sábado, 4 de outubro de 2008

Parque Nacional Serra da Capivara (PI) - jul/08

Fotos em http://lrafael.multiply.com/photos/album/26/Pq_Nacional_Serra_da_Capivara_PI_-_jul08

A cidade-base para conhecer o Parque Nacional da Serra da Capivara é São Raimundo Nonato, no sudeste do Piauí. Isso todo mundo já sabe. O que poucos sabem é que se pode trocar o "conforto" da cidade pela rusticidade dos vilarejos próximos à entrada Boqueirão da Pedra Furada (BPF) do parque, estando assim em contato constante com a natureza da região e a bem poucos quilômetros das serras e sítios arqueológicos.

Essa é uma opção que tem menor custo também, em especial para quem for visitar o parque por vários dias e estiver sozinho e sem carro pois elimina a despesa com o transporte.
(Os preços abaixo são todos de julho de 2008)

As vilas em questão são Barreirinho e Sítio do Mocó. No Barreirinho, que fica a 5km da entrada do parque, há um "albergue" (89-3582-1760) no mesmo terreno da oficina de cerâmica. Ali a hospedagem custa R$35 com as três refeições. Os quartos são grandes e possuem várias beliches. No Sítio do Mocó, que fica a 2km da entrada do parque e 28km de SRN, há o Camping Pedra Furada (89-9409-1569/9405-1907) com uma grande área para barracas (que podem ser alugadas no próprio local), cinco quartos e quatro banheiros. A diária dos quartos é R$35 com as três refeições, R$18 só com café-da-manhã, R$15 só para dormir, R$7 o almoço ou janta e R$10 para acampar. O Sítio do Mocó, contudo, sofre muito com a escassez de água, portanto é melhor confirmar se o camping está funcionando antes de tentar se transferir para lá. Também é preciso estar ciente de que se está no meio do mato, portanto a quantidade de insetos (atraídos pelas luzes) é enorme. É recomendável inspecionar o quarto para ver se nenhuma lacraia mais ousada invadiu o seu espaço.

A partir da entrada BPF é possível ir a pé à maioria dos sítios arqueológicos abertos a visitação no parque, como Boqueirão da Pedra Furada, Alto da Pedra Furada, Caldeirão dos Canoas, Caldeirão do Rodrigues, Sítio do Meio, Boqueirão do Pedro Rodrigues, Grotão da Esperança, Baixão das Mulheres, Trilha Hombu e outros.

Já lugares como Desfiladeiro da Capivara, Baixão da Vaca, Toca dos Veados, Boqueirão do Paraguaio, Baixão do Perna e Baixão das Andorinhas têm acesso por outras guaritas do parque, distantes da entrada BPF. A minha sugestão portanto é ter SRN como base para conhecer esses sítios de táxi ou moto-táxi e depois se instalar no camping do Sítio do Mocó para conhecer a pé os outros lugares citados mais acima.

Para quem prefere permanecer em SRN, há várias opções de hospedagem:
1. o Hotel Serra da Capivara (89-3582-1389) é o mais antigo e mais caro. Fica numa das saídas da cidade, a 2km, o que dificulta para quem está sem carro. Diária de R$71 (com ar-condicionado, TV e frigobar) com café da manhã.
2. a Pousada Zabelê (89-3582-2726) fica no centro da cidade e recebe muitos turistas, o que facilita encontrar outras pessoas para dividir as despesas de transporte até o parque. Se não houver hóspedes interessados em formar grupo, a recepção liga para os outros hotéis. Diária de R$22 (com ventilador e TV) e R$38 (com ar-condicionado e TV) com bom café da manhã self-service.
3. o Hotel Real (89-3582-1495) também fica no centro e recebe turistas. Se não houver hóspedes interessados em formar grupo, a recepção liga para os outros hotéis. Diária de R$19 (com ventilador e TV) e R$39 (com ar-condicionado e TV) com ótimo café da manhã self-service.
4. a Pousada Santa Luzia (89-3582-1582) fica perto da Zabelê mas recebe poucos turistas.
5. há dormitórios bem mais baratos no centro.

