domingo, 17 de maio de 2020

Cerro La Cruz (Esquel, Argentina) - mar/20

Cerro 21 e Cerro Três Torres vistos do cume do Cerro La Cruz
Início e final: centro de Esquel
Distância: 10,3km
Maior altitude: 1074m no cume do Cerro La Cruz
Menor altitude: 566m na Praça San Martín
Dificuldade: fácil, apesar do desnível positivo de 508m

Com o fechamento dos parques nacionais e outras áreas de preservação em 15 de março pela pandemia do coronavírus, e ainda não decretada a quarentena total na Argentina (seria no dia 20), fui fazer uma trilha que estava fora de qualquer parque ou reserva, o Cerro La Cruz. Essa montanha se ergue a sudeste do centro da cidade de Esquel, com altitude de 1074m. A má notícia é que é possível chegar de carro ao cume, mas eu procurei percorrer o máximo de trilhas e o mínimo de estradas no meu trajeto.


Atenção: NÃO recomendo iniciar a trilha pelo bairro Matadero, por onde iniciei. Parece bem mais seguro fazer o trajeto de ida e volta pela ponte da Rua Hipolito Yrigoyen, por onde terminei a caminhada.


É preciso levar água para o dia todo pois não há nenhum riacho nesse percurso. Protetor solar é necessário pois se caminha a maior parte do tempo sem sombra.


17/03/2020 - Saí do Camping La Colina às 12h30 e caminhei 1,5km até a Praça San Martín. Vou tomar como referência para distâncias e desníveis nesse relato a Praça San Martín, a praça central de Esquel. Altitude de 566m. 


Saindo da Praça San Martín às 12h50 pela Avenida Ameghino, caminhei uma quadra para sudoeste e entrei à esquerda na Rua Perito Moreno. O Cerro La Cruz está diretamente em frente. Ao final de três quadras cruzei o Rio Esquel, mas a visão à frente não foi muito animadora. Um bairro muito feio de nome Matadero (sugestivo?) sobe o morro e lembra uma favela. Guardei todas as coisas na mochila (celular, gps) para não deixar nada exposto e continuei. 


Esquel vista do cume do Cerro La Cruz
Não perguntei depois aos moradores sobre esse bairro, mas passei lá no final do dia e havia carros da polícia em frente a uma casa. Depois li notícias ruins sobre esse lugar na internet. Vou descrever abaixo o meu percurso mas NÃO suba a pé por esse caminho!

Depois da ponte a Perito Moreno muda de nome para Santa Fé e sobe bem inclinada. Ao final dela tomei uma trilha de 30m que me deixou na rua acima. Fui para a esquerda e logo para a direita para me manter numa reta e atravessar logo o bairro. A rua faz uma curva para a direita e vai virando uma estradinha de terra, com as últimas casas ficando para trás. 


Às 13h13 entrei na primeira estradinha que apareceu à esquerda, apontando para o cerro. Ali ainda não me senti seguro porque algumas pessoas invadiram o lugar e ergueram barracos. Cumprimentei um morador mas passei rapidamente. Daí em diante não havia mais casas ou barracos. 


Às 13h30 deixei essa estrada e entrei à direita, onde há uma plaquinha verde "Cerro La Cruz". Subi diretamente em direção ao cerro e 6min depois fui para a direita na bifurcação sem sinalização. Às 13h44 cheguei a um largo com placa de estacionamento e um painel com informações sobre o "Sendero a la cumbre Cerro La Cruz". Ao lado está o primeiro mirante em forma de plataforma com bancos, já com uma bonita vista da cidade e das montanhas.


A trilha que inicia ali entra no bosque de pinheiros e é um atalho para o trajeto em ziguezague que a estrada passa a fazer. Às 14h02 alcancei um cruzamento de trilhas e fui para a esquerda seguindo uma sinalização de círculos azuis pintados nos troncos. 


Uns 4min depois cruzei uma estrada, me mantive subindo pela trilha e fui para a direita na bifurcação. Tentei sempre seguir os círculos azuis pois parecia ser o melhor caminho. Às 14h21 saí do bosque de pinheiros numa subida mais inclinada. O terreno passa a ser mais pedregoso acima do bosque. Às 14h27 alcancei o segundo mirante, uma plataforma igual à anterior. Mas ainda faltava um pouco para o cume.


