domingo, 29 de abril de 2018

Travessia Anticura-Águas Calientes no Parque Nacional Puyehue (Chile) - março/2018

Vulcões Puntiagudo e Osorno ao entardecer


Início: setor Anticura do Parque Nacional Puyehue
Final: setor Águas Calientes do Parque Nacional Puyehue
Duração: 3 dias
Distância: 57,4km
Maior altitude: 1928m
Menor altitude: 385m
Dificuldade: alta pois no segundo dia deve-se atravessar o escorial do Vulcão Casablanca sem trilha e com neve

O Parque Nacional Puyehue (pronuncia-se pui-Êu-e) situa-se na região de Los Lagos, de número X (as regiões no Chile têm nome e número romano). Esse parque abriga e protege a área ao redor do Vulcão Puyehue, cuja erupção em 2011 (através do Cordón Caulle) causou o fechamento de aeroportos na Argentina, Uruguai e até na Austrália e Nova Zelândia.

O vulcão é um grande atrativo mas eu estava interessado mesmo numa travessia que tangenciava um outro vulcão mais ao sul, este mais comportado, o Casablanca (inativo). Eu tinha uma descrição detalhada do percurso apenas do primeiro dia, de Anticura a Pampa Frutilla, no guia Trekking in the Patagonian Andes da editora Lonely Planet. Daí em diante tinha pouca informação (o LP fala apenas superficialmente da continuação de Pampa Frutilla a Águas Calientes).

Essa travessia é uma das tantas que pertencem ao projeto Sendero de Chile, que visa contribuir com a proteção da natureza do país através da criação/manutenção de trilhas e caminhos para que as pessoas possam conhecer e valorizar o patrimônio natural do Chile. Matéria em que o Brasil ainda está muito atrasado.

O Parque Nacional Puyehue foi criado em 1941 e é administrado pela Conaf, órgão florestal oficial do Chile. A Conaf mantém as trilhas, a sinalização e eventualmente fecha algumas delas se há incêndio florestal ou alto risco de haver algum. 

Salto de la Princesa



25/02/18 - Chegando ao Parque Puyehue

Na cidade de Osorno (932km ao sul de Santiago) peguei o micro-ônibus das 17h para Anticura (ver horários abaixo em Informações Adicionais). Ele sai de um ponto na esquina das ruas Arturo Prat e Francisco Errazuriz, na extremidade oeste do Mercado Municipal da cidade. Na placa do para-brisa está escrito "Aduana Cardenal Samoré". A viagem até Anticura durou 2h07. Saltei na rodovia 215, que cruza mais adiante a fronteira com a Argentina pelo Passo Cardenal Samoré e vai a Bariloche.

O motorista me deixou bem em frente à portaria do parque, que fica à direita da rodovia 215 (sentido Argentina). A entrada é aberta, não há um portão, e à direita está a guarderia, onde fica o guardaparque. Porém ela estava fechada, pensei que fosse pelo horário (depois me disseram que o guardaparque estava de férias). Havia um motorhome estacionado ali no gramado e perguntei ao casal sobre camping. Eles eram do Alasca e a mulher me disse que eu poderia acampar em qualquer lugar. Pensei: com a Conaf não é bem assim que funciona... Havia placas do parque do outro lado da rodovia e fui lá perguntar. Encontrei a área de acampamento, porém era de uma concessionária e cobravam por "sítio", ou seja, por espaços delimitados com mesa, tão grandes que dá para estacionar o carro ao lado da barraca. E o custo era de CLP 15000 (R$ 80), o valor que eu estava pagando num hostal com café da manhã em Osorno. Um absurdo. O máximo que eu havia pago num camping no Chile tinha sido CLP 5000 (valor para estrangeiro).

Voltei ao outro lado da rodovia 215 e vi que havia algumas pessoas numa casinha ao fundo da portaria do parque. Fui lá conversar. Eram brigadistas. Expliquei a situação, disse que eu iria iniciar a travessia no dia seguinte, e eles me deixaram passar a noite ali nos fundos, atrás de um depósito. Me informaram também que a travessia para Antillanca e Águas Calientes estava aberta e sem problemas no percurso.

Altitude de 385m.

