Essa é a segunda parte da travessia Cardeal Mota-Lapinha-Fechados. A primeira parte está em http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2014/06/travessia-cardeal-mota-lapinha-serra-do.html.
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaLapinhaFechadosSerraDoCipoMGMai14.
O
planejamento para essa etapa Lapinha-Fechados incluiu os grandes
atrativos da Lapinha, como Cachoeira do Bicame, Poço do Soberbo e outros
rios e cachoeiras que eu ainda desconhecia ou não via há muitos anos.
A
partir do Poço do Soberbo a caminhada se desenvolve num largo e extenso
vale num dos patamares da porção oeste da Serra do Espinhaço. O visual
amplo do trecho entre a Lapinha, a Bicame e o Soberbo é, a partir deste,
substituída pela visão mais restrita das serras ao redor da calha desse
extenso vale.
Essa etapa da travessia foi completada em cinco
dias e vale lembrar, como já mencionei no relato da primeira etapa, que
eu tinha um cronograma folgado, com tempo para explorar trilhas e
caminhos para onde a minha curiosidade me levasse, além das inúmeras
pausas para fotos e contemplação, afinal estava na Serra do Cipó.
1º DIA - DA LAPINHA À BICAME
O
curto intervalo entre as duas travessias foi um farto almoço de comida
caseira no restaurante da Dona Lina, na Lapinha. Devidamente alimentado
para o que viria pela frente, coloquei a mochila nas costas e tirei uma
foto da Capela de São Sebastião exatamente às 12h40, marcando assim o
início da segunda etapa da longa travessia. Altitude de 1103m.
Tomei
a estrada de terra batida e extremamente poeirenta que leva a Santana
do Riacho e fui admirando os contornos da Serra do Breu à minha direita,
com o Pico da Lapinha como ponto mais alto visível (lembrando que o
ponto mais alto dessa serra é o Pico do Breu, não visível dessa
estrada). Após 3,3km, no chamado cotovelo, segui pela estrada mais
estreita que surgiu à direita. O cotovelo é uma curva muito fechada e
ascendente à esquerda na estrada, a qual desce depois para Santana do
Riacho. Mas o meu caminho era à direita, continuando para o norte. Em
900m ignorei uma estradinha que sai à direita e às 14h alcancei um
largo, onde cruzei a primeira porteira. Em 7 minutos ultrapassei outra
porteira, esta com uma grande mangueira ao lado, desci um pouco e na
curva à esquerda identifiquei a trilha larga que sobe à esquerda e leva
diretamente ao Poço do Soberbo, mas meu roteiro passaria na Bicame
primeiro para depois descer ao Soberbo.
A partir daqui a
estradinha começa a ficar ruim e os carros comuns já deveriam ter sido
deixados em algum ponto lá atrás, acho que no largo junto à primeira
porteira. Após um trecho plano veio a primeira subida mais forte, onde
me mantive na principal (esquerda numa bifurcação), passei por profundas
erosões à esquerda e topei com a porteira da Fazenda Cachoeira às 14h39
(placa de proibido acampar). Ali cumprimentei dois homens que faziam
uma pausa do trabalho numa minguada sombra, sem saber que seriam as
últimas pessoas que veria nos próximos quatro dias! A partir dali o
horizonte se abre à esquerda também e passo a ter uma visão mais ampla,
com a estradinha rasgando uma crista e ficando cada vez mais precária
(somente para 4x4).
Após uma grande curva em ferradura para a
esquerda, parei às 15h24 na primeira sombra que apareceu pois o sol
fritava. Foi aí que notei a infestação que havia sofrido dos micuins,
com dezenas deles grudados ao meu corpo. Felizmente a maioria saiu
facilmente pois devia ser bem recente o ataque, provavelmente no vale do
Mata-Capim pela manhã. Às 15h55, com a minha água já quente e quase no
fim, prossegui. Importante dizer que não encontrei nenhum ponto de água
até ali. E só fui encontrar água mais confiável para consumo na
Cachoeira do Bicame, ao fim do dia.
Serra do Breu
Subi
pela estrada num ziguezague e às 16h06 topei com a porteira das RPPNs
Ermo das Gerais e Brumas do Espinhaço, mas sem nenhuma guarita ou casa
ao lado. Porém subindo um pouco mais já avisto duas casas ao lado da
estrada, e bem à frente no horizonte o grande morro que contornarei pela
esquerda para alcançar a Bicame, oculta num vale mais profundo. Desci
até as casas, que estavam desertas, mas fui denunciado por um cachorro.
Cruzei uma porteira e uma ponte de pedra mas não peguei da água. Apenas
270m após a ponte, uma placa "Bicame" manda abandonar a estrada e entrar
na trilha à esquerda, que se dirige ao grande morro citado. Ao
contorná-lo pela esquerda e atingir um ponto mais alto, olho para trás e
tenho a surpreendente visão da Serra do Breu e da Represa da Usina
Coronel Américo Teixeira, na Lapinha.
Apertei o passo na descida
pois o sol já se aproximava do horizonte e às 17h26 tinha enquadrados em
minhas lentes um magnífico pôr-do-sol à esquerda e a majestosa
Cachoeira do Bicame à direita, ainda a ser alcançada após uma descida
mais íngreme de 750 metros. Às 17h40 já estava diante de seu poço a
contemplá-la. Pelo horário era obrigatório que eu dormisse ali, mesmo
sem permissão. Altitude de 1162m.
Nesse dia caminhei 14,9km desde a Lapinha.
2º DIA - DA BICAME AO SOBERBO
Nesse
dia planejei descer da Bicame ao Poço do Soberbo e começar a travessia
para Fechados propriamente dita. Porém algumas explorações adicionais me
atrasaram nesse planejamento.
A Cachoeira do Bicame é uma queda
do Rio das Pedras na cota dos 1162m. Esse rio nasce na Serra do Breu e a
partir da Bicame desce os muitos degraus do Espinhaço no sentido oeste,
penetra cânions cada vez mais profundos, despenca em cênicas cachoeiras
e recebe do sul as águas do Córrego Fundo nos 921m, já bem próximo do
Poço do Soberbo. Ali também recebe as águas do Ribeirão Soberbo, vindas
do norte. A partir do Poço do Soberbo, antigo local de garimpo, o Rio
das Pedras despenca vertiginosamente pelas paredes da face oeste da
serra e alcança o vale do Rio Cipó, onde despeja suas águas escuras.
Depois
dessa visão geográfica do Rio das Pedras, o que tinha de concreto à
minha frente era um grande poço e um rio muito largo para atravessar.
Decidi tentar algum local mais fácil na parte de cima da cachoeira.
Deixei então a Cachoeira do Bicame às 8h35 e subi por uma canaleta na
parede rochosa à direita da queda que me lançou em alguns minutos à sua
parte alta. Ali cruzei o rio facilmente pelas pedras sem tirar as botas
graças ao baixo nível das águas (devido ao longo período sem chuvas,
importante lembrar). Na outra margem, tomei uma trilha à esquerda para
descer novamente ao poço e topei com uma placa da RPPN Vargem do Rio das
Pedras (mais uma área particular!?).
Do poço uma trilha nítida
(avistada já desde o alto da cachoeira) acompanha o curso do rio por sua
margem direita e passa por algumas outras belas cachoeiras e grandes
poços cujos nomes desconheço. Nesse trecho é preciso ficar bem atento à
trilha certa para chegar ao Soberbo. Essa trilha que acompanha o rio é
bem marcada porém desaparece 1,4km depois do poço da Bicame, portanto
esse não é o melhor caminho. A trilha certa ficou para trás, mas chegar
até o fim dessa trilha paralela ao rio não é nenhum tempo perdido já que
a visão do enorme cânion do Rio das Pedras com a baixada a perder de
vista no horizonte é a grande recompensa. Mas, indo direto ao ponto
certo: 17 minutos depois de deixar o poço da Bicame encontramos uma
cachoeira de poço grande e alongado; apenas 50m depois dela uma picada
sai à direita no meio do capim alto e sobe. É por aí que entrei às
10h35.