Do mirante tomei a trilha que em 100m desembocou na mesma estradinha que abandonei no primeiro mirante. Fui para a direita e a visão foi se ampliando para o lado leste agora. Ainda surgiu uma terceira plataforma-mirante à direita, um pouco abaixo. A estradinha fez uma espiral para a esquerda e às 14h44 atingi o seu final. No alto de um morrote há um cruzeiro de ferro e mais acima, no cume, uma pequena construção. Altitude de 1074m. Dali se avista: Cerro 21 e Cerro Três Torres a nordeste, Cerro Nahuel Pan a sudeste, Cordón Situación a oeste e o vale por onde corre o trem La Trochita também a nordeste.


Cume do Cerro La Cruz
Fiquei mais de 1h admirando a paisagem lá de cima. Estudei os caminhos no gps e encontrei um outro percurso para voltar à cidade sem passar pelo bairro Matadero. Nele teria muito mais estradinha do que trilha mas seria bem mais seguro.

Às 16h09 comecei a descida, inicialmente pelo mesmo caminho. Passei pelo segundo mirante, reentrei no bosque de pinheiros e ao alcançar a estradinha, em lugar de cruzá-la (como fiz na subida) caminhei por ela à esquerda. Saí em outra estrada e fui para direita. Na bifurcação de estradas 120m depois fui para a direita novamente por ser o caminho mais curto (a esquerda serviria também, porém num percurso mais longo). A estrada virou um retão descendo. Segui em frente num cruzamento. Mais abaixo vi no chão pegadas de felino e não eram pequenas. 


Fui para a direita numa bifurcação às 16h54 e convergiram caminhos vindo da direita e da esquerda. Por ser um reflorestamento há um emaranhado de estradinhas. Mais abaixo num cruzamento segui em frente e depois numa bifurcação continuei para a esquerda. 


Às 17h05 alcancei uma confluência de cinco estradinhas (contando a estradinha pela qual cheguei). Dessas, tomei a do meio para a direita. É fácil identificá-la pois desce diretamente para a cidade e é a que está em piores condições (muita pedra). Ela faz um grande ziguezague mas há pequenas trilhas como atalho. Às 17h28 cruzei a ponte sobre o Rio Esquel em frente à Rua Hipolito Yrigoyen, a sete quadras da Praça San Martín. Altitude de 566m. 


Informações adicionais:


. o Camping e Hostel La Colina fica 1,5km a noroeste da Praça San Martín. Tem duchas e torneiras quentes o dia todo, pias ao lado dos banheiros e wifi. Tem luz, tomada e mesa de piquenique em cada módulo. Serve sanduíches e pizzas, além de café da manhã. Cobra ARS150 (R$9,38) pelo uso da cozinha (por até 2h). 

Preços por pessoa para acampar: ARS280 (R$17,50)
Site: www.lacolinaesquel.com.ar

Rafael Santiago

março/2020


Trilha do Lago Krügger, Parque Nacional Los Alerces (Argentina) - mar/20

Playa Blanca vista do Portezuelo
O Parque Nacional Los Alerces foi criado em 1937 com o objetivo principal de proteger os bosques de alerce (lahuán em idioma mapuche), árvore gigante e ancestral da Patagônia. Tem basicamente quatro núcleos: Lago Rivadavia e Lago Verde/Rio Arrayanes na zona norte, Vila Futalaufquen na zona centro e Lago Amutui Quimei na zona sul. Escolhi os núcleos Lago Verde/Rio Arrayanes e Vila Futalaufquen pois me pareceram ter as trilhas mais interessantes, com mais montanhas.

Depois de três dias percorrendo as trilhas do setor Lago Verde (relato aqui), tomei o ônibus das 18h40 (único do dia) e cheguei à vila de Futalaufquen às 19h40. O Centro de Informes do Parque Nacional Los Alerces estava fechado (funciona de 8 a 16h na baixa temporada), então informações sobre as trilhas abertas e habilitadas só teria no dia seguinte.

Futalaufquen (pronuncia-se FutalÁufquen) vem do idioma mapuche e significa lago grande (futa=grande e laufquen=lago).

Ali há três opções de camping: Camping Libre Las Rocas (gratuito, com banheiros, mas estava sem água), Camping Los Maitenes (ARS350) e Camping Rahué (ARS350). Preferi o Rahué pelo atendimento muito simpático do dono (no Maitenes era um funcionário entediado). Mais detalhes sobre esses campings nas Informações Adicionais ao final do relato.

