Torres: Torre Sul, Torre Central, Torre Norte e Cerro Ninho de Condor
Depois de um circuito básico de trilhas em El Chaltén, Argentina (relato em http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2016/03/circuito-de-trilhas-em-el-chalten.html), era hora de conhecer o parque mais badalado do Chile: Torres del Paine. E, claro, não iria até quase o fim do continente para fazer a caminhada mais curta, chamada de Circuito W. Fui decidido a conhecer o máximo possível do parque, ou seja, fazer o circuito O ou Maciço Paine, como é chamado pelo parque. O parque chama essa caminhada de Maciço Paine pois ela contorna integralmente o grande maciço rochoso (e nevado) do qual as famosas Torres fazem parte. Também são parte do maciço os Cuernos del Paine, outra linda montanha que é igualmente cartão postal do parque.
A imagem dinâmica do Google Earth no final do relato mostra o percurso do Circuito O e ajuda bastante a se localizar nos lugares que vou citar abaixo.
Eu completei o Circuito em O em nove dias de caminhada. Tem gente que faz em mais tempo, tem gente que faz em menos tempo, depende do ritmo e do estilo de cada um. Eu podia ter iniciado, assim como a maioria faz, pelo trajeto do Refúgio Torre Central ao acampamento Serón. Esse é o clássico primeiro dia de caminhada do Circuito O. Porém montei uma logística que colocava as famosas Torres no início e no fim do circuito. Explico: se o tempo estivesse perfeito na minha chegada ao parque subiria diretamente às Torres para registrá-las com tempo aberto (e quem sabe um céu azul de fundo). Se o tempo estivesse fechado, daria início ao circuito O (indo diretamente ao acampamento Serón) e subiria às Torres no final. E por sorte o tempo estava muito bom na minha chegada e melhor ainda na manhã seguinte, quando registrei a foto de abertura deste relato. Com essa subida às Torres no início acrescentei 3,9km ao circuito (ida e volta do Refúgio Torre Central até a bifurcação para as Torres) e tive de subir com a mochila muito pesada (com comida para nove dias), porém não podia perder a chance de fotografar as famosas Torres com tempo bom.
Outro roteiro seria estender o Circuito O começando a caminhar na administração/centro de visitantes, como vi algumas pessoas fazerem. Esse prolongamento do O iniciando na administração teria como primeiro acampamento o Paine Grande ou o Italiano, e o último acampamento o próprio Paine Grande. Dali eu poderia retornar a pé à administração ou pegar o catamarã para Pudeto. Tanto da administração quanto de Pudeto saem ônibus para Puerto Natales. Mas essa extensão, como deu para perceber, iria quebrar o meu esquema de ter as Torres no início e no final da caminhada (e diminuir a minha chance de ter boas fotos delas).
A cidade base para conhecer o Parque Nacional Torres del Paine é Puerto Natales, uma cidade de 19 mil habitantes (2002) bastante pacata mas com um movimento de trilheiros e montanhistas do mundo inteiro. Ela fica a 250km de Punta Arenas (Chile) e 270km de El Calafate (Argentina), os dois aeroportos mais próximos. Eu iniciei a minha viagem pela Patagônia por Punta Arenas pois o preço das passagens aéreas era bem mais em conta do que para El Calafate.
Ao longo do relato vou fornecer todos os preços em peso chileno (sigla CLP) e convertidos para real pela cotação média que encontrei nas casas de câmbio de Puerto Natales naqueles dias, ou seja, R$ 1 = CLP 165.
Rio Ascencio
24/02/16 - 1º DIA: DE PUERTO NATALES AO ACAMPAMENTO TORRES E MIRANTE BASE DAS TORRES
As fotos estão em https://plus.google.com/photos/116531899108747189520/albums/6261388583859334785.
Sete empresas de ônibus fazem o trajeto de Puerto Natales ao Parque Torres del Paine, todas com saídas e retornos no mesmo horário (veja mais informações no final deste relato). Eu peguei o ônibus da empresa Buses Gómez. Aqui já dou uma dica. Na hora de embarcar entrei no primeiro ônibus da Gómez que vi na plataforma, o motorista não estava na porta para conferir as passagens de quem entrava. Logo depois das 7h30 todos os outros ônibus partiram e nós ficamos lá parados por um bom tempo. Quando alguns passageiros foram reclamar, o motorista disse que aquele ônibus era das 8h, que o das 7h30 da Gómez já havia partido. Ninguém foi avisado de que havia dois ônibus. Fique esperto e pergunte!
A viagem durou apenas 1h34 e na chegada à portaria Laguna Amarga às 9h34 outro contratempo. Nosso ônibus parou e o motorista disse que ninguém podia descer. Lá fora a fila da recepção crescia cada vez mais e nós parados ali. Depois de bastante reclamação entrou uma funcionária do parque no ônibus para nos passar as regras do parque e só então pudemos ir para a fila.
A fila andou rápido. Primeiro deve-se preencher uma declaração de ingresso informando que lugares vai visitar. No meu caso assinalei "Circuito Macizo Paine", que é o circuito O, como disse. Depois paga-se a entrada de CLP18000 (R$109) e deve-se assistir ao vídeo de normas do parque. Depois do vídeo a guardaparque repete o mantra: é proibido fazer fogo, é proibido fazer fogo. Essa é a preocupação primeira de todos os funcionários e deve ser de todos que visitam também, visto que vários incêndios (mais de 18 desde 1980) já devastaram áreas enormes do parque.
Além da proibição de fazer fogo, outras regras devem ser seguidas à risca, sob risco de expulsão do parque: só acampar nas áreas estabelecidas, só cozinhar nas áreas designadas pelos guardaparques dentro dos acampamentos, não sair das trilhas demarcadas, levar todo o lixo até o fim do trekking (como exceção alguns poucos acampamentos têm lixeiras), respeitar o horário de fechamento das trilhas (sim, existe isso também).
Mais uma dica aqui, um alerta: se você for fazer o Circuito O verifique se o funcionário da portaria lhe entregou um tíquete com seu nome e a trilha que você vai fazer. No meu caso, ele não entregou e eu não sabia desse tíquete. Quando cheguei ao posto de controle Coirón o guardaparque me pediu o tíquete para eu poder continuar a caminhada. Eu procurei e não encontrei. Mostrei-lhe a cópia da declaração de ingresso com o Circuito Macizo Paine assinalado e ele me liberou. Mas tive a sorte de pegar um funcionário bem humorado, se pegasse um casca-grossa talvez tivesse problemas. Fique atento e peça esse tíquete! No caso do Circuito O ele tem uma tarja verde. Veja o motivo desse tíquete nas informações adicionais, ao final do relato.
Rio Ascencio e Cerro Ninho de Condor
Passados os trâmites da portaria, há várias opções dependendo do que você for fazer. Os ônibus de Puerto Natales continuam parados ali esperando quem vai seguir para Pudeto (catamarã para o Paine Grande) e para a administração/centro de visitantes. Um outro ônibus, de circulação interna, leva dali até o Hotel Las Torres em horários sincronizados com o ônibus de Puerto Natales e custa CLP2800 (R$17). Ou pode-se começar a caminhar ali mesmo pelas estradas poeirentas para onde se quiser.
Atualização em nov/2016: Importante! para a temporada de 2017 o parque tornou obrigatória a reserva em TODOS os acampamentos, tanto os das empresas concessionárias quanto os administrados pelo próprio parque, que agora passam a contar com reserva online (www.parquetorresdelpaine.cl/es/sistema-de-reserva-de-campamentos-1). Lembrando que nos acampamentos gratuitos do parque não se pode dormir duas noites seguidas.
Depois de um circuito básico de trilhas em El Chaltén, Argentina (relato em http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2016/03/circuito-de-trilhas-em-el-chalten.html), era hora de conhecer o parque mais badalado do Chile: Torres del Paine. E, claro, não iria até quase o fim do continente para fazer a caminhada mais curta, chamada de Circuito W. Fui decidido a conhecer o máximo possível do parque, ou seja, fazer o circuito O ou Maciço Paine, como é chamado pelo parque. O parque chama essa caminhada de Maciço Paine pois ela contorna integralmente o grande maciço rochoso (e nevado) do qual as famosas Torres fazem parte. Também são parte do maciço os Cuernos del Paine, outra linda montanha que é igualmente cartão postal do parque.
A imagem dinâmica do Google Earth no final do relato mostra o percurso do Circuito O e ajuda bastante a se localizar nos lugares que vou citar abaixo.