Cachoeira do Bicame
Em
menos de 5 minutos a trilha deixa o capim alto e continua subindo até
alcançar um grande platô ligeiramente abaixo que deve ser cruzado no
sentido noroeste, sempre com trilha nítida. No horizonte uma visão mais
ampla da baixada, com campos e estradas até onde a vista alcança. Quase
no fim do platô, não resisti à paisagem que se abria à minha esquerda e
corri à beirada da serra para espiar. A visão é esplêndida! Para a
esquerda (sul) o longo vale do Córrego Fundo, à direita (norte) o
espetacular vale do Ribeirão Soberbo (me chamando para a travessia a
Fechados) e no centro do palco as águas negras do Poço do Soberbo, ao
lado do gramado com as casinhas de pedra. Não dá para ter pressa num
lugar assim!
Devido ao grande desnível, a trilha descreve um
longo cotovelo para norte/noroeste e depois sul/sudeste para descer mais
suavemente ao fundo do vale. Mas antes de alcançar o Soberbo eu tinha
uma outra exploração a fazer. Uns 100m depois da curva fechada desse
cotovelo, às 12h16, saí da trilha e retomei a direção norte (sem trilha)
para visitar outras quedas do Ribeirão Soberbo. Desci um pouco entre
pedras e vegetação aberta e, apesar da ausência de trilha, a aproximação
não foi tão difícil. Uma vez no Ribeirão Soberbo, subi às duas
primeiras cachoeiras com grandes poços de água escura. Almocei ali e
deixei o local às 13h30, retornando pelo mesmo caminho e retomando a
trilha principal às 13h46.
Caminhando na direção sul/sudeste do
cotovelo e ainda numa posição elevada, a vista que se tem do vale do
Córrego Fundo de frente é realmente bela. Às 14h12 já vejo no paredão à
esquerda afunilada uma grande queda do Rio das Pedras, cujas águas
atinjo 10 minutos depois, não sem antes fotografar uma canela-de-ema de
uns 3 metros de altura.
A descida do Rio das Pedras até o fundo
do vale foi bem mais difícil (e até tensa) do que eu pensava. Acho que
porque eu não esperava, se passasse hoje de novo acharia bem mais fácil.
É uma descida um pouco longa e com degraus muito altos, com a cargueira
dificultando um pouco. Mas vamos lá. Primeiro cruzei o Rio das Pedras
sem muita dificuldade, pulando as lajes pontudas e sem precisar tirar as
botas (um bastão de caminhada ou cajado ajudam). Na margem esquerda,
desci pelas lajes inclinadas procurando sempre o melhor caminho (de
pouca altura e com pedras secas para não escorregar) até alcançar a
garganta de uma grande queda, onde a parede vertical me obrigou a
procurar algum caminho para dentro da vegetação, me afastando do curso
d'água. Por um caminho mal definido acabei encontrando uma canaleta que
era uma verdadeira pirambeira com degraus muito altos, mas com algum
apoio na vegetação ao redor para não despencar de uma vez. Foi um pouco
difícil, mas às 15h05 já pisava em terreno mais seguro no campo aos pés
da canaleta, onde encontrei inclusive um totem.
Um pausa para
relaxar e fotografar a bela cachoeira alta da qual tive de desviar e
retomei a caminhada acompanhando o curso do Rio das Pedras na direção do
seu encontro com o Córrego Fundo. Porém seguindo a trilha até o fim me
deparei com o Córrego Fundo muito... fundo! Voltei 70m e tomei uma
trilha meio escondida à direita que tangenciou um descampado e reentrou
na mata ciliar à direita para me conduzir de volta ao rio exatamente num
ponto onde o atravessei pulando duas pedras! Passei por uma clareira
com restos de acampamento e finalmente alcancei a estradinha do vale do
Soberbo às 15h44.