No dia seguinte voltei ao Centro de Informes e a guardaparque me disse que estavam abertas as trilhas (distâncias de ida e volta): 
Pinturas Rupestres (870m), 
Cinco Saltos (1,8km e desnível positivo de 184m a partir da trilha do Lago Krügger),
Lago Krügger (43km, desnível positivo de 553m, registro obrigatório e saída até as 10h da manhã), 
Cerro Cocinero (11km a partir da Ruta 71, desnível positivo de 890m, registro obrigatório e saída até as 10h da manhã).

E estavam fechadas: 
Cerro El Dedal (15km, desnível de 1080m), 
Arroyo Cascada (10km, desnível de 340m), 
Las Palanganas (9km a partir do Lago Krügger), 
Huella Andina etapa Vila Futalaufquen-Portada Centro (11km ida; este seria um acesso por trilha à base do Cerro Cocinero).

Lago Futalaufquen
Dessas, escolhi fazer a trilha do Lago Krügger/Cinco Saltos e possivelmente o Cerro Cocinero se conseguisse carona para ir e voltar já que a trilha da vila à base do Cocinero estava fechada (Huella Andina etapa Vila Futalaufquen-Portada Centro).

Mas tudo para o dia seguinte pois é obrigatório fazer o registro de trekking até no máximo 10h justamente para as duas trilhas que escolhi percorrer. E eu ainda precisava comprar comida. 

A vila de Futalaufquen tem um mercadinho (Mercado El Negro), mas tem pouca variedade e muitas vezes está fechado. Procurei outros dois mercados e também estavam fechados. A proveeduría (mercadinho básico) do Camping Los Maitenes também é bem fraquinha. Onde todos param para comprar comida é na proveeduría do Camping Rahué, onde eu acampei. O dono sempre tem pão caseiro fresco (ele mesmo faz) e vende queijo em pedaço também.

Nesse dia ainda percorri a Trilha das Pinturas Rupestres com subida a um mirante sobre um rochedo. É um circuito de 870m bem fácil, com acesso a cadeirantes até as pinturas.

Trilha do Lago Krügger

Início e final: vila de Futalaufquen
Distância: 21,5km (só ida)
Duração: 3 dias
Maior altitude: 1079m em Portezuelo
Menor altitude: 526m à margem dos lagos Futalaufquen e Krügger
Dificuldade: média para quem está acostumado a longas travessias com mochila cargueira e acampamento selvagem. A maior subida tem desnível de 553m. Entre o Portezuelo e a Playa Blanca a descida é bastante inclinada, portanto uma subida bem difícil na volta.

A trilha do Lago Krügger tem um formato de U invertido abraçando a montanha denominada Cordón Situación, onde se encontram o Cerro El Dedal e o Cerro Cocinero. Percorre as encostas dos lagos Futalaufquen e Krügger, os quais se comunicam através do Estrecho de los Monstruos (nome dado por causa das trutas gigantes encontradas ali no passado). 

Playa Blanca
1º DIA - 14/03/20 - da vila de Futalaufquen à Playa Blanca

Distância: 13,7km (mais 860m ida e volta a Puerto Limonao; mais 1,8km ida e volta à Cachoeira Cinco Saltos)
Maior altitude: 1079m em Portezuelo
Menor altitude: 526m na Playa Blanca
Resumo: na trilha que leva ao Lago Krügger fiz um desvio para conhecer a Cachoeira Cinco Saltos, subindo e descendo de volta um desnível de 184m a partir da bifurcação. Continuando o caminho ao lago subi 462m verticais, baixei 79m, subi novamente 132m e por fim desci 553m muito íngremes para acampar na Playa Blanca.

Saí do camping às 9h25 e fiz o registro de trekking para o Lago Krügger antes das 10h, horário-limite. Fogareiro é um item obrigatório para essa trilha, porém expliquei à guardaparque que não cozinho, só como comida fria, e ela não fez objeção. Tomei a estradinha às 9h47 na direção norte e depois de 560m, às margens do Lago Futalaufquen, entrei numa trilha à direita sinalizada com uma placa "Puerto Limonao" e Huella Andina.

A Huella Andina é uma trilha argentina de 570km de extensão dividida em 42 etapas. Vai da província de Neuquén à província de Chