Nevados Yerupajá e Yerupajá Chico
Para informações sobre a viagem do Brasil a Huaraz e sobre o período de aclimatação que fiz, leia o meu relato em http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2015/09/lagunas-69-churup-willcacocha-e-aguak.html.
Depois de testar a minha adaptação à altitude em três caminhadas de uma dia acima de 4400m, e ter por sorte uma excelente aclimatação, era hora de encarar o meu grande objetivo nessa viagem ao Peru: o Circuito Huayhuash em 8 dias.
Nas agências de Huaraz esse trekking é proposto para 8 dias (ou mais, se o cliente quiser e puder bancar), mas na realidade caminha-se 6 dias e meio, com o primeiro dia todo tomado pelo deslocamento até o primeiro acampamento, bem distante de Huaraz (quase 4h de viagem), e o último dia resumido a 4h30 de caminhada apenas, com o deslocamento de volta no restante do dia.
O trajeto é todo ao redor da Cordilheira Huayhuash, ao sul da Cordilheira Blanca, nas imediações da cidade de Chiquian. O sentido mais comum é o horário, com início no acampamento Cuartelwain e o final variando entre as localidades de Pocpa e Llamac. Encontramos porém grupos fazendo no sentido anti-horário.
Eu paguei 700 soles (US$ 222) por esse trekking pela agência Monttrek, de Huaraz. Os integrantes do meu grupo pagaram preços entre 450 e 650 soles através de outras agências ou pelo hostel onde estavam hospedados. No fim o serviço foi todo prestado pela agência Enjoy Huayhuash.
Estava incluído no preço o guia, o assistente e o arrieiro (condutor da tropa de animais). Todos eles cozinhavam e havia cinco refeições/lanches por dia. Também as barracas, isolantes, sacos de dormir, a tenda-cozinha e a tenda-refeitório, tudo carregado por uma tropa de cinco burros e duas mulas, além de um cavalo de emergência. O deslocamento de/para Huaraz também estava incluído.
Laguna Gangrajanca com nevados Jirishanca e Jirishanca Chico
SOBRE O FRIO E AS ROUPAS
Nos oito dias de trekking tivemos dias bastante ensolarados. O sol é muito forte, um protetor solar é indispensável, porém o ar é sempre frio, o que se percebe quando sopra o vento ou quando caminhamos na sombra. Durante o dia portanto eu caminhava sempre com calça de tactel e segunda-pele de manga longa de lã de merino lightweight, no mínimo. Às vezes vestia um fleece fino ainda. Alguns colegas suportavam melhor o ar frio e caminhavam de manga curta.
No começo do dia muitas vezes caminhávamos um longo tempo pela sombra, dentro de um vale, e o frio da manhã era intenso. Nessas condições eu saía do acampamento com as duas blusas de fleece que tinha usado para dormir, uma mais fina e outra mais grossa (Polartec), além da segunda-pele de manga longa de lã de merino. Ainda gorro e luvas de fleece.
No fim do dia, quando o sol sumia atrás das montanhas, a temperatura despencava muito rapidamente. Eu vestia sobre a segunda-pele as duas blusas de fleece e mais uma jaqueta impermeável/respirável para reter o calor. Para as pernas levei uma calça segunda-pele de lã de merino midweight para colocar sob a calça de tactel, mas não foi suficiente, sempre sentia muito frio nas pernas. Tentava reter o calor com uma calça impermeável/respirável. Além disso gorro e luvas de fleece.
Durante a madrugada, a temperatura sempre caía abaixo de zero, o que podia ser conferido na quantidade maior ou menor de cristais de gelo na parte externa da barraca todas as manhãs. Eu levei um saco de dormir Marmot Alpha, de pluma de ganso, de especificação: conforto 2,6ºC, limite -2,8ºC e extremo -19ºC. Em algumas noites ele não foi suficiente, principalmente nas pernas, e tive de usar além dele um Deuter Orbit +5 de especificação: conforto 9ºC, limite 5ºC e extremo -9ºC. Aí sim dormia bem aquecido.
Acampamento Cuartelwain. À esquerda: Jirishanca, Ninashanca, Rondoy e Rasac
30/07/15 - 1º DIA: DE HUARAZ AO ACAMPAMENTO CUARTELWAIN
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash1DiaPeruJul15.
Às 8h15 a van passou no hostel para me apanhar. Fui o primeiro a entrar, mas logo comecei a conhecer meus companheiros de (longa) caminhada: Annie (americana de 55 anos), Joel (suíço de 37 anos), Antônio (Tony, espanhol de 56 anos), Robert (inglês de 27 anos), Ofri (israelense de 25 anos), Or (israelense de 26 anos) e Yoav (israelense de 28 anos).
Saindo de Huaraz no sentido sul a primeira parada foi no povoado de Catac para comprar guloseimas de última hora e usar os baños (banheiros). Em seguida uma longa viagem passando pela cidade de Chiquian, onde trocamos o asfalto pelas poeirentas e pedregosas estradas de terra, depois Llamac e uma parada em Pocpa. Ali conhecemos o nosso guia Teo e seu assistente Henry, e seguimos de van até o acampamento Cuartelwain.
Em Llamac e Pocpa pagamos as primeiras taxas de "protección", num total de 30 soles. Na verdade, é um pedágio que as comunidades cobram ao longo de todo o percurso do circuito, o que totaliza 195 soles. Nosso guia Teo recolheria na manhã seguinte o valor restante de 165 soles de cada um para tornar mais ágil o pagamento durante a caminhada. Lembrando que toda essa área pertence a particulares, não faz parte de nenhum parque nacional.
Em Cuartelwain, às 14h10, as barracas e tendas foram rapidamente montadas. Altitude de 4172m. Tivemos nosso primeiro contato visual com as montanhas nevadas de Huayhuash, porém ainda bem discretas diante do que estava por vir. Quando o sol desapareceu atrás das montanhas, tivemos nossa primeira amostra do que seria o frio dentro dos vales. E muito mais depois, durante a noite e madrugada.
O jantar sempre tinha sopa como entrada, todos os dias uma sopa diferente. O prato principal nessa primeira noite foi peixe frito, supostamente truta. Eu, evitando comer carne durante o trekking, fiquei no ovo frito mesmo. Depois chá bem quente e dormir para se preparar para o início da caminhada.
As refeições foram todas fartas e com possibilidade de repetir quando quisesse. A enorme porção de arroz que vinha no prato era um tormento para os colegas europeus, não acostumados a isso, mas para mim, brasileiro, era uma quantidade que podia dar conta. Só sentia falta de um pouco de feijão para acompanhar tamanha quantidade de arroz.
Uma novidade para mim nesse trekking (muito diferente do Monte Roraima) foi a existência de banheiros em todos os acampamentos, uns muito bons (e até limpos) e outros sem condições de uso. Em Cuartelwain havia uma casinha com quatro portas, mas apenas duas estavam abertas. Lá dentro vaso sanitário com caixa de descarga acoplada. Um luxo!
Nevados Siulá e Yerupajá
ACLIMATAÇÃO: COMO MEU ORGANISMO REAGIU À ALTITUDE
Planejei essa viagem reservando quatro dias de aclimatação à altitude antes de iniciar o Circuito Huayhuash. Seriam quatro trekkings de um dia com altitudes de até 4600m retornando a Huaraz para dormir. O relato dessas caminhadas está em http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2015/09/lagunas-69-churup-willcacocha-e-aguak.html.
Como seria minha primeira experiência de caminhada acima dos 3000m estava preparado para tudo, inclusive a possibilidade de meu organismo reagir de forma muito negativa nesses quatro dias e eu nem tentar fazer o circuito. Logo na primeira noite em Huaraz comecei a minha dieta de mate de coca para ajudar na aclimatação. Não sei se foi bom, tem gente que diz que é placebo, mas sei que felizmente tive uma excelente aclimatação durante os quatro dias, sentindo apenas um pouco de dor de cabeça no primeiro dia, na Laguna 69.
Por recomendação médica, não utilizei os medicamentos Diamox e Decadron, que supostamente ajudam na aclimatação. Durante a caminhada, continuei tomando o mate de coca duas vezes por dia, feito da infusão da própria folha, que eu mastigava depois.
O problema que eu tive durante o circuito, que começou leve nos primeiros dias e depois foi piorando, foi com relação ao sono. Dormia das 20h até por volta de 0h30 ou 1h da madrugada e acordava com o nariz tampado. Dali em diante não dormia direito ou não conseguia dormir mais, mesmo assuando o nariz várias vezes para desobstrui-lo. Ao deitar o nariz entupia de novo e não conseguia pegar no sono. A noite maldormida tinha consequências no dia seguinte já que não estava suficientemente descansado para enfrentar o dia puxado de caminhada.
Carnicero, Siulá, Yerupajá e Yerupajá Chico
31/07/15 - 2º DIA: DE CUARTELWAIN À LAGUNA CARHUACOCHA
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash2DiaPeruJul15.
Nossa rotina pela manhã seria igual todos os dias: às 6h30 todos tinham que estar na tenda-refeitório tomando o desayuno, com as respectivas barracas vazias e as mochilas cargueiras entregues ao arrieiro. Às 7h todos com as mochilas de ataque nas costas para iniciar a caminhada, faça o frio que fizer. E como fazia! Às vezes arrumava a mochila sem sentir os dedos das mãos. Um pacotinho com o lanche de trilha do dia era entregue a cada um antes de iniciar a caminhada.
Nesse dia nosso guia Teo não foi tão rígido e começamos a andar às 7h17. Adentramos o vale gelado no sentido nordeste por 22 minutos e começamos a subida da encosta à nossa direita em direção ao primeiro passo do dia, o Cacananpunta. A subida foi longa e cansativa, quase toda feita na sombra e no frio. Eu mantive o meu passo devagar-e-sempre: devagar para não sentir falta de ar e chegar a uma respiração estável, e sempre pois não fazia paradas para não ter de iniciar o trabalho de respiração de novo.
Alguns colegas consideraram esse passo um dos mais difíceis, alguns já ficaram bem para trás. Vencido o desnível de 508m, cheguei ao Passo Cacananpunta às 9h. Altitude de 4680m. Parada para se aquecer ao sol e contemplar o imenso vale à nossa frente, o qual iríamos contornar pela direita. Às 9h36 começamos a descida do passo, toda em ziguezagues também. Cruzamos com um ou mais grupos que estavam fazendo a caminhada no sentido anti-horário. Às 9h52 a longa descida teve fim próximo a uma cruz fincada em homenagem ao alpinista polonês Radoslaw Koscinski, que morreu explorando as nascentes do Rio Amazonas-Maranhão na Cordilheira Huayhuash em 1998. Por incrível que pareça estamos na bacia do Rio Amazonas!
Seguimos pela encosta direita do grande vale avistado do passo até alcançar uma placa de boas vindas ao "melhor trekking do mundo". Nesse ponto a trilha quebra de leste para sul e temos a primeira empolgante visão dos nevados da Cordilheira Huayhuash: Jirishanca Chico, Yerupajá, Jirishanca, Rondoy e Ninashanca. Parada para fotos, claro, já que o dia estava espetacular!
Às 11h alcançamos o posto de "protección" de Janca (pronuncia-se ranca). Há inclusive um portão de ferro para intimidar quem porventura não queira pagar o pedágio. Nosso guia Teo já havia recolhido o valor total dos pedágios de cada um e o pagamento então ocorreu sob sua responsabilidade. Assim, todos aproveitamos para descansar um pouco e mastigar algum lanche.
Jirishanca Chico, Yerupajá, Jirishanca, Rondoy e Ninashanca
Liberada a nossa passagem, cruzamos o Rio Janca e começamos a longa e suave subida para o Passo Carhuac ao sul. Infelizmente não estava no nosso percurso a Laguna Mitucocha. No meio da subida paramos para o almoço, às 11h44. Tony, nosso amigo espanhol, já dava sinais de cansaço e reclamava de uma dor no joelho. Findo o almoço, às 12h35 continuamos a lenta subida ao Passo Carhuac, aonde cheguei às 13h30. Altitude de 4628m. No passo e na descida que se seguiu, à nossa direita vão surgindo mais próximos os altos e majestosos picos nevados da cordilheira, até que às 14h50 temos de um mirante à direita da trilha a estonteante visão da Laguna Carhuacocha aos pés dos principais picos da cordilheira. Entre eles o Yerupajá Grande, 6634m de altitude, segunda montanha mais alta do Peru (só perde para o Huascarán, 6768m). Após alguns minutos de admiração da magnífica paisagem, bastou descer pela face norte da laguna até o acampamento, aonde cheguei às 15h20. Altitude de 4196m.