Salto del Pudú



26/02/18 - 1º DIA - Conhecendo o setor Anticura e início da travessia: de Anticura a Pampa Frutilla 

DADOS DA TRAVESSIA ANTICURA-PAMPA FRUTILLA
Duração: 5h48 (já descontada a ida ao Salto Los Novios)
Distância: 17,6km (já descontada a ida ao Salto Los Novios)
Maior altitude: 1353m
Menor altitude: 385m
Dificuldade: baixa

Um dos atrativos do setor Anticura do Parque Nacional Puyehue são as cachoeiras. Pode-se também subir o próprio vulcão Puyehue mas isso não estava nos meus planos. Parte das cachoeiras está do lado da portaria do parque e outra parte está do lado da concessionária do camping, sendo que neste lado eles cobram a entrada (CLP 1000 = R$ 5). 

Iniciei cedo o dia pois queria percorrer as cachoeiras todas e partir para a travessia, caminhando até Pampa Frutilla. Saí às 7h25 e o sujeito da concessionária estava esperando o ônibus para Osorno... que azar, pensei que ia passar batido pois ninguém acorda cedo no Chile. Ele aproveitou para me cobrar a entrada. 

Comecei a visita às cachoeiras pelo Salto del Indio, circuito de 1,1km. Depois o Salto de la Princesa com extensão até o Salto Repucura, numa trilha de 2,4km (ida e volta). Tentei explorar uma trilha que saía do Salto Repucura e ia em direção à rodovia 215 mas está sem uso e os bambus a fecharam a partir de um certo ponto. No retorno peguei a esquerda numa bifurcação sinalizada e passei por alguns chalés de aluguel muito bonitos. Todos os saltos visitados deste lado estão no Rio Golgol e são de altura média, não são grandes.

Às 10h06 atravessei a rodovia 215 de volta e fui conhecer as cachoeiras e o mirante do lado da portaria do parque. Comecei pelo Salto del Pudú, o mais alto de todos, numa trilha de 2,6km ida e volta. Depois o Sendero Mirador El Puma, de 1,8km ida e volta. Altitude de 577m nesse mirante (desnível de 190m), mas sem visão do Vulcão Puyehue por causa do céu encoberto. Essa trilha continua mais 30m até uma fonte de água. No retorno passei pelo Salto Anticura, o mais próximo da portaria do parque e também de altura média.

Salto Anticura



Às 12h22 estava de volta para desmontar a barraca e partir para a travessia, que iniciei às 13h56 depois de almoçar e comer algumas framboesas no pé logo no início da trilha. Altitude de 385m.

Às 14h38 cruzei um rio afluente do Rio Golgol pela precária Ponte Arauco e fui para a esquerda. Em 7 minutos cheguei a um caminho mais largo. As placas indicavam à direita Pampa Frutilla a 18km (o meu gps marcou 16,8km) e à esquerda a Ruta Internacional a 300m. Fui para a esquerda para explorar e marcar no gps em que altura da rodovia 215 iniciava essa trilha. Foram 920m até a rodovia (e não 300m). Dali aproveitei para ir conhecer o Salto Los Novios, a apenas 300m percorrendo o asfalto para a esquerda. O mirante do salto fica bem ao lado da rodovia mas há uma trilha curta que desce até o Rio Golgol.

Voltei à bifurcação Pampa Frutilla-Ruta Internacional às 15h45 e segui em frente. É um caminho bem largo, uma estrada abandonada no meio da mata que sobe suavemente na direção sul e sudeste. Essa estrada foi construída pelo exército chileno nos anos 1970 num período de tensão com a vizinha (muito próxima) Argentina. Passei por três fontes de água, sendo que próximo do último riacho havia um telhado com duas mesas de picnic e restos de fogueira, isso no meio de uma grande clareira tomada por capim alto. Parei nesse lugar para lanchar por 20 minutos e saí às 17h09. Até aí havia sol. Reforçando pois é importante: essas são as últimas fontes de água corrente desse dia e do dia seguinte! A água das lagunas de Pampa Frutilla deve ser tratada antes de beber.

A trilha passa a subir mais acentuadamente e uma forte neblina foi tomando conta da mata. Ao sair no aberto essa neblina me impedia de ver ao redor, me deixando sem visão das montanhas e sem referências. Fora da mata continuei pelo caminho largo agora por um terreno mais arenoso. Numa curva fechada para a esquerda às 20h04 notei à direita uma placa numa árvore em que se lia com dificuldade "Refugio Viejo a 800m". Esse seria meu ponto de referência para continuar a travessia no dia seguinte. A partir dali a estradinha sobe bastante. Queria chegar à primeira lagoa de Pampa Frutilla para acampar mas a noite foi chegando e com aquela neblina não enxergava mais nada. Já estava iniciando a descida para a lagoa mas o terreno era muito irregular e já estava perdendo a trilha. Resolvi procurar um lugar plano ali no alto mesmo antes que escurecesse de vez. Parei às 20h53.