Tomei a estradinha estreita para a direita
(noroeste) e após uma curva subindo à esquerda e descendo à direita,
chego enfim ao Poço do Soberbo às 16h. Desde a minha primeira visita em
1993 nunca mais havia pisado ali. A marca do lugar e de seu passado de
exploração de diamantes são as três casinhas de pedra (só uma delas com
telhado) e os restos de instrumentos e máquinas usados no garimpo na
década de 1960. O grande poço escuro recebe em forma de graciosa
cachoeira as águas do Rio das Pedras, já engrossado pelo Córrego Fundo e
Ribeirão Soberbo, nessa ordem. Esse é o ponto mais baixo de toda a
travessia: 909m.
Não poderia continuar a travessia sem antes
explorar um pouco mais aquele lugar. A curva do rio em direção ao enorme
cânion atiçou a minha curiosidade e comecei a segui-lo. Mas a caminhada
junto à margem não era tão fácil e procurei por trilhas, logo
encontradas, que me levaram à boca do cânion, onde desci pelas lajes
inclinadas ao lado do rio sem dificuldade. A exploração não foi muito
longe pois logo um precipício impediu que eu continuasse, mas o que eu
vi e fotografei até ali já me recompensara. Com a luz natural já indo
embora, me presenteei com uma noite estrelada naquele lugar muito
especial.
Nesse dia caminhei 8,4km, descontadas as explorações.
Poço do Soberbo
3º DIA - DO SOBERBO À CASA DO SR ÁLVARO
Nesse
dia iniciei a travessia para Fechados propriamente dita, com a tomada
da direção norte/noroeste do Poço do Soberbo até o final. Água não foi
problema nesse dia, não com tanta abundância quanto no dia anterior, mas
não faltou.
Deixei o Soberbo às 7h49 e voltei pela estradinha
180m até a curva para a direita (sudeste), onde procurei uma trilha à
esquerda que se aproximasse do Rio das Pedras. Caminhei pelas lajes da
sua margem esquerda até encontrar um local apropriado para atravessar e
não precisei tirar as botas. De novo o baixo nível das águas ajudou,
seria bem mais difícil com o rio cheio. Cruzei-o muito próximo da
queda-d'água que despenca no Poço do Soberbo e aproveitei para fotos
dele por outro ângulo. Procurei na margem rochosa um caminho para
alcançar a trilha para o norte, que já havia avistado do alto no dia
anterior. Ao encontrá-la deparei com uma placa bem clara e objetiva:
entrada proibida - invasores serão processados - art. 150 do código
penal brasileiro. Como parecia que eu não era bem-vindo, tratei de
passar o mais rápido possível pela fazenda para não ter necessidade de
acampar nela. Porém ela é imensa e levei o dia todo para atravessá-la.
A
partir da placa a trilha é bem marcada e sem erro por 1,8km, sempre
para o norte e subindo pelo vale do Ribeirão Soberbo. Depois de avistar
uma grande cachoeira à direita, a Cachoeira do Rubinho, a trilha cruza
um córrego e parece terminar num cercado de arame farpado com um cocho
amarelo de plástico. Ali perdi um bom tempo procurando o caminho certo
pois começaram a surgir caminhos de vaca para vários lados. O mais fácil
é cruzar a cerca e seguir a trilha para a direita, como se estivesse
voltando (ou pegar um atalho uns 50m antes e cruzar o córrego em outro
ponto, que dá na mesma). A trilha faz uma curva em ferradura subindo um
pouco para a esquerda e continua para o norte num nível mais acima. No
final dessa curva em ferradura sai uma outra trilha que desce para a
direita e leva à bonita Cachoeira do Rubinho e seu enorme poço, outra
das várias quedas do Ribeirão Soberbo, que nesse ponto faz uma curva de
sudoeste para sudeste ao despencar das paredes da serra.
Depois
de apreciar a cachoeira e seu poço, tomei definitivamente o rumo
norte/noroeste, voltando à última bifurcação e seguindo em frente
(direita) às 10h37. A subida suave vai ampliando a visão para trás do
vale do Ribeirão Soberbo e mais distante o do Córrego Fundo. Às 10h58 a
trilha nivela e tenho o último panorama do vale do Soberbo. Cinco
minutos depois vou para a esquerda numa bifurcação por ser o caminho
mais batido e cruzo um riacho. A vista do grande vale plano por onde
caminharei começa a se abrir à minha frente, bem como uma subida em
forma de S ao fundo. Às 11h22 atravesso uma tronqueira e 3 minutos
depois subo o tal S escolhendo qualquer uma das várias trilhas que se
juntam mais acima num caminho largo de pedras brancas e soltas.
