A primeira das Lagunas Llanganuco, chamada de Chinancocha
A
primeira dica muito importante que dou para quem for viajar ao Peru (ou
qualquer outro país) é se informar a respeito dos feriados nacionais.
Os feriados mais importantes no Peru são a Semana Santa e as Fiestas
Patrias (28 e 29/07). Eu tive o azar de marcar férias e comprar as
passagens aéreas exatamente na semana da pátria peruana, e isso me
causou muito transtorno para conseguir passagens de ônibus, hospedagem e
acabei pegando os preços todos em dobro. Huaraz tem uma oferta enorme
de hospedagem, com centenas de hostels e hotéis de todos os preços, mas
por incrível que pareça todos estavam lotados pelo feriado. Depois de
enviar e-mail para 15 hostels um deles me respondeu dizendo que tinha
uma vaga, mas para garanti-la tive de enviar o dinheiro pelo serviço
Western Union, o que foi mais um transtorno na véspera da viagem. E o
hostel ficava um pouco fora do centro (chama-se Santa Cruz Trek Hostel e
não recomendo). Para conseguir uma passagem de ônibus Lima-Huaraz tive
que entrar no site de todas as empresas a cada duas horas durante a
semana toda para ver se aparecia uma poltrona vaga, até que por sorte
apareceu uma e comprei imediatamente.
Se soubesse do feriado da semana da pátria jamais teria marcado essa viagem nesse período. Foi uma grande dor de cabeça!
Plaza de Armas de Huaraz
DE SÃO PAULO A LIMA E HUARAZ
Peguei
em São Paulo o voo das 3h50 da madrugada da Lan para Lima, chegando às
7h15, hora local (duas horas a menos que no Brasil). Peguei minha
mochila cargueira na esteira e ao passar pelo raio-x tive de entregar as
duas maçãs que estavam na mochila de ataque. Ainda bem que não tive de
pagar multa, como dizem que acontece no Chile. Troquei um pouco de
dólares por soles só para pagar o táxi pois a taxa no aeroporto é muito
ruim (estava 3,00 soles por dólar) e ainda cobram comissão de 3%. Várias
empresas oferecem táxi logo na saída e acabei pegando um com a Green
mesmo. O preço é tabelado. Foram 50 soles dali até o terminal da empresa
de ônibus Linea, a única com a qual consegui uma passagem para Huaraz
após uma semana inteira de tentativas (veja nas informações adicionais
ao final do relato o site de todas as empresas que fazem a linha
Lima-Huaraz).
Eu cheguei a pesquisar uma forma de ir do aeroporto
ao terminal da Linea por transporte público mas ninguém recomenda fazer
isso por causa da falta de segurança nos arredores do aeroporto e da
precariedade dos ônibus que circulam por ali. Observando o transporte
público da cidade de Callao, onde fica o aeroporto, vi que seria mesmo
uma aventura fazer esse trajeto de ônibus, pois eles são pequenos, muito
velhos e superlotados.
Cheguei ao terminal da Linea no Paseo de
La República (bairro La Victoria, próximo ao centro de Lima) às 8h30 e
aguardei o embarque às 10h30. Foram 8h de viagem com uma parada para
almoço. Na chegada a Huaraz peguei um táxi (4 soles) até o hostel pois
era noite, o hostel fica fora do centro e não sabia se era seguro ir
sozinho a pé.
Tinha que jantar, mas desisti de ir ao centro a pé e
arrisquei o restaurante em frente ao hostel, chamado San Remo. A comida
é muito boa, o atendimento feito pelos próprios donos é excelente, e o
preço é justo para quem mora em São Paulo e um pouco alto para os
padrões de Huaraz. Foram 22 soles por um filé de frango caprichado com
batatas douradas e salada variada. Wifi excelente.
No hostel
comecei a minha dieta de mate de coca para ajudar na aclimatação. Não
sei se foi bom, tem gente que diz que é placebo, mas sei que felizmente
tive uma excelente aclimatação. Por recomendação médica, não utilizei os
medicamentos Diamox e Decadron, que supostamente ajudam na aclimatação.
Laguna 69
26/07/15 - 1º TREKKING DE ACLIMATAÇÃO: LAGUNA 69 (4603m)
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/Laguna69PqNacHuascaranPeruJul15.
Com
muito pouca informação de como chegar à Laguna 69 de forma
independente, e por ter chegado a Huaraz na noite anterior, contratei
pelo hostel mesmo o serviço de uma agência para ir à Laguna 69 no dia
seguinte. Como disse acima, por ser semana da pátria paguei 70 soles,
quando o normal é de 30 a 40 soles.
Às 6h a van da agência Mony
Tours passou no hostel para me pegar. Já havia algumas pessoas nela e no
caminho subiram mais algumas. Pegamos a estrada sentido norte até a
cidade de Yungay (onde completamos o grupo com mais 3 pessoas) e de lá
estrada de terra serra acima. Paramos pouco depois das 8h30 para o café
da manhã num Recreo Campestre. Logo chegamos à entrada do Parque
Nacional Huascarán, onde pagamos 10 soles pela entrada de um dia (é
possível comprar um bilhete de entrada válido por 21 dias por 65 soles).
A partir daí entramos por um estreito vale entre altos paredões (uma
quebrada) e temos nada menos do que os gigantes Huascarán (6768m) à
nossa direita e Huandoy (6395m) à esquerda. O Huascarán é a montanha
mais alta do Peru!
Subindo mais, a próxima parada (bem rápida, só
para fotos) foi na primeira das Lagunas Llanganuco, chamada de
Chinancocha, lagoa feminina em quechua (a seguinte se chama Orconcocha,
lagoa masculina em quechua). As cores dessas lagunas são
impressionantes, com vários tons de verde e de azul. Nas margens as
interessantes árvores queñuales, que desprendem a casca como um papel.
Subindo mais um pouco com a van, a trilha para a Laguna 69 começa à esquerda da estrada de terra, na altitude de 3912m.
Não
havia um guia coordenando o grupo, apenas um sujeito que nos acompanhou
e achava que estava fazendo algum serviço de guia. Com isso as pessoas
se dispersaram completamente durante o trekking (algumas chegaram à
laguna quando todos já estavam voltando). E não há mesmo nenhuma
necessidade de guia já que a trilha é bem marcada e até sinalizada em
alguns pontos.
Começamos a caminhar às 10h12. A trilha desce até
um grande vale, um local chamado Cebollapampa (3898m), onde havia
algumas pessoas acampadas e até locais vendendo refrigerantes. Depois
sobe suavemente pela Quebrada Yanapaccha (também chamada de Quebrada
Demanda) em direção ao Nevado Chacraraju até que por volta de 11h vem a
primeira subida mais forte. Ali o grupo se distanciou muito, com algumas
pessoas mais aclimatadas disparando na frente e outras não aclimatadas e
não acostumadas ao trekking ficando sentadas lá para trás. Por ser
feriado nacional, muitos foram fazer esse trekking pensando ser um
passeio qualquer, mas não é, a Laguna 69 fica a 4603m de altitude e o
desnível desde Cebollapampa é de 705m. Por conta disso, vi muita gente
passando mal, com enjoo, tontura e sangramento no nariz, consequências
da não adaptação à altitude.
Huascarán Norte (6654m) visto da trilha da Laguna 69
Nessa
primeira subida encontrei uma fonte de água que parecia ser limpa e
enchi meu cantil, consumindo-a sem nenhum tratamento (na volta fiz o
mesmo). Não tive nenhum problema por causa disso.
A primeira
ladeira termina aos 4384m numa linda laguna de cor verde com as bordas
transparentes. Segue-se uma pequena descida para um outro grande vale.
Para trás (sul) a visão do Huascarán e à esquerda (noroeste) o Nevado
Pisco. Próximo a algumas ruínas de pedra começa a segunda (e última)
ladeira, que vai dos 4410m aos 4603m. Ao final dessa subida caminha-se
por uma trilha entre blocos de pedra e à frente a paisagem é de um
paredão coroado pelos picos do Nevado Chacraraju (6108m) à direita
(norte) e do Pisco (5752m) à esquerda (oeste). No fundo a lindíssima
Laguna 69, de uma cor azul inacreditável, com águas glaciais límpidas e
transparentes. Cheguei às 13h10.
Havia muitos e muitos grupos
ali, com as pessoas se espalhando às margens da laguna, mas ninguém
arriscou entrar nas águas geladas. Às 14h20 iniciei o retorno pelo mesmo
caminho e às 17h30, depois de muitas fotos e até algumas curtas paradas
para conversar com outras pessoas, estava de volta à van.
Porém
tivemos que esperar até 18h10 para que todos do nosso grupo estivessem
de volta. O sujeito que se passava por guia não colocou um horário
limite para a subida à laguna e muita gente chegou lá quando todos já
estavam descendo de volta. Uma verdadeira bagunça! Pegamos estrada de
novo e, depois de quase 3 horas de viagem de volta, chegamos a Huaraz às
21h. Pelo horário, já estava um pouco tarde para ir jantar no centro,
então comi de novo no restaurante San Remo, em frente ao hostel. O mesmo
prato, 22 soles por um filé de frango caprichado com batatas douradas e
salada. Ao fim da viagem vi que foi a melhor comida que provei na
cidade. E mais mate de coca!
Como meu primeiro trekking de
aclimatação para Huayhuash me senti muito bem e fiquei bem feliz com a
minha fácil adaptação à altitude. Senti apenas um pouco de dor de cabeça
na laguna, mas voltando aos 3090m de altitude de Huaraz isso logo
passou.
Custo do trekking de hoje: 70 soles por ser semana da
pátria. O preço normal é de 30 a 40 soles através das agências de
Huaraz, o que deve ser mais barato do que fazer por transporte público.
Laguna Churup
27/07/15 - 2º TREKKING DE ACLIMATAÇÃO: LAGUNA CHURUP (4458m)
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/LagunaChurupPqNacHuascaranPeruJul15.
Nesse
dia começou a minha verdadeira aventura pela cidade pois dispensei os
serviços caros e ruins das agências para fazer as caminhadas de forma
independente.
Fui procurar a kombi (assim eles chamam as
pequenas vans) que leva ao início da trilha para a Laguna Churup e a
encontrei na Avenida Gamarra, estacionada em frente ao número 311, ao
lado de um grifo (posto de gasolina). Cheguei ali às 6h20 mas a kombi só
sai quando lota, entre 7h e 7h30. O seu destino normalmente é Llupa
(pronuncia-se Iúpa), por 5 soles, mas se pelo menos cinco pessoas
quiserem ir até Pitec (pagando mais 5 soles cada um) então eles esticam
mais 11,6km até lá, deixando exatamente no início da trilha para a
Laguna Churup.
Como ainda era cedo, a senhora quechua (cobradora
da kombi) me levou ao "mercado" mais próximo para eu comprar pão e
queijo para o lanche de trilha. Na verdade era uma feira de rua bem
pequena e modesta, mas que tinha todas as interessantes características
de uma autêntica feira da serra peruana, com bancas vendendo frutas,
legumes, verduras, farinhas, feijões, etc. E ao lado um casal vendia
lanches de queijo, ovo e ainda bebidas quentes feitas com quinoa e maca.
Claro que aproveitei a oportunidade para mergulhar de cabeça no modo de
vida deles, tomando o café da manhã ali na rua junto com os peruanos.
Viajar para mim é isso!
De volta à kombi, com um saquinho com
oito deliciosos pães e ainda um pedaço de queijo comprados no "mercado",
esperamos completar a lotação. Parecia que mais ninguém ia aparecer,
mas de uma hora para outra surgiu um grupo de cinco argentinos e vários
outros turistas, inclusive um peruano muito comunicativo, o Juan, com
quem fui conversando a viagem toda.
Uma informação importante é
que há apenas duas ou três vans que saem de manhã do centro de Huaraz
para Llupa ou Pitec e retornam à tarde. Não soube de outra opção de
transporte público além desse. No caso de as vans irem até Pitec ficam
lá esperando os turistas voltarem. Se não houver quórum para irem a
Pitec é preciso caminhar 4,2km de Llupa a Pitec por trilha ou 11,6km
pela estrada poeirenta.
A viagem durou das 8h10 às 9h10 e subiu
dos 3090m de Huaraz até os 3864m de Pitec. Paguei novamente 10 soles
pela entrada no Parque Nacional Huascarán e começamos a caminhada às
9h23 encarando já de início uma longa subida. Logo o Juan e seu filho
ficaram para trás mas não pude esperá-los pois precisava caminhar no meu
ritmo e testar a minha adaptação à altitude. Nessa trilha a subida é
constante, diferentemente da Laguna 69. Obviamente não tínhamos guia
nesse dia, mas o caminho é todo bem batido, sem nenhuma dúvida. Às 11h a
trilha estabiliza por alguns metros e desce um pouco na direção de uma
cachoeira. Do seu lado esquerdo se encontra a sequência de três cabos de
aço que auxiliam na subida de uma parte mais vertical, mas onde todos
passam sem grandes problemas, apenas reclamando um pouco da dificuldade
inesperada.
Após o terceiro cabo de aço são apenas 8 minutos até
as margens da linda laguna, essa de cor verde transparente, aonde
cheguei às 11h17 (nesse trecho enchi meu cantil num riacho de água
aparentemente confiável e bebi sem tratá-la). Altitude de 4458m,
desnível de 594m desde o início da caminhada. A Laguna Churup está
encaixada também entre paredões de pedra, sendo que à esquerda do ponto
de chegada (nordeste) se encontra o Nevado Churup (5495m), que pode ser
visto da Plaza de Armas de Huaraz.
Laguna Churup com o Nevado Churup ao fundo
Havia
também vários grupos por ali e alguns malucos se dispuseram a entrar na
água congelante. Fiz meu lanche, conversei com pessoas de várias partes
do mundo e esperei o Juan e seu filho chegarem. Às 13h32 começamos o
retorno pelo mesmo caminho e chegamos à van às 15h20. Demoramos porque o
filho do Juan, de 15 anos, começou a passar mal na descida por causa da
altitude. Apesar de estarmos baixando ele continuava ruim, tendo
dificuldade para caminhar e parando para sentar diversas vezes.
Fomos
os últimos do nosso grupo a chegar à van e quando chegamos, uma
situação absurda: a cobradora nos disse que estava lotada! Ela não nos
esperou e colocou várias outras pessoas no nosso lugar, gente que deve
ter subido pela trilha desde Llupa. Havia um só lugar naquele aperto
desgraçado da van e o Juan fez questão que eu fosse. Hesitei em
deixá-los ali sem outra alternativa, mas entrei na van (10 soles). Fiz
uma viagem terrível até Huaraz, num aperto horrível, sem poder me mexer
um centímetro. E pensando como eles fariam para voltar à cidade, ainda
com o rapaz passando mal. Infelizmente não peguei um contato dele para
saber o fim da história. Acredito que tenha conseguido uma carona com um
dos carros que estavam estacionados por ali.
Bem, fica então
outra dica muito importante: se pegar a van de linha até Pitec, não seja
o último a voltar da laguna pois você pode nem encontrar mais a van lá.
Nesse
dia de aclimatação me senti ainda melhor, sem nenhuma dor de cabeça. O
único cuidado é que é preciso caminhar lentamente pois um esforço a mais
causa uma sensação bem ruim de falta de ar e faz disparar o coração.
Custo
do trekking de hoje: 20 soles (que pode cair à metade se a van for até
Llupa e você fizer o restante do caminho a Pitec por trilha, são 4,2km).
Tive
ainda o resto do dia para finalmente caminhar pela cidade, conhecer um
pouco mais de Huaraz, e jantar um lomo saltado por 8,50 soles num
restaurante muito simples, mas com wifi perfeito para ligar para o
Brasil via facebook. E mais mate de coca!
Não posso deixar de
comentar que Huaraz é uma cidade muito feia, suja e bagunçada. Agora,
muito pior que isso são as benditas buzinas. Cada motorista sai com o
carro na rua com o pé no acelerador e a mão na buzina. É um inferno!
Todos buzinam o tempo todo sem o menor sentido, sem nenhum motivo, só
pela mania de tocar a buzina como pisam no acelerador. Já tinha notado
essa mania na rápida passagem por Lima, mas Huaraz foi o pior lugar que
conheci em termos de poluição sonora nas ruas.
Laguna Willcacocha e Cordilheira Blanca ao fundo
28/07/15 - 3º TREKKING DE ACLIMATAÇÃO: LAGUNA WILLCACOCHA (3742m)
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/LagunaWillcacochaCordilheiraNegraPeruJul15.
Ao
descer do meu quarto para a recepção do hostel pouco depois das 6h,
encontro o dono explicando a um rapaz como chegar a algumas das famosas
lagunas de forma independente e usando o transporte público. Começamos a
conversar em portunhol até que ele perguntou de onde eu era. Dali em
diante relaxamos e passamos a conversar em português pois ele era
brasileiro também... risos.
Disse-lhe que ia para a Laguna
Willcacocha naquele dia e ele se interessou. Caminhamos até o centro e
na esquina das ruas Antonio Raymondi e Hualcan (ao lado do Mercado
Central) pegamos a kombi (van) de número 10 (1 sol). Pedimos para descer
na Puente Santa Cruz, na localidade de Chiwipampa, 9km ao sul de
Huaraz. Começamos a caminhar às 7h52. Altitude de 3183m.
Em
tempo: antes de partir para essa caminhada voltei ao "mercado" do beco
da Avenida Antonio Raymondi para tomar meu desjejum de quinoa e pão com
ovo, como no dia anterior.
Cruzamos a ponte sobre o Rio Santa e
iniciamos a subida, que seria constante até atingirmos a laguna. Cerca
de 180m após a ponte abandonamos a estrada de terra em favor de uma
trilha larga que sobe à esquerda. Aos poucos o Rio Santa vai ficando bem
abaixo de nós. Passamos por um pequeno cemitério à esquerda e logo
chegamos ao primeiro conjunto de casas. Ali um pequeno erro (que outras
pessoas também cometem): o certo é voltar à estradinha de terra, à
direita, mas continuamos pelos caminhos mais estreitos do povoado para a
esquerda até percebermos que não estávamos mais subindo. Perguntamos e
voltamos à estradinha de terra, subindo e atravessando o "centro" do
povoado de Santa Cruz.
O caminho principal para a Laguna
Willcacocha é na verdade uma estrada de terra na qual sobem carros
comuns e táxis. O caminho que nos foi ensinado é composto de atalhos em
forma de trilha larga que cortam os longos ziguezagues da estrada, sendo
bem mais curto e direto.
Logo após atravessar o "centro" do
povoado de Santa Cruz, não vimos a entrada da trilha à direita e
continuamos pela estrada. Por sorte esse era o menor dos ziguezagues e
logo tínhamos a trilha bem nítida atravessando a estrada. Pegamo-la
subindo à esquerda às 8h43 e em 22 minutos atravessamos a estrada pela
última vez. Às 9h27, depois de passar por lindas e douradas plantações
de trigo, chegamos à Laguna Willcacocha. Altitude de 3732m, com desnível
de 549m desde a ponte sobre o Rio Santa.
Vale do Rio Santa e Cordilheira Blanca norte ao fundo
A
laguna, comparada às anteriores, é pouco atrativa, apenas uma lagoa com
gramado ao redor. Porém o grande atrativo do lugar é a vista
espetacular da Cordilheira Blanca. Uma grande placa colocada no final da
trilha dá o nome de cada montanha da cadeia, sendo o Huascarán o mais
alto, com 6768m, bem ao norte. Relembrando que ele é a montanha mais
alta do Peru. Na porção sul da cordilheira o destaque é o Nevado
Huantsán, o mais alto, com 6369m. A cadeia montanhosa onde se encontra a
Laguna Willcacocha é chamada de Cordilheira Negra, por não ter cumes
nevados, em contraposição à Cordilheira Blanca.
Depois de muita
contemplação (o dia estava espetacular!) e fotos, iniciamos a descida às
10h56 pelo mesmo caminho. Desta vez não perdemos a trilha que deixamos
passar na subida. Às 12h05 estávamos de volta à Puente Santa Cruz e uma
van que passava na rodovia parou sem que fizéssemos nenhum sinal (1
sol).
Nessa caminhada não encontrei nenhuma fonte de água. Havia
várias outras pessoas na laguna que devem ter subido de carro (havia
vários carros estacionados bem próximo). Na descida cruzamos com muitas
pessoas subindo, porém naquele horário o sol já estava bem forte,
tornando a subida bem desgastante.
Custo do trekking de hoje: 2
soles (teve uma agência de Huaraz que teve a cara de pau de me pedir
120 soles por essa caminhada).
Como ainda era cedo, fomos para o
segundo passeio do dia: as ruínas de Wilcahuain (ou Willkawaín). Na
esquina das ruas Cajamarca e 13 de Dezembro, no centro de Huaraz,
pegamos a kombi (van) para Wilcahuain (1,50 sol). Saindo da cidade, a
estrada de terra sobe muito, cruza povoados até chegar às ruínas, numa
altitude de 3420m. O sítio arqueológico está dividido em dois, numa
distância de 750m entre si. Saltamos da van no primeiro e pagamos 5
soles pela entrada. Visitamos as construções por fora e por dentro, com
corredores e passagens estreitas e baixas, e o museu. As construções
datam de 600 a 900 dC, sendo anterior ao Império Inca. Depois voltamos à
estrada e caminhamos 10 minutos até o segundo sítio, onde se entra com o
mesmo tíquete. Lá mais quatro construções, porém suas entradas eram
muito baixas e pouca gente tentava entrar. Fizemos um lanche. Voltamos
ao primeiro sítio para esperar a van de volta a Huaraz (1,50 soles). Na
cidade nos separamos e eu fui comer de novo o lomo saltado de 8,50
soles.
Laguna Aguak
29/07/15 - 4º TREKKING DE ACLIMATAÇÃO: LAGUNA AGUAK (4551m)
As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/LagunaAguakHuarazPeruJul15.
Saí
do hostel pouco depois das 6h e voltei à esquina das ruas Cajamarca e
13 de Dezembro no centro para pegar a kombi (van) para Wilcahuain (1,50
sol). Mas antes estiquei até o beco da Avenida Antonio Raymondi para
tomar meu habitual desjejum de quinoa e pão com ovo no "mercado".
Até
a hora de a van sair só entraram moradores locais, o que significava
que eu iria fazer a caminhada de hoje sozinho. No último instante entrou
um gringo. A van subiu as estradinhas de terra pelo mesmo caminho do
dia anterior até as ruínas e o rapaz pediu ao motorista que o deixasse
no início da trilha para a Laguna Aguak, meu destino também. Saltamos
juntos e nos apresentamos. Ele era alemão, chamava-se Stefan, e estava
sozinho porque sua namorada havia torcido o pé na rua em Huaraz, sem
condições de trilhar.
Essa trilha pode ser iniciada pelo menos em
três pontos distintos, pelo que pude constatar. Dois deles ficam muito
próximos ao primeiro sítio arqueológico de Wilcahuain, porém por ali há
uma subida forte logo de início. O motorista nos deixou 1,2km à frente
das ruínas (à esquerda na primeira bifurcação), num local com subida
inicial mais suave, na altitude de 3444m.
Começamos a caminhar às
7h38 e a trilha é um caminho largo e bem marcado. Após um trecho plano
vem a subida de verdade, montanha acima, num infindável ziguezague.
Marcações da distância percorrida foram pintadas nas pedras a intervalos
de poucos metros, o que nos deixa ansiosos por alcançar os 6000m, que é
o fim da trilha e a chegada à laguna.
A altitude é
significativa, então paramos duas vezes para descansar e comer algo, a
primeira na cota dos 4060m e a segunda aos 4428m. Às 11h06 chegamos
enfim à Laguna Aguak, que repousa suas lindas e profundas águas azuis
escuras a 4551m de altitude. O Stefan sacou da mochila o seu almoço e se
sentou logo à chegada, eu fui explorar os arredores da laguna para
registrar os melhores ângulos. Havia apenas três pessoas no local e elas
estavam na margem à nossa direita. Voltaram rapidamente e eu fui andar
pelo local onde estavam. Porém foi preciso descer uma parede rochosa bem
vertical, não muito alta, mas com poucos apoios. Como eles haviam
voltado rapidamente por ali achei que fosse fácil subir de volta. Grande
engano! Depois de tirar fotos de todos os ângulos daquele lado da
laguna, inclusive dos nevados mais distantes e de Huaraz bem abaixo,
tentei voltar. Ao chegar à parede não conseguia subir ao topo, não havia
apoio para mãos e pés. Nessa hora apareceu o Stefan junto com um suíço
que havia acabado de chegar, e foi o suíço quem esticou sua mochila e,
segurando na alça dela, consegui sair daquela enrascada em que me meti.
Portanto, fica o aviso: calcule bem se vale a pena descer essa parede e
se terá apoio para subi-la de volta.
Laguna Aguak
Das
margens da laguna pode-se observar o cume do Nevado Vallunaraju (5686m)
a nordeste, a pontinha do Nevado Churup (5495m) um pouco mais distante a
leste, e o cume do Nevado Huantsán (6369m), o pico mais alto da
Cordilheira Blanca sul, uns 20km a sudeste, na extremidade esquerda de
um conjunto de nevados. Todas essas montanhas podem ser vistas da Plaza
de Armas de Huaraz.
Stefan e o suíço (Joel) foram explorar
algumas lagunas que estavam escondidas mais acima, tomaram a continuação
da trilha e desapareceram num segundo. Eu tirei fotos de um ponto mais
acima e resolvi começar a descer já que não alcançaria os dois
ligeirinhos. Iniciei o retorno às 13h43, pelo mesmo caminho, e só parei
na altitude de 3878m para descansar um pouco as pernas de tanta descida
por pedras soltas. Mais abaixo (3785m) o caminho largo bifurcou e segui
para a esquerda. Logo alcancei a parte plana.
Sem prestar atenção
no gps, em algum ponto saí do caminho por onde viemos e acabei sem
querer descobrindo um dos outros caminhos de acesso descritos
anteriormente. Desci bastante por uma ladeira, a qual não deve ser muito
agradável de enfrentar logo no início da caminhada, como disse, e
alcancei um fim de estrada junto a uma grande caixa-d'água com cerca.
Continuei pela estradinha deserta e constatei que esse é o caminho
"oficial" já que a marcação de distância nas pedras continuou. Segui à
esquerda numa bifurcação na altitude de 3465m, junto a uma casa (mas
verifiquei depois que se seguisse à direita também sairia na estrada,
próximo às ruínas), até que atingi o ponto zero das marcações ao
alcançar a estrada de terra, ao final de uma rampa de concreto, pouco
acima das ruínas de Wilcahuain, às 16h44. Altitude de 3424m.
Nessa caminhada não encontrei nenhuma fonte de água confiável.
Na
descida encontrei apenas dois casais que me perguntaram ansiosos quanto
faltava para chegar à laguna. Como se vê, o trekking da Laguna Aguak,
apesar de ótimo para aclimatação e de custo muito baixo, é pouco
conhecido.
Dali esperei alguns minutos pela van (1,50 soles) e
voltei a Huaraz. Percorri algumas agências de trekking do centro e
finalmente apareceu um grupo saindo para Huayhuash, e já no dia seguinte
logo cedo! Mas isso eu contarei no relato do Circuito Huayhuash que
estou escrevendo.
Custo do trekking de hoje: 3 soles.
À
noite resolvi jantar no restaurante Encuentro, que fica numa praça
chamada Parque Periodista entre os prédios da Avenida Luzuriaga (há
outro na Rua Julian de Morales). O prato de filé de frango que pedi
custava o mesmo que no restaurante San Remo em frente ao hostel (22
soles) mas estava meio frio e com acompanhamento muito pobre.
Bonita laguna na trilha da Laguna 69
Informações adicionais:
As empresas de ônibus que fazem a linha Lima-Huaraz (e que têm site) são:
. Cruz del Sur - www.cruzdelsur.com.pe
. Linea - www.transporteslinea.com.pe
. Moviltours - www.moviltours.com.pe
. Oltursa - www.oltursa.pe
. ZBuss - http://zbuss.com
. Julio Cesar - www.transportesjuliocesar.com.pe
Tanto
Lima quanto Huaraz e Caraz não têm rodoviária. Cada empresa tem seu
próprio terminal com o guichê de venda da passagem. A empresa Moviltours
tem agência no centro de Huaraz mas o terminal fica no bairro
Centenario.
A cotação do sol para o dólar estava:
. no aeroporto de Lima em 25/07/15: 3,00 soles = US$1 com comissão de 3%
. nas casas de câmbio de Huaraz: 3,15 soles em julho e 3,18 soles em agosto sem comissão
Rafael Santiago
agosto/2015
Excelente relato. Maravilha de paisagem. Parabéns!!!
ResponderExcluirValeu! Obrigado pela visita!
ResponderExcluirMuito bom o relato, cara!! Parabens!
ResponderExcluirPretendo ir pra lá em agosto e, com certeza, devo usar essas informações aí!
Valeu!
Abraço.
Valeu, Rogério
ExcluirPretende encarar algum trekking mais longo depois? Huayhuash, Santa Cruz ou outro?
Abraço.