Nosso acampamento estava montado na parte alta da face norte, próximo a uma fonte de água e dos banheiros. Tínhamos apenas um grupo vizinho. Porém nas margens da lagoa, bem abaixo de nós, havia diversos outros grupos acampados. A visão dali para a cordilheira era ainda mais ampla e pudemos identificar, além do Yerupajá Grande, o Siulá (6344m), o Yerupajá Chico (6121m), o Jirishanca (6094m) e o Jirishanca Chico (5445m).
Todos os acampamentos do trekking foram em lugares de grande beleza, sempre com visão dos nevados da Cordilheira Huayhuash, mas na minha opinião os mais bonitos foram este de Carhuacocha e o Incahuayin, junto às lagunas Jahuacocha e Solteracocha, no sétimo dia de caminhada.
O jantar foi arroz com frango ensopado, mas para mim batatas. Depois sempre tinha um chá bem quente para espantar o frio, ou pelo menos tentar.
O banheiro ali era um buraco no chão com os lugares certos para colocar os pés, e ao lado um reservatório de água com uma vasilha para dar a "descarga". Casinha com duas portas.
Nesse dia caminhamos 16,8km.
A ÁGUA DURANTE O TREKKING
A questão da água para beber nesse trekking foi mais complicada do que eu imaginava. Em alguns dias havia água abundante, já em outros havia pouca água corrente ao longo do trajeto. Mas o problema é que sempre havia vacas, ovelhas, cavalos, além das pessoas que estavam passando ou que eram fixas. Com isso, tratar ou ferver a água era algo imprescindível. Eu não levei produtos para purificar a água pois não uso isso durante as travessias no Brasil. E não me agradava a idéia de usá-los durante oito dias seguidos. A solução foi aproveitar a água fervida (ou apenas esquentada, não sei) todos os dias para o chá e encher as minhas duas garrafinhas de 500ml para consumir ao longo do dia. Alguns colegas usavam Micropur Classic para tratar a água, disseram que é ótimo, porém deve-se esperar duas horas antes de bebê-la.
Yerupajá e Yerupajá Chico
01/08/15 - 3º DIA: DA LAGUNA CARHUACOCHA AO ACAMPAMENTO HUAYHUASH
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash3DiaPeruAgo15.
O frio desta noite foi intenso e pela manhã uma camada mais grossa de cristais de gelo cobria as barracas e todo o gramado. Mas a fonte de água não chegou a congelar. Felizmente estávamos no alto e logo o sol começou a nos aquecer.
Nesse dia começamos a caminhar às 7h16. Descemos até a extremidade leste da laguna, passamos pelos outros acampamentos, Teo pagou a nossa "protección" e contornamos a Laguna Carhuacocha por toda a face sul até entrar para um vale à esquerda (sul).
Pouco antes de atingir a Laguna Siulá fizemos uma pausa às 9h11 para quem quisesse subir ao mirante da Laguna Gangrajanca, alguns metros acima à direita. Quase todos subiram pois a vista vale todo o esforço. Essas duas lagunas fazem parte de um conjunto de três (com a Quesillococha, mais acima) que são um dos cartões postais de Huayhuash, de tão belas e fotografadas que são.
De volta à trilha principal, cruzamos às 10h04 o riacho que brota da Laguna Siulá e prosseguimos pela sua esquerda. Ali conhecemos um casal francês que estava fazendo um caminho alternativo e sem guia ou mulas, carregando todo o peso da comida e equipamentos nas costas. Estavam muito bem aclimatados e em ótima condição física!
Em determinado ponto às margens da Laguna Siulá a trilha quebra para a esquerda e se dirige para o Passo Siulá, 526m acima. Começamos a subida de verdade às 10h34. Essa foi bem cansativa também, na base do devagar-e-sempre, e por sorte o mirante das três lagunas está no meio dela para quebrar a ascensão em duas fases, com um bom descanso no mirante às 11h06 fotografando as belíssimas lagunas com os nevados ao fundo: Siulá, Yerupajá, Yerupajá Chico, Jirishanca e Jirishanca Chico.
Ali conheci o meu xará Rafael, de Porto Alegre, que estava fazendo um percurso um pouco diferente do nosso, com um guia particular. Conversamos pouco ali pois o meu grupo já estava de saída.
Mirante das 3 lagunas: Quesillococha, Siulá e Gangrajanca. Ao fundo nevados Jirishanca e Jirishanca Chico
Retomamos a subida às 11h38, cruzamos um vale mais plano e em seguida a subida final com muitas pedras soltas. Cheguei ao Passo Siulá às 12h23. Altitude de 4823m com a primeira visão dos nevados Carnicero (5960m) e Sarapo (6127m). Joel, nosso colega superativo, já estava voltando de um mirante acima do passo, e disse que valia a pena dar uma espiada. Continuei então pela crista à esquerda e fui até 4869m, num mirante que valeu mesmo o esforço extra. Além de uma outra laguna verde escondida entre as montanhas, tive a primeira visão dos nevados Trapecio (5644m) e Jurau (5650m).
De volta ao passo descemos menos de 200m para fazer o almoço pois no alto ventava muito. Às 13h38 retomamos a caminhada descendo o restante do passo. À nossa direita os impressionantes nevados Trapecio, Jurau, Carnicero, Siulá e Yerupajá. O grupo todo disparou na frente, ansiosos (não sei por quê) em chegar ao acampamento. Ficamos eu e o Tony para trás, junto com o Henry (assistente do guia), tentando identificar pelos mapas os nevados que podíamos avistar ao nosso lado. Sem nenhuma pressa, ainda paramos uns 20 minutos para descanso e fotos na Laguna Carnicero, às 14h47.
Cerca de 1km depois da laguna (às 15h32) uma outra trilha entroncou à esquerda, é a trilha pela qual vêm os burros e mulas já que a subida do Passo Siulá é mais arriscada para eles, podem cair e se machucar nas pedras. E também causar excesso de erosão na trilha íngreme. Cinco minutos depois já avistávamos do alto o acampamento Huayhuash. Foram mais 15 minutos de descida até ele. Cheguei às 16h. Altitude de 4357m. No fundo do vale (sul) tínhamos o Nevado Puscanturpa e a oeste o Jurau e Carnicero.
Nosso acampamento estava montado bem ao lado de um riacho de águas limpas e geladas. Nosso guia Teo pagou "protección" aqui também. Uma placa dá as boas vindas à comunidade de Tupac Amaru, porém ela fica a 5km dali por estrada.
Mais tarde reencontrei o Rafael de Porto Alegre e pudemos conversar mais. Soube que havia um grupo de quatro brasileiros também, mas não estavam ali no acampamento.
O jantar nesse dia foi arroz com lomo saltado. Para mim só o saltado, sem o lomo... risos. Tony, nosso amigo espanhol, perguntava a todos se estavam conseguindo dormir bem já que ele estava tendo bastante dificuldade.
O banheiro desse acampamento é requintado, tem vaso sanitário com caixa de descarga acoplada e ainda lavatório. Casinha com duas portas.
Nesse dia caminhamos 14,3km.
Trapecio
02/08/15 - 4º DIA: DO ACAMPAMENTO HUAYHUASH A ÁGUAS CALIENTES
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash4DiaPeruAgo15.
Esse foi o dia mais tranquilo do trekking, ou melhor seria dizer que foi o único dia tranquilo...
Deixamos o acampamento às 7h09 na direção sul subindo suavemente pela encosta esquerda de um grande vale. O sol já iluminava e aquecia quase todo o vale, porém boa parte da trilha ainda estava na sombra, então mantive as roupas mais quentes. Em trechos mais úmidos havia água congelada no chão, ou seja, a temperatura foi negativa novamente durante a madrugada. Subíamos tendo os nevados Jurau e Carnicero como sentinelas à nossa direita, um pouco distantes. Mais próximo estavam o belo Nevado Trapecio, que aqui tem forma piramidal, e o Nevado Puscanturpa. Às 8h10 o Oliver (nosso arrieiro) nos ultrapassou com a tropa.
Às 8h40 a trilha atravessa uma área de desmoronamento, com o caminho aberto entre grandes blocos de pedra, e às 9h05 chegamos ao Passo Portachuelo. Altitude de 4776m, com 419m de desnível desde o acampamento feito em duas horas, ou seja, um passo bem tranquilo comparado aos outros. Enquanto esperávamos os colegas para reagrupar, Robert e Annie subiram um morro próximo para ter uma visão mais panorâmica.
Às 9h33 continuamos escoltados pelo Puscanturpa à direita (oeste), porém a sudeste surge um outro conjunto de nevados apartado de Huayhuash, é a bela Cordilheira Raura, que ficará sob nosso olhar ainda até o dia seguinte. A descida do passo foi bem suave também, com a trilha apontando diretamente para o Nevado Millpo, bem distante.
Às 10h20 avistamos a grande Laguna Viconga, represa construída para gerar energia, segundo Teo. Em 20 minutos cheguei próximo às suas margens, porém a trilha passa bem acima da água. Pudemos caminhar pela trilha mais baixa, mas quando o nível da represa está mais alto é preciso tomar a direita numa bifurcação e caminhar pela trilha mais acima. A visão da laguna com o grande Nevado Leon Huacanan (da Cordilheira Raura) ao fundo é espetacular.
De uma forma ou de outra tivemos que subir e passar por um portão onde havia dois homens cobrando a "protección". Como eu estava sozinho, eles perguntaram o nome do meu guia e liberaram a passagem. Aproveitei para perguntar o nome dos nevados avistados: Cuyoc (5550m) e Puscanturpa (5442m) a noroeste e Pumarinri (5450m) a oeste (no dia seguinte passaríamos entre eles, no Passo Cuyoc).
Acampamento Águas Calientes
Após o portão a descida é inclinada e em ziguezagues em direção ao grande vale por onde corre o rio que extravasa da represa e desce furiosamente a íngreme encosta. Ao final da descida uma grande e caudalosa cachoeira. Depois o rio serpenteia vale abaixo um pouco mais manso e passa bem ao lado do acampamento Águas Calientes, aonde chegamos ao meio-dia em ponto. Altitude de 4369m, o acampamento mais alto do trekking segundo o meu gps. O dia realmente hoje foi fácil demais, uma forma de descansar para o que viria pela frente. Nesse dia deu até tempo de os cozinheiros prepararem um almoço quente, arroz com hambúrguer (ovo para mim).
O grande atrativo aqui, além das montanhas e do bonito rio, como o próprio nome já diz, são as piscinas de água quente. São três, a menor sendo usada para o banho completo, com sabonete e xampu, porém não havia vazão de água nela e o aspecto não era muito bom. A maioria foi direto para a piscina do meio, de temperatura bem agradável. A outra piscina grande estava com a água quente demais e ninguém conseguiu ficar. Aproveitei um tanque ao lado para lavar as minhas roupas, as quais secaram num instante por causa do vento e do ar seco.
Nesse acampamento havia vários grupos também, inclusive um pessoal da Bélgica que estava num esquema de muita mordomia. A equipe deles montou um banheiro privativo para eles não terem que usar o do acampamento, que foi o pior de todos: duas cabines de madeira sem porta e com um buraco fétido no chão.
Passamos o resto do dia descansando e curtindo aquele bonito lugar, primeiro nas piscinas, depois conversando na beira do rio. Robert, o inglês, sacou o seu pequeno violão para algumas bonitas canções intimistas. Joel, o suíço desinquieto, subiu uma montanha ao sul do acampamento só para não enferrujar os músculos ficando parado. Tony aproveitou para descansar e dormir um pouco, já que não estava conseguindo dormir à noite. No jantar estava até mais falante.
Encontrei o grupo de quatro brasileiros, todos de São Paulo (se não estou enganado), e conversamos rapidamente. Eles estavam com um guia brasileiro e um arrieiro para levar a maior parte do peso.
À noite o jantar foi espaguete com (poucos) legumes. Chá quente e cama!
Nesse dia caminhamos 11,5km.
Nevados Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero vistos do Mirador San Antonio
03/08/15 - 5º DIA: DE ÁGUAS CALIENTES A GUANACPATAY COM SUBIDA DO MIRADOR SAN ANTONIO
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash5DiaPeruAgo15.
O acampamento Águas Calientes foi o ponto extremo sul do nosso percurso. Para completar a volta ao redor da Cordilheira Huayhuash iniciamos gradualmente o retorno para o norte.
Começamos a caminhada do dia às 7h14 retornando pelo mesmo caminho do dia anterior até a ponte sobre o rio que vem da represa. Ali mudamos o rumo e tomamos a trilha que sobe a encosta na direção norte. Apesar de o sol já iluminar e aquecer todo o vale, essa subida foi toda na sombra, com muito frio.
Uma dica que deixo aqui é a seguinte: ao fazer esse trekking com o tempo firme e estável como pegamos, o melhor é sair do acampamento com o mínimo de roupa grossa possível, mesmo aguentando um pouco de frio no começo da caminhada. Se possível apenas uma segunda-pele e um fleece mais fino. Depois que se atinge o sol, todas as roupas quentes vão para a mochila de ataque, fazendo peso e volume para se carregar pelo resto do dia, um pequeno incômodo na minha opinião. Mas o impermeável precisa ficar na mochila de ataque sempre, pois nunca se sabe quando o tempo vai mudar, e ficar molhado num lugar frio como esse é um pulo para uma hipotermia.
Nessa subida para o Passo Cuyoc nosso amigo Tony ficou muito para trás (na verdade não o vi mais, como contarei mais à frente). Após um primeiro e longo aclive, vem um trecho plano emoldurado pelos lindos nevados Cuyoc e Puscanturpa. Ali ultrapassamos os quatro brasileiros e foi a última vez que os vi também. No segundo aclive, pouco inclinado, vai se formando atrás de nós uma linda visão panorâmica da Cordilheira Raura, aquela que conhecemos no dia anterior no Passo Portachuelo. À direita, é surpreendente a grossura das camadas de neve sobre o Nevado Cuyoc, parece que a montanha está coberta por um espesso chantilly. Por ali, às 9h30, o Oliver nos ultrapassou com os burros e mulas.
Às 9h43 cheguei ao impressionante e árido Passo Cuyoc, o ponto mais alto do trekking, com 5034m no meu gps. Desnível de 665m desde o acampamento, porém sem muita dificuldade. A visão para todos os lados é de cair o queixo, tudo maravilhosamente iluminado por um dia de sol e céu azul sem uma nuvem sequer. Uma recompensa por todo o esforço para se chegar até ali. A paisagem era tão inspiradora que nosso amigo Robert sentou-se para desenhar as montanhas em seu caderno de viagens.
Para trás (sudeste) tínhamos uma visão ainda mais ampla da Cordilheira Raura, à direita (nordeste) a montanha de chantilly sobre o Nevado Cuyoc, ao sul o cume duplo do Pumarinri e à nossa frente (noroeste) a vista grandiosa de um imenso vale com os nevados da Cordilheira Huayhuash à direita: Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero. Ali o nosso guia Teo nos apontou onde ficava o Mirador/Passo San Antonio, e já deu para ter uma idéia da dificuldade que seria subi-lo. O San Antonio não estava no nosso trajeto e sua subida era opcional.
A pior parte do Passo Cuyoc estava por vir: a sua descida. Uma pirambeira de pedras soltas num ziguezague que parecia não ter fim. Desci com cuidado para não torcer o pé nas pedras e levei 36 minutos para chegar ao vale. Apesar da dificuldade, alguns dispararam na frente.
No vale voltamos a ter visão do Nevado Trapecio, agora num outro ângulo. Às 11h03 paramos numa bifurcação. Quem fosse subir o San Antonio deveria descer a um outro vale à direita, quem não fosse subir seguiria em frente para o acampamento com Teo. Só Annie optou por não subir. Tony estava muito para trás, nem o vimos no passo, e Henry o acompanhava com o cavalo à disposição, se necessário. Seguimos portanto nós seis para o San Antonio sem guia.
Passo Cuyoc. À esquerda: Ancocancha (Rosario), Caramarca e Tsacra Chico. À direita: Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero
Eu parei um pouco na bifurcação para comer algo e me distanciei do pessoal. Atravessei o vale meio encharcado (que na época das chuvas deve virar uma lagoa) e alcancei o Or (um dos israelenses) no sopé da montanha onde se encontra o mirador, às 11h31. O sol já estava forte. Comecei a subir pela ladeira de pedras e meu coração disparou, sentindo uma ligeira falta de ar. Quase desisti ali mesmo, pensando se valia mesmo a pena subir até os 5000m de novo (estava a 4524m). Mas insisti e pensei em subir até o primeiro platô, um pasto com vacas, para ter uma visão melhor do caminho e avaliar. Ao chegar lá os outros estavam me esperando (menos Joel, que quis bater o recorde de um israelense que subiu em 34 minutos). Isso me animou a continuar, mesmo sem ver como seria o caminho até o topo. Desse platô subimos pela encosta esquerda do vale, primeiro por trilha depois por um leito pedregoso cujo córrego ainda tinha placas de gelo, mas sem ter que molhar a bota. Só no alto é que pudemos ver como ainda seria difícil a chegada ao mirador, com a trilha bastante inclinada. Continuamos pelo caminho bem marcado entre pedras até alcançar a subida final, que foi se tornando mais e mais íngreme até virar uma trilha em ziguezague, que era a forma de evitar escorregar para trás ao dar o passo.
Cheguei enfim ao Mirador San Antonio às 12h49, altitude de 5008m, ligeiramente mais baixo que o Passo Cuyoc pelo meu gps, porém isso varia por ser um altímetro barométrico, baseado na pressão atmosférica. E posso dizer que valeu a pena o esforço. É uma paisagem grandiosa, quase inacreditável, de tantos picos nevados e lagunas perdidas pelos vales abaixo deles. À direita temos o Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero. À esquerda, Jullutahuarco, Caramarca e Tsacra Chico. Lagunas Jurau, Santa Rosa e Sarapococha nos vales. Para trás o Passo Cuyoc e ali no alto só o nosso grupo, depois chegaram alguns israelenses.
Iniciamos a descida às 13h47 pelo mesmo caminho. Ao chegarmos ao primeiro platô (onde eles me esperaram) o Henry nos aguardava com o almoço. Depois terminamos de descer ao vale por um outro caminho, já na direção do acampamento (oeste). O grupo dos belgas acampou nesse vale, segundo o Henry eles iam subir o San Antonio e descer para o outro lado.
Continuamos descendo na direção oeste, passamos por casas construídas de pura pedra, e chegamos ao acampamento Guanacpatay às 16h13. Altitude de 4316m. Esse acampamento fica bastante isolado dentro do vale, apenas com essas casas de pedra a uma certa distância.
Mal cheguei e já soube que o guia Teo havia descido para a vila de Huayllapa levando o Tony, que se sentia extremamente cansado e com dores de cabeça mais fortes. Ele infelizmente estava saindo do trekking. Desde o começo ele dizia que tinha problemas à noite, não conseguia dormir, ao pegar no sono dava um pulo e acordava. Isso o deixava cansado, ficando sempre bem para trás do grupo. Nas subidas tinha bastante dificuldade, desde o primeiro passo no primeiro dia. Aquela noite ele dormiria em Huayllapa, depois em Cajatambo e só chegaria de volta a Huaraz dois dias depois. As rotas de fuga desse trekking são bastante complicadas. Teo ainda retornou naquela mesma noite ao acampamento.
O jantar foi arroz, purê de batata e ovo frito (veg para todos nesse dia).
O banheiro tinha vaso sanitário com caixa acoplada, ainda com assento e tampa. Luxo total. Era uma casinha com duas portas. Se não me engano havia um lavatório ao lado.
Nesse dia caminhamos 17,8km.
Diablo Mudo
04/08/15 - 6º DIA: DE GUANACPATAY A HUATIAC COM PARADA NA VILA DE HUAYLLAPA
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash6DiaPeruAgo15.
Deixamos o acampamento Guanacpatay às 7h04 e caminhamos bastante tempo por dentro do vale, sempre na sombra, com muito frio. Às 7h53, ao final desse vale, tivemos finalmente o calor do sol e uma bonita vista de outros vales bem mais abaixo, porém era o início de uma descida quase vertical onde foi preciso ir devagar e com cuidado. Logo vimos que estávamos descendo a encosta ao lado de uma grande cachoeira! E o fim da descida vertiginosa foi às margens do riacho que vinha dela, o Rio Guanacpatay.
Pausa para curtir o sol. Numa outra encosta para dentro do vale do Rio Calinca uma nuvem de poeira sinalizava que nossa tropa vinha por um outro caminho, já que aquele nosso seria muito arriscado para os animais.
Às 8h43 continuamos descendo pelo vale do Rio Huayllapa (resultado da junção dos rios Calinca e Guanacpatay) tendo-o à nossa direita a princípio, depois à nossa esquerda ao cruzar uma ponte onde a nossa tropa de burros e mulas nos ultrapassou. Paramos todos num portão onde Teo fez o pagamento da "protección" para a comunidade de Huayllapa. Dali já avistávamos a pequena vila mais abaixo e logo chegamos a uma bifurcação: subindo à direita o caminho para o acampamento Huatiac, descendo em frente a vila. O guia perguntou quem queria descer à vila e todos aceitaram. A princípio eu e outros não gostamos da idéia pois queríamos nos manter "longe da civilização" pelo máximo de tempo possível, imaginando que iríamos encontrar ali carros buzinando e outras neuroses do tipo (trauma de Huaraz), porém na vila só andamos por vielas em que nem cabem carros, e o lugar é tão primitivo que valeu a pena conhecer.
Paramos às 10h09 na Bodega Sol de Yerupajá para tomar algo gelado enquanto alguns colegas aproveitavam para recarregar as baterias de algum aparelho eletrônico. No salão dos fundos há dois interessantes mapas topográficos bem grandes na parede.
Saímos às 10h46 e subimos de volta à bifurcação para Huatiac, tomando a trilha que sobe à esquerda. E como sobe! E que sol forte estava! Dos 3509m de altitude da vila subimos direto até os 4012m, onde paramos para o almoço às 12h05. Robert já estava passando mal com a subida constante sob o sol tão quente.
Rio Huayllapa
Toda essa subida foi feita ao longo do vale do Rio Milo, que desce das montanhas. No princípio tínhamos o rio bem próximo, até o cruzamos em determinado ponto, e vimos bonitos poços de água cristalina e pequenas quedas. A direção geral da caminhada, que era oeste (grosso modo) desde a descida do Mirador San Antonio, passou a ser norte, o que se manteria até o meio do dia seguinte.
Após a pausa do almoço, retomamos a subida às 12h54. Mais acima cruzei pelas pedras um afluente do rio principal do vale e curiosamente encontrei uma senhora com roupas típicas, muito coloridas, andando pela trilha num local em que parecia não haver casa ou morador nenhum. Sua casa devia estar bem mais acima, mas numa outra direção. Será que eu já estava tendo alucinações? Culpa do mate de coca... kkkkk
Subi ainda mais um pouco e quando já pensava em parar para descansar a trilha nivelou e já pude avistar o acampamento Huatiac para dentro de um grande vale, a Quebrada Huancho. Cheguei a ele às 13h51, cruzando o Rio Huancho pelas pedras. O Henry se desequilibrou nessas pedras e caiu na água. Teve de trocar rapidamente as roupas molhadas.
Altitude de 4309m, exatamente 800m de desnível desde a vila de Huayllapa. No fundo desse vale o famoso Diablo Mudo (5223m), que algumas pessoas escalam durante o trekking, desde que contratado previamente com a agência pois é preciso levar equipamento para neve. A leste o Nevado Jullutahuarco.
Depois do habitual chá com pipoca da tarde, colocamos as cadeiras fora da tenda-refeitório para conversar aquecidos pelo sol. Porém à medida que o sol ia se escondendo atrás da montanha íamos mudando o círculo de conversa para mais longe do acampamento em busca do calor do sol e fugindo do frio da sombra. Até que desistimos pois todo o vale ficou na sombra.
O jantar foi espaguete com molho de tomate, em grande quantidade. Annie reclamou da carência de proteína na nossa alimentação e eles fritaram um ovo para ela.
Tivemos apenas um grupo como vizinhos esta noite, e foi um pessoal que chegou bem mais tarde pois fizeram um caminho diferente, pelas montanhas.
O banheiro desse acampamento é uma casinha com duas portas com vaso sanitário e descarga acoplada, porém só um deles estava em condições de uso, o outro estava entupido com papéis.
Nesse dia caminhamos 13,9km.
Diablo Mudo e Laguna Susucocha
05/08/15 - 7º DIA: DE HUATIAC AO ACAMPAMENTO INCAHUAYIN/JAHUACOCHA
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash7DiaPeruAgo15.
Como ninguém do grupo ia escalar o Diablo Mudo, saímos todos juntos às 7h11.