Eu completei o Circuito em O em nove dias de caminhada. Tem gente que faz em mais tempo, tem gente que faz em menos tempo, depende do ritmo e do estilo de cada um. Eu podia ter iniciado, assim como a maioria faz, pelo trajeto do Refúgio Torre Central ao acampamento Serón. Esse é o clássico primeiro dia de caminhada do Circuito O. Porém montei uma logística que colocava as famosas Torres no início e no fim do circuito. Explico: se o tempo estivesse perfeito na minha chegada ao parque subiria diretamente às Torres para registrá-las com tempo aberto (e quem sabe um céu azul de fundo). Se o tempo estivesse fechado, daria início ao circuito O (indo diretamente ao acampamento Serón) e subiria às Torres no final. E por sorte o tempo estava muito bom na minha chegada e melhor ainda na manhã seguinte, quando registrei a foto de abertura deste relato. Com essa subida às Torres no início acrescentei 3,9km ao circuito (ida e volta do Refúgio Torre Central até a bifurcação para as Torres) e tive de subir com a mochila muito pesada (com comida para nove dias), porém não podia perder a chance de fotografar as famosas Torres com tempo bom.
Outro roteiro seria estender o Circuito O começando a caminhar na administração/centro de visitantes, como vi algumas pessoas fazerem. Esse prolongamento do O iniciando na administração teria como primeiro acampamento o Paine Grande ou o Italiano, e o último acampamento o próprio Paine Grande. Dali eu poderia retornar a pé à administração ou pegar o catamarã para Pudeto. Tanto da administração quanto de Pudeto saem ônibus para Puerto Natales. Mas essa extensão, como deu para perceber, iria quebrar o meu esquema de ter as Torres no início e no final da caminhada (e diminuir a minha chance de ter boas fotos delas).
A cidade base para conhecer o Parque Nacional Torres del Paine é Puerto Natales, uma cidade de 19 mil habitantes (2002) bastante pacata mas com um movimento de trilheiros e montanhistas do mundo inteiro. Ela fica a 250km de Punta Arenas (Chile) e 270km de El Calafate (Argentina), os dois aeroportos mais próximos. Eu iniciei a minha viagem pela Patagônia por Punta Arenas pois o preço das passagens aéreas era bem mais em conta do que para El Calafate.
Ao longo do relato vou fornecer todos os preços em peso chileno (sigla CLP) e convertidos para real pela cotação média que encontrei nas casas de câmbio de Puerto Natales naqueles dias, ou seja, R$ 1 = CLP 165.
Rio Ascencio
24/02/16 - 1º DIA: DE PUERTO NATALES AO ACAMPAMENTO TORRES E MIRANTE BASE DAS TORRES
As fotos estão em https://plus.google.com/photos/116531899108747189520/albums/6261388583859334785.
Sete empresas de ônibus fazem o trajeto de Puerto Natales ao Parque Torres del Paine, todas com saídas e retornos no mesmo horário (veja mais informações no final deste relato). Eu peguei o ônibus da empresa Buses Gómez. Aqui já dou uma dica. Na hora de embarcar entrei no primeiro ônibus da Gómez que vi na plataforma, o motorista não estava na porta para conferir as passagens de quem entrava. Logo depois das 7h30 todos os outros ônibus partiram e nós ficamos lá parados por um bom tempo. Quando alguns passageiros foram reclamar, o motorista disse que aquele ônibus era das 8h, que o das 7h30 da Gómez já havia partido. Ninguém foi avisado de que havia dois ônibus. Fique esperto e pergunte!
A viagem durou apenas 1h34 e na chegada à portaria Laguna Amarga às 9h34 outro contratempo. Nosso ônibus parou e o motorista disse que ninguém podia descer. Lá fora a fila da recepção crescia cada vez mais e nós parados ali. Depois de bastante reclamação entrou uma funcionária do parque no ônibus para nos passar as regras do parque e só então pudemos ir para a fila.
A fila andou rápido. Primeiro deve-se preencher uma declaração de ingresso informando que lugares vai visitar. No meu caso assinalei "Circuito Macizo Paine", que é o circuito O, como disse. Depois paga-se a entrada de CLP18000 (R$109) e deve-se assistir ao vídeo de normas do parque. Depois do vídeo a guardaparque repete o mantra: é proibido fazer fogo, é proibido fazer fogo. Essa é a preocupação primeira de todos os funcionários e deve ser de todos que visitam também, visto que vários incêndios (mais de 18 desde 1980) já devastaram áreas enormes do parque.
Além da proibição de fazer fogo, outras regras devem ser seguidas à risca, sob risco de expulsão do parque: só acampar nas áreas estabelecidas, só cozinhar nas áreas designadas pelos guardaparques dentro dos acampamentos, não sair das trilhas demarcadas, levar todo o lixo até o fim do trekking (como exceção alguns poucos acampamentos têm lixeiras), respeitar o horário de fechamento das trilhas (sim, existe isso também).
Mais uma dica aqui, um alerta: se você for fazer o Circuito O verifique se o funcionário da portaria lhe entregou um tíquete com seu nome e a trilha que você vai fazer. No meu caso, ele não entregou e eu não sabia desse tíquete. Quando cheguei ao posto de controle Coirón o guardaparque me pediu o tíquete para eu poder continuar a caminhada. Eu procurei e não encontrei. Mostrei-lhe a cópia da declaração de ingresso com o Circuito Macizo Paine assinalado e ele me liberou. Mas tive a sorte de pegar um funcionário bem humorado, se pegasse um casca-grossa talvez tivesse problemas. Fique atento e peça esse tíquete! No caso do Circuito O ele tem uma tarja verde. Veja o motivo desse tíquete nas informações adicionais, ao final do relato.
Rio Ascencio e Cerro Ninho de Condor
Passados os trâmites da portaria, há várias opções dependendo do que você for fazer. Os ônibus de Puerto Natales continuam parados ali esperando quem vai seguir para Pudeto (catamarã para o Paine Grande) e para a administração/centro de visitantes. Um outro ônibus, de circulação interna, leva dali até o Hotel Las Torres em horários sincronizados com o ônibus de Puerto Natales e custa CLP2800 (R$17). Ou pode-se começar a caminhar ali mesmo pelas estradas poeirentas para onde se quiser.
Atualização em nov/2016: Importante! para a temporada de 2017 o parque tornou obrigatória a reserva em TODOS os acampamentos, tanto os das empresas concessionárias quanto os administrados pelo próprio parque, que agora passam a contar com reserva online (www.parquetorresdelpaine.cl/es/sistema-de-reserva-de-campamentos-1). Lembrando que nos acampamentos gratuitos do parque não se pode dormir duas noites seguidas.
Como o tempo estava bom e a visibilidade das Torres era perfeita, decidi seguir diretamente para lá. Havia feito reserva do acampamento Torres no escritório da Conaf em Puerto Natales. Tomei então às 10h22 o ônibus interno (na verdade foi uma van) para o Hotel Las Torres, que foi somente até o Refúgio Torre Central, 1km antes do hotel, em 10 minutos. Segui a pé esse trecho de estrada de rípio, que passa pelo acampamento Las Torres e termina no estacionamento do hotel. Dali em diante só a pé. Caminhei mais 900m por uma trilha larga que foi se estreitando até chegar às 11h14, após a ponte sobre o Rio Ascencio, à bifurcação que vai à esquerda ao acampamento Los Cuernos e à direita aos acampamentos Chileno e Torres (não confunda: o acampamento Las Torres fica próximo ao Hotel Las Torres e dá para chegar de carro e ônibus; o acampamento Torres fica próximo às famosas Torres e só é acessível por 2h45 de trilha).
Fui para a direita e aí começou uma longa subida. Altitude de 129m. Tinha na mochila comida para nove ou dez dias e estava bem mais pesada que o habitual. À medida que subo vai se ampliando às minhas costas o grande vale do Rio Paine, com a extremidade leste do Lago Nordenskjold, onde o Paine deságua. Às 12h17, na altitude de 468m, sou surpreendido pela linda visão do profundo vale do Rio Ascencio espremido entre encostas bastante íngremes. Bem distante no vale o telhado do Refúgio Chileno. A trilha segue pela encosta da margem direita do rio, que é a encosta do majestoso Monte Almirante Nieto, e desce bastante.
Às 12h38 cruzei a primeira ponte sobre o Rio Ascencio e cheguei ao Refúgio e Acampamento Chileno (altitude de 408m). Hora do almoço. Aproveitei as mesas de picnic para fazer o meu lanche e conversar com outros trilheiros que davam também uma pausa na caminhada. Por indicação do pessoal do refúgio peguei água nas torneiras do banheiro e não no Rio Ascencio. A área de acampamento é grande e parte dela fica sobre plataformas já que o terreno é bem inclinado. Um papel colado na parede do refúgio diz que desde o dia 19 daquele mês a reserva no acampamento tornou-se obrigatória devido ao aumento "explosivo" de visitantes no parque nos últimos meses.