No
alto desse morrote é que a visão à frente se escancara num largo e
extenso vale até onde a vista alcança, um imenso campo pontilhado por
alguns capões de mata. Essa será minha paisagem pelo restante do dia.
Campos sem fim
Às
12h42 encontro as águas escuras e transparentes do Córrego do Quartel
em forma de um belo poço e algumas cachoeirinhas. Um convite a uma
parada para almoço na sombra, na companhia de alguns cavalos que
pastavam. Às 13h cruzo o córrego e retomo a caminhada, sempre para o
norte. Daí em diante, por conta do gado, começo a encontrar diversas
trilhas paralelas ou ligeiramente divergentes e também cruzamentos de
trilhas. Isso será constante até o final da travessia e em alguns
momentos causou um pouco de transtorno já que certas trilhas
aparentemente paralelas acabam divergindo discretamente da direção
correta. Perdi algum tempo com isso pois em alguns casos não percebi que
estava saindo do caminho correto.
Às 14h me deparo com algumas
pequenas lagoas à direita e salto pela vegetação para cruzar uma curta
área alagada. Estou nas nascentes de um importante tributário do Córrego
Cachoeira (nome que consta na carta), rio este que vai despencar da
serra a oeste e formar a extraordinária Cachoeira do Inhame. Vou
acompanhar esse afluente até a casa-sede da fazenda e depois
acompanharei o próprio Córrego Cachoeira até suas nascentes pelo
restante desse dia e na manhã toda do dia seguinte.
Às 14h09
avisto a casa-sede da fazenda na direção de uma verdejante plantação de
capim napier que causa estranheza pois destoa demais da vegetação
nativa. Em 7 minutos alcanço um curral com uma casa de pedra e cruzo a
porteira. A casa-sede fica a uns 150m à esquerda, na direção de uma
fenda na serra que é exatamente onde o Córrego Cachoeira despenca. Não
avistei ninguém por ali mas disseram que sempre fica alguém cuidando do
lugar. O caminho continua em forma de trilha, não há estrada até a casa.
Cruzo uma porteira de ferro e uma pinguela e, como disse, passo a ter o
Córrego Cachoeira à minha esquerda, na forma de uma comprida mata
ciliar.
Fiz uma pausa de 18 minutos para um lanche e às 15h25 a
trilha me levou para dentro da mata ciliar de um riacho onde encontrei
uma "pinguela" muito ruim de troncos caídos. Pensei até que estivesse no
lugar errado, mas era por ali mesmo. Cruzei o riacho e na sequência uma
cerca por baixo. Depois da cerca não havia trilha muito marcada,
somente alguns rastros no capim. Me aproximei da mata ciliar do Córrego
Cachoeira à esquerda mas descartei a trilha que a penetra e caminhei
para a direita até encontrar uma outra trilha paralela à mata ciliar,
sempre na direção norte (se seu cantil estiver vazio, o Córrego
Cachoeira pode fornecer água boa).
A trilha passa do campo
aberto para um trecho entre árvores e arbustos junto à mata ciliar à
esquerda. Às 16h23 um grande campo se abre à minha frente novamente
porém a trilha começa a me levar para a direita (leste) e a voltar, me
obrigando a abandoná-la. Não encontrei outra trilha por ali. Caminhei
para o norte sem trilha e para atravessar um córrego de vegetação mais
fechada tive de desviar para a esquerda até um ponto de passagem mais
fácil. Uns 200m depois dele é que encontrei uma trilha que atravessou
todo o campo seguinte de capim baixo, com locais de bastante erosão mais
à frente. Ali já começo a avistar à esquerda a casa do sr Álvaro e a
capela de pedra no alto.