Esse dia para mim foi bastante desgastante, em parte pelo cansaço acumulado dos últimos dois dias e em parte por ter tido uma noite muito ruim, sem conseguir dormir depois da 1h da madrugada. E por falta de sorte foi um dia pesado, principalmente por causa do Passo Yaucha.
A subida para o Passo Tapush não foi difícil, mas me cansei bastante mesmo assim. Grande parte dela foi feita pela sombra, com muito frio. Cheguei ao passo às 8h51. Altitude de 4770m, desnível de 461m desde Huatiac. Joel, o agitado, já estava no topo de uma montanha bem alta próxima, para espanto até do guia.
Iniciamos a descida às 9h24 e logo fomos ultrapassados pela nossa poeirenta tropa. A bela Laguna Susucocha, à nossa direita, rendeu boas fotos. Após a laguna, a descida se torna bem mais inclinada e com muitas pedras soltas, até alcançarmos no vale o acampamento Gashpapampa, sem nenhuma barraca, apenas uma placa dando as boas vindas e uma cabine metálica que deve ser o banheiro.
Às 10h11 nos deparamos com um imenso vale bem à frente. Nessa hora a direção da caminhada muda de norte para leste para adentrarmos o vale em direção às cabeceiras. É a Quebrada Angocancha. A boa surpresa são os bonitos bosques de queñuales, árvores que desprendem a casca como um papel. A má notícia é a visão do Passo Yaucha, muito acima de nós, fechando a cabeceira do vale. Da encosta sul (à direita) em que estávamos passamos para a encosta norte do vale atravessando o Rio Angocancha pelas pedras, onde Teo pagou mais uma "protección".
O grupo estava por ali descansando e se preparando para a difícil subida do passo. Eu, como vinha por último, mal cheguei e todos já partiram, não descansei. Aliás nesse dia eu substituí o Tony como companhia para o Henry na rabeira do grupo. Aproveitei para exercitar meu portunhol conversando com ele, fazer o quê?
E lá vamos nós para o Passo Yaucha! Segui no meu passo devagar-e-sempre mas tive que parar uma vez e sentar numa pedra para descansar um pouco. O Henry me oferecia o cavalo o tempo todo mas quem subiu montado nele foi mesmo o Or.
Ninashanca, Rondoy, Jirishanca, Yerupajá Chico e Yerupajá vistos do Passo Yaucha
Cheguei ao Passo Yaucha às 11h45, altitude de 4838m, e não sabia se sentava ou se continuava andando por inércia. Não foi fácil! Permaneci alguns minutos no topo e logo descemos um pouco para o almoço num gramado logo abaixo.
A visão da Cordilheira Huayuash era espetacular, com a face oeste das montanhas que vimos nos primeiros dias: Ninashanca, Rondoy, Jirishanca, Yerupajá Chico, Yerupajá, Rasac e Siulá.
Retomamos a caminhada às 12h38, agora descendo tudo o que subimos. Oh, vida besta! Risos. Voltamos à direção geral norte. Durante toda a descida a vista para os nevados da cordilheira era espetacular, com muitas paradas para fotos, o que me distanciou completamente do restante do grupo, sempre afoito para chegar ao acampamento (e passar o resto do dia fazendo nada). Lá atrás éramos eu, o Henry e o Pajarito (o cavalo de emergência).
Às 14h uma das mais lindas paisagens de todo o trekking, como já disse anteriormente: a vista do acampamento Incahuayin com as duas lagunas, Jahuacocha e Solteracocha, e os nevados Ninashanca, Rondoy e Jirishanca ao fundo. Momento sublime!
A descida foi por uma superpoeirenta trilha em ziguezague até o vale e depois uma breve caminhada por ele até o acampamento Incahuayin/Inka Wain (também chamado de Jahuacocha, pelo nome da laguna), aonde cheguei às 14h30. Altitude de 4082m, o acampamento mais baixo do trekking. Pela primeira vez tive de me deitar ao chegar para tentar dormir um pouco. Quase não fui à sessão de chá com pipoca da tarde. Mas fiz um esforço e fui tomar o chá com Joel, que já estava de volta de um passeio pelas duas lagunas e a tentativa de subir ainda a outra que ficava aos pés dos nevados. Haja energia!
Este acampamento estava relativamente cheio, com diversos grupos terminando ou iniciando o circuito. Algumas pessoas pescavam trutas no límpido e gelado rio. Reencontrei o Rafael gaúcho e contamos nossas aventuras e dificuldades durante o trekking, cujos trajetos foram bem diferentes.
Nosso último jantar foi sopa de entrada (como sempre) e um pratão de arroz, tomate, beterraba, batata frita e croquetes. De novo veg para todo mundo (e desespero da Annie, pela falta de proteína).
Esse acampamento tinha dois banheiros. O do nosso lado do rio era bem ruim: duas cabines de metal sem porta e com um buraco fétido no chão. Do outro lado do rio duas cabines de madeira com uma bancadinha para se sentar, uma delas com assento plástico. Bem melhor!
Nesse dia caminhamos 15,9km.
Yerupajá Chico, Yerupajá, Rasac, Tsacra Chico e Tsacra Grande
06/08/15 - 8º DIA: DE INCAHUAYIN/JAHUACOCHA A POCPA
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash8DiaPeruAgo15.
Saímos do acampamento para o nosso último dia de caminhada um pouco mais cedo, às 6h51. Nossa direção era oposta às lagunas, como que saindo do vale. Cruzamos então a ponte do Rio Achin (que brota das lagunas) e fomos na direção oeste até o pé da encosta à direita, lado oposto ao que descemos no dia anterior. Tomamos a direita numa bifurcação logo após um portão e em seguida começamos a subir a íngreme encosta. Se tivéssemos ido para a esquerda, pela trilha mais larga, sairíamos em Llamac.
Nesse dia me sentia bem melhor, resultado da soneca da tarde anterior e da noite mais bem dormida. Durante a madrugada fez menos frio também.
Na subida da encosta uma nota muito triste. Paramos um pouco junto às pedras que foram colocadas no exato local onde um rapaz israelense de 24 anos havia morrido duas semanas antes em seu último dia de trekking. E o guia era o próprio Teo, que nos contou que o rapaz parecia não estar bem desde o primeiro dia, pedindo sempre o cavalo. Talvez tivesse algum problema de pulmão, uma bronquite ou algo assim. Era uma suposição.
Continuamos a subida e só alcançamos o sol às 8h25, todo esse tempo caminhamos pela sombra gelada. Olhando para trás temos a última visão espetacular nesse trekking recheado de tantas paisagens belíssimas. O sol inundando o vale e iluminando a grande cordilheira com as montanhas que foram os protagonistas desses nossos oito dias de aventura: Rondoy, Jirishanca, Yerupajá Chico, Yerupajá, Rasac, Tsacra Chico e Tsacra Grande.
Chegamos ao Passo Shulca, o último passo do trekking, às 8h55. Altitude de 4559m, desnível de 477m desde o acampamento. De lá do alto já era possível ver a pequena Pocpa, muito abaixo de nós, no fundo do vale do Rio Llamac.
Iniciamos a descida às 9h13 e parecia não ter fim nunca mais aquele ziguezague montanha abaixo. Não paramos nenhuma vez, os ligeirinhos como sempre sumiram na frente. Eu fiquei na retaguarda com Henry, logo atrás de Teo e Annie. As partes mais bonitas dessa descida são os densos bosques de queñuales.
Às 11h22 finalmente alcançamos a vila de Pocpa, onde no início do trekking fizemos uma parada para carregar a van e conhecemos nossos guias. Altitude de 3498m, simplesmente 1061m de descida! Ali um almoço nos esperava. Depois fotos do grupo todo, infelizmente sem o nosso amigo Tony, e zarpar para Huaraz. Annie ficou por lá pois ia continuar sua cicloviagem pelo Peru. A entrega da gorjeta para a nossa equipe ficou a cargo de cada um, de acordo com o valor que achasse justo.
Partimos logo depois do meio-dia, passamos novamente por Llamac, Chiquian, Catac e outros vilarejos até chegar a Huaraz às 15h48. A van deixou cada um em seu hostel e eu fiquei nas imediações da Plaza de Armas para procurar um hostel melhor e mais central do que o Santa Cruz Trek Hostel.
Nesse dia caminhamos 10,7km.
Total do Circuito Huayhuash: 100,9km.
Eu, Or, Yoav, Joel, Ofri, Robert, Oliver (arrieiro), Henry (guia). À frente: Annie e Teo (guia)
Informações adicionais:
Mapas em escala 1:70.000 do Ministério da Educação:
. de Cuartelwain ao Passo Cacananpunta: http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367926/ugel_bolognesi_2018.pdf
. do Passo Cacananpunta ao Passo Portachuelo: http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367933/ugel_lauricocha_2018.pdf
. do Passo Portachuelo ao Passo Tapush: http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367939/ugel_11_cajatambo_2018.pdf
. do Passo Tapush a Pocpa: http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367926/ugel_bolognesi_2018.pdf
Alguns sites de agências de Huaraz que fazem o trekking Huayhuash:
. www.monttrek.com.pe
. www.andeanskyexpedition.com
. www.galaxia-expeditions.com
. www.schelerhuayhuashtrek.com
. www.andesexplorerperu.com
. www.enjoyhuayhuash.com
. www.miradortourshuaraz.com
. www.k2-peru.com
. www.activeperu.com
Não vou indicar nenhuma agência pois penso que cada um deve procurar os serviços que estiverem dentro das suas expectativas e do seu orçamento. O nosso trekking foi perfeito, serviço muito bom, mas tem gente que prefere mais privacidade, caminhando num grupo bem reduzido ou mesmo somente com o guia e arrieiro. Outros preferem fazer em 9, 10 ou até 12 dias, com menos caminhada por dia e mais tempo para curtir os lugares. Vale a pena fazer contato com as agências acima e escolher o trekking que melhor se encaixar no que você procura
Sem querer assustar ou desanimar ninguém, acho bastante recomendável consultar um cardiologista ou clínico geral para exames básicos, principalmente de coração e pulmão, antes de partir para um trekking como esse. As condições lá são muito diferentes do que temos aqui no Brasil. A altitude, a baixa temperatura e o ar extremamente seco podem causar sérios problemas de saúde a quem esteja vulnerável ou agravar algum problema que já se tenha. Não custa nada se precaver. Em caso de uma emergência durante o trekking as condições de resgate são precárias e demoradas demais, e mesmo as rotas de fuga são bastante complicadas. Quem leu o relato até o final sabe por que estou falando isso. Pense seriamente nisso!
Rafael Santiago
agosto/2015
Para informações sobre a viagem do Brasil a Huaraz e sobre o período de aclimatação que fiz, leia o meu relato em http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2015/09/lagunas-69-churup-willcacocha-e-aguak.html.
Depois de testar a minha adaptação à altitude em três caminhadas de uma dia acima de 4400m, e ter por sorte uma excelente aclimatação, era hora de encarar o meu grande objetivo nessa viagem ao Peru: o Circuito Huayhuash em 8 dias.
Nas agências de Huaraz esse trekking é proposto para 8 dias (ou mais, se o cliente quiser e puder bancar), mas na realidade caminha-se 6 dias e meio, com o primeiro dia todo tomado pelo deslocamento até o primeiro acampamento, bem distante de Huaraz (quase 4h de viagem), e o último dia resumido a 4h30 de caminhada apenas, com o deslocamento de volta no restante do dia.
O trajeto é todo ao redor da Cordilheira Huayhuash, ao sul da Cordilheira Blanca, nas imediações da cidade de Chiquian. O sentido mais comum é o horário, com início no acampamento Cuartelwain e o final variando entre as localidades de Pocpa e Llamac. Encontramos porém grupos fazendo no sentido anti-horário.
Eu paguei 700 soles (US$ 222) por esse trekking pela agência Monttrek, de Huaraz. Os integrantes do meu grupo pagaram preços entre 450 e 650 soles através de outras agências ou pelo hostel onde estavam hospedados. No fim o serviço foi todo prestado pela agência Enjoy Huayhuash.
Estava incluído no preço o guia, o assistente e o arrieiro (condutor da tropa de animais). Todos eles cozinhavam e havia cinco refeições/lanches por dia. Também as barracas, isolantes, sacos de dormir, a tenda-cozinha e a tenda-refeitório, tudo carregado por uma tropa de cinco burros e duas mulas, além de um cavalo de emergência. O deslocamento de/para Huaraz também estava incluído.