Em primeiro lugar é fundamental ir ao Museu do Homem Americano para entender o que se vai apreciar nos dias seguintes. As pinturas foram estudadas e divididas em tradições e estilos, assim:
1. Tradição Nordeste (12000 a 6000 anos atrás), bastante dominante no parque, em que as figuras representam ações, há dinâmica de movimento. Possui três estilos:
1.1. estilo Serra da Capivara: as figuras são pintadas inteiramente com tinta lisa, o corpo todo preenchido; a cor dominante é o vermelho

 
a capivara menor é do estilo Serra da Capivara
1.2. estilo Serra Talhada: os corpos das figuras não são preenchidos ou são parcialmente preenchidos ou ainda são preenchidos com pontos; além do vermelho, várias outras cores são utilizadas

 
a capivara maior é do estilo Serra Talhada
1.3. estilo Serra Branca: o corpo é decorado com traços geométricos

 
estilo Serra Branca
2. Tradição Agreste (10000 a 3000 anos atrás), minoritária, caracterizada pelo estatismo. As figuras são representadas paradas, não há movimento, e com dimensões bem maiores do que na tradição Nordeste.

 
Tradição Agreste
O museu fica a 3km de São Raimundo Nonato e é perfeitamente viável ir até ele a pé (evitando se possível o horário do sol mais forte). É preciso sair da cidade pela rodovia BR324 (PI140) mas há calçadas e trechos de terra que evitam ter de andar junto aos carros. Também pode-se pegar um moto-táxi.

É obrigatório contratar um guia para visitar o parque (R$45 por dia divididos pelo número de pessoas do grupo). Recomendo o guia Osmar, que já trabalhou nos sítios arqueológicos e tem grande conhecimento. O ingresso no parque custa R$3 (por pessoa) e não é mais válido para os dias seguintes, ou seja, agora pagam-se R$3 por dia de visita.

Abaixo faço um breve relato dos meus cinco dias no parque para dar uma idéia do que é possível conhecer em cada dia.

25/07/2008 - sex - MUSEU DO HOMEM AMERICANO
Depois de explorar um pouco o mercado central de SRN à procura de frutas regionais, decidi ir a pé ao Museu do Homem Americano. Como já disse, há calçadas e depois uma rua de terra paralela à rodovia, o que evita andar junto aos carros. Levei 35 minutos nesse trajeto. O museu (R$6) tem muitos painéis com mapas e muitos textos para ler. Há também um vídeo bem interessante dividido em três módulos, sendo um deles uma entrevista com a arqueóloga paulista Niède Guidon, diretora-presidente da Fundham (Fundação Museu do Homem Americano), que administra o parque em parceria com o Ibama. Esperei o sol baixar um pouco e voltei a pé. Comecei a procurar outras pessoas para dividir as despesas do táxi até o parque amanhã mas estava difícil, mesmo sendo mês de férias. Havia turistas na cidade mas cada um com seu carro e sem querer dividir as despesas com um desconhecido. Tentei no hotel onde estava hospedado (o Real) e também na pousada Zabelê pessoalmente e no hotel Serra da Capivara por telefone. Não encontrei ninguém. O recepcionista do hotel Real também se esforçou mas não conseguiu nada. Jantei no próprio hotel (R$11,50) porque no centro só havia uma pizzaria aberta.

26/07/2008 - sáb - DESFILADEIRO DA CAPIVARA, BAIXÃO DA VACA, CERÂMICA, CENTRO DE VISITANTES, BOQUEIRÃO DA PEDRA FURADA
Acordei com a ótima notícia de que havia chegado uma moça no ônibus da madrugada e se hospedado no meu hotel. Ela estava sozinha e procurava alguém para rachar as despesas de visita ao parque. O recepcionista chamou um guia e o guia chamou um táxi. O guia se chama Osmar. Ficamos dois dias com ele e gostamos bastante, é muito atencioso e tem grande conhecimento por já ter trabalhado nos sítios. Ele sugeriu começarmos pelo Desfiladeiro da Capivara e à tarde irmos ao Boqueirão da Pedra Furada. A diária do guia custa R$45 e o táxi consegui baixar para R$105 para  arredondar o total para R$150, divididos por dois. Rodamos 38km e entramos no parque pela portaria da BR020. R$3 a entrada.Visitamos o Desfiladeiro da Capivara e o Baixão da Vaca, com um trajeto curto de táxi entre um e outro. A pedido meu fomos conhecer as pinturas que se tornaram azuis com o passar do tempo, que representam veados e emas. Foi preciso caminhar um pouco mais e assim não deu tempo de conhecer o Boqueirão do Paraguaio, muito próximo dali. De táxi, fomos almoçar na vila do Barreirinho (fora do parque), no restaurante da Cerâmica (R$7). Ali há opção de hospedagem também. Voltamos ao parque (5km de táxi), entrando desta vez pela portaria BPF (Boqueirão da Pedra Furada) apenas apresentando o ingresso pago de manhã. No Centro de Visitantes vimos peças encontradas nas escavações e assistimos a um vídeo com diversos módulos (os mesmo três que vi no museu ontem e mais alguns). Visitamos o Boqueirão da Pedra Furada, que tem pinturas impressionantes, inclusive a que foi adotada como símbolo do parque (as duas capivaras correndo), a própria Pedra Furada (de táxi, trajeto bem curto) e algumas tocas próximas. Na volta para a cidade passamos no camping do Sítio do Mocó para eu conhecer e decidir se valia a pena me hospedar ali e não ter mais de me preocupar com a despesa do táxi, já que esse povoado fica a 2km da entrada BPF do parque.