Às 17h08 alcanço uma trilha bem marcada
que desce da serrinha à direita e sigo por ela para a esquerda, na
direção da casa. Em 9 minutos salto o Córrego Cachoeira pelas pedras e
subo até a casa, chegando às 17h19, já com a luz natural se esvaindo.
Para minha decepção não havia ninguém e a casa parecia abandonada há um
bom tempo. Deixei para visitar a capela de pedra no dia seguinte mas de
longe já havia percebido que infelizmente ela estava começando a ruir.
Havia algumas vacas por ali e tratei de arranjar um local no pasto mais
plano e longe da curiosidade delas. Altitude de 1092m.
Nesse dia caminhei 17,4km (descontadas as explorações e os erros).
Capela de pedra do sr Álvaro
4º DIA - DA CASA DO SR ÁLVARO AO CÓRREGO ANDREQUICÉ
Esse
dia rendeu bem pouco para mim em termos de distância percorrida, porém
explorei vários caminhos possíveis e relaxei nas águas escuras e
límpidas do Rio Preto, um dos melhores momentos de toda a travessia.
Comecei
o dia explorando os arredores da casa do sr Álvaro, com diversos pés de
fruta nos fundos. A subida à capela de pedra leva menos de 4 minutos e
proporciona do alto uma bela visão panorâmica do trecho já percorrido do
vale do Córrego Cachoeira. No interior diversas imagens num altar
rudimentar de pedras. Mas impressiona ver metade da parede lateral
desabada e a fachada principal toda escorada para não desmoronar também.
Sair dali para continuar a travessia me fez perder algum tempo
já que havia caminhos marcados para vários lados. A primeira suposição
que fiz é que a trilha da travessia não deveria passar dentro do quintal
da casa do sr Álvaro, e sim no pasto do outro lado do Córrego
Cachoeira, mas nisso eu já estava enganado. Percorri as trilhas bem
marcadas do outro lado do rio e todas morriam na mata ciliar. A trilha
por onde eu cheguei no dia anterior tomava rumo nordeste e subia a
serrinha, o que me pareceu errado. Restou-me cruzar o quintal da casa e
procurar algum outro caminho. Passei por baixo da cerca dos fundos,
percorri os pés de manga e uma trilha apareceu, descendo ao ribeirão,
que cruzei pelas pedras às 9h34. Passei pela tronqueira e na bifurcação
seguinte fui para a direita, alcançando uma outra trilha bem marcada que
tomei para a esquerda (norte).
Essa trilha também se divide em
várias e encontra uma profunda erosão escavada na encosta. O melhor é
subir para as variantes da direita bem antes da erosão (uns 150m antes) e
passar acima dela pois ali está a continuação certa do caminho. As
trilhas que seguem em nível ou derivam para baixo só confundem.
Esse
local é geograficamente interessante pois é a transição do vale do
Córrego Cachoeira para a bacia do Rio Preto. Aos poucos ocorre uma
mudança drástica do tipo de vegetação também, saindo do campo de
gramíneas para um típico cerrado de árvores baixas e espaçadas, onde
escolhia a trilha mais batida entre tantas que surgiam. Ao me deparar
com uma cerca nova (que atravessei por baixo às 11h15) todas as trilhas
sumiram! Gastei algum tempo procurando a continuação do caminho e
concluí que o melhor era sair daquele cerrado e alcançar o campo aberto à
esquerda, onde encontrei uma trilha bem marcada para o norte.
Quase
1km depois a trilha cruza uma vala e se divide. Fui para a direita,
atravessei um alagado e uma rústica porteira de vara e subi até uma
casa, aonde cheguei às 12h23. A casa, já avistada havia algum tempo, é
do Canela e também estava deserta. Uma mangueira de água ao lado foi
perfeita para matar a sede e abastecer os meus cantis (a primeira água
desde a casa do sr Álvaro). O alagado que havia acabado de atravessar já
são as águas de um afluente do Rio Preto.
