As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaDiamantinaBiribiriPelaSerraDosCristaisMGMai15.
Sempre tive vontade de conhecer a vila de Biribiri por sua importância histórica. Ali existiu uma das primeiras comunidades fabris do estado de Minas, graças à fábrica de tecidos criada pelo Bispo Dom João Antônio dos Santos em 1876. A vila tinha geração própria de energia elétrica, armazém, escola, barbearia, igreja, restaurante e até clube. A fábrica foi desativada em 1972 e atualmente a vila é uma área particular administrada pela empresa Estamparia S/A.
Como não existe transporte público para o local e o trajeto de 15km pela estrada seria muito entediante para caminhada (interessante para bicicleta), vasculhei nas imagens do Google as possíveis trilhas no alto da serra entre a vila e Diamantina. Tracei para a ida uma rota que aproveitava a parte inicial da travessia Diamantina-Mendanha, chamada de Caminho dos Escravos, porém com um desvio em determinado ponto. E para a volta descobri uma trilha que parte da Cachoeira dos Cristais diretamente para o sul, reencontrando o Caminhos dos Escravos já próximo da rodovia BR-367. Dessa forma, desenhei um circuito bem bonito e interessante utilizando muito pouca estrada no percurso (exceto no desvio obrigatório que fiz pela rodovia por causa da falta de segurança na periferia de Diamantina).
1º DIA: DE DIAMANTINA À SERRA PRÓXIMA A BIRIBIRI
Às 11h25 parti do famoso mercado municipal de Diamantina descendo a Rua do Burgalhau, exatamente onde está fincada uma placa com informações sobre a travessia para Mendanha (Caminho dos Escravos). Desci toda a ladeira e na trifurcação da praça fui em frente (nem direita nem esquerda), pegando a Rua do Areião. Na bifurcação seguinte fui à direita e com mais 100m passei por um posto BR à esquerda. Na trifurcação a seguir fui para a esquerda, seguindo a placa do Caminho dos Escravos. Mas logo fui alertado pelos moradores de que havia ocorrido um assalto a um grupo de caminhantes naquela mesma manhã, além de outros casos nos últimos meses. Tive de buscar uma alternativa mais segura para continuar. Voltei ao posto BR e tomei a rua à direita às 11h49. Passei por um mercado à esquerda junto à pequena rotatória e na bifurcação subi à direita pois à esquerda voltaria ao centro. Essa é a Avenida Barão de Paraúna, que logo vira uma estrada sem acostamento que sobe até o trevo/rotatória de Biribiri, aonde cheguei às 12h16. Se fosse para a vila pela estrada é aqui que eu entraria, numa rua à esquerda, que também é o acesso à portaria do Parque Estadual do Biribiri. Esse trevo/rotatória fica exatamente na BR-367, longa rodovia que liga a cidade de Gouveia ao sul da Bahia. E foi por ela que caminhei 2,2km, até o local em que o Caminho dos Escravos a cruza, no km 585, sinalizado por várias placas. Ali as pessoas costumam parar o carro para visitar o grande calçamento feito pelos escravos no século 18, que fica a poucos metros da rodovia.
Pepalantus
Com esse desvio compulsório caminhei 1,6km a mais do que da outra vez, quando pude percorrer o caminho oficial, sem problemas de segurança. O relato dessa travessia está em travessia-diamantina-mendanha-pelo-caminho-dos-escravos-serra-do-espinhaco-mg-jun-12-t73278.html.
Retomei assim o Caminho às 12h58 subindo pela trilha à esquerda da rodovia (norte). Uma placa me diz que estou entrando no Parque Estadual do Biribiri, e nele permanecerei durante quase toda a caminhada. A água que corre ali vem das nascentes do Córrego Água Limpa, mas é bem vermelha e não pareceu confiável. A visão de Diamantina para trás vai se ampliando à medida que subo mas desaparece quando alcanço os campos acima. Estou em plena Serra dos Cristais e surge no horizonte a sudeste uma montanha onde já estive e onde poria os meus pés novamente daí a alguns dias, o Pico do Itambé. O caminho é largo e bem marcado, e há diversas placas registrando a distância já percorrida (números válidos desde que se faça o caminho oficial). Uma trilha surge à direita mas a placa manda seguir em frente (esse parece ser um atalho pouco usado). Cerca de 400m depois uma estradinha entronca à esquerda. Mais à frente uma trilha vem da direita, justamente a do atalho. Passo a caminhar exatamente na direção dos prédios da Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri, campus JK.