27/07/2008 - dom - CALDEIRÃO DOS CANOAS, CALDEIRÃO DO RODRIGUES, SÍTIO DO MOCÓ, ALTO DA PEDRA FURADA, SÍTIO DO MEIO
Deixei o hotel Real com a mochila para me hospedar no camping do Sítio do Mocó. Saímos com o mesmo guia, o Osmar, e o mesmo taxista. Rodamos 30km e entramos no parque pela portaria BPF novamente (R$3). Passamos pela Pedra Furada e seguimos (de táxi) até o fundo do boqueirão. Dali é preciso subir pelas encostas íngremes para chegar aos sítios do Caldeirão dos Canoas e depois Caldeirão do Rodrigues, com belíssimo visual e ótimas pinturas. É possível voltar ao carro descendo por uma escada de barras de ferro fixadas no paredão rochoso, porém decidimos voltar pela trilha por onde viemos. Fomos de táxi ao Sítio do Mocó (2km; fora do parque) almoçar no camping (R$7). Em seguida saímos a pé para subir a serra atrás do camping e ir ao Alto da Pedra Furada, com visual de toda a região e da Pedra Furada num outro ângulo. A descida da serra dá direto no Centro de Visitantes do parque, onde o táxi nos esperava para finalizarmos a visita de hoje no Sítio do Meio, onde foi encontrada uma machadinha de pedra polida com cerca de 9200 anos. Na volta para a cidade, me hospedei no camping, onde também jantei (R$7). O vilarejo tem apenas um orelhão e estava quebrado. Um grupo de cinco pessoas também se hospedou nessa dia nos quartos do camping e encontrou num deles uma lacraia. É preciso estar preparado para a grande quantidade de insetos no quarto (dormi com um louva-a-deus, alguns gafanhotos, etc) e de pererecas no banheiro.

28/07/2008 - seg - GROTÃO DA ESPERANÇA, BAIXÃO DAS MULHERES
Neste dia saí com o guia Ediran, que fala muito pouco (R$45). A pé percorremos os 2km até a entrada BPF do parque e depois mais alguns quilômetros até o fundo do boqueirão. Subimos as mesmas encostas de ontem, passamos rapidamente pelos sítios do Caldeirão dos Canoas e tomamos a estradinha em direção ao Grotão da Esperança. Caminhamos bastante até alcançar um mirante de onde se avista a vila do Barreirinho. Descemos a encosta e passamos por três sítios denominados Tocas da Subida do Grotão da Esperança, todos com pinturas muito deterioradas. Saindo dos limites do parque, foi preciso pular algumas cercas e passar por roças até alcançar uma estrada e segui-la à esquerda para conhecer um caldeirão de água no fundo do boqueirão. Caminhamos muito, a estrada se transformou em trilha, a trilha se transformou em vara-mato e nada de água. Como o guia não conhecia direito, pedi para voltarmos e irmos conhecer o Baixão das Mulheres. Tivemos de caminhar pela estrada de terra cerca de 1h20 embaixo de um sol escaldante para voltar à portaria BPF, tomar uma água fresca, continuar até o Sítio do Mocó (cerca de 15 min) e de lá ir ao Baixão das Mulheres (mais 40 min), que é o local onde antigamente as mulheres iam lavar a roupa. Há interessantes pinturas rupestres e belas encostas rochosas ao redor.
Jantei no camping (R$7).