Cachoeira exuberante
Às 13h13 dei continuidade à caminhada. Cruzei um riacho sobre tábuas e depois a segunda ponte sobre o Rio Ascencio. Do Chileno em diante o caminho se torna bastante agradável, com menos inclinação, mergulhado no aprazível bosque de Magalhães e com vários pontos de água. O bosque de Magalhães é uma imagem que vai ficar na mente depois de nove dias de caminhada pois é uma floresta bastante homogênea, formada basicamente por três espécies de árvores, a lenga, a ñirre e a coigüe, todas extremamente parecidas, ou seja, é uma repetição visual (bastante agradável, diga-se) que marca toda a caminhada.
Às 14h15 saio do bosque e a paisagem se abre para a moraina das Torres. Caminho mais 30m e chego à bifurcação do acampamento Torres, onde desço à direita. Mais 50m entro no bosque e lá está o acampamento. Altitude de 588m. Sou recebido pelo simpático e atencioso guardaparque, que me pede o registro no livro e a confirmação da reserva. Novamente as instruções de não fazer fogo, levar todo o lixo embora e somente cozinhar na área coberta ao lado da casa dos guardaparques. Cheguei num bom horário para escolher um ótimo local para montar a barraca.
Os acampamentos do parque são gratuitos e têm estrutura bastante básica, por vezes até rudimentar, em comparação com os acampamentos pagos administrados pelas empresas Fantástico Sur e Vértice Patagônia. O acampamento Torres, apesar disso, tem uma casinha com dois banheiros com vaso sanitário e descarga acoplada, além de um lavatório. Não há duchas. Água para beber e cozinhar pode ser pega numa caixa-d'água na parte mais alta do terreno.
Montei rapidamente a barraca e segui para as Torres às 15h. A trilha atravessa um trecho de bosque e depois sai numa enorme moraina. Daí a subida se dá a céu aberto e depois por trilha entre pedras até a altitude de 872m, onde fica o lago em frente às famosas Torres, o chamado Mirante Base das Torres. No meio de tanta pedra de todos os tamanhos a sinalização se dá por estacas cor de laranja. Cheguei às 15h46 (parei 5 minutos num riacho) e o vento lá em cima era forte. Mais tarde se tornou bastante frio também. Como já mencionei no relato de El Chaltén, é importante sempre ter na mochila uma roupa de frio a mais e uma roupa impermeável já que o tempo é bastante instável na Patagônia. E ficar molhado num local frio e exposto ao vento como esse é um passo para a hipotermia. Não basta ter uma jaqueta corta-vento, é preciso ter uma impermeável mesmo, como segurança.
Mesmo com a jaqueta impermeável que serve como ótimo corta-vento, tive de me esconder atrás de grandes blocos de pedra para fugir do vento gelado e poder admirar as Torres sem tremer de frio. Fiquei ali até 17h06, quando comecei o retorno ao acampamento pelo mesmo caminho, chegando às 18h10 (com muitas paradas para fotos).
Acampamento Torres
Como havia ainda algumas horas de luz natural segui a indicação do guardaparque e fui até um local 260m ao norte, já fora do bosque e às margens do Rio Ascencio, que dava visão das Torres. Ali deve ser o caminho para o acampamento Japonês, que estava fechado e a trilha interditada a partir do mirante onde parei.
Aqui vale comentar que assim como as trilhas de El Chaltén as trilhas do Torres del Paine também estavam lotadas! É gente demais subindo, descendo e se trombando nas trilhas. E isso vai se repetir em todo o percurso do Circuito W, na segunda metade do Circuito O.
Nesse dia caminhei 12,2km (mais 520m do mirante às margens do Rio Ascencio).
25/02/16 - 2º DIA: DO ACAMPAMENTO TORRES AO ACAMPAMENTO SERÓN: INICIANDO O CIRCUITO O
As fotos estão em https://plus.google.com/u/0/photos/116531899108747189520/albums/6261389638671753681.
A temperatura mínima durante a noite foi de 6,0ºC fora da barraca (levei dois termômetros externos com memória para fazer os registros). Às 8h20 fazia 7,1ºC.
No horário de sair do acampamento para ver as Torres iluminadas pelo nascer do sol fazia 6ºC fora da barraca e caíam alguns pingos de chuva. Isso somado à ventania gelada que devia estar na moraina me fez desistir de subir de madrugada. Ficou para a próxima...
Mas ao ver o dia lindo que estava quando saí da barraca tratei de subir novamente às Torres para fotos melhores do que as do dia anterior. Saí do acampamento às 9h e subi em 37 minutos até o Mirante Base das Torres. A primeira surpresa foi encontrar a trilha vazia naquele horário, muito diferente do dia anterior. Algumas pessoas voltavam do nascer do sol nas Torres, para me matar de arrependimento. Mas felizmente consegui o que mais queria: fotos das famosas Torres com um céu azul espetacular de fundo. Sonho realizado! (porém 15 minutos depois das minhas fotos já não havia mais céu azul, estava tudo cinzento de novo).
Às 10h40 estava de volta ao acampamento Torres e conheci o zorro que deve frequentar o local em busca de comida fácil. Ele passeia entre as barracas sem o menor embaraço e não se importa com a proximidade das pessoas.
Bosque de Magalhães
Desmontei a minha barraca e me despedi do local às 12h10, sendo um dos últimos a sair. Realizada a etapa das Torres, agora era hora de começar o circuito O para valer. Desci pelo mesmo caminho do dia anterior passando pelo Refúgio Chileno às 13h08, pelo Hotel Las Torres às 14h37 (onde há lixeiras recicláveis - me livrei do último lixo que tinha) e chegando à bifurcação do Refúgio Torre Central às 14h50, onde iniciaria o Circuito O. Altitude de 134m. Caminhei 190m à esquerda (norte) na bifurcação e aproveitei a mesa de picnic do Refúgio Torre Norte para o meu almoço tardio. Às 15h18 voltei a caminhar, ainda no sentido norte, pela estradinha de rípio.
Em 150m fui à direita na bifurcação (Ecocamp a esquerda) e topei com as primeiras placas de indicação de distância e altitude do circuito. Subi, em 10 minutos cruzei outra estrada e passei por um mata-burro de ferro. Uns 20m depois uma placa à esquerda indica o início da trilha para o acampamento Serón, o primeiro do Circuito O. A sinalização com estacas laranja continua, e permanecerá por todo o circuito. Estava sozinho ali e por quase toda a trilha (mas depois encontrei muita gente no acampamento Serón). À medida que subo a paisagem vai se ampliando para trás e depois à direita, mostrando a planície por onde corre o Rio Paine. Esse rio estará por perto até a chegada ao acampamento Dickson, no final do dia seguinte. O caminho até o Serón será em sua maior parte a céu aberto, com alguns trechos de bosque para dar sombra.
A trilha volta a virar uma estradinha após uma porteira à direita. Às 16h46 a primeira visão do local onde está situado o acampamento, no vale plano do Rio Paine e cercado de montanhas. Uma placa indica que estou na maior altitude do percurso, 387m (porém o gps mediu como maior altitude 377m uns 200m antes). Desço suavemente com visão cada vez mais próxima e ampla do vale do Rio Paine. Às 17h30 a estradinha continua à direita e eu vou pela trilha da esquerda seguindo as estacas laranja, mas reencontro a estradinha 20 minutos depois (com marcas de pneu). Desço à esquerda seguindo a sinalização. Passo um quebra-corpo na cerca e ganho enfim o vasto campo avistado durante a descida.
Segundo o mapa oficial do parque aqui estou entrando novamente em propriedade privada, assim como aconteceu no trecho entre o Hotel Las Torres e o Refúgio Chileno. Mas essas entradas e saídas entre o parque e as terras particulares são transparentes para quem caminha, praticamente não há placas que indiquem.
A trilha se aproxima do Rio Paine à direita e é possível contemplá-lo bem de perto. Às 19h20 chego ao acampamento Serón, com muitas barracas para minha surpresa, mas bastante espaço para montar a minha. Depois soube que cerca de 70 pessoas estavam fazendo o Circuito O junto comigo. Altitude de 162m.
O local do acampamento Serón é muito bonito, no vale do Rio Paine porém a uma certa distância dele. Fica todo a céu aberto, sem proteção de árvores. Mas o problema mesmo é a quantidade de mosquitos vorazes, o que obriga a usar um repelente ou ficar enclausurado na barraca. Aliás já no caminho os mosquitos não estavam dando sossego. Deve ser pela ausência total de vento, coisa raríssima na Patagônia.
O Serón tem dois banheiros (com papel higiênico), duas duchas quentes, varanda para cozinhar, apenas um tanque para lavar pratos e lixeiras recicláveis pois chega camionete até ali. É administrado pela Fantástico Sur e o preço para estrangeiros é CLP8500 (R$51). É possível alugar equipamentos, porém é recomendável fazer a reserva antecipada pelo site www.fantasticosur.com. Não tinham refeições prontas naquela noite mas há uma cozinha industrial.