Laguna Gangrajanca com nevados Jirishanca e Jirishanca Chico
SOBRE O FRIO E AS ROUPAS
Nos oito dias de trekking tivemos dias bastante ensolarados. O sol é muito forte, um protetor solar é indispensável, porém o ar é sempre frio, o que se percebe quando sopra o vento ou quando caminhamos na sombra. Durante o dia portanto eu caminhava sempre com calça de tactel e segunda-pele de manga longa de lã de merino lightweight, no mínimo. Às vezes vestia um fleece fino ainda. Alguns colegas suportavam melhor o ar frio e caminhavam de manga curta.
No começo do dia muitas vezes caminhávamos um longo tempo pela sombra, dentro de um vale, e o frio da manhã era intenso. Nessas condições eu saía do acampamento com as duas blusas de fleece que tinha usado para dormir, uma mais fina e outra mais grossa (Polartec), além da segunda-pele de manga longa de lã de merino. Ainda gorro e luvas de fleece.
No fim do dia, quando o sol sumia atrás das montanhas, a temperatura despencava muito rapidamente. Eu vestia sobre a segunda-pele as duas blusas de fleece e mais uma jaqueta impermeável/respirável para reter o calor. Para as pernas levei uma calça segunda-pele de lã de merino midweight para colocar sob a calça de tactel, mas não foi suficiente, sempre sentia muito frio nas pernas. Tentava reter o calor com uma calça impermeável/respirável. Além disso gorro e luvas de fleece.
Durante a madrugada, a temperatura sempre caía abaixo de zero, o que podia ser conferido na quantidade maior ou menor de cristais de gelo na parte externa da barraca todas as manhãs. Eu levei um saco de dormir Marmot Alpha, de pluma de ganso, de especificação: conforto 2,6ºC, limite -2,8ºC e extremo -19ºC. Em algumas noites ele não foi suficiente, principalmente nas pernas, e tive de usar além dele um Deuter Orbit +5 de especificação: conforto 9ºC, limite 5ºC e extremo -9ºC. Aí sim dormia bem aquecido.
Acampamento Cuartelwain. À esquerda: Jirishanca, Ninashanca, Rondoy e Rasac
30/07/15 - 1º DIA: DE HUARAZ AO ACAMPAMENTO CUARTELWAIN
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash1DiaPeruJul15.
Às 8h15 a van passou no hostel para me apanhar. Fui o primeiro a entrar, mas logo comecei a conhecer meus companheiros de (longa) caminhada: Annie (americana de 55 anos), Joel (suíço de 37 anos), Antônio (Tony, espanhol de 56 anos), Robert (inglês de 27 anos), Ofri (israelense de 25 anos), Or (israelense de 26 anos) e Yoav (israelense de 28 anos).
Saindo de Huaraz no sentido sul a primeira parada foi no povoado de Catac para comprar guloseimas de última hora e usar os baños (banheiros). Em seguida uma longa viagem passando pela cidade de Chiquian, onde trocamos o asfalto pelas poeirentas e pedregosas estradas de terra, depois Llamac e uma parada em Pocpa. Ali conhecemos o nosso guia Teo e seu assistente Henry, e seguimos de van até o acampamento Cuartelwain.
Em Llamac e Pocpa pagamos as primeiras taxas de "protección", num total de 30 soles. Na verdade, é um pedágio que as comunidades cobram ao longo de todo o percurso do circuito, o que totaliza 195 soles. Nosso guia Teo recolheria na manhã seguinte o valor restante de 165 soles de cada um para tornar mais ágil o pagamento durante a caminhada. Lembrando que toda essa área pertence a particulares, não faz parte de nenhum parque nacional.
Em Cuartelwain, às 14h10, as barracas e tendas foram rapidamente montadas. Altitude de 4172m. Tivemos nosso primeiro contato visual com as montanhas nevadas de Huayhuash, porém ainda bem discretas diante do que estava por vir. Quando o sol desapareceu atrás das montanhas, tivemos nossa primeira amostra do que seria o frio dentro dos vales. E muito mais depois, durante a noite e madrugada.
O jantar sempre tinha sopa como entrada, todos os dias uma sopa diferente. O prato principal nessa primeira noite foi peixe frito, supostamente truta. Eu, evitando comer carne durante o trekking, fiquei no ovo frito mesmo. Depois chá bem quente e dormir para se preparar para o início da caminhada.
As refeições foram todas fartas e com possibilidade de repetir quando quisesse. A enorme porção de arroz que vinha no prato era um tormento para os colegas europeus, não acostumados a isso, mas para mim, brasileiro, era uma quantidade que podia dar conta. Só sentia falta de um pouco de feijão para acompanhar tamanha quantidade de arroz.
Uma novidade para mim nesse trekking (muito diferente do Monte Roraima) foi a existência de banheiros em todos os acampamentos, uns muito bons (e até limpos) e outros sem condições de uso. Em Cuartelwain havia uma casinha com quatro portas, mas apenas duas estavam abertas. Lá dentro vaso sanitário com caixa de descarga acoplada. Um luxo!
Nevados Siulá e Yerupajá
ACLIMATAÇÃO: COMO MEU ORGANISMO REAGIU À ALTITUDE
Planejei essa viagem reservando quatro dias de aclimatação à altitude antes de iniciar o Circuito Huayhuash. Seriam quatro trekkings de um dia com altitudes de até 4600m retornando a Huaraz para dormir. O relato dessas caminhadas está em http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2015/09/lagunas-69-churup-willcacocha-e-aguak.html.
Como seria minha primeira experiência de caminhada acima dos 3000m estava preparado para tudo, inclusive a possibilidade de meu organismo reagir de forma muito negativa nesses quatro dias e eu nem tentar fazer o circuito. Logo na primeira noite em Huaraz comecei a minha dieta de mate de coca para ajudar na aclimatação. Não sei se foi bom, tem gente que diz que é placebo, mas sei que felizmente tive uma excelente aclimatação durante os quatro dias, sentindo apenas um pouco de dor de cabeça no primeiro dia, na Laguna 69.
Por recomendação médica, não utilizei os medicamentos Diamox e Decadron, que supostamente ajudam na aclimatação. Durante a caminhada, continuei tomando o mate de coca duas vezes por dia, feito da infusão da própria folha, que eu mastigava depois.
O problema que eu tive durante o circuito, que começou leve nos primeiros dias e depois foi piorando, foi com relação ao sono. Dormia das 20h até por volta de 0h30 ou 1h da madrugada e acordava com o nariz tampado. Dali em diante não dormia direito ou não conseguia dormir mais, mesmo assuando o nariz várias vezes para desobstrui-lo. Ao deitar o nariz entupia de novo e não conseguia pegar no sono. A noite maldormida tinha consequências no dia seguinte já que não estava suficientemente descansado para enfrentar o dia puxado de caminhada.
Carnicero, Siulá, Yerupajá e Yerupajá Chico
31/07/15 - 2º DIA: DE CUARTELWAIN À LAGUNA CARHUACOCHA
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash2DiaPeruJul15.
Nossa rotina pela manhã seria igual todos os dias: às 6h30 todos tinham que estar na tenda-refeitório tomando o desayuno, com as respectivas barracas vazias e as mochilas cargueiras entregues ao arrieiro. Às 7h todos com as mochilas de ataque nas costas para iniciar a caminhada, faça o frio que fizer. E como fazia! Às vezes arrumava a mochila sem sentir os dedos das mãos. Um pacotinho com o lanche de trilha do dia era entregue a cada um antes de iniciar a caminhada.
Nesse dia nosso guia Teo não foi tão rígido e começamos a andar às 7h17. Adentramos o vale gelado no sentido nordeste por 22 minutos e começamos a subida da encosta à nossa direita em direção ao primeiro passo do dia, o Cacananpunta. A subida foi longa e cansativa, quase toda feita na sombra e no frio. Eu mantive o meu passo devagar-e-sempre: devagar para não sentir falta de ar e chegar a uma respiração estável, e sempre pois não fazia paradas para não ter de iniciar o trabalho de respiração de novo.
Alguns colegas consideraram esse passo um dos mais difíceis, alguns já ficaram bem para trás. Vencido o desnível de 508m, cheguei ao Passo Cacananpunta às 9h. Altitude de 4680m. Parada para se aquecer ao sol e contemplar o imenso vale à nossa frente, o qual iríamos contornar pela direita. Às 9h36 começamos a descida do passo, toda em ziguezagues também. Cruzamos com um ou mais grupos que estavam fazendo a caminhada no sentido anti-horário. Às 9h52 a longa descida teve fim próximo a uma cruz fincada em homenagem ao alpinista polonês Radoslaw Koscinski, que morreu explorando as nascentes do Rio Amazonas-Maranhão na Cordilheira Huayhuash em 1998. Por incrível que pareça estamos na bacia do Rio Amazonas!
Seguimos pela encosta direita do grande vale avistado do passo até alcançar uma placa de boas vindas ao "melhor trekking do mundo". Nesse ponto a trilha quebra de leste para sul e temos a primeira empolgante visão dos nevados da Cordilheira Huayhuash: Jirishanca Chico, Yerupajá, Jirishanca, Rondoy e Ninashanca. Parada para fotos, claro, já que o dia estava espetacular!
Às 11h alcançamos o posto de "protección" de Janca (pronuncia-se ranca). Há inclusive um portão de ferro para intimidar quem porventura não queira pagar o pedágio. Nosso guia Teo já havia recolhido o valor total dos pedágios de cada um e o pagamento então ocorreu sob sua responsabilidade. Assim, todos aproveitamos para descansar um pouco e mastigar algum lanche.
Jirishanca Chico, Yerupajá, Jirishanca, Rondoy e Ninashanca
Liberada a nossa passagem, cruzamos o Rio Janca e começamos a longa e suave subida para o Passo Carhuac ao sul. Infelizmente não estava no nosso percurso a Laguna Mitucocha. No meio da subida paramos para o almoço, às 11h44. Tony, nosso amigo espanhol, já dava sinais de cansaço e reclamava de uma dor no joelho. Findo o almoço, às 12h35 continuamos a lenta subida ao Passo Carhuac, aonde cheguei às 13h30. Altitude de 4628m. No passo e na descida que se seguiu, à nossa direita vão surgindo mais próximos os altos e majestosos picos nevados da cordilheira, até que às 14h50 temos de um mirante à direita da trilha a estonteante visão da Laguna Carhuacocha aos pés dos principais picos da cordilheira. Entre eles o Yerupajá Grande, 6634m de altitude, segunda montanha mais alta do Peru (só perde para o Huascarán, 6768m). Após alguns minutos de admiração da magnífica paisagem, bastou descer pela face norte da laguna até o acampamento, aonde cheguei às 15h20. Altitude de 4196m.
Nosso acampamento estava montado na parte alta da face norte, próximo a uma fonte de água e dos banheiros. Tínhamos apenas um grupo vizinho. Porém nas margens da lagoa, bem abaixo de nós, havia diversos outros grupos acampados. A visão dali para a cordilheira era ainda mais ampla e pudemos identificar, além do Yerupajá Grande, o Siulá (6344m), o Yerupajá Chico (6121m), o Jirishanca (6094m) e o Jirishanca Chico (5445m).
Todos os acampamentos do trekking foram em lugares de grande beleza, sempre com visão dos nevados da Cordilheira Huayhuash, mas na minha opinião os mais bonitos foram este de Carhuacocha e o Incahuayin, junto às lagunas Jahuacocha e Solteracocha, no sétimo dia de caminhada.
O jantar foi arroz com frango ensopado, mas para mim batatas. Depois sempre tinha um chá bem quente para espantar o frio, ou pelo menos tentar.
O banheiro ali era um buraco no chão com os lugares certos para colocar os pés, e ao lado um reservatório de água com uma vasilha para dar a "descarga". Casinha com duas portas.
Nesse dia caminhamos 16,8km.
A ÁGUA DURANTE O TREKKING
A questão da água para beber nesse trekking foi mais complicada do que eu imaginava. Em alguns dias havia água abundante, já em outros havia pouca água corrente ao longo do trajeto. Mas o problema é que sempre havia vacas, ovelhas, cavalos, além das pessoas que estavam passando ou que eram fixas. Com isso, tratar ou ferver a água era algo imprescindível. Eu não levei produtos para purificar a água pois não uso isso durante as travessias no Brasil. E não me agradava a idéia de usá-los durante oito dias seguidos. A solução foi aproveitar a água fervida (ou apenas esquentada, não sei) todos os dias para o chá e encher as minhas duas garrafinhas de 500ml para consumir ao longo do dia. Alguns colegas usavam Micropur Classic para tratar a água, disseram que é ótimo, porém deve-se esperar duas horas antes de bebê-la.
Yerupajá e Yerupajá Chico
01/08/15 - 3º DIA: DA LAGUNA CARHUACOCHA AO ACAMPAMENTO HUAYHUASH
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash3DiaPeruAgo15.
