo à direita e vou explorar
(observação: nesse momento saio do caminho da travessia, mas voltarei
mais tarde a esse mesmo ponto para continuar). Era uma outra trilha
larga (ou resto de estrada antiga) que me lançou de volta ao Rio Canoas,
o qual cruzei pelas pedras sem dificuldade, apesar de um pouco largo.
Seguiu-se uma subida forte e 250m depois do rio fui à esquerda numa
bifurcação. Importante: subindo à direita nessa bifurcação a estradinha
precária continua e bifurca de novo: a direita leva à última casa
avistada e a esquerda é um acesso para Urubici, distante 39km dali. Fica
então mais uma dica de caminho alternativo, que pode servir tanto como
um acesso mais rápido ao Campo dos Padres (já que boa parte dela deve
ser trafegável) quanto como uma quarta rota de fuga dessa travessia.
Na
bifurcação em que tomei a esquerda, a estradinha mais à frente vira uma
trilha na mata e desce. No primeiro campo que surge à esquerda desço
pelo capim baixo atraído pelo som da água. Na beira desse campo, às
16h17, a surpresa é o Rio Canoas correndo num vale profundo e, mais que
isso, uma espetacular cachoeira despencando do paredão à esquerda,
resultado do grande desnível do leito do rio. Longa pausa para
contemplação pois o lugar é mágico.
Durante o retorno à trilha
principal da travessia, após cruzar de volta o Rio Canoas, subi pouco
mais de 200m pela estradinha e entrei no campo à direita. Procurei até
que encontrei uma trilha que corria paralela ao rio, bem acima dele, e
que me proporcionou ótima vista de uma outra cachoeira, bem menor que a
anterior, mas bem bonita também, com queda tripla.
Voltei à
trilha principal da travessia e fui para a direita. Menos de 400m à
frente me deparo com uma cerca de arame farpado sem passagem fácil. Já
eram 18h e precisava arranjar algum lugar para passar a noite. Voltei um
pouco nessa procura e deixei para cruzar a cerca no dia seguinte.
Altitude de 1485m.
Água nesse dia não foi problema, cruzei pelo
menos oito riachinhos bons para abastecer os cantis, todos pequenos
afluentes do Rio Canoas, sem contar o próprio Rio Canoas, onde peguei
água também.
Nesse dia caminhei 9,7km, contando os desvios para conhecer as cachoeiras.
6º DIA: DA GRANDE CACHOEIRA DO RIO CANOAS AO MORRO DA CRUZ (OU MORRO DA ANTENA)
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaDaSerraGeralCampoDosPadresECanionDoEspraiadoSC6DiaAbr13.
Cânion do Espraiado
Nesse
dia me afastei do Rio Canoas e me aproximei da borda da Serra Geral
novamente. O Rio Canoas a partir daquela grande cachoeira corre
encaixotado num profundo vale e só fui reencontrá-lo no finalzinho da
travessia.
Desmontei acampamento e comecei a caminhar às 8h11.
Cruzei por baixo a cerca encontrada ontem e 140m depois dela uma outra
cerca (junto a um riacho), que atravessei também por baixo, caindo numa
estradinha abandonada. O caminho à esquerda leva a uma casa a uns 200m,
porém eu fui para a direita. Pouco mais de 150m depois entrei numa
trilha à direita que penetra na mata pois o caminho pela estradinha logo
começaria a ficar mais fechado, com árvores caídas. A surpresa ali
foram alguns quatis passeando pelas árvores e que gostaram de fazer pose
para a minha câmera. Logo a trilha me devolveu à estradinha, num ponto
já melhor para caminhar.
Às 9h16 a estradinha se alarga e
encontro três caminhos possíveis. Podia ter pego o da direita mas o mato
invadindo a trilha começou a incomodar. Voltei e avancei pelo caminho
da frente da trifurcação, que estava bem mais aberto (o terceiro ramo
dessa trifurcação, o da esquerda, volta para o vale do Canoas).
Atravessei um ótimo gramado para acampamento e caí numa trilha larga que
devia ser continuação daquele ramo da direita que eu rejeitei. Fui para
a esquerda e 40m depois à esquerda de novo em outra estradinha
abandonada. Esquerda novamente na próxima bifurcação, subo um pouco e
desço até uma outra estrada abandonada às 10h06, onde opto pela direita e
imediatamente cruzo um riacho pelas pedras, afluente do Arroio
Comprido, por sua vez afluente do Rio Canoas, segundo a carta
topográfica.
Às 10h43 saltei pelas pedras o próprio Arroio
Comprido, espantando algumas vacas, e em seguida passo por um colchete.