Nesse dia caminhei 22,1km (mais 3,6km de ida e volta para subir pela segunda vez às Torres).
Vista do acampamento Serón
26/02/16 - 3º DIA: DO ACAMPAMENTO SERÓN AO ACAMPAMENTO DICKSON, UM DIA DE BELAS PAISAGENS
As fotos estão em https://plus.google.com/u/0/photos/116531899108747189520/albums/6261390348881682561.
A temperatura mínima durante a noite foi de -4,3ºC fora da barraca, uma noite muito fria e atípica já que todas as outras tiveram mínima acima de 4ºC. Às 8h30 fazia 1,2ºC, mas felizmente amanheceu um dia radiante de sol e céu azul sem nenhuma nuvem.
A caminhada de hoje se dará toda a céu aberto, sem bosques e sem sombra.
Nesse acampamento conheci o Edward, um americano que estava fazendo o circuito sozinho também e com quem pude praticar um pouco do meu inglês enferrujado. Ele reclamou do frio da noite já que alugou o equipamento em Puerto Natales e o saco de dormir não era para temperatura tão baixa. Eu levei o meu saco Marmot Alpha, de pluma de ganso, de especificação: conforto 2,6ºC, limite -2,8ºC e extremo -19ºC. Em alguns momentos senti um pouco de frio, mas dormi bem.
Fui um dos últimos a sair do acampamento Serón, às 11h15. A trilha segue ainda pela planície do Rio Paine, se aproxima dele novamente e por volta de 12h começa a subir a encosta a noroeste (esquerda). Uma lagoa no meio dessa subida rouba a cena e faz esquecer o cansaço da ladeira cada vez mais íngreme. Às 12h56 enfim se atinge o topo, na altitude de 353m, e novamente o queixo cai com a visão maravilhosa das montanhas nevadas refletidas no grande Lago Paine. Parada para contemplação e fotos!
A trilha segue pela encosta da montanha à esquerda, descendo suavemente. Às 13h25 passo pela porteira que marca o limite Serón-Coirón, ou seja, estava entrando na área do parque nacional de novo. Em três minutos alcanço a primeira fonte de água do dia (mas diversas outras vão se seguir). A trilha margeia toda a face sul do Lago Paine e depois volta a acompanhar o Rio Paine a distância, sempre subindo-o. Às 14h30 chego à Guarderia Coirón, onde ficam os guardaparques que controlam a passagem dos trilheiros que estão fazendo o Circuito O. Foi aqui que ocorreu o probleminha do tíquete que descrevi acima.
Assim como a maioria, fiz uma pausa para um lanche e segui às 15h10. A trilha do Coirón em diante é bastante plana e tem visão à direita de um glaciar distante e à esquerda do Maciço Paine. Às 17h06 alcanço uma área alagada onde foram instaladas passarelas. Picos pontiagudos podem ser avistados na direção sul e se parecem muito com as Torres. E finalmente às 17h44, após uma curta subida, avisto o local cênico onde está o acampamento Dickson, às margens do enorme Lago Dickson e com as montanhas nevadas ao fundo - para fechar com chave de ouro esse lindo dia de caminhada! A chegada se dá por uma descida muito íngreme com terra solta em que é preciso ter bom freio para não despencar morro abaixo.
Cheguei ao acampamento às 18h mas não fui um dos últimos, havia muita gente na trilha ainda. Algumas pessoas subestimam o grau de dificuldade da caminhada e acabam sofrendo pelo cansaço, bolhas nos pés, dor nos joelhos, etc. Não é uma caminhada difícil, mas é preciso ter algum condicionamento e equipamentos leves e apropriados para não se tornar um sofrimento.
O acampamento Dickson fica a céu aberto também, e exposto ao vento. Como não havia vento algum, podia-se montar a barraca em qualquer lugar sem problema. Algumas pessoas montam a barraca junto às árvores laterais ou mesmo no meio delas, mas nesse dia não havia necessidade. Mas havia o outro lado dessa ausência de vento: o inferno dos pernilongos! Como eu não levei repelente acabei ficando mais tempo dentro da barraca do que fora, era difícil aguentar a nuvem desses insetos enroscando no cabelo, entrando pelo ouvido...
O Dickson tem dois banheiros (com papel higiênico), duas duchas quentes, não há casa ou varanda para cozinhar mas deve-se acender o fogareiro apenas sobre as mesas de picnic, dois tanques para lavar panelas e não há lixeiras. É administrado pela Vértice Patagônia e o preço para chilenos e estrangeiros é CLP6000 (R$36). É possível alugar equipamentos, porém é recomendável fazer a reserva antecipada pelo site www.verticepatagonia.com. Altitude de 205m.
Uma novidade aqui é o minimercado com enlatados, biscoitos, etc, com preços nada atrativos. Perguntei se tinha pão mas não tinha (aliás não encontrei pão para vender em lugar nenhum e tive de racionar o meu). Como ali há o Refúgio Dickson há possibilidade de ter refeições quentes, porém o funcionário disse para verificar a disponibilidade. O preço da refeição, como em todos os outros refúgios, era bem salgado: CLP7500 (R$45) o café, CLP9500 (R$57) o almoço e CLP12500 (R$75) o jantar.
Uma dica na hora do banho é verificar se há outra pessoa na ducha ao lado. Se houver, provavelmente a água vai esfriar nas duas duchas se você abrir a sua. Aconteceu comigo, estava tomando um delicioso banho quente até o momento em que uma pessoa abriu a ducha ao lado...
Nesse dia caminhei 18,2km.
Lago Paine
27/02/16 - 4º DIA: DO ACAMPAMENTO DICKSON AO ACAMPAMENTO LOS PERROS, UM DIA PELOS LINDOS BOSQUES DE MAGALHÃES
As fotos estão em https://plus.google.com/u/0/photos/116531899108747189520/albums/6261406180869174769.
A temperatura mínima durante a noite foi de 4,8ºC fora da barraca. Às 8h30 fazia 7,5ºC.
Nesse acampamento não vi o Edward, o americano. Só o encontrei no fim do dia e ele me contou que passou bastante mal, provavelmente por causa da água, assim como aconteceu com outros americanos com quem ele conversou. Mas não são só os gringos que sofrem. Conheci em El Chaltén duas garotas de São Paulo que haviam feito o W e tiveram vômito e diarréia numa das noites.
Saí do acampamento Dickson às 11h05 e logo a trilha se embrenha no bosque de Magalhães, voltando àquele visual verdejante e repleto de troncos caídos tal qual na subida às Torres no primeiro dia. Além do bosque, uma visão recursiva será do belo Rio de Los Perros, formado pelo degelo do glaciar de mesmo nome. Dentro do bosque logo inicia a subida até o Mirante Vale de Los Perros, de onde avisto o "mar" verde por onde caminharei nesse dia.
Imperceptivelmente vou subindo o Rio de Los Perros, sempre dentro do bosque. Às 12h14, após o Mirador Vale de Los Perros, a trilha se afasta um pouco desse rio e sobe o Rio Cabeça de Índio, um afluente, para cruzá-lo por uma ponte de madeira às 12h31. Em seguida me aproximo de novo do Rio de Los Perros e junto a um riacho faço uma pausa de 30 minutos para um lanche. Apesar de a trilha percorrer o vale de vários rios neste dia, água de fácil coleta só é encontrada em dois pontos no meio do bosque.
Continuo subindo pelo vale florestado do Los Perros até cruzá-lo às 14h39. Ainda tenho visão de seu bonito curso por aberturas na mata à esquerda, mas logo ele se afasta na direção do Glaciar Los Perros, onde se origina. A próxima ponte será sobre o Rio Passo, às 15h06, e 20 minutos depois saio do bosque e tenho a primeira visão do Glaciar Los Perros. Em mais 17 minutos subo uma de suas morainas e posso fotografá-lo de frente, porém com um vento tão forte que me arranca lágrimas dos olhos. Essa é a maior altitude do dia, 584m. Na direção oeste já avisto o famoso Passo John Gardner, ponto de maior altitude do circuito (1200m) e sujeito a ventos tão fortes que os guardaparques podem fechar a trilha de acesso por segurança. Na direção dele, porém bem mais próximo, há uma moraina seguida por um bosque, exatamente o local em que se situa o acampamento Los Perros.
Dali foi só seguir (a céu aberto agora, e com bastante vento) o caminho marcado entre as pedras e chegar às 16h13 ao acampamento. Altitude de 544m. Primeiro fiz o registro com os guardaparques, recebi as instruções e fui encaminhado ao guichê da Vértice Patagônia para pagamento da taxa de CLP6000 (R$36).