O frio desta noite foi intenso e pela manhã uma camada mais grossa de cristais de gelo cobria as barracas e todo o gramado. Mas a fonte de água não chegou a congelar. Felizmente estávamos no alto e logo o sol começou a nos aquecer.
Nesse dia começamos a caminhar às 7h16. Descemos até a extremidade leste da laguna, passamos pelos outros acampamentos, Teo pagou a nossa "protección" e contornamos a Laguna Carhuacocha por toda a face sul até entrar para um vale à esquerda (sul).
Pouco antes de atingir a Laguna Siulá fizemos uma pausa às 9h11 para quem quisesse subir ao mirante da Laguna Gangrajanca, alguns metros acima à direita. Quase todos subiram pois a vista vale todo o esforço. Essas duas lagunas fazem parte de um conjunto de três (com a Quesillococha, mais acima) que são um dos cartões postais de Huayhuash, de tão belas e fotografadas que são.
De volta à trilha principal, cruzamos às 10h04 o riacho que brota da Laguna Siulá e prosseguimos pela sua esquerda. Ali conhecemos um casal francês que estava fazendo um caminho alternativo e sem guia ou mulas, carregando todo o peso da comida e equipamentos nas costas. Estavam muito bem aclimatados e em ótima condição física!
Em determinado ponto às margens da Laguna Siulá a trilha quebra para a esquerda e se dirige para o Passo Siulá, 526m acima. Começamos a subida de verdade às 10h34. Essa foi bem cansativa também, na base do devagar-e-sempre, e por sorte o mirante das três lagunas está no meio dela para quebrar a ascensão em duas fases, com um bom descanso no mirante às 11h06 fotografando as belíssimas lagunas com os nevados ao fundo: Siulá, Yerupajá, Yerupajá Chico, Jirishanca e Jirishanca Chico.
Ali conheci o meu xará Rafael, de Porto Alegre, que estava fazendo um percurso um pouco diferente do nosso, com um guia particular. Conversamos pouco ali pois o meu grupo já estava de saída.
Mirante das 3 lagunas: Quesillococha, Siulá e Gangrajanca. Ao fundo nevados Jirishanca e Jirishanca Chico
Retomamos a subida às 11h38, cruzamos um vale mais plano e em seguida a subida final com muitas pedras soltas. Cheguei ao Passo Siulá às 12h23. Altitude de 4823m com a primeira visão dos nevados Carnicero (5960m) e Sarapo (6127m). Joel, nosso colega superativo, já estava voltando de um mirante acima do passo, e disse que valia a pena dar uma espiada. Continuei então pela crista à esquerda e fui até 4869m, num mirante que valeu mesmo o esforço extra. Além de uma outra laguna verde escondida entre as montanhas, tive a primeira visão dos nevados Trapecio (5644m) e Jurau (5650m).
De volta ao passo descemos menos de 200m para fazer o almoço pois no alto ventava muito. Às 13h38 retomamos a caminhada descendo o restante do passo. À nossa direita os impressionantes nevados Trapecio, Jurau, Carnicero, Siulá e Yerupajá. O grupo todo disparou na frente, ansiosos (não sei por quê) em chegar ao acampamento. Ficamos eu e o Tony para trás, junto com o Henry (assistente do guia), tentando identificar pelos mapas os nevados que podíamos avistar ao nosso lado. Sem nenhuma pressa, ainda paramos uns 20 minutos para descanso e fotos na Laguna Carnicero, às 14h47.
Cerca de 1km depois da laguna (às 15h32) uma outra trilha entroncou à esquerda, é a trilha pela qual vêm os burros e mulas já que a subida do Passo Siulá é mais arriscada para eles, podem cair e se machucar nas pedras. E também causar excesso de erosão na trilha íngreme. Cinco minutos depois já avistávamos do alto o acampamento Huayhuash. Foram mais 15 minutos de descida até ele. Cheguei às 16h. Altitude de 4357m. No fundo do vale (sul) tínhamos o Nevado Puscanturpa e a oeste o Jurau e Carnicero.
Nosso acampamento estava montado bem ao lado de um riacho de águas limpas e geladas. Nosso guia Teo pagou "protección" aqui também. Uma placa dá as boas vindas à comunidade de Tupac Amaru, porém ela fica a 5km dali por estrada.
Mais tarde reencontrei o Rafael de Porto Alegre e pudemos conversar mais. Soube que havia um grupo de quatro brasileiros também, mas não estavam ali no acampamento.
O jantar nesse dia foi arroz com lomo saltado. Para mim só o saltado, sem o lomo... risos. Tony, nosso amigo espanhol, perguntava a todos se estavam conseguindo dormir bem já que ele estava tendo bastante dificuldade.
O banheiro desse acampamento é requintado, tem vaso sanitário com caixa de descarga acoplada e ainda lavatório. Casinha com duas portas.
Nesse dia caminhamos 14,3km.
Trapecio
02/08/15 - 4º DIA: DO ACAMPAMENTO HUAYHUASH A ÁGUAS CALIENTES
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash4DiaPeruAgo15.
Esse foi o dia mais tranquilo do trekking, ou melhor seria dizer que foi o único dia tranquilo...
Deixamos o acampamento às 7h09 na direção sul subindo suavemente pela encosta esquerda de um grande vale. O sol já iluminava e aquecia quase todo o vale, porém boa parte da trilha ainda estava na sombra, então mantive as roupas mais quentes. Em trechos mais úmidos havia água congelada no chão, ou seja, a temperatura foi negativa novamente durante a madrugada. Subíamos tendo os nevados Jurau e Carnicero como sentinelas à nossa direita, um pouco distantes. Mais próximo estavam o belo Nevado Trapecio, que aqui tem forma piramidal, e o Nevado Puscanturpa. Às 8h10 o Oliver (nosso arrieiro) nos ultrapassou com a tropa.
Às 8h40 a trilha atravessa uma área de desmoronamento, com o caminho aberto entre grandes blocos de pedra, e às 9h05 chegamos ao Passo Portachuelo. Altitude de 4776m, com 419m de desnível desde o acampamento feito em duas horas, ou seja, um passo bem tranquilo comparado aos outros. Enquanto esperávamos os colegas para reagrupar, Robert e Annie subiram um morro próximo para ter uma visão mais panorâmica.
Às 9h33 continuamos escoltados pelo Puscanturpa à direita (oeste), porém a sudeste surge um outro conjunto de nevados apartado de Huayhuash, é a bela Cordilheira Raura, que ficará sob nosso olhar ainda até o dia seguinte. A descida do passo foi bem suave também, com a trilha apontando diretamente para o Nevado Millpo, bem distante.
Às 10h20 avistamos a grande Laguna Viconga, represa construída para gerar energia, segundo Teo. Em 20 minutos cheguei próximo às suas margens, porém a trilha passa bem acima da água. Pudemos caminhar pela trilha mais baixa, mas quando o nível da represa está mais alto é preciso tomar a direita numa bifurcação e caminhar pela trilha mais acima. A visão da laguna com o grande Nevado Leon Huacanan (da Cordilheira Raura) ao fundo é espetacular.
De uma forma ou de outra tivemos que subir e passar por um portão onde havia dois homens cobrando a "protección". Como eu estava sozinho, eles perguntaram o nome do meu guia e liberaram a passagem. Aproveitei para perguntar o nome dos nevados avistados: Cuyoc (5550m) e Puscanturpa (5442m) a noroeste e Pumarinri (5450m) a oeste (no dia seguinte passaríamos entre eles, no Passo Cuyoc).
Acampamento Águas Calientes
Após o portão a descida é inclinada e em ziguezagues em direção ao grande vale por onde corre o rio que extravasa da represa e desce furiosamente a íngreme encosta. Ao final da descida uma grande e caudalosa cachoeira. Depois o rio serpenteia vale abaixo um pouco mais manso e passa bem ao lado do acampamento Águas Calientes, aonde chegamos ao meio-dia em ponto. Altitude de 4369m, o acampamento mais alto do trekking segundo o meu gps. O dia realmente hoje foi fácil demais, uma forma de descansar para o que viria pela frente. Nesse dia deu até tempo de os cozinheiros prepararem um almoço quente, arroz com hambúrguer (ovo para mim).
O grande atrativo aqui, além das montanhas e do bonito rio, como o próprio nome já diz, são as piscinas de água quente. São três, a menor sendo usada para o banho completo, com sabonete e xampu, porém não havia vazão de água nela e o aspecto não era muito bom. A maioria foi direto para a piscina do meio, de temperatura bem agradável. A outra piscina grande estava com a água quente demais e ninguém conseguiu ficar. Aproveitei um tanque ao lado para lavar as minhas roupas, as quais secaram num instante por causa do vento e do ar seco.
Nesse acampamento havia vários grupos também, inclusive um pessoal da Bélgica que estava num esquema de muita mordomia. A equipe deles montou um banheiro privativo para eles não terem que usar o do acampamento, que foi o pior de todos: duas cabines de madeira sem porta e com um buraco fétido no chão.
Passamos o resto do dia descansando e curtindo aquele bonito lugar, primeiro nas piscinas, depois conversando na beira do rio. Robert, o inglês, sacou o seu pequeno violão para algumas bonitas canções intimistas. Joel, o suíço desinquieto, subiu uma montanha ao sul do acampamento só para não enferrujar os músculos ficando parado. Tony aproveitou para descansar e dormir um pouco, já que não estava conseguindo dormir à noite. No jantar estava até mais falante.
Encontrei o grupo de quatro brasileiros, todos de São Paulo (se não estou enganado), e conversamos rapidamente. Eles estavam com um guia brasileiro e um arrieiro para levar a maior parte do peso.
À noite o jantar foi espaguete com (poucos) legumes. Chá quente e cama!
Nesse dia caminhamos 11,5km.
Nevados Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero vistos do Mirador San Antonio
03/08/15 - 5º DIA: DE ÁGUAS CALIENTES A GUANACPATAY COM SUBIDA DO MIRADOR SAN ANTONIO
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash5DiaPeruAgo15.
O acampamento Águas Calientes foi o ponto extremo sul do nosso percurso. Para completar a volta ao redor da Cordilheira Huayhuash iniciamos gradualmente o retorno para o norte.
Começamos a caminhada do dia às 7h14 retornando pelo mesmo caminho do dia anterior até a ponte sobre o rio que vem da represa. Ali mudamos o rumo e tomamos a trilha que sobe a encosta na direção norte. Apesar de o sol já iluminar e aquecer todo o vale, essa subida foi toda na sombra, com muito frio.
Uma dica que deixo aqui é a seguinte: ao fazer esse trekking com o tempo firme e estável como pegamos, o melhor é sair do acampamento com o mínimo de roupa grossa possível, mesmo aguentando um pouco de frio no começo da caminhada. Se possível apenas uma segunda-pele e um fleece mais fino. Depois que se atinge o sol, todas as roupas quentes vão para a mochila de ataque, fazendo peso e volume para se carregar pelo resto do dia, um pequeno incômodo na minha opinião. Mas o impermeável precisa ficar na mochila de ataque sempre, pois nunca se sabe quando o tempo vai mudar, e ficar molhado num lugar frio como esse é um pulo para uma hipotermia.
Nessa subida para o Passo Cuyoc nosso amigo Tony ficou muito para trás (na verdade não o vi mais, como contarei mais à frente). Após um primeiro e longo aclive, vem um trecho plano emoldurado pelos lindos nevados Cuyoc e Puscanturpa. Ali ultrapassamos os quatro brasileiros e foi a última vez que os vi também. No segundo aclive, pouco inclinado, vai se formando atrás de nós uma linda visão panorâmica da Cordilheira Raura, aquela que conhecemos no dia anterior no Passo Portachuelo. À direita, é surpreendente a grossura das camadas de neve sobre o Nevado Cuyoc, parece que a montanha está coberta por um espesso chantilly. Por ali, às 9h30, o Oliver nos ultrapassou com os burros e mulas.
Às 9h43 cheguei ao impressionante e árido Passo Cuyoc, o ponto mais alto do trekking, com 5034m no meu gps. Desnível de 665m desde o acampamento, porém sem muita dificuldade. A visão para todos os lados é de cair o queixo, tudo maravilhosamente iluminado por um dia de sol e céu azul sem uma nuvem sequer. Uma recompensa por todo o esforço para se chegar até ali. A paisagem era tão inspiradora que nosso amigo Robert sentou-se para desenhar as montanhas em seu caderno de viagens.