Altitude de 1324m.

Laguna Los Monos



27/02/18 - 2º DIA - de Pampa Frutilla ao Vulcão Casablanca

Duração: 10h22
Distância: 16,7km
Maior altitude: 1928m
Menor altitude: 1182m
Dificuldade: alta pois deve-se atravessar o escorial do Vulcão Casablanca sem trilha e com neve

Felizmente o dia amanheceu sem nuvens e pude enfim ver onde estava. E era um lugar lindo, com vista para montanhas para todos os lados. As lagoas de Pampa Frutilla estavam a apenas 1,6km de distância. Mas a maior surpresa foi na descida para as lagoas (10h29) encontrar uma outra barraca... num lugar isolado como aquele. E eu pensando que havia dormido sozinho naquele cenário fantasmagórico da neblina da noite anterior. Encontrei os donos da barraca pegando água na Laguna Los Monos, três aventureiros que chegaram um pouco antes de mim e acamparam ali no alto pelos mesmos motivos que eu. Eles estavam pegando a água e fervendo para colocar nos cantis. Dali iriam retornar a Anticura e não conheciam o caminho para o Vulcão Casablanca.

Conversamos um pouco e depois eu fui conhecer a Laguna del Bosque, apenas 430m adiante. No caminho vi alguns pezinhos de morango com frutinhas para confirmar o nome do lugar (frutilla é morango em alguns países da América do Sul).

Eu coletei água e tratei com pastilha de cloro. Às 12h06 saí das lagunas (altitude de 1211m), subi de volta ao local onde acampei e comecei a retornar pela estradinha. Minha direção hoje seria basicamente sudoeste com algumas variações durante o percurso. No alto tinha vista para o Cerro Tronador a sul-sudeste, vulcão inativo na fronteira com a Argentina e que é bastante visitado a partir de Bariloche. À minha frente (sudoeste) não podia ver o Vulcão Casablanca pois ainda estava atrás das altas colinas de areia vulcânica que eu subiria para me aproximar dele. Desci até a placa "Refugio Viejo a 800m", que marca o início de uma trilha discreta que sai para a esquerda. Dali em diante seria um percurso muito menos usado e havia o risco de ter muita neve nas partes mais altas, o que poderia me obrigar a voltar já que não levava equipamento para neve. Às 13h11 desci pela mata até um campo abaixo perfeito para acampar se tivesse água. Ali estava a 1182m de altitude e iria do ponto mais baixo do dia diretamente ao ponto mais alto. Reentrei no bosque e comecei a subir. E seria uma longa subida.

Cerro Pantojo à direita



Ao sair do bosque às 13h52 passei a subir pela areia vulcânica, um lugar seco e sem sombra. Essa areia e pedras resultantes da solidificação da lava de erupções vulcânicas são chamadas de escória vulcânica. Os setores cobertos por essa escória são chamados de escorial. Algumas estacas fincadas na areia serviam de orientação, mas eram bem poucas. Aos poucos o Vulcão Puyehue foi surgindo no horizonte ao norte.

Passei a caminhar por uma encosta bem inclinada com areia solta em que estava bem difícil se manter em pé. Tive de descer um pouco para tentar encontrar lugar um pouco mais firme para pisar. Essa foi a primeira dificuldade. A segunda viria mais acima pois para atingir a crista dessa grande montanha de areia vulcânica eu teria que vencer uma encosta forrada de neve em quase toda a extensão. Isso em pleno fevereiro, imagine como deve ficar esse caminho no restante do ano! 

Subi até encontrar a neve às 16h09. Havia pegadas na areia para vários lados. Comecei tentando subir pisando na neve mas a inclinação tornava isso bem arriscado. A solução era subir pelo único trecho onde não havia neve, só areia, porém com uma inclinação muito forte. Mas tinha que ser ali. Fui subindo em zigue-zague porém cheguei num ponto em que a inclinação e a areia solta não me deixavam subir mais, nem escalaminhando. Me aproximei então de uma torre de pedra que havia à esquerda e aos pés dela a subida foi um pouco mais fácil já que havia algumas pedras para se apoiar. Devia ter subido em direção a essa torre de pedra desde o começo. No alto encontrei mais estacas fincadas e pegadas.