Tomei a trilha bem
aberta e marcada à direita da casa às 13h17 e ela logo apontou para o
norte, meu destino. Parecia que essa trilha seria duradoura, porém,
assim como tantas outras, em menos de 15 minutos ela desapareceu no
capim. Aqui há várias formas de continuar o caminho. Se quiser cruzar o
Rio Preto no mesmo ponto em que eu cruzei basta procurar uma trilha
batida mais para oeste cruzando o bosque à esquerda. Ela leva exatamente
para o norte. Eu na verdade continuei pelo campo sem trilha na direção
norte/noroeste até encontrar um grande cruzeiro e depois segui por
trilhas na mata que são até difíceis de explicar. Mas ambas convergem e
alcançam o Rio Preto num local fantástico, com poços para banho e duas
lindas cachoeiras. Cheguei a esse local às 15h38 depois de explorar
vários caminhos possíveis.
Cachoeiras no Rio Preto
Além
desse caminho soube de um outro que sai da casa do Canela diretamente
para nordeste, atravessa o Rio Preto num outro ponto para só então tomar
a direção norte. O único inconveniente de atravessar o Rio Preto onde
eu atravessei é que é um pouco difícil encontrar a continuação da trilha
do outro lado, tarefa que me tomou um bom tempo.
Atravessei o
Rio Preto inicialmente saltando e caminhando pelas lajes pontudas
aflorando da água, mas depois a distância do salto aumentou muito e
aproveitei para entrar no rio e tomar um banho. Ao sair dele, caminhei
um pouco para a direita pelas lajes da margem (na direção das
cachoeiras) mas logo me afastei da água e comecei a subir pela vegetação
baixa sem trilha marcada. Mais acima procurei bastante e consegui
encontrar uma trilha meio apagada na direção norte, a qual me levou às
margens de outro rio, o Andrequicé (consta erradamente como Córrego
Samambaia na carta topográfica). Cruzei-o e não encontrei trilha
imediatamente, mas uns 100m na direção nordeste me levaram a uma trilha
bem marcada correndo na direção sudeste/noroeste. Peguei-a para a
esquerda (noroeste) e na bifurcação tomei a esquerda, cruzando o Córrego
Andrequicé novamente. Com o dia findando e na iminência de subir a
pequena serra a oeste, montei meu acampamento ali mesmo, próximo ao rio.
Altitude de 1091m.
Nesse dia caminhei apenas 6,8km (descontadas as explorações e os erros).
5º DIA - DO CÓRREGO ANDREQUICÉ À CASA DO VALTINHO
Para
o último dia da travessia restou sair do extenso vale por onde caminhei
desde o Poço do Soberbo através de uma trilha (conhecida como Subidão
do Miltinho) que sobe a serrota a oeste e percorre sua cumeeira até
descer ao Ribeirão Fechados, mais exatamente na direção da casa do
Valtinho e da Mirtes.
Deixei o acampamento do Córrego Andrequicé
às 8h25 e tomei a direção oeste por trilha. Cruzei uma outra trilha bem
marcada no sentido norte-sul, pulei um riacho à direita e comecei a
subir o Subidão do Miltinho. Importante: deve-se completar todos os
cantis nesse riacho pois será a última água do dia. Na subida, a bonita
paisagem se alarga, com o vale do Andrequicé logo abaixo, a Cachoeira do
Samambaia à esquerda e o vale do Rio Preto mais ao fundo, motivo para
diversas paradas para fotos. Com as paradas, levei 45 minutos para
atingir o alto da serra.
Já no alto, desci às 9h35 a um pequeno
vale à esquerda e subi novamente, tomando de novo a esquerda na
bifurcação seguinte. Aproveitei a altitude de 1393m (o ponto mais alto
da travessia) e consegui enfim fazer uma ligação (operadora Claro) para
dar notícias. O panorama de 360º revela montanhas distantes que não
consegui ainda identificar.