A estradinha desce e junto a um eucalipto solitário uma placa sinaliza que eu devo entrar na trilha à esquerda, abandonando a estrada. A trilha cruza outra estrada de terra e se aproxima um pouco mais dos prédios da universidade, que ficam do outro lado da BR-367. Porém faz uma curva para a esquerda e entra num trecho de 500m de mata, retomando a direção norte. Essa é uma das raras sombras de toda essa caminhada. Ao sair da mata há uma grande erosão à esquerda. Às 14h05 cruzo um riacho (afluente do Córrego da Roda) por uma ponte de troncos mas o acesso a ele não é tão fácil e não pego água. Onze minutos depois atravesso uma estrada de terra, mas continuo caminhando pela trilha. Às 14h21 chego à placa que chama a atenção para os picos que serviram de referência para os tropeiros: Pico do Itambé e Pico Dois Irmãos, ambos visíveis nesse dia. Bem mais próximo, a nordeste, destaca-se uma serra (sem nome na carta) em cujo lado esquerdo passa a trilha para Mendanha.
Córrego Soberbo
Uns 350m depois da placa dos picos, uma trilha dupla entronca à direita e alcanço outra placa que diz "km 8,268 - não use atalhos", junto a uma trilha à direita. Aqui abandono o Caminho dos Escravos (para Mendanha) e tomo a direção que me levará à vila de Biribiri, ou seja, ignoro essa trilha à direita onde está a placa e sigo em frente pela estradinha. Assim volto à direção norte (após ter caminhado um trecho para nordeste) e me afasto definitivamente da BR-367. Logo a estradinha começa a descer mais inclinada e chego a uma porteira de ferro com cadeado. Pulei-a às 14h53, subi um pouco à esquerda e quando a visão se abre novamente observo um cânion abaixo à esquerda, mas não me aproximo para explorar. Desço bastante até encontrar uma casa isolada às margens do rio do cânion, o Córrego da Roda, onde apenas uns cachorros assustados deram sinal de vida. Ali não há saída. Voltei 80m acima da casa e peguei uma trilha à esquerda (nem a notei à direita na descida), cruzei uma tronqueira e nas duas bifurcações a seguir fui à esquerda e à direita, logo entrando na sombra da mata.
Às 15h28, ainda dentro da mata, peguei a direita numa bifurcação e com apenas 25m cheguei ao Córrego Soberbo, um local bem aprazível, ótima parada para um lanche. Ali não é difícil atravessá-lo pelas pedras. Se tivesse pego a esquerda na bifurcação poderia cruzá-lo num único salto, após uma tronqueira. Retomando a caminhada às 16h cruzei o Soberbo pelas pedras e peguei a trilha da direita, me afastando do rio. Mas antes abasteci os cantis pois seria a última água corrente do dia. Segui sempre pelo caminho mais aberto até chegar às 16h17 a uma estrada larga de terra, para minha surpresa até com marcas de pneu. Quando ela bifurcou, fui para a esquerda. Cruzei uma porteira azul de ferro e uns 20m depois entrei numa trilha à direita, deixando a estrada, que desce numa curva para a esquerda. A trilha subiu bastante e no alto encontrei o trecho de paisagem mais bonita do dia ao caminhar entre jardins de rochas de formato curioso e estranho. Ao me afastar um pouco desses jardins de pedra e ganhar o campo, a trilha dá uma guinada para a esquerda (de norte para oeste) na direção de um serrote de pedras, desviando do grande platô que eu avistava à frente (17h04). Ela desenha um zigue e um zague para subir a serrinha e no alto cruza uma tronqueira. A paisagem muda novamente, com um típico cerrado à minha volta agora, em lugar dos campos rupestres. Após uma outra tronqueira, às 17h30, tratei de encontrar um local para montar acampamento pois ainda faltava muito para chegar a Biribiri.
Altitude de 1263m.
Nesse dia caminhei 17,9km (descontados os erros e explorações).