Nesse local resolvi explorar algumas trilhas que poderiam servir de
atalho para a travessia mas não tive muito êxito. Gastei 3 horas nessa
investigação e voltei à estradinha, cruzando em seguida um outro
afluente do Arroio Comprido às 14h. Depois de outro riacho (a última
água do dia) peguei a esquerda na bifurcação seguinte e encontrei uma
búfala com filhote bem no caminho. Já sabia da criação desses animais na
região mas não conhecia o comportamento deles, se são como bois e vacas
ou mais agressivos. Bom, essa pelo menos saiu correndo ao me ver e
desapareceu.
Às 15h topei com uma estradinha mais larga e segui
para a esquerda, subindo sob a sombra de uma pequena floresta de
araucárias. Quando a paisagem se abriu à esquerda, pude ver o grande e
profundo vale que abriga o Rio Canoas depois daquela cachoeira visitada
ontem. Um verdadeiro cânion verdejante. E também avistei pela primeira
vez o Morro da Igreja, bem distante no horizonte, mas com a enorme e
inconfundível antena do Cindacta.
Às 15h35 alcanço a estrada de
terra que leva ao Morro da Cruz, ou Morro da Antena, e nessa há marcas
de passagem de veículo. Como esse morro era parte do meu roteiro, subi à
esquerda. Se descesse à direita estaria tomando a estrada que desce
diretamente ao Rio Canoas e é o caminho mais usado por quem visita o
Cânion do Espraiado. Aqui temos então a quinta rota de fuga dessa
travessia, numa distância de 9km até o Albergue Rio Canoas.
Como
disse, subi à esquerda, e logo vi mais búfalos pastando bem próximo. No
alto a estrada faz uma curva para a direita e uma estradinha secundária
sai à esquerda, descendo, mas segui em frente (direita). Mais búfalos,
uma porteira e mais acima larguei a mochila e caminhei campo adentro (à
direita) para me aproximar da borda da crista onde eu me encontrava para
a primeira visão do espetacular Cânion do Espraiado. À direita dele, a
continuação da borda da Serra Geral, parte dela ainda a ser trilhada
nessa travessia. E mais além a paisagem de morros e picos da Serra do
Corvo Branco e do Parque Estadual da Serra Furada, conjunto que eu já
havia avistado muito longe a partir do Morro da Boa Vista, no 4º dia.
Depois
de várias fotos e explorar algumas trilhas que poderiam descer dali
diretamente ao cânion (exploração sem sucesso), continuei pela
estradinha e cheguei à antena às 17h22. Porém fui surpreendido por uma
enorme antena... no chão! Depois me disseram que o dono das terras
mandou derrubá-la com um caminhão. Explorei por ali também uma possível
descida direta ao cânion mas toda a encosta sul é recoberta de mata alta
e sem trilha. Pelo menos eu não encontrei nenhuma.
Já era hora
de pensar num lugar para acampar, porém ventava muito e fazia bastante
frio. A melhor opção foi montar a barraca dentro da estrutura de metal
que servia de apoio à manutenção da antena, hoje vazia, sem nenhum
equipamento, mas com algum lixo. A diferença de temperatura dentro e
fora desse alojamento era brutal, então não tive dúvida de pernoitar ali
dentro mesmo. O vento forte fazia qualquer peça solta das portas e
paredes ficar batendo e fazendo barulho, então tive de prender todas
para poder dormir. Altitude de 1606m.
A visão do Cânion do
Espraiado e dos paredões da Serra Geral a partir da antena é muito
bonita também, porém mais distante do que a partir daquele mirante que
explorei mais abaixo no caminho.
Nesse dia caminhei 10,7km (na realidade caminhei bem mais pois explorei sem sucesso alguns atalhos).
7º DIA: DO MORRO DA CRUZ (OU MORRO DA ANTENA) À ARAUCÁRIA SOLITÁRIA
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaDaSerraGeralCampoDosPadresECanionDoEspraiadoSC7DiaAbr13.
Cânion do Espraiado e Serra do Corvo Branco ao fundo
Logo
cedo, subi o morrinho ao lado da antena para checar a altitude máxima
do Morro da Cruz e é de 1629m. A visão para todos os lados é
sensacional, tanto dos paredões ao norte, quanto os do sul e a imensidão
das terras abaixo, na direção do mar. Destaque para o Morro da Boa
Vista e o Morro do Chapéu bem distantes ao norte. Havia sinal da Vivo e
consegui fazer uma ligação para casa para dizer que estava bem.
Comecei
a caminhar às 9h13 e às 10h passei pela bifurcação que me trouxe da
parte norte do Campo dos Padres, continuando pela estrada principal
(esquerda), que, como disse, desce diretamente ao Rio Canoas e é o
caminho mais usado por quem visita o Cânion do Espraiado. Mais 15
minutos e me deparei com uma casa grande de madeira com quatro janelas
largas e até pensei que fosse ali o local da cobrança para visita ao
cânion, mas estava deserta. Em frente à casa, abandonei essa estrada e
peguei uma secundária que sobe à esquerda. Na sequência ela desce e já
proporciona vista do cânion bem perto.