Como havia muito tempo de luz ainda, fui ver de perto o Lago do Glaciar Los Perros e nessa hora caiu a única chuva (fraca e passageira) que peguei nos nove dias de caminhada. Felizmente o inferno dos pernilongos das duas noites anteriores ficou para trás.
O Los Perros tem dois banheiros (sem papel higiênico), duas duchas frias (sim, frias!), uma casa fechada e aquecida para cozinhar, dois tanques para lavar pratos, não tem refeições prontas e não há lixeiras. É possível alugar equipamentos, porém é recomendável fazer a reserva antecipada pelo site www.verticepatagonia.com.
Nesse dia caminhei 12km (descontada a ida ao Lago do Glaciar Los Perros).
Glaciar Los Perros
28/02/16 - 5º DIA: DO ACAMPAMENTO LOS PERROS AO ACAMPAMENTO PASO E A EXPECTATIVA DO PASSO JOHN GARDNER
As fotos estão em https://plus.google.com/u/0/photos/116531899108747189520/albums/6261407630308018129.
A temperatura mínima durante a noite foi de 5,4ºC fora da barraca. Às 8h30 fazia 7,2ºC.
Quando saí da barraca por volta de 8h30 ou 9h o acampamento estava deserto! Um dos poucos que ainda estavam era o Edward e nos perguntamos por que todos saíram tão cedo já que o acampamento Paso ficava a no máximo 6 horas de caminhada, nada além do tempo dos dias anteriores de caminhada. Seria a expectativa de dificuldades no Passo John Gardner? A resposta viria mais tarde...
Saímos do acampamento às 11h e o guardaparque já estava nos apressando pois éramos os últimos. A trilha ainda percorre um trecho de 1,5km à sombra do bosque e já inicia com subida. Mas o pior mesmo são os vários lamaçais de terra preta que devem ser cruzados com muito equilíbrio. Às 11h50 saímos do bosque e tivemos a visão do Passo bem à nossa frente e bem no alto ainda, com o Rio Passo correndo abaixo à direita. Mas logo reentramos no bosque, e assim sucessivamente vamos caminhando pela encosta de pedras e pelos trechos de bosque até que às 12h30 saímos do último bosque e passamos a subir pelo caminho de pedras a céu aberto. Daí em diante é uma subida constante com um ou outro trecho um pouco mais íngreme (tudo sinalizado com a cor laranja) até o Passo John Gardner, aonde cheguei às 13h52. Altitude de 1175m segundo o gps. O vento estava moderado, não atrapalhava o caminhar. Para trás ainda era possível ver entre as montanhas o lago do Glaciar Los Perros. E para a frente a visão estonteante do imenso Glaciar Grey! Comecei a descer devagar e sozinho (o Edward se adiantou) e parei por 20 minutos para um lanche num local com menos vento. Ali fui ultrapassado por um casal que estava vindo direto do acampamento Dickson. Disseram que o guardaparque fechou a trilha assim que eles passaram por causa do horário. Então aqui fica uma dica: se você pretende passar direto por algum acampamento e se adiantar, consulte os horários de fechamento das trilhas, informação que consta no mapa oficial fornecido pelo parque.
A descida do Passo John Gardner se dá por uma trilha ainda na moraina, ou seja, entre pedras, até a altitude de 917m, quando reentra no bosque, seguindo dentro dele até o acampamento Paso. Às 16h26, já na altitude de 447m, uma clareira se abre justamente no leito por onde corre um riacho (com uma cachoeira à esquerda) e permite visão espetacular do Glaciar Grey à direita. Um ótimo local para uma pausa.
Continuando às 17h11, cheguei ao acampamento Paso em apenas 10 minutos e aí entendi a pressa dos outros trilheiros em sair cedo do Los Perros. Esse acampamento é bem pequeno e tem instalações bastante precárias, por isso a maioria se adianta e vai direto para o acampamento Grey. Mas mesmo quem passa direto deve se registrar com o guardaparque, para segurança.
O Paso é administrado pelo parque e portanto é gratuito. Tem apenas uma cabine com buraco no chão como banheiro e não há ducha. O local de cozinhar é coberto e há dois tanques. Os lugares para armar a barraca são pequenas clareiras no meio do bosque. Das muitas barracas que havia nos outros acampamentos ali contei apenas nove nesta noite. Não há aluguel de equipamento e muito menos minimercado. Altitude de 456m.
O acampamento fica dentro do bosque mas ali próximo há ótimos mirantes para o Glaciar Grey, é só entrar pelas trilhazinhas e curtir o visual. Um riacho atravessa o local e fornece água fresca e limpa.
Nesse dia caminhei 8,5km.
Glaciar Grey
29/02/16 - 6º DIA: DO ACAMPAMENTO PASO AO ACAMPAMENTO GREY AINDA COM A INCRÍVEL VISÃO DO ENORME GLACIAR GREY
As fotos estão em https://plus.google.com/u/0/photos/116531899108747189520/albums/6261409203645481761.
A temperatura mínima durante a noite foi de 4,2ºC fora da barraca. Às 8h30 fazia 4,8ºC.
Próximo da casa do guardaparque uma placa indica a trilha para o acampamento Grey. Deixei o acampamento Paso às 11h32. Em apenas 3 minutos a trilha sai do bosque e a vista do Glaciar Grey é magnífica a partir de um mirante. Esse foi o ponto mais alto desse dia, 487m. O dia estava esplêndido, sem uma nuvem. Percorro mais um trecho de bosque e ao sair a céu aberto avisto o Lago Grey, formado pelo degelo do glaciar. Atravesso uma área de árvores mortas, resultado de algum dos vários incêndios ocorridos, e às 12h24 começam as travessias de vales profundos de rios que se formam nas montanhas nevadas que estamos contornando. O primeiro dos vales não é tão fundo, há uma trilha de descida ao riacho, o qual se cruza com a ajuda de um cabo de aço. Na subida há uma escada de ferro como apoio.
A trilha continua pela encosta bastante inclinada a céu aberto e num trecho de subida há corrimão como apoio. A visão do glaciar Grey continua incrível e o Lago Grey cada vez mais próximo. Às 13h10 a trilha entra no bosque de novo, desce e anda para trás uns 150m para subir novamente e se abrir para um novo mirante do glaciar. Apenas 200m depois desse mirante, às 13h51, surge o segundo vale profundo, esse o mais fundo de todos, com uma ponte pênsil que causou uma certa tensão pois era muito alta e muito longa. Ao final dela a belíssima vista do Mirador Los Guardas para relaxar e apreciar a paisagem. Logo depois a trilha reentra na sombra do bosque e às 15h10 me deparo com o terceiro vale profundo, este também com uma ponte pênsil, porém não tão alta nem tão longa - ufa!
Às 15h25 saio do bosque e já avisto o Glaciar Grey um pouco distante a partir de um mirante. Blocos de gelo que se desprendem dele ficam represados numa enseada formada por uma ponta rochosa. Aliás é possível chegar a essa ponta rochosa a partir do acampamento Grey, que já está próximo.
Na chegada ao acampamento Grey às 16h21, ainda com um dia radiante, a boa surpresa foi encontrar uma grande área gramada para montar a barraca, coisa rara no Paine. Com muitas horas de luz ainda, fui explorar os arredores. Primeiro fui conhecer a praia de pedrinhas com icebergs em frente à casa dos guardaparques de onde sai o barco que cruza todo o Lago Grey, depois a praia de onde saem os caiaques e por fim o Mirador Grey, justamente naquela ponta rochosa avistada da trilha. Porém chegar à extremidade não é tão fácil quanto eu supunha e a virada repentina no tempo trouxe um vento muito forte. Me contentei em subir ao ponto mais alto e contemplar a paisagem enquanto o vento deixou. Um grupo saía para remar no Lago Grey com os caiaques e devem ter passado um aperto com aquele vento todo.
O acampamento Grey é administrado pela empresa Vértice Patagônia e custa CLP6000 (R$36). Tem uma casa com banheiros separados (masculino e feminino), minimercado e sala para cozinhar. O banheiro masculino tem dois vasos sanitários (com papel higiênico) e duas duchas com água quente apenas das 18h30 às 21h. Mas vale a mesma regra: abriu duas duchas ao mesmo tempo, água fria para todos. O minimercado tem biscoitos doces e salgados, chocolates, cup noodles, atum, leite, refrigerante, pasta de dente. Os preços? O biscoito que em Puerto Natales custa CLP600 ali custa CLP3000... No refúgio é possível ter refeições quentes, mas nem olhei os preços. Há aluguel de equipamentos, porém é recomendável fazer a reserva antecipada pelo site www.verticepatagonia.com. A área de acampamento é bem grande, com o gramado a céu aberto e a parte do bosque com chão de terra batida. Altitude de 64m.
A qualquer momento ouve-se o estrondo do Glaciar Grey como um trovão.
Nesse dia caminhei 7,2km (mais 3km de ida e volta às prainhas e ao Mirador Grey).
Glaciar e Lago Grey
01/03/16 - 7º DIA: DO ACAMPAMENTO GREY AO ACAMPAMENTO ITALIANO COM UMA VISITA AO PAINE GRANDE
As fotos estão em https://plus.google.com/u/0/photos/116531899108747189520/albums/6261414189150127841.
A temperatura mínima durante a noite foi de 9,6ºC fora da barraca. Às 8h16 fazia 11,6ºC.
Uma coisa estava me deixando bastante preocupado: apesar de não ter molhado a bota ou os pés durante todo o percurso, meus dedos estavam cheios de pequenos ferimentos. Estava usando uma bota Vento Finisterre, que passou a ser fabricada com um material chamado pelo fabricante de Nanox, em substituição ao couro natural usado antes. A bota continua muito confortável mas não sei por que motivo apareceram esses ferimentos, que foram aumentando com o passar dos dias. Meu medo era de que o esparadrapo que levei não durasse até o fim do circuito, o que me impediria de continuar caminhando.
Vale comentar aqui que a partir desse dia entrei no percurso do Circuito W, cuja extremidade mais distante é justamente o acampamento Grey. E isso ficou evidente pela quantidade muito grande de pessoas na trilha.
A caminhada de hoje se dará completamente a céu aberto, reencontrando sombra apenas na chegada ao acampamento Italiano.
Às 10h20 saí do acampamento, passei ao lado do grande refúgio e segui a placa de Guarderia Pehoé, que é um posto dos guardaparques a 150m do Refúgio Paine Grande. Em menos de meia hora avisto uma grande cachoeira na parede à esquerda e com mais 10 minutos cruzo por uma ponte o rio que vem dela, o Rio Olguin, formado pelo degelo do Glaciar Olguin. Às 12h05 chego ao Mirador Lago Grey, saindo uns 60m à direita da trilha, mas a visão aqui não é tão impressionante em comparação com o dia anterior. Continuando a caminhada logo atinjo o ponto mais alto do dia, 266m.
Às 13h alcanço as margens de um lago realmente bonito, a Laguna Los Patos, um lugar que merece uma parada para contemplação. Após uma longa descida em que cruzei com centenas de pessoas (deu para notar que estava mesmo no Circuito W), chego enfim às 13h53 à bifurcação onde fica a Guarderia Pehoé. Para a direita o Refúgio/Acampamento Paine Grande e à esquerda o acampamento Italiano e a continuação do Circuito O e W.
Laguna Los Patos
Como ainda era cedo e o Italiano não estava longe, fui conhecer o Paine Grande, administrado pela Vértice Patagônia. O refúgio é enorme e a área de acampamento idem, com preço de CLP7000 (R$42) por pessoa. Há aluguel de equipamento, minimercado, restaurante, duchas quentes de manhã e à noite, banheiros feminino e masculino (com quatro vasos sanitários sem papel higiênico). Os preços das refeições eram: CLP7500 (R$45) o café, CLP9500 (R$57) o almoço e CLP12500 (R$75) o jantar. Um funcionário do refúgio aconselhou não beber da água das torneiras. A altitude ali é de 41m.
Descansei e fiz meu lanche nas mesas de picnic do refúgio, assim como tantas outras pessoas fazem, e conheci um casal americano que estava iniciando o Circuito O. Tinham começado a caminhar no dia anterior desde a administração/centro de visitantes e no acampamento Las Carretas tiveram algumas coisas roídas pelos ratos.
Dali avistei pela primeira vez os belíssimos Cuernos del Paine, formação rochosa que é uma marca registrada do parque junto com as Torres. À esquerda deles o não menos imponente Cerro Paine Grande.
Do Paine Grande sai o catamarã para o Pudeto às 10h, 12h30, 17h e 18h30.
Voltei a caminhar às 15h42, retornando à bifurcação da guarderia e tomando a direita. A trilha contorna por pouco tempo o belo Lago Pehoé e logo toma o rumo direto dos Cuernos. Mas havia um excesso de pessoas vindo na direção contrária e quando cansei de trombar com tanta gente parei no primeiro mirante do Lago Skottsberg. Havia um grupo grande de americanos fazendo trabalho voluntário e congestionando ainda mais o caminho. Fiquei ali até a trilha ficar mais vazia (das 16h32 às 17h18) e prossegui. Por mais algum tempo tenho o belo Lago Skottsberg à minha direita e durante o restante do dia a visão dos Cuernos se torna cada vez mais próxima e impressionante.
Cerca de 500m depois de entrar no bosque encontro duas pontes em sequência para cruzar o largo Rio do Francês e chegar ao acampamento Italiano, às 19h25. Altitude de 181m.
A reserva para o acampamento Italiano foi motivo de algum desencontro de informação. O site do parque (www.parquetorresdelpaine.cl/es/avisos) diz que para a "atual temporada" é obrigatória a reserva para os acampamentos Torres e Italiano, só que não diz qual o período exato da temporada. Quando fui ao escritório da Conaf em Puerto Natales reservar esses dois acampamentos o funcionário disse que para o dia 1 de março não era necessário fazer reserva. Porém ao chegar ao acampamento Italiano a reserva me foi cobrada. Tive de explicar o ocorrido em Puerto Natales e pelo horário avançado o guardaparque aceitou que eu ficasse.
Por ser administrado pelo parque esse acampamento é gratuito e tem banheiros problemáticos. Sempre havia fila pois quase todos os cinco vasos sanitários estavam com problema. Há um local coberto para cozinhar mas é pequeno para o grande número de pessoas e a maioria cozinha ao lado (já que não se pode cozinhar perto da barraca). Não há duchas e não vi tanque para lavar as panelas. Não há aluguel de equipamento e nem refeições prontas. Água costuma ser coletada no próprio Rio do Francês, com cuidado pois a correnteza é violenta.
Nesse dia caminhei 18,5km.
Cuernos del Paine e Lago Skottsberg
02/03/16 - 8º DIA: DO ACAMPAMENTO ITALIANO AO ACAMPAMENTO LOS CUERNOS: DIA DO MARAVILHOSO VALE DO FRANCÊS
As fotos estão em https://plus.google.com/u/0/photos/116531899108747189520/albums/6261417721408953169.
A temperatura mínima durante a noite foi de 8,9ºC fora da barraca. Às 8h42 fazia 9,3ºC.
O acampamento Italiano é a base para o bate-e-volta ao Vale do Francês, famoso pela grande beleza de seus mirantes. Como nos acampamentos gratuitos do parque não se pode dormir duas noites seguidas, o guardaparque pede que todos desmontem a barraca antes do passeio. E assim todos fazem, deixando a cargueira encostada na casa dos guardaparques e levando apenas uma mochila de ataque (alguns não levam nada).
Eu parti para a subida do Vale do Francês às 9h56. Das imediações do acampamento ainda se tem uma vista espetacular do Cerro Paine Grande. A trilha sai do bosque e o caminho passa a ser de pedras, numa moraina, mas depois adentra outro bosque. O primeiro mirante alcançado é o Mirador Francês (ou El Plateau, segundo a placa), na altitude de 496m, às 10h51, com bonita vista para os lagos Nordenskjold e Pehoé mais ao fundo. Adentro outro bosque e assim se vai subindo suavemente, ora por bosques ora a céu aberto com a visão cada vez mais impressionante das montanhas rochosas e tendo o Rio do Francês à esquerda. Ao final de uma subida íngreme de pedras maiores cheguei ao Mirador Britânico, às 12h31. Altitude de 767m. Já havia bastante gente ali admirando o incrível visual. O mirante se situa no meio de um círculo de montanhas rochosas com o vale do Rio do Francês forrado de extenso bosque que quase galga as montanhas. Um lugar de uma beleza indescritível! E o dia novamente estava magnífico, sem uma nuvem.
Lá pelas 13h43, quando estava ensaiando o retorno, ouvi barulho de água muito próxima. Entrei no bosque ao lado do mirante e lá estava um riachinho de água límpida. Com água fresca no cantil, aproveitei para fazer o meu lanche ali mesmo e curtir um pouco mais aquele lugar. Comecei a descer de volta mesmo às 14h29 e às 16h54 estava no acampamento Italiano. Descansei um pouco e parti para o acampamento Los Cuernos às 17h27. Em 11 minutos saio do bosque.