Para trás (sudeste) tínhamos uma visão ainda mais ampla da Cordilheira Raura, à direita (nordeste) a montanha de chantilly sobre o Nevado Cuyoc, ao sul o cume duplo do Pumarinri e à nossa frente (noroeste) a vista grandiosa de um imenso vale com os nevados da Cordilheira Huayhuash à direita: Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero. Ali o nosso guia Teo nos apontou onde ficava o Mirador/Passo San Antonio, e já deu para ter uma idéia da dificuldade que seria subi-lo. O San Antonio não estava no nosso trajeto e sua subida era opcional.
A pior parte do Passo Cuyoc estava por vir: a sua descida. Uma pirambeira de pedras soltas num ziguezague que parecia não ter fim. Desci com cuidado para não torcer o pé nas pedras e levei 36 minutos para chegar ao vale. Apesar da dificuldade, alguns dispararam na frente.
No vale voltamos a ter visão do Nevado Trapecio, agora num outro ângulo. Às 11h03 paramos numa bifurcação. Quem fosse subir o San Antonio deveria descer a um outro vale à direita, quem não fosse subir seguiria em frente para o acampamento com Teo. Só Annie optou por não subir. Tony estava muito para trás, nem o vimos no passo, e Henry o acompanhava com o cavalo à disposição, se necessário. Seguimos portanto nós seis para o San Antonio sem guia.
Passo Cuyoc. À esquerda: Ancocancha (Rosario), Caramarca e Tsacra Chico. À direita: Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero
Eu parei um pouco na bifurcação para comer algo e me distanciei do pessoal. Atravessei o vale meio encharcado (que na época das chuvas deve virar uma lagoa) e alcancei o Or (um dos israelenses) no sopé da montanha onde se encontra o mirador, às 11h31. O sol já estava forte. Comecei a subir pela ladeira de pedras e meu coração disparou, sentindo uma ligeira falta de ar. Quase desisti ali mesmo, pensando se valia mesmo a pena subir até os 5000m de novo (estava a 4524m). Mas insisti e pensei em subir até o primeiro platô, um pasto com vacas, para ter uma visão melhor do caminho e avaliar. Ao chegar lá os outros estavam me esperando (menos Joel, que quis bater o recorde de um israelense que subiu em 34 minutos). Isso me animou a continuar, mesmo sem ver como seria o caminho até o topo. Desse platô subimos pela encosta esquerda do vale, primeiro por trilha depois por um leito pedregoso cujo córrego ainda tinha placas de gelo, mas sem ter que molhar a bota. Só no alto é que pudemos ver como ainda seria difícil a chegada ao mirador, com a trilha bastante inclinada. Continuamos pelo caminho bem marcado entre pedras até alcançar a subida final, que foi se tornando mais e mais íngreme até virar uma trilha em ziguezague, que era a forma de evitar escorregar para trás ao dar o passo.
Cheguei enfim ao Mirador San Antonio às 12h49, altitude de 5008m, ligeiramente mais baixo que o Passo Cuyoc pelo meu gps, porém isso varia por ser um altímetro barométrico, baseado na pressão atmosférica. E posso dizer que valeu a pena o esforço. É uma paisagem grandiosa, quase inacreditável, de tantos picos nevados e lagunas perdidas pelos vales abaixo deles. À direita temos o Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero. À esquerda, Jullutahuarco, Caramarca e Tsacra Chico. Lagunas Jurau, Santa Rosa e Sarapococha nos vales. Para trás o Passo Cuyoc e ali no alto só o nosso grupo, depois chegaram alguns israelenses.
Iniciamos a descida às 13h47 pelo mesmo caminho. Ao chegarmos ao primeiro platô (onde eles me esperaram) o Henry nos aguardava com o almoço. Depois terminamos de descer ao vale por um outro caminho, já na direção do acampamento (oeste). O grupo dos belgas acampou nesse vale, segundo o Henry eles iam subir o San Antonio e descer para o outro lado.
Continuamos descendo na direção oeste, passamos por casas construídas de pura pedra, e chegamos ao acampamento Guanacpatay às 16h13. Altitude de 4316m. Esse acampamento fica bastante isolado dentro do vale, apenas com essas casas de pedra a uma certa distância.
Mal cheguei e já soube que o guia Teo havia descido para a vila de Huayllapa levando o Tony, que se sentia extremamente cansado e com dores de cabeça mais fortes. Ele infelizmente estava saindo do trekking. Desde o começo ele dizia que tinha problemas à noite, não conseguia dormir, ao pegar no sono dava um pulo e acordava. Isso o deixava cansado, ficando sempre bem para trás do grupo. Nas subidas tinha bastante dificuldade, desde o primeiro passo no primeiro dia. Aquela noite ele dormiria em Huayllapa, depois em Cajatambo e só chegaria de volta a Huaraz dois dias depois. As rotas de fuga desse trekking são bastante complicadas. Teo ainda retornou naquela mesma noite ao acampamento.
O jantar foi arroz, purê de batata e ovo frito (veg para todos nesse dia).
O banheiro tinha vaso sanitário com caixa acoplada, ainda com assento e tampa. Luxo total. Era uma casinha com duas portas. Se não me engano havia um lavatório ao lado.
Nesse dia caminhamos 17,8km.
Diablo Mudo
04/08/15 - 6º DIA: DE GUANACPATAY A HUATIAC COM PARADA NA VILA DE HUAYLLAPA
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash6DiaPeruAgo15.
Deixamos o acampamento Guanacpatay às 7h04 e caminhamos bastante tempo por dentro do vale, sempre na sombra, com muito frio. Às 7h53, ao final desse vale, tivemos finalmente o calor do sol e uma bonita vista de outros vales bem mais abaixo, porém era o início de uma descida quase vertical onde foi preciso ir devagar e com cuidado. Logo vimos que estávamos descendo a encosta ao lado de uma grande cachoeira! E o fim da descida vertiginosa foi às margens do riacho que vinha dela, o Rio Guanacpatay.
Pausa para curtir o sol. Numa outra encosta para dentro do vale do Rio Calinca uma nuvem de poeira sinalizava que nossa tropa vinha por um outro caminho, já que aquele nosso seria muito arriscado para os animais.
Às 8h43 continuamos descendo pelo vale do Rio Huayllapa (resultado da junção dos rios Calinca e Guanacpatay) tendo-o à nossa direita a princípio, depois à nossa esquerda ao cruzar uma ponte onde a nossa tropa de burros e mulas nos ultrapassou. Paramos todos num portão onde Teo fez o pagamento da "protección" para a comunidade de Huayllapa. Dali já avistávamos a pequena vila mais abaixo e logo chegamos a uma bifurcação: subindo à direita o caminho para o acampamento Huatiac, descendo em frente a vila. O guia perguntou quem queria descer à vila e todos aceitaram. A princípio eu e outros não gostamos da idéia pois queríamos nos manter "longe da civilização" pelo máximo de tempo possível, imaginando que iríamos encontrar ali carros buzinando e outras neuroses do tipo (trauma de Huaraz), porém na vila só andamos por vielas em que nem cabem carros, e o lugar é tão primitivo que valeu a pena conhecer.
Paramos às 10h09 na Bodega Sol de Yerupajá para tomar algo gelado enquanto alguns colegas aproveitavam para recarregar as baterias de algum aparelho eletrônico. No salão dos fundos há dois interessantes mapas topográficos bem grandes na parede.
Saímos às 10h46 e subimos de volta à bifurcação para Huatiac, tomando a trilha que sobe à esquerda. E como sobe! E que sol forte estava! Dos 3509m de altitude da vila subimos direto até os 4012m, onde paramos para o almoço às 12h05. Robert já estava passando mal com a subida constante sob o sol tão quente.
Rio Huayllapa
Toda essa subida foi feita ao longo do vale do Rio Milo, que desce das montanhas. No princípio tínhamos o rio bem próximo, até o cruzamos em determinado ponto, e vimos bonitos poços de água cristalina e pequenas quedas. A direção geral da caminhada, que era oeste (grosso modo) desde a descida do Mirador San Antonio, passou a ser norte, o que se manteria até o meio do dia seguinte.
Após a pausa do almoço, retomamos a subida às 12h54. Mais acima cruzei pelas pedras um afluente do rio principal do vale e curiosamente encontrei uma senhora com roupas típicas, muito coloridas, andando pela trilha num local em que parecia não haver casa ou morador nenhum. Sua casa devia estar bem mais acima, mas numa outra direção. Será que eu já estava tendo alucinações? Culpa do mate de coca... kkkkk
Subi ainda mais um pouco e quando já pensava em parar para descansar a trilha nivelou e já pude avistar o acampamento Huatiac para dentro de um grande vale, a Quebrada Huancho. Cheguei a ele às 13h51, cruzando o Rio Huancho pelas pedras. O Henry se desequilibrou nessas pedras e caiu na água. Teve de trocar rapidamente as roupas molhadas.
Altitude de 4309m, exatamente 800m de desnível desde a vila de Huayllapa. No fundo desse vale o famoso Diablo Mudo (5223m), que algumas pessoas escalam durante o trekking, desde que contratado previamente com a agência pois é preciso levar equipamento para neve. A leste o Nevado Jullutahuarco.
Depois do habitual chá com pipoca da tarde, colocamos as cadeiras fora da tenda-refeitório para conversar aquecidos pelo sol. Porém à medida que o sol ia se escondendo atrás da montanha íamos mudando o círculo de conversa para mais longe do acampamento em busca do calor do sol e fugindo do frio da sombra. Até que desistimos pois todo o vale ficou na sombra.
O jantar foi espaguete com molho de tomate, em grande quantidade. Annie reclamou da carência de proteína na nossa alimentação e eles fritaram um ovo para ela.
Tivemos apenas um grupo como vizinhos esta noite, e foi um pessoal que chegou bem mais tarde pois fizeram um caminho diferente, pelas montanhas.
O banheiro desse acampamento é uma casinha com duas portas com vaso sanitário e descarga acoplada, porém só um deles estava em condições de uso, o outro estava entupido com papéis.
Nesse dia caminhamos 13,9km.
Diablo Mudo e Laguna Susucocha
05/08/15 - 7º DIA: DE HUATIAC AO ACAMPAMENTO INCAHUAYIN/JAHUACOCHA
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash7DiaPeruAgo15.
Como ninguém do grupo ia escalar o Diablo Mudo, saímos todos juntos às 7h11.
Esse dia para mim foi bastante desgastante, em parte pelo cansaço acumulado dos últimos dois dias e em parte por ter tido uma noite muito ruim, sem conseguir dormir depois da 1h da madrugada. E por falta de sorte foi um dia pesado, principalmente por causa do Passo Yaucha.
A subida para o Passo Tapush não foi difícil, mas me cansei bastante mesmo assim. Grande parte dela foi feita pela sombra, com muito frio. Cheguei ao passo às 8h51. Altitude de 4770m, desnível de 461m desde Huatiac. Joel, o agitado, já estava no topo de uma montanha bem alta próxima, para espanto até do guia.
Iniciamos a descida às 9h24 e logo fomos ultrapassados pela nossa poeirenta tropa. A bela Laguna Susucocha, à nossa direita, rendeu boas fotos. Após a laguna, a descida se torna bem mais inclinada e com muitas pedras soltas, até alcançarmos no vale o acampamento Gashpapampa, sem nenhuma barraca, apenas uma placa dando as boas vindas e uma cabine metálica que deve ser o banheiro.
Às 10h11 nos deparamos com um imenso vale bem à frente. Nessa hora a direção da caminhada muda de norte para leste para adentrarmos o vale em direção às cabeceiras. É a Quebrada Angocancha. A boa surpresa são os bonitos bosques de queñuales, árvores que desprendem a casca como um papel. A má notícia é a visão do Passo Yaucha, muito acima de nós, fechando a cabeceira do vale. Da encosta sul (à direita) em que estávamos passamos para a encosta norte do vale atravessando o Rio Angocancha pelas pedras, onde Teo pagou mais uma "protección".
O grupo estava por ali descansando e se preparando para a difícil subida do passo. Eu, como vinha por último, mal cheguei e todos já partiram, não descansei. Aliás nesse dia eu substituí o Tony como companhia para o Henry na rabeira do grupo. Aproveitei para exercitar meu portunhol conversando com ele, fazer o quê?
E lá vamos nós para o Passo Yaucha! Segui no meu passo devagar-e-sempre mas tive que parar uma vez e sentar numa pedra para descansar um pouco. O Henry me oferecia o cavalo o tempo todo mas quem subiu montado nele foi mesmo o Or.