Vale do Andrequicé e vale do Rio Preto mais ao fundo
Quando
pensei que já estava no rumo definitivo da casa do Valtinho, o problema
das várias trilhas paralelas (em que algumas divergem discretamente e
levam a um caminho errado) volta a acontecer. Avançando no sentido
noroeste, às 11h34 vi a primeira pessoa em quatro dias: um cavaleiro com
três cachorros. Mas logo percebi o infeliz motivo da sua presença ali:
estava colocando fogo no pasto e logo a fumaça começou a invadir tudo,
no exato momento em que fiquei em dúvida quanto ao caminho e não pude me
aproximar dele pois desapareceu na fumaceira. É que a trilha mais
batida ali me levava a uma tronqueira e continuava pelo alto da encosta
direita de um vale (vale das nascentes do Ribeirão Fechados), porém o
gps apontava o meu destino final mais para noroeste, na encosta oposta
desse vale. Abandonei então às 11h47 a trilha batida do norte e procurei
outra mais para oeste. Não havia uma trilha bem marcada e contínua e as
cinzas da queimada dificultavam um pouco mais a localização. Até que
encontrei uma e continuei para oeste, passando por baixo de uma cerca à
esquerda de uma pirâmide de pedras às 12h52. Menos de 100m depois um
belo mirante para o norte e a trilha inclina um pouco para sudoeste.
Aqui cometi um erro feio na direção que me fez perder mais de duas
horas: a trilha, apesar de bem marcada, me levou a uma borda da serra em
que não havia trilha para descer ao vale do Ribeirão Fechados. Via lá
do alto a casa do Valtinho no meio de uma ilha verde de pés de frutas e
capim napier, mas não havia caminho por ali. Perdi muito tempo
procurando a continuação da trilha mas a descida seria meio complicada,
então voltei quase até o mirante. Ali percebi o erro. Na vinda, cerca de
430m depois do mirante, eu deveria ter trocado a trilha batida em que
estava por um duplo carreiro abaixo à esquerda, ainda mais pisado e até
sulcado. Este vinha da esquerda e é um sinal de que há um caminho melhor
do que esse que eu fiz, atordoado pelo fogo e pela fumaça da queimada.
Tomei
portanto o caminho correto às 15h18 e às 16h04 comecei a descer a
ladeira de pedras brancas soltas em direção ao fundo do vale do
Fechados, aonde cheguei às 16h23. Antes do rio caminhei 75m para a
esquerda, cruzei-o pelas pedras e passei enfim pela porteira da casa do
Valtinho, que estava apenas 250m acima, no meio de muito verde. Altitude
de 1122m.
Nesse dia caminhei 11,7km (descontadas as explorações e os erros).
Distância total percorrida: 59,2km
Informações adicionais;
As empresas que fazem São Paulo-Belo Horizonte são a Cometa (
http://www.viacaocometa.com.br) e a Gontijo (
http://www.gontijo.com.br).
A
Lapinha não é servida por ônibus regular de nenhuma empresa. Os
moradores costumam usar o ônibus escolar para se deslocar a Santana do
Riacho, com dois horários por dia quando há aula. No caso dos
visitantes, vale conversar com o motorista e ver se há possibilidade de
uma carona.
Na Lapinha há hospedagem de todo tipo, desde
quartinhos para alugar até boas pousadas, passando por campings de
vários preços também.
A empresa Saritur (
http://www.saritur.com.br) faz a linha Belo Horizonte-Santana do Riacho diariamente às 7h30 e 15h15.
O Valtinho e a Mirtes têm hospedagem em casa. A diária com pensão completa está R$70 e o telefone é 31-9655-4326.
Da casa do Valtinho até o povoado de Fechados são 6km descendo a serra, num desnível de 500m.
Cartas topográficas:
. Baldim:
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SE-23-Z-C-III.jpg
. Presidente Kubitschek:
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SE-23-Z-A-VI.jpg
Rafael Santiago
maio/2014
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Percurso na imagem do Google Earth - parte 1 |
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Percurso na carta topográfica - parte 1 |
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Percurso na imagem do Google Earth - parte2 |
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Percurso na carta topográfica - parte2 |
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Percurso na imagem do Google Earth - parte3 |
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Percurso na carta topográfica - parte3 |
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Percurso na imagem do Google Earth - parte4 |
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Percurso na carta topográfica - parte4 |