A trilha até o acampamento Los Cuernos corre quase toda a céu aberto e muito próxima à montanha Cuernos del Paine. À medida que se avança é possível ver essa montanha por vários ângulos. Às 18h02, atravessando um dos raros bosques desse trecho, cheguei ao cruzamento do acampamento Francês, administrado pela Fantástico Sur. Eu deveria seguir em frente mas subi à esquerda para conhecer a área das barracas e depois desci à direita para ver outras instalações do local, bastante organizado e com pouca gente. As barracas são montadas todas sobre plataformas e o banheiros foram os mais limpos e bonitos que vi em todo o circuito. Esse acampamento é bem mais novo que os outros, pena que não fiquei aí pois o Los Cuernos é o oposto...
Continuando, a trilha sobe e ao sair no aberto proporciona bonita vista do Lago Nordenskjold, de águas esverdeadas. O caminho atinge o ponto mais alto às 18h27 (206m de altitude), com uma vista bem ampla do lago, e logo inicia uma longa descida até as margens dele, com uma surpreendente praia de pedrinhas, às 19h16. O caminho continua pela própria praia e ao final dela reaparece a trilha. Às 19h35 cruzo um riacho com uma bonita cachoeira no paredão à esquerda, águas que vêm diretamente dos Cuernos. Às 20h cheguei ao acampamento Los Cuernos e... acho que não merecia terminar um dia tão lindo num lugar tão deprimente. Aquilo parecia uma favela, com barraca montada em tudo quanto é buraco e barranco... gente pra todo lado, muita gente mesmo. Dei muita sorte de encontrar um espaço plano e seco pois até no charco estavam armando barraca. Mas os banheiros felizmente estavam limpos. Reencontrei o casal americano e a garota já estava com bolhas nos pés, mal começado o circuito O. Mau sinal...
O acampamento Los Cuernos é administrado pela Fantástico Sur e custa CLP8500 (R$51) por pessoa. No banheiro masculino há cinco vasos sanitários (sem papel) e cinco duchas quentes. Há refúgio, restaurante e uma sala grande para cozinhar, com dois tanques para lavar os pratos. Há lixeiras também, algo que eu não encontrava desde o acampamento Serón. Pode-se alugar equipamentos, porém é recomendável fazer a reserva antecipada pelo site www.fantasticosur.com. Altitude de 73m.
Nesse dia caminhei 16,2km (11,1km de ida e volta do Mirador Britânico mais 5,1km do Italiano ao Los Cuernos)
Mirador Britânico
03/03/16 - 9º DIA: DO ACAMPAMENTO LOS CUERNOS DE VOLTA À LAGUNA AMARGA, ENCERRANDO O CIRCUITO MAS NÃO A MINHA ESTADA NO PARQUE
As fotos estão em https://plus.google.com/u/0/photos/116531899108747189520/albums/6261420595284731713.
A temperatura mínima durante a noite foi de 9,4ºC fora da barraca. Às 6h45 fazia 10,3ºC.
Desmontei acampamento e saí às 7h40 do Los Cuernos para aproveitar o dia de sol e tirar fotos mais bonitas dos Cuernos. Voltei portanto pela trilha até o local da travessia do riacho com a cachoeira e fiz meu café da manhã ali, longe daquela confusão. Tiradas as fotos passei no acampamento para ir ao banheiro e às 9h54 iniciei o último dia de caminhada do Circuito O, que será todo com sol na cabeça, sem nenhum bosque no caminho. Na saída do Cuernos cruzei a ponte sobre o Rio Bader.
Além dos Cuernos, a linda vista do Lago Nordenskjold ainda me acompanha. E é ao longo desse lago que passarei boa parte do dia caminhando. Às 10h56 alcanço a maior altitude do dia, 253m.
Às 11h47 paro para um descanso de 13 minutos e em seguida cruzo a ponte pênsil sobre o Rio do Arriero. E foi aí que encontrei os primeiros brasileiros nesses nove dias de caminhada, um de São José dos Campos e o outro de Parati. Conversamos um pouco, eles estavam fazendo o Circuito W. Às 12h55 uma bifurcação: à direita para o Hotel Las Torres (meu destino) e para a esquerda um atalho para o acampamento Chileno, a caminho das famosas Torres. Já estou aos pés do Monte Almirante Nieto (lembra-se dele?). Peguei água de um riacho e parei para um lanche por 18 minutos. Na continuação caminhei próximo a um lago com a visão cada vez mais imponente do Almirante Nieto do outro lado. Podia ver pessoas caminhando no atalho para o Chileno, bem junto ao monte.
Às 13h43 avistei finalmente o Hotel Las Torres. Mesmo distante ainda, essa visão significava muito, era a confirmação do sucesso da minha missão. Seguiu-se uma longa descida, uma travessia de rio pelas pedras e às 14h14 reencontrei a trilha pela qual subi ao acampamento Torres no primeiro dia. Cruzei a ponte sobre o Rio Ascencio e passei pelo Hotel Las Torres às 14h31. Não sabia mas podia ter esperado o ônibus ali mesmo. Como na minha chegada a van foi só até o Refúgio Torre Central, então caminhei mais 15 minutos até ele. Altitude de 137m.
Cuernos del Paine
O ônibus só chegaria às 16h, então tentei uma carona para a portaria Laguna Amarga, mas foi em vão. O ônibus chegou no horário, entrei nele e para minha surpresa ele foi até o hotel. Deu um tempo ali e partiu para a Laguna Amarga às 16h11, chegando às 16h25. A passagem custou CLP2800 (R$17).
Na portaria Laguna Amarga havia vários ônibus vindos de Puerto Natales e aproveitei minha passagem para ir até o acampamento Pehoé a fim de passar mais uma noite dentro do parque. Minha passagem era da Buses Gómez mas me direcionaram para um ônibus de outra empresa pois somente ele iria além da parada Pudeto. O ônibus partiu às 16h37 e às 17h28 eu descia em frente à recepção do acampamento Pehoé. Fui recebido pelo funcionário que me deu a má notícia de que o acampamento custava CLP10000 (R$60), mas era "o mais caro porque era o melhor do parque". E realmente é um local muito agradável e tranquilo, com vista magnífica do Maciço Paine, com destaque para os Cuernos. Ventava bastante ali e tratei de montar minha barraca num lugar bem protegido entre as árvores.
Montei-a rapidamente e aproveitei o restante da tarde para conhecer um ótimo mirante próximo, o Mirador Condor. O rapaz me ensinou o caminho a partir do quiosque 37 ou 38 do próprio acampamento, mas depois descobri que há outra trilha partindo da estrada. Às 18h saí da recepção, na altitude de 41m, cruzei a estrada e caminhei entre os quiosques numerados até encontrar o início da trilha. A subida não é difícil, apesar de se tornar cada vez mais íngreme. O único porém naquele dia foi o vento forte ao chegar a uma área mais exposta no alto, quase no topo. Depois de uma ladeira de pedras soltas cheguei ao cume às 18h25. Altitude de 283m. Ventava demais, a ponto de perder o equilíbrio, mas a vista era espetacular do Maciço Paine com o Lago Pehoé abaixo. O Maciço visto dali abrange o Cerro Paine Grande, o Vale do Francês, os Cuernos del Paine e o Monte Almirante Nieto. Dá até para ver a pontinha das Torres! Comecei a descer às 18h56 e tomei a direita numa bifurcação que havia percebido na ida. Esta outra trilha tinha as estacas laranja de sinalização do parque, devendo ser o caminho "oficial", o que foi comprovado quando cheguei à estrada às 19h19 e vi a placa de indicação do início da trilha do Mirador Condor.
Nas imediações havia ainda o Salto Chico para visitar, mas meus pés estavam doendo bastante, com muitas feridas e muitos esparadrapos, então deixei para o dia seguinte. Circulei pelos arredores do acampamento e pelas margens do Lago Pehoé para mais algumas fotos.
O acampamento Pehoé é um lugar completamente diferente dos acampamentos dos circuitos O e W. Ali as pessoas vão para descansar, curtir a paisagem, tirar fotos dos mirantes. É administrado pela empresa francesa Sodexo. O espaço é muito amplo e dividido em 50 quiosques numerados, cada um com uma mesa de picnic onde se pode cozinhar e uma churrasqueira de alvenaria. Felizmente ninguém estava assando carne por ali porque não gosto do cheiro. A recepção fica do lado direito da estrada para quem vai para a administração/centro de visitantes, junto com uma parte dos quiosques e um banheiro. Do lado esquerdo da estrada fica o restante dos quiosques e outro banheiro. No banheiro do lado da recepção há três duchas quentes 24 horas e três vasos sanitários (com papel higiênico). Do lado de fora há quatro pias para lavar os pratos. Há diversas lixeiras espalhadas. Na recepção há minimercado com guloseimas caras à venda e ao lado um restaurante que não sei se estava servindo refeições devido ao número reduzido de pessoas acampadas. Existe também a Hosteria Pehoé, mas fica a 1,6km dali.
Nesse dia caminhei 12,4km para terminar o Circuito O, o que totalizou 127,3km já descontados os percursos que fiz como passeios no início e final de cada dia (inclusive a segunda subida às Torres).