Campos rupestres
2º DIA: CHEGADA A BIRIBIRI E A VOLTA A DIAMANTINA
Apesar do céu estrelado da noite anterior, amanheceu bastante encoberto e com neblina, mas nada que prejudicasse a visualização do caminho.
Nesse dia deveria chegar à vila de Biribiri e retornar por trilha a Diamantina a tempo de pegar o ônibus das 15h para São Gonçalo do Rio Preto, mas como não conhecia nada do caminho tive de apertar o passo.
Comecei a caminhar às 6h42. A trilha seguiu bem batida entre as árvores do cerrado, mas quase desapareceu no capim ao chegar ao campo aberto. Na procura foram aparecendo outras picadas pouco usadas. Mas foi só caminhar por uma delas para oeste pelo campo que logo me deparei com um duplo trilho vindo da direita, até com marcas de pneu! Cruzei uma porteira de arame (estava aberta) e o caminho já virou uma estrada precária. Uns 330m depois da porteira abandonei a estradinha em favor de uma trilha à direita que subiu bastante. Ao atingir o topo às 7h08, imediatamente comecei a descer, inicialmente de forma suave, quase em nível, mas numa guinada para a direita desci de vez para o grande vale que se avista do alto. Nessa guinada há uma bifurcação na descida, tomei a direita, a trilha pareceu sumir mas reapareceu e encontrou logo o ramo da esquerda da bifurcação. No fundo do vale salto o riacho às 7h38 (afluente do Córrego Mocotó) e 10 minutos depois cruzo pelas pedras o próprio Córrego Mocotó. É a primeira água do dia. Na subida fui à esquerda na bifurcação por ser o caminho mais curto, mas tanto faz.
No alto, às 8h04, uma bifurcação que merece atenção pois o lado mais batido é o da direita, porém o meu caminho tinha de ser para a esquerda, descendo, logo tendo visão das estradas no vale. Passei por um interessante muro de arrimo feito de pedras para sustentar a trilha, um registro histórico. Mais abaixo, numa curva para a direita, explorei uma trilha saindo à esquerda e cheguei a uma bonita cachoeira do Córrego Mocotó. Às 8h42 entrei na mata ciliar do Ribeirão das Pedras (ou Rio Biribiri) e aí o momento que eu acho muito chato, tirar as botas para atravessar o rio, pois não avistei local fácil de travessia. Procurei a continuação da trilha na outra margem e estava à esquerda, invadida pelo capim alto no início. Tomei a esquerda na bifurcação na direção de um poste e às 8h59 alcancei a estrada de terra Diamantina-Biribiri. Fui para a direita para conhecer a vila. Caminhei 140m até o portal e desci, chegando às 9h10. Visitei a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, de 1876 (por fora), o agradável gramadão cercado de casinhas brancas e azuis, a antiga fábrica e o Ribeirão das Pedras, o mesmo que atravessara minutos antes.
Saí de lá às 9h24, subi de volta ao portal e continuei pela estrada. Cruzei o Ribeirão das Pedras por uma ponte de madeira e 180m depois entrei à esquerda na estrada para a Cachoeira dos Cristais, com placa. Às 10h passei pelo estacionamento, cruzei a ponte sobre o Córrego dos Cristais e com mais 5 minutos cheguei à cachoeira, não muito alta mas com um grande e convidativo poço. Comecei a procurar a trilha para Diamantina (que vai pelo alto da Serra dos Cristais) e gastei uma hora para encontrá-la. Mas aqui eu entrego o serviço completo e você não vai bater cabeça como eu. Uns 55m após a ponte do estacionamento fique atento a uma trilha larga que sai à esquerda do caminho da cachoeira. É só subir por ela, desprezar uma trilha que sai à direita na primeira curva (essa morre no rio e é difícil atravessar) e uns 50m após entrar na sombra da mata descer por uma trilha à direita cujo início está coberto pelo capim. Ela leva ao Córrego dos Cristais num local de travessia fácil pelas pedras. E depois toma o rumo sul quase sem variações pela Serra dos Cristais até reencontrar o Caminho dos Escravos, já bem perto da BR-367. Porém é uma subida constante, prepare-se.