29/07/2008 - ter - TRILHA HOMBU, BOQUEIRÃO DO PEDRO RODRIGUES
Nesse dia saí com o guia Nestor (R$45). Em primeiro lugar quis ver os caldeirões de onde a população do Sítio do Mocó retira água para uso em geral, exceto para beber e cozinhar. Logo cedo muitas pessoas percorrem o caminho até esses caldeirões com tambores e baldes, uns a pé, outros de bicicleta. A água era escassa e de aparência não muito boa. Na parte da manhã fizemos a trilha Hombu, que inicia numa portaria do parque que não tem funcionário. Como o pagamento do ingresso é obrigatório, já fizera isso no dia anterior (R$3). A trilha Hombu é interpretativa, o que significa que possui em todo o seu trajeto painéis explicativos dos sítios, flora e fauna. Visitamos alguns sítios interessantes do Circuito da Pedra Caída, Toca da Invenção e outros, depois subimos a encosta por escadas de metal fixadas na rocha e visitamos muitos outros sítios com pinturas interessantes como Baixão da Pedra Preta, Toca dos Caititus e outros. Saímos por uma portaria com funcionário, onde mostrei o ingresso comprado ontem antecipadamente. Dali até o Sítio do Mocó foram 35 min de sol muito forte. Voltamos ao parque pela portaria BPF e fomos visitar o Boqueirão do Pedro Rodrigues, com belo visual (inclusive da Pedra Furada por trás) se o guia levar ao alto das formações rochosas, porém com o sítio arqueológico num local escuro mesmo às 15h. Jantei no camping (R$7).

30/07/2008 - qua - VOLTA PARA SÃO RAIMUNDO NONATO
É possível fazer o percurso SRN-Sítio do Mocó com camionetes de linha. Eu aproveitei uma camionete colocada à disposição por um candidato, que nesse dia saiu às 6h com mais 16 pessoas.


9 comentários:

  1. Olá Rafael, muito legal o teu relato, dá uma idéia muito boa pra quem está afim de visitar o Parque, pretendo fazê-lo em breve.
    Brigado por compartilhar, em caso de dúvidas, posso entrar em contato com Vc?
    Grande abraço!!

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  2. Bacana o reloto! vc também entrando para o time dos escritores do grupo..rs....
    Legal! Esse lugar esta na minha listinha faz tempo, etá Brasilzão... tantos lugares para conhecer.
    Abraço e Parabéns pelo relato.

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  3. Oi, Ildemar.
    Não deixe de conhecer a Serra da Capivara porque é mesmo um lugar imperdível.
    Qualquer dúvida, é só perguntar. Se estiver ao meu alcance terei prazer em ajudar.
    Abraço. Rafael

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  4. Obrigado, Cleusa. Pois é, eu resolvi escrever os meus próprios relatos depois de usar muitos outros para planejar as minhas viagens. Acredito que os relatos sejam uma fonte de informação muito melhor que qualquer guia em papel ou na internet pois trazem a experiência real de quem viajou de forma independente. Eu colhi muitas informações durante a viagem com a intenção mesmo de escrevê-lo e ele se tornar uma boa fonte de consulta para outros viajantes.
    Beijo. Rafael

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  5. Valeu Rafael!
    Brigado mais uma vez!!
    Abraço!

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  6. Muito Obrigada pelo seu relato Rafael. Estamos ansiosos para conhecer o Parque ainda mais depois de ler sobre seus dias por lá. Abs André e Babi.

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  7. André e Babi, infelizmente as notícias que vêm do Parque Nacional Serra da Capivara são cada vez piores. A demissão dos funcionários por falta de verba deixa aquele patrimônio - um verdadeiro tesouro, que em qualquer país teria o devido respeito e cuidado - à mercê de vândalos e caçadores. Eu ligaria para as pousadas e guias de lá para saber se o parque está em condições de visitação. Uma lástima.

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  8. Oi! Que bom encontrar esse relato falando de opções mais estratégicas/econômicas. Eu estou pensando em ir sozinha pra lá em janeiro. Ficando nessas vilas mais afastadas, na BPF, será que consigo formar um grupo pra dividir o guia? Como é o movimento por lá. Minha preocupação é essa, a de não encontrar com quem dividir a diaria do guia e o transporte... Ouvi falar que era difícil formar grupo, mas acho estranho tmb, pois as pessoas estão lá pra isso. O que vc acha?

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  9. Giovanna, para encontrar outras pessoas e formar um grupo é melhor você ficar em São Raimundo Nonato mesmo. E percorrer os hotéis e pousadas à procura de companhia, como eu fiz. Quando estive lá ninguém conhecia essas vilas próximas ao parque, não havia outros viajantes nelas. Mas se você ficar nas vilas terá uma despesa muito menor, sem precisar fretar um carro, por exemplo, como eu disse no relato.

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