A recompensa pelo perrengue foi uma vista estonteante para quase todos os lados, com montanhas e vulcões a perder de vista no horizonte. Mas ainda subiria uns morros de areia vulcânica mais, tendo de cruzar uma faixa de neve de cerca de 25m, mas com pouca inclinação e sem risco de escorregar. Às 18h05 finalmente atingi o ponto mais alto e a visão se abriu para oeste. Altitude de 1928m. Agora podia ver os vulcões Puyehue, Puntiagudo, Calbuco, Osorno, Cerro Sarnoso, Cerro Tronador e o Vulcão Casablanca bem ao lado. Também o Lago Constancia, Pampa Frutilla, Cerro Pantojo, Lago Rupanco e todo o trajeto desse dia e do dia anterior pela mata. Uma visão verdadeiramente extraordinária!

A descida pela areia foi muito rápida, bastava dar um passo e escorregar vários ladeira abaixo. Continuei descendo pela crista daquelas imensas "dunas" de areia vulcânica seguindo pegadas. Porém mais abaixo, ao alcançar o terreno forrado de capim às 19h57, a trilha desapareceu por completo e segui orientado pelo gps. Quando o sol baixou, avermelhando a encosta do Vulcão Casablanca, tratei de encontrar um lugar plano e com menos pedrinhas para montar a barraca (20h51). Água? Só a dos meus cantis.

A única fonte de água desse dia foram as lagunas de Pampa Frutilla. Em caso de necessidade se poderia derreter (e filtrar) a neve encontrada durante a subida.

Altitude de 1195m.

Vulcões Puntiagudo e Osorno



28/02/18 - 3º DIA - do Vulcão Casablanca a Águas Calientes

Duração: 10h28
Distância: 23,1km
Maior altitude: 1382m
Menor altitude: 468m
Dificuldade: média (pela distância)

Mais um dia lindo de sol para aproveitar essa paisagem espetacular. Ao sair da barraca tinha os vulcões Puntiagudo, Osorno e Casablanca como pano de fundo para o meu acampamento... ô vida ruim...

A parte mais difícil havia passado, como previsto encontrei neve nas partes mais altas no dia anterior mas ela não me impediu de continuar a travessia. Em outras épocas do ano deve-se considerar levar equipamento apropriado, como crampons, raquetes, piolet, etc

Comecei a caminhar às 9h39 ainda sem trilha e seguindo o gps. Subi suavemente por aquele escorial coberto de capim baixo na direção de uma colina à direita de um grande buraco que parecia uma cratera. Direção noroeste para ser mais exato. Nessa colina havia um corte que subia da direita para a esquerda. Era o final da estrada que vem da estação de esqui de Antillanca. 

Ao alcançar uma placa onde se lia "Ingreso Sendero Gaviotas 400m" alcancei também o final da estradinha. Subi por ela no rumo sudoeste deixando o Vulcão Casablanca para trás. No alto às 11h13 uma bifurcação e um painel com mapa das trilhas da região e informações sobre a travessia Anticura-Antillanca, porém eram mais sobre a flora do local. Esse painel tinha o logo do projeto Sendero de Chile.

Nessa bifurcação sobe um caminho largo à esquerda que se dirige para o sul e faz a travessia para o Lago Rupanco, uma outra opção de trekking. Mas o meu caminho era para a direita (norte), descendo em direção a Antillanca, já por estrada de rípio transitável. Dali já avistava o Vulcão Antillanca e à direita dele o teleférico da estação de esqui, obviamente parado pois era verão e não havia neve para esquiar.

Cratera Raihuen e Vulcão Casablanca



Mais abaixo pude ver no fundo do vale o hotel da estação de esqui. Desci mais e numa curva para a esquerda encontrei pessoas visitando a Cratera Raihuen, bem aos pés do Vulcão Casablanca. É uma cratera de fácil visitação pois está ao lado da estradinha e ao nível dela, não é preciso dar nem um passo, chega-se de carro. Mas também não é nada de mais, apenas um campo de escorial coberto de capim e circundado por paredes baixas. Mas ali inicia a trilha de ascensão ao Vulcão Casablanca e isso sim deve ser bem interessante. Porém não estava nos planos dessa travessia.