Cruzei dois riachos e uma
porteira e me aproximei de uma outra casa às 10h48, esta deserta também
porém com cachorros para alardear a minha presença. Nessa casa é que é
cobrada a entrada para visitar o cânion, porém nem sei quanto se paga
pois não havia ninguém para cobrar. Cruzei um colchete à direita da casa
e fui na direção da mata, encontrando uma trilha por onde desci. Quando
saí da mata, me deparei com uma estradinha vindo da esquerda, que deve
ser um acesso mais usado do que a trilha que peguei. Às 11h10 alcancei o
vértice do Cânion do Espraiado, na cota dos 1376m, e a paisagem é de
cair o queixo. Do vértice, avista-se entre os paredões do cânion a
estradinha sinuosa da Serra do Corvo Branco.
Não explorei o lado
leste do cânion, parti direto para o lado oeste pois seria o meu
caminho para chegar ao Albergue Rio Canoas no final do dia seguinte.
Cruzei então uma cerca e caminhei junto à beirada do paredão,
atravessando três riachos que poucos metros à esquerda despencam no
precipício.
Caminhei sem pressa até a extremidade da face oeste e
às 12h27 fiquei de frente para a impressionante torre de pedra, com
magnífica paisagem de fundo. Dali em diante meu caminho seria junto à
borda da serra (sudoeste/sul) até o ponto certo onde descer ao albergue.
O primeiro passo foi encontrar uma trilha para vencer a mata na encosta
do morro a oeste, mas não foi difícil e a faixa de árvores devia ter
uns 50m apenas, porém subindo bastante.
Alcançado o campo num
nível acima do cânion às 13h30, passei a caminhar tendo a borda do
penhasco bem próxima à minha esquerda e desviando dos minicânions que
surgem. Às 14h02 passei pelo último ponto de água desse dia e do
restante da travessia, por isso é bom abastecer todos os cantis. Aliás
esse singelo riachinho também despenca na forma de uma alta e bonita
cachoeira no penhasco poucos metros à esquerda. Subindo um pouco mais,
destacam-se à frente grandes elevações bem à beira da serra, enormes
morros cortados abruptamente na face leste formando paredões gigantes a
pique. E é pela beira desses altos morros que a travessia seguirá
amanhã. É bom ter essa referência visual para tomar o caminho certo ao
chegar lá.
Às 14h40 atravessei por trilha um outro cinturão de
mata, este mais extenso que o anterior, e volto a caminhar pelo campo
por mais uns 300m, quando um outro segmento de mata me obstrui o
caminho. Não encontrei trilha para atravessá-lo, então a melhor solução
foi descer à direita diretamente em direção a uma araucária solitária,
onde encontrei uma trilha larga e bem marcada.
Gastei um bom
tempo explorando o lado direito dessa trilha, subindo um pouco (como se
estivesse voltando), e depois o lado esquerdo, descendo (e depois
subindo) na direção da continuação da travessia. Com isso o dia findou e
resolvi acampar próximo à mencionada araucária. Altitude de 1314m.
Nesse dia caminhei 10,3km da travessia em si (e mais alguns km de explorações de outros caminhos).
8º DIA: DA ARAUCÁRIA SOLITÁRIA AO ALBERGUE RIO CANOAS, FINALMENTE
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaDaSerraGeralCampoDosPadresECanionDoEspraiadoSC8DiaAbr13.
Cânion do Espraiado
Desmontei
acampamento e comecei a caminhar às 8h. Uns 70m abaixo da araucária há
uma bifurcação onde desci à direita, entrando na mata. Ao se aproximar
de uma cerca, a trilha fecha e parece não haver continuação do outro
lado. Mesmo assim, atravessei a cerca e a matinha curta e alcancei um
final de estradinha abandonada. Subi por ela e, mais acima, ao atingir
um primeiro platô, ela se dirige para a direita, bordejando o morro à
frente. Aqui é preciso cuidado para não errar o caminho. Seguir por essa
estradinha contornando o morro pela direita não me levou a lugar
nenhum, só a mato fechado. O melhor mesmo é abandonar a estradinha ao
atingir esse primeiro platô e se aproximar da beirada da serra à
esquerda para subir todo o morro à frente pelos campos meio sem trilha
mesmo (ou com alguma trilha de vaca). Manter-se próximo à borda aqui
evita tomar caminho errado e de quebra proporciona uma visão espetacular
dos penhascos ao sul e ao norte.