Igreja do Sagrado Coração de Jesus, de 1876, em Biribiri
Agora era pé na trilha para recuperar o tempo perdido na procura do caminho certo. Subi às 11h16 a ladeira de pedrinhas brancas me afastando do Córrego dos Cristais e da cachoeira, e em meia hora alcancei um platô cercado de serras por todos os lados, inclusive à minha frente, sinal de que ainda subiria mais e mais a Serra dos Cristais. Cruzei três riachos (todos afluentes do Córrego dos Cristais), sendo que o último corria pela própria trilha por vários metros (e olha que não estava chovendo!). Ainda subindo, avisto três torres junto a uma casa bem no alto à direita, deve ser a Casa dos Ventos do parque estadual. Às 12h18 me deparo com uma cerca atravessando de leste para oeste, com um pasto (!) à frente e visão novamente dos prédios da universidade. A trilha continua para a direita (oeste) e sobe acompanhando a cerca, mas após a quina da cerca ela desaparece. Continuo na mesma direção (oeste) e vou retomando o rumo sul aos poucos até encontrar uma trilha de pedras escuras que vai exatamente nessa direção. Esse é o ponto mais alto da caminhada: 1440m. Às 12h33 cruzo em ângulo um caminho mais largo, mas continuo pela mesma trilha pois será um trajeto mais curto do que tomar esse caminho mais largo para a direita. À esquerda vão aparecendo casas a uma certa distância e ainda vejo a universidade.
Reencontrei o Córrego da Roda largo e raso, de travessia fácil pelas pedras, porém escorreguei no limo e entrou um pouco de água na bota direita. Uns 250m depois fui à direita na bifurcação (poderia ter ido à esquerda, tanto faz). Passei embaixo das linhas de alta tensão, cruzei uma estrada e pontualmente às 13h reencontrei o Caminho dos Escravos, onde fui para a direita. Em 7 minutos já tenho visão de Diamantina novamente e às 13h16 alcanço a BR-367. Poderia muito bem ter esperado o ônibus para São Gonçalo do Rio Preto ali mesmo já que estava no caminho, mas algumas indagações me rondavam a cabeça, como: será que o ônibus para aqui nessa subida da rodovia? será que virá lotado? Depois constatei que as respostas eram todas favoráveis, mas na dúvida (e por ser o último ônibus do dia) preferi caminhar até a rodoviária, o que teve seus pontos positivos (me informei sobre horários de outros ônibus que me interessavam, por exemplo). Mas antes fiz uma pausa para descanso e um lanche, e às 13h32 retomei a caminhada pela lateral da rodovia sem acostamento. Em 25 minutos passei pelo trevo de Biribiri e entrei na rua/estrada à esquerda, a mesma pela qual cheguei ao trevo no dia anterior. Desci 760m por ela e subi à direita a Rua Arraial dos Forros. Depois de várias ladeiras e ruas cujos nomes não identifiquei, cheguei à rodoviária às 14h27.
Altitude de 1284m.
Nesse dia caminhei 21,8km (descontados os erros e explorações).
Total da caminhada: 39,7km
Caminhada de Diamantina a Biribiri: 23,9km
Caminhada de Biribiri a Diamantina: 15,3km
Ponto mais alto da caminhada: 1440m
Cachoeira dos Cristais
Informações adicionais:
A empresa que faz a linha São Paulo-Diamantina é a Gontijo (www.gontijo.com.br) e a que faz BH-Diamantina é a Pássaro Verde (http://gabrasil.com.br).
O site oficial do Parque Estadual do Biribiri é www.ief.mg.gov.br/areas-protegidas/200.
A vila de Biribiri pode ser visitada todos os dias das 7h às 18h.
Carta topográfica de Diamantina: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SE-23-Z-A-III.jpg
As denominações de rios e serras usadas aqui foram extraídas das cartas topográficas do IBGE e podem não coincidir com as denominações dadas pelos moradores da região, ou podem mesmo estar erradas.
Rafael Santiago
maio/2015
Percurso na carta topográfica |
Percurso na imagem do Google Earth |
Percurso na carta topográfica - parte 1 |
Percurso na imagem do Google Earth - parte 1 |
Percurso na carta topográfica - parte 2 |
Percurso na imagem do Google Earth - parte 2 |
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