Ninashanca, Rondoy, Jirishanca, Yerupajá Chico e Yerupajá vistos do Passo Yaucha
Cheguei ao Passo Yaucha às 11h45, altitude de 4838m, e não sabia se sentava ou se continuava andando por inércia. Não foi fácil! Permaneci alguns minutos no topo e logo descemos um pouco para o almoço num gramado logo abaixo.
A visão da Cordilheira Huayuash era espetacular, com a face oeste das montanhas que vimos nos primeiros dias: Ninashanca, Rondoy, Jirishanca, Yerupajá Chico, Yerupajá, Rasac e Siulá.
Retomamos a caminhada às 12h38, agora descendo tudo o que subimos. Oh, vida besta! Risos. Voltamos à direção geral norte. Durante toda a descida a vista para os nevados da cordilheira era espetacular, com muitas paradas para fotos, o que me distanciou completamente do restante do grupo, sempre afoito para chegar ao acampamento (e passar o resto do dia fazendo nada). Lá atrás éramos eu, o Henry e o Pajarito (o cavalo de emergência).
Às 14h uma das mais lindas paisagens de todo o trekking, como já disse anteriormente: a vista do acampamento Incahuayin com as duas lagunas, Jahuacocha e Solteracocha, e os nevados Ninashanca, Rondoy e Jirishanca ao fundo. Momento sublime!
A descida foi por uma superpoeirenta trilha em ziguezague até o vale e depois uma breve caminhada por ele até o acampamento Incahuayin/Inka Wain (também chamado de Jahuacocha, pelo nome da laguna), aonde cheguei às 14h30. Altitude de 4082m, o acampamento mais baixo do trekking. Pela primeira vez tive de me deitar ao chegar para tentar dormir um pouco. Quase não fui à sessão de chá com pipoca da tarde. Mas fiz um esforço e fui tomar o chá com Joel, que já estava de volta de um passeio pelas duas lagunas e a tentativa de subir ainda a outra que ficava aos pés dos nevados. Haja energia!
Este acampamento estava relativamente cheio, com diversos grupos terminando ou iniciando o circuito. Algumas pessoas pescavam trutas no límpido e gelado rio. Reencontrei o Rafael gaúcho e contamos nossas aventuras e dificuldades durante o trekking, cujos trajetos foram bem diferentes.
Nosso último jantar foi sopa de entrada (como sempre) e um pratão de arroz, tomate, beterraba, batata frita e croquetes. De novo veg para todo mundo (e desespero da Annie, pela falta de proteína).
Esse acampamento tinha dois banheiros. O do nosso lado do rio era bem ruim: duas cabines de metal sem porta e com um buraco fétido no chão. Do outro lado do rio duas cabines de madeira com uma bancadinha para se sentar, uma delas com assento plástico. Bem melhor!
Nesse dia caminhamos 15,9km.
Yerupajá Chico, Yerupajá, Rasac, Tsacra Chico e Tsacra Grande
06/08/15 - 8º DIA: DE INCAHUAYIN/JAHUACOCHA A POCPA
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash8DiaPeruAgo15.
Saímos do acampamento para o nosso último dia de caminhada um pouco mais cedo, às 6h51. Nossa direção era oposta às lagunas, como que saindo do vale. Cruzamos então a ponte do Rio Achin (que brota das lagunas) e fomos na direção oeste até o pé da encosta à direita, lado oposto ao que descemos no dia anterior. Tomamos a direita numa bifurcação logo após um portão e em seguida começamos a subir a íngreme encosta. Se tivéssemos ido para a esquerda, pela trilha mais larga, sairíamos em Llamac.
Nesse dia me sentia bem melhor, resultado da soneca da tarde anterior e da noite mais bem dormida. Durante a madrugada fez menos frio também.
Na subida da encosta uma nota muito triste. Paramos um pouco junto às pedras que foram colocadas no exato local onde um rapaz israelense de 24 anos havia morrido duas semanas antes em seu último dia de trekking. E o guia era o próprio Teo, que nos contou que o rapaz parecia não estar bem desde o primeiro dia, pedindo sempre o cavalo. Talvez tivesse algum problema de pulmão, uma bronquite ou algo assim. Era uma suposição.
Continuamos a subida e só alcançamos o sol às 8h25, todo esse tempo caminhamos pela sombra gelada. Olhando para trás temos a última visão espetacular nesse trekking recheado de tantas paisagens belíssimas. O sol inundando o vale e iluminando a grande cordilheira com as montanhas que foram os protagonistas desses nossos oito dias de aventura: Rondoy, Jirishanca, Yerupajá Chico, Yerupajá, Rasac, Tsacra Chico e Tsacra Grande.
Chegamos ao Passo Shulca, o último passo do trekking, às 8h55. Altitude de 4559m, desnível de 477m desde o acampamento. De lá do alto já era possível ver a pequena Pocpa, muito abaixo de nós, no fundo do vale do Rio Llamac.
Iniciamos a descida às 9h13 e parecia não ter fim nunca mais aquele ziguezague montanha abaixo. Não paramos nenhuma vez, os ligeirinhos como sempre sumiram na frente. Eu fiquei na retaguarda com Henry, logo atrás de Teo e Annie. As partes mais bonitas dessa descida são os densos bosques de queñuales.
Às 11h22 finalmente alcançamos a vila de Pocpa, onde no início do trekking fizemos uma parada para carregar a van e conhecemos nossos guias. Altitude de 3498m, simplesmente 1061m de descida! Ali um almoço nos esperava. Depois fotos do grupo todo, infelizmente sem o nosso amigo Tony, e zarpar para Huaraz. Annie ficou por lá pois ia continuar sua cicloviagem pelo Peru. A entrega da gorjeta para a nossa equipe ficou a cargo de cada um, de acordo com o valor que achasse justo.
Partimos logo depois do meio-dia, passamos novamente por Llamac, Chiquian, Catac e outros vilarejos até chegar a Huaraz às 15h48. A van deixou cada um em seu hostel e eu fiquei nas imediações da Plaza de Armas para procurar um hostel melhor e mais central do que o Santa Cruz Trek Hostel.
Nesse dia caminhamos 10,7km.
Total do Circuito Huayhuash: 100,9km.
Eu, Or, Yoav, Joel, Ofri, Robert, Oliver (arrieiro), Henry (guia). À frente: Annie e Teo (guia)
Informações adicionais:
Mapas em escala 1:70.000 do Ministério da Educação:
. de Cuartelwain ao Passo Cacananpunta: http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367926/ugel_bolognesi_2018.pdf
. do Passo Cacananpunta ao Passo Portachuelo: http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367933/ugel_lauricocha_2018.pdf
. do Passo Portachuelo ao Passo Tapush: http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367939/ugel_11_cajatambo_2018.pdf
. do Passo Tapush a Pocpa: http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367926/ugel_bolognesi_2018.pdf
Alguns sites de agências de Huaraz que fazem o trekking Huayhuash:
. www.monttrek.com.pe
. www.andeanskyexpedition.com
. www.galaxia-expeditions.com
. www.schelerhuayhuashtrek.com
. www.andesexplorerperu.com
. www.enjoyhuayhuash.com
. www.miradortourshuaraz.com
. www.k2-peru.com
. www.activeperu.com
Não vou indicar nenhuma agência pois penso que cada um deve procurar os serviços que estiverem dentro das suas expectativas e do seu orçamento. O nosso trekking foi perfeito, serviço muito bom, mas tem gente que prefere mais privacidade, caminhando num grupo bem reduzido ou mesmo somente com o guia e arrieiro. Outros preferem fazer em 9, 10 ou até 12 dias, com menos caminhada por dia e mais tempo para curtir os lugares. Vale a pena fazer contato com as agências acima e escolher o trekking que melhor se encaixar no que você procura
Sem querer assustar ou desanimar ninguém, acho bastante recomendável consultar um cardiologista ou clínico geral para exames básicos, principalmente de coração e pulmão, antes de partir para um trekking como esse. As condições lá são muito diferentes do que temos aqui no Brasil. A altitude, a baixa temperatura e o ar extremamente seco podem causar sérios problemas de saúde a quem esteja vulnerável ou agravar algum problema que já se tenha. Não custa nada se precaver. Em caso de uma emergência durante o trekking as condições de resgate são precárias e demoradas demais, e mesmo as rotas de fuga são bastante complicadas. Quem leu o relato até o final sabe por que estou falando isso. Pense seriamente nisso!
Rafael Santiago
agosto/2015
Percurso na imagem do Google Earth |
Percurso do 2º dia na imagem do Google Earth |
Percurso do 3º dia na imagem do Google Earth |
Percurso do 4º dia na imagem do Google Earth (em amarelo) |
Percurso do 5º dia na imagem do Google Earth (em amarelo) |
Percurso do 6º dia na imagem do Google Earth (em amarelo) |
Percurso do 7º dia na imagem do Google Earth (em amarelo) |
Percurso do 8º dia na imagem do Google Earth (em amarelo) |
Aí Rafa,
ResponderExcluirQue belo relato! Apesar do tempo fechado ter sua beleza, fostes premiado pelo tempo claro. Lindas fotos! Este lugar é meu sonho desde moleque eheheh...
Parabéns, abs
Então transforma esse sonho em realidade, hóme!
ResponderExcluirVocê já testou a sua aclimatação à altitude alguma vez? Foi meu primeiro trekking nas alturas e não tive grandes problemas. Espero que você tenha a mesma "sorte" e realize o seu sonho também.
Abração
Oi, João
ResponderExcluirOs dados são do gps sim. E os nomes das montanhas eu pesquisei até em guias impressos para não passar informação errada.
Boa trilha pra você!
Olá Rafael,
ResponderExcluirParabéns pelo relato.
Estou indo fazer o Huayhuash agora, dia 20/06. Um companheiro que ia comigo desistiu e tô um pouco receoso de ir sozinho, apesar de já estar com acertado com a agência. Você acha que tem algum risco? Onde você trocou soles? Em Lima, em Huaraz? Eu vi que você "encarou as trilhas de aclimatação por conta própria. Vc pegou informação aonde? Tem risco de se perder?
Abraços!
Olá, Wendel
ExcluirDesculpe pela demora.
Se você já tem até a agência contratada não se preocupe em ir sozinho. Apenas recomendo que você não ande sozinho (à noite ou de madrugada) por ruas desertas de Huaraz pois li relato de assalto a turista, mas isso apenas nessas condições. Caminhei bastante pela cidade nas horas de movimento e não vi nada suspeito.
A sua maior preocupação deve ser com a aclimatação. Uma boa aclimatação vai te dar uma grande chance de sucesso no trekking de Huayhuash. Dedique os primeiros dias às caminhadas que descrevi no relato de aclimatação e beba muito chá de coca, de preferência da folha mesmo, bem mais confiável que o de saquinho.
As informações para as caminhadas de aclimatação peguei no hostel e numa agência cujo nome não me lembro mais. Mas descrevi com bastante detalhe para orientar quem quiser encarar sozinho também. Para a Laguna Churup não precisa se preocupar pois dezenas de pessoas vão subir junto com você (de forma independente também). Para a Laguna Willcacocha eu e o outro brasileiro subimos sozinhos mas na descida havia muita gente começando a subir, então se você for um pouco mais tarde do que eu deverá ter companhia (e um sol bem forte na cachola...). Para a Laguna Aguak é mais difícil arranjar companhia, tente deixar um recado no mural do hostel para ver se aparece alguém para ir com você. Mas fique atento aos sinais do mal de altitude nessa caminhada pois você vai subir a 4551m!
Os soles eu troquei em Huaraz, há várias casas de câmbio próximo à Plaza de Armas. No aeroporto de Lima troquei o necessário apenas para o táxi até o terminal do ônibus para Huaraz. As taxas de aeroporto não costumam ser boas.
Ótima trilha pra você! Huayhuash é um dos trekkings mais bonitos do mundo!
Quando voltar dê um retorno aqui pra gente saber como foi, beleza?
Abraço.
Boa tarde Rafael, gostaria de agradecer muito pelo seu relato. Eu e meus amigos, Wallace Mozer e Marcelo Javier, estivemos agora no inicio de janeiro em Huayhuash e seu preciso relato foi nosso principal meio de orientação durante o percurso. Parabéns pelo relato! Grande abraço, Matheus Michelon.
ResponderExcluirOi, Matheus, tudo bem?
ExcluirAcabei de descobrir que o blogspot tem uma caixa de spam e que a sua mensagem havia caído lá. Por isso nunca pude vê-la.
De qualquer maneira, fico bastante feliz pelo relato ter sido útil pra vocês. Vocês fizeram sem guia? Conta como foi a experiência, estou curioso.
Desculpe pela demora na resposta.
Abraços!