Atingido o topo do morro mais
alto, a 1473m, avistam-se novamente ao sul os morros e picos da Serra do
Corvo Branco, do Parque Estadual da Serra Furada e o Morro da Igreja,
agora um pouco mais próximos. A sudoeste, no vale do Rio Canoas, já se
vê o Albergue/Pousada Rio Canoas e a Pedra da Águia, porém esta num
ângulo muito diferente, como continuação de uma crista que inicia no
próprio morro onde se está.
Ao começar a descer desse morro mais
alto, o caminho natural é contornar a borda do penhasco e ir em direção
a uma cerca num platô logo abaixo, onde se encontra uma trilha bem
marcada. Cruzando a cerca por um colchete, em menos de 100m começa uma
descida com muita lama e pedras de quase 300m de extensão. No meio dessa
ladeira escorregadia se destaca à esquerda, entre as árvores, uma ponta
mais alta dos paredões. Procurando bem, encontrei uma trilha que saiu
da principal e subiu toda essa ponta até o topo, onde a visão do vale do
Rio Espraiado com o imenso cânion à esquerda foi de cair o queixo!
Voltei
à trilha principal e desci até encontrar uma cerca, que tive de cruzar
por baixo. Estava bem na beira dos paredões novamente e pela última vez
nessa travessia, então parei um instante para contemplar a extensa vista
para leste, na direção do litoral, como sempre espetacular. Altitude de
1282m. Esse local, bem próximo à cerca, tem como referência uma árvore
um pouco isolada das demais coberta de um líquen comprido parecendo uma
barba. Depois dela a borda da serra volta a subir na direção sul. Mas o
meu caminho foi quebrar 90º à direita na árvore e descer pelo vale que
me levaria de volta ao Rio Canoas.
Passei por um colchete e
quase 700m depois da árvore a trilha bem marcada começa a se transformar
numa estradinha interna do sítio, cuja casa de madeira meio abandonada e
vazia não demora a aparecer. Logo abaixo dela uma porteira, mais à
frente dois riachos que atravessei pelas pedras (a primeira água fácil
desde ontem às 14h02) e quase no final outra porteira, seguida do último
riacho. Mais alguns metros e desemboco numa rua: 100m à direita está o
Rio Canoas, já adulto, muito maior do que quando o deixei no 5º dia da
caminhada. Mas o meu destino final também estava perto, 200m à esquerda,
subindo a rua: o Albergue Rio Canoas, onde fui muito bem recebido pelo
Mauro (que cuida do lugar) e um casal ali hospedado, que se desdobraram
para me arranjar algo para matar a fome já que a minha comida havia
acabado e não há nenhum lugar para comer por ali.
Altitude de 1033m.
Nesse dia caminhei 6,3km em cerca de 4 horas.
Total da travessia: 79,1km.
Ainda
deu tempo de conhecer um famoso atrativo local nesse dia, a Pedra da
Águia. Para isso caminhei até a estradinha que margeia o Rio Canoas (a
250m do albergue) e fui para a direita, cruzando um afluente do Canoas
pelas pedras e uma porteira. Caminhei apenas 600m pela estrada e já
tinha o melhor ângulo para fotografar a famosa pedra.
No dia
seguinte, o Mauro conseguiu para mim uma oportuna carona já que sair
desse local de ônibus iria me obrigar a caminhar 7km de estrada até o
ponto final do circular para Urubici, que sai apenas duas vezes por dia.
Informações adicionais:
Horários de ônibus:
. Florianópolis-Lomba Alta:
www.reunidas.com.br (R$ 28,37)
. vale do Rio Canoas-Urubici: 6h e 12h30 (somente seg a sex)
. Urubici-vale do Rio Canoas: 11h30 e 18h (somente seg a sex)
Hospedagem em:
. Pedra Branca: Hospedaria das Montanhas - 48-8412-4383 (Oi)
. vale do Rio Canoas: Albergue/Pousada Rio Canoas -
www.riocanoas.com.br -
reservas@riocanoas.com.br - no albergue a diária é R$30 no quarto coletivo sem café, mas com cozinha disponível
Cartas topográficas de:
. Alfredo Wagner-SC (
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SG-22-Z-D-IV-1.jpg)
. Bom Retiro-SC (
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SG-22-Z-D-IV-3.jpg)
. Aiurê-SC (
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SH-22-X-B-I-1.jpg)
Repetindo as possíveis rotas de fuga dessa travessia:
. do Morro do Chapéu a Bom Retiro (30km)
. do Morro da Boa Vista a Urubici (36,6km)
. do Campo dos Padres a Anitápolis pela Trilha dos Índios (5,6km de trilha + 22km de estrada)
. da grande cachoeira do Rio Canoas a Urubici (39km)
. da bifurcação do Morro da Cruz ao Albergue Rio Canoas (9km)
Rafael Santiago
abril/2013