Continuei a descida e 800m abaixo da cratera havia uma outra estradinha saindo para a direita e subindo. Seria o início do meu caminho a Águas Calientes. Mas continuei descendo pela estrada principal pois estava sem água e ia ao hotel pedir para encher os cantis. Porém não precisei ir até lá pois logo após uma curva da estrada entrei num caminho à esquerda e por sorte encontrei um reservatório de água. Eram 12h20 e aproveitei para almoçar. Nessa hora apareceram três gringos com mochila (franceses, suíços, não me lembro) que estavam subindo para acampar na cratera. Eles haviam passado pela guarderia da Conaf ali em Antillanca e o guardaparque disse que a travessia para Águas Calientes estava fechada. Pensei: pronto, lá vou eu partir para a clandestinidade... 

Eles pegaram água e continuaram. Eu saí logo depois, às 13h11. Já era um pouco tarde e a minha intenção era iniciar e terminar a travessia para Águas Calientes nesse mesmo dia pois não sabia se teria lugar para acampar no meio do caminho. Tinha a informação de que o Refúgio Bertin estava em ruínas e mesmo que não estivesse havia o risco do hantavírus dentro dele.

O hantavírus é altamente mortal e há cartazes sobre o seu risco e prevenção por todo o sul do Chile. É transmitido pela urina e fezes dos roedores que se alojam em casas e galpões que ficam fechados por muito tempo. A recomendação é nunca dormir dentro de lugares fechados pelo risco de inalar o ar contaminado pelos dejetos com o vírus. Por isso não se deve trocar nunca a barraca por refúgios, casas e galpões fechados no meio da mata.

Estação de esqui de Antillanca com o Vulcão Antillanca ao fundo



Eu subi a estrada de volta para pegar aquela estradinha que saía para a esquerda (direita quando desci). Mas alcancei os gringos e eles me chamaram a atenção para um outro caminho, mais abaixo, onde havia uma placa. Era algo incerto e eu não podia perder tempo se quisesse chegar a Águas Calientes ainda nesse dia. Resolvi arriscar esse outro caminho e desci até a placa para ver o que estava escrito. E estava escrito apenas "Variante Joel Campos", não esclarecia nada. Entrei nessa trilha mesmo assim, às 13h47. Desci um pouco e logo estava caminhando por trilha bem marcada pela encosta de areia vulcânica do Vulcão Antillanca (que contornei da extremidade sul à norte). Havia estacas com cores azul e vermelho e também fitas azuis e amarelas. A subida foi gradativa e à minha esquerda vai se ampliando a visão de um grande vale. Até que às 14h45 a visão se abriu para noroeste para o Lago Puyehue e a trilha deu uma guinada para nordeste para subir a uma crista. Nessa crista atingi o ponto mais alto do dia, 1382m. 

Do alto podia avistar (pela última vez) os vulcões Puyehue, Osorno, Puntiagudo, Cerro Sarnoso, Cerro Tronador, Lago Rupanco e Lago Puyehue.

Continuei pela crista contornando o vulcão no sentido horário até que avistei no alto o final do teleférico. As estacas continuavam crista acima na direção dele mas era o momento de eu baixar à esquerda para entrar no bosque. Uma grande seta feita de pedras no chão me deu a deixa para abandonar a crista e iniciar a descida em direção às árvores abaixo. As estacas continuavam crista acima porque seria uma outra variante de acesso a esse ponto, aliás devia ser o caminho que inicialmente eu tinha a idéia de tomar (aquela estradinha que saía da principal).

Desci então a encosta de areia e caminhei em direção ao bosque. A entrada nele estava sinalizada por uma estaca vermelha com um círculo amarelo no alto, difícil não ver. Eram 16h08 e precisava apertar o passo pois tinha muito chão para chegar a Águas Calientes. 

A trilha desceu em zigue-zague e foram aparecendo diversos pontos de água, felizmente acabou a dificuldade de caminhar por areia vulcânica e sem água. Ao final do zigue-zague a trilha tomou a direção oeste e basicamente ia se manter na direção oeste e noroeste até Águas Calientes.