Lago Nordenskjold e Cerro Paine Grande
04/03/16 - SALTO CHICO, CENTRO DE VISITANTES E O RETORNO A PUERTO NATALES
As fotos estão em https://plus.google.com/u/0/photos/116531899108747189520/albums/6261421068899590369.
A temperatura mínima durante a noite foi de 10ºC fora da barraca. Às 8h25 fazia 11,1ºC.
O dia amanheceu com muitas nuvens mas tive a sorte de pegar o sol nascente batendo nos paredões do Maciço Paine, um espetáculo digno de muitas fotos.
Deixei a barraca montada e fui conhecer o Salto Chico, a apenas 1,4km do acampamento. Saí às 8h52. Caminhei 800m pela estrada no sentido da administração e entrei na primeira bifurcação à direita, local do estacionamento para visitantes da cachoeira e acesso ao Hotel Explora. Mais 170m e entrei à esquerda na trilha, na verdade um caminho em forma de passarela suspensa de madeira. Dali vejo o Hotel Explora acima à direita. O caminho de madeira desce e se aproxima do lago formado abaixo do Salto Chico, o qual alcanço às 9h15. Não é nenhuma cachoeira impressionante mas as águas esverdeadas do Lago Pehoé com o Maciço Paine ao fundo formam um bonito cenário (muito mais se tivesse sol). Continuei caminhando pela passarela, que terminou bem ao lado do hotel. Dali foi só voltar ao estacionamento e ao acampamento.
Desmontei a barraca e fiquei esperando bastante tempo pelo ônibus. Minha intenção era terminar a minha estada no parque conhecendo o centro de visitantes, como sempre gosto de fazer. O ônibus enfim passou às 11h44 e após 16 minutos desembarquei em seu ponto final na administração/centro de visitantes. Dali há visão mais limitada das montanhas do parque mas o Lago Toro é um belo atrativo. O centro de visitantes vale a visita pois tem bastante informação sobre a história, fauna, flora e geologia do parque, além de uma maquete e um mapa bem detalhado.
O ônibus para Puerto Natales partiu do centro de visitantes às 13h, chegou ao Pudeto (catamarã para o Paine Grande) às 13h26 (onde muita gente embarcou), saiu às 13h34, chegou à portaria Laguna Amarga às 14h05 e deixou o parque às 14h30. Com uma parada de 30 minutos em Cerro Castillo, às 16h47 eu estava de volta a Puerto Natales.
Lago Pehoé, Cuernos del Paine e Monte Almirante Nieto vistos do acampamento Pehoé ao amanhecer
Informações adicionais:
O site oficial do Parque Nacional Torres del Paine é www.parquetorresdelpaine.cl.
É importante acompanhar o informe diário no link www.parquetorresdelpaine.cl/es/avisos para saber sobre a condição atual das trilhas e acampamentos, que podem ser fechados e reabertos de acordo com as condições de tempo e outros fatores.
Atualização em nov/2016: Importante! para a temporada de 2017 o parque tornou obrigatória a reserva em TODOS os acampamentos, tanto os das empresas concessionárias quanto os administrados pelo próprio parque, que agora passam a contar com reserva online (www.parquetorresdelpaine.cl/es/sistema-de-reserva-de-campamentos-1). Lembrando que nos acampamentos gratuitos do parque não se pode dormir duas noites seguidas.
Outra norma implementada pelo parque este ano (desde 15/02/16) é a restrição do número de pessoas a no máximo 80 por dia no Circuito O "com o objetivo de regular o alto fluxo de visitantes à área de montanha". Na mesma data o parque estabeleceu para o Circuito O o sentido anti-horário como o único permitido, como eu fiz. Mais detalhes em www.parquetorresdelpaine.cl/es/noticias/conaf-limita-acceso-diario-a-circuito-macizo-paine.
O parque administra os acampamentos Torres, Paso e Italiano. Não há aluguel de equipamentos nos acampamentos administrados pelo parque, mas pode-se alugar em Puerto Natales ou mesmo comprar a bons preços nas lojas ou na zona franca em Punta Arenas.
As empresas de ônibus que fazem o trajeto de Puerto Natales ao Parque Torres del Paine são:
. Bus-Sur (www.bussur.com)
. Maria José (www.busesmariajose.com)
. Gómez (www.busesgomez.com)
. Pacheco (www.busespacheco.com)
. JB
. Magallanes
. Juan Ojeda
Todos os ônibus partem de Puerto Natales às 7h30 e 14h30, e retornam:
. às 13h e 18h a partir da administração/centro de visitantes
. às 13h30 e 19h a partir do Pudeto
. às 14h30 e 19h45 a partir da portaria Laguna Amarga
Preço de CLP8000 (R$48) só ida e CLP15000 (R$90) ida e volta.
Com a passagem de ida e volta na mão, pode-se circular dentro do parque à vontade, embarcando e desembarcando em qualquer ponto da estrada entre a portaria Laguna Amarga, o Pudeto e a administração/centro de visitantes. O Hotel Las Torres não está incluído pois não faz parte do trajeto dos ônibus de Puerto Natales.
O Circuito W tem um percurso de 73,7km, medidos no meu gps e considerados desde o Hotel Las Torres até o acampamento Grey com retorno ao Paine Grande. Incluído aí o trajeto de ida e volta até o Mirador Base de las Torres e até o Mirador Britânico (na medição descontei percursos pequenos que fiz como passeio).
O Circuito O tem um percurso de 123,4km, medidos no meu gps e considerados desde o Hotel Las Torres, ponto final do ônibus interno do parque, e incluindo os miradores Torres e Britânico (e descontados os pequenos passeios que fiz). Como expliquei no início do relato, na minha logística caminhei 3,9km a mais.
Apesar de bem longo, o Circuito O é bem sinalizado por estacas pintadas de laranja, o que torna quase impossível se perder. Todas as bifurcações são sinalizadas e as trilhas secundárias são fechadas para evitar dúvidas. As pontes são bem conservadas, geralmente há passarelas suspensas sobre os alagados e há corrimão nos trechos mais íngremes. A entrada no parque custa um pouco caro, mas a boa manutenção é o retorno que se tem.
Como relatei, a temperatura mínima durante a noite e madrugada oscilava entre 4,2ºC e 10ºC (com exceção dos -4,3ºC no acampamento Serón). Um saco de dormir nessa faixa de temperatura-limite (com alguns graus para baixo para ter mais conforto) dá conta do recado. Eu levei um saco de dormir Marmot Alpha, de pluma de ganso, de especificação: conforto 2,6ºC, limite -2,8ºC e extremo -19ºC, que foi mais do que suficiente.
Água não é problema no Circuito. Como há bastante água em todos os dias, dei destaque no relato apenas para o trecho que tem poucas fontes de água fáceis (entre os acampamentos Dickson e Los Perros). Nos acampamentos a recomendação é de pegar água nas torneiras ou em algum riacho próximo, quanto mais acima melhor. Eu bebi sempre da água das torneiras (exceto no Paine Grande) e dos riachos sem nenhum tratamento e não tive nenhum problema.
Para caminhar eu usava uma camiseta de lã de merino light de manga longa. Só usava o fleece da Quechua por cima se na sombra do bosque estivesse um pouco mais frio. Gorro só usava à noite. Luvas levei mas não usei. Jaqueta de pluma de ganso também não usei. Mas veja que peguei dias bem quentes, talvez uma semana antes ou depois a temperatura estivesse mais baixa e precisasse usar toda essa roupa quente que levei.
Importante repetir: roupa impermeável é um item essencial e deve estar sempre na mochila, mesmo para um passeio curto com mochila de ataque. O tempo pode mudar rapidamente e o vento pode trazer chuva. E ficar molhado e exposto ao vento frio é um primeiro passo para a hipotermia.
Como na maioria dos acampamentos o chão é de terra batida, sem grama ou capim, é bastante recomendável levar um isolante inflável, caso contrário depois de nove dias de chão duro sobre um isolante de EVA seus quadris vão reclamar bastante. Há um isolante inflável da marca Camp que pesa apenas 315g.
Pelo mesmo motivo, um forro sob a barraca (um plástico grande, um footprint ou até um cobertor térmico) também vão bem para evitar sujar demais o piso da barraca. É muito mais fácil limpar o forro do que a barraca.
Para a compra dos mantimentos Puerto Natales tem pelo menos três bons mercados. Num deles, o Don Bosco (Rua Baquedano, 358), encontrei um gostoso pão integral. Na loja Itahue pode-se comprar castanhas e frutas desidratadas com grande variedade (Rua Esmeralda, 455B).
Rafael Santiago
abril/2016
Percurso no Google Maps
As Torres na imagem do Google Earth |
Mirador Britânico na imagem do Google Earth |