Lago Bertin



Às 17h13 uma placa sinalizava o Lago Bertin 20 minutos à direita. Não podia deixar de conhecer. Entrei nessa trilha e em apenas 9 minutos estava no lago. Um lugar muito bonito, rendeu boas fotos. Havia uma placa de "refúgio" no chão junto ao lago mas os restos dele estavam na verdade perto do início dessa trilha. Às 17h55 estava de volta à trilha principal e continuei em passo rápido. Às 19h me deparei com uma ponte em muito mau estado e passei com bastante cuidado. Outras pontes surgiram mas estas estavam em ótimo estado, sem risco, e a água era acessível.

Às 19h40 a trilha desembocou numa estradinha de rípio. Começaram a aparecer chalés à direita, já estava chegando a Águas Calientes. Até que uma placa confirmou a minha clandestinidade: "Sendero cerrado temporalmente por peligro de incendios forestales - no ingrese". 

A estradinha terminou numa curva da estrada principal que vai de Águas Calientes a Antillanca (U-485) às 19h48. Altitude de 475m. Ali segui em frente (à direita nessa curva) seguindo a placa de "Osorno". Parei na entrada do camping e fui informado por uma família que o sítio custava a "bagatela" de CLP 28000 (R$ 150) !!! Aqui a concessionária cobra por sítio também, como em Anticura, porém o valor é absurdo para quem está sozinho e não encontra alguém para dividir o sítio (aceitam até 8 pessoas num sítio). Confirmei os preços pela tabela fixada na parede da casinha na entrada. Águas Calientes é uma estação termal superturística, por isso a concessionária coloca esse preço fora do normal. Eu não pensei duas vezes: voltei pela trilha por onde vim algumas centenas de metros e acampei selvagem numa clareira que encontrei. 

Altitude de 484m.

Laguna El Espejo



01/03/18 - Conhecendo o setor Águas Calientes do Parque Nacional Puyehue

Desmontei acampamento e fui ao Centro de Informação Ambiental pegar informações sobre as trilhas desse setor. O solícito guardaparque me deu todas as informações de que precisava e permitiu que eu deixasse a cargueira ali para percorrer as trilhas. Há uma grande maquete do parque com as trilhas desenhadas e vários painéis destacando a flora, fauna e geologia da região.

Às 10h54 comecei pela trilha El Pionero que sobe a um mirante a 667m de altitude (228m de desnível) e tem 3km de ida e volta. As nuvens baixas não me deixaram ver toda a paisagem, mal podia ver o Lago Puyehue a noroeste. Dali se pode ver num dia limpo o Vulcão Antillanca. Continuei pelo mesmo caminho e desci até a Laguna El Espejo, mais 3km ida e volta, porém por uma trilha um pouco fechada pela vegetação, principalmente bambuzinhos. A laguna é parcialmente coberta por ninféias e fica na estrada Antillanca-Águas Calientes. Voltei pelo mesmo caminho e às 13h56 entrei na trilha El Recodo, de apenas 400m, mas que emenda com a Trilha Rápidos de Chanleufu junto à ponte. Esta tem 1,5km de ida e volta à ponte, é paralela ao Rio Chanleufu e termina numa cachoeira. A volta pode ser por uma variante. Às margens do Rio Chanleufu há algumas poças de água quente onde se banham as pessoas que não querem pagar para entrar nas piscinas. Mas são poças rasas e barrentas, não muito convidativas. Às 15h43 estava de volta à guarderia para pegar minha mochila. O ônibus para Osorno para bem em frente porém não é tão frequente quanto o guardaparque disse. 

Informações adicionais:

Ônibus de Osorno a Anticura (empresa D&R):
Osorno-Anticura:
seg a dom - 17h

Anticura-Osorno:
seg a sex - 7h30
sáb e dom - 9h

Preço da passagem: CLP 1600 (R$8,55)

O preço do camping de Anticura é cobrado por sítio e custa CLP 15000 (R$80).

O preço do camping de Águas Calientes é cobrado por sítio (máximo de 8 pessoas) e custa:
. temporada alta: CLP 28000 (R$150) até 4 pessoas (pessoa adicional CLP 6000 (R$32))
. temporada média: CLP 25000 (R$134) até 4 pessoas (pessoa adicional CLP 5000 (R$27))

O grau de dificuldade que coloco nos relatos é uma avaliação pessoal e considera que o trilheiro esteja acostumado a caminhadas de vários dias com mochila cargueira. Para um iniciante considere todas as trilhas como difíceis. Para um iniciante que não esteja em boa forma física é melhor procurar trilhas fáceis de um dia para ganhar experiência e condicionamento.

Rafael Santiago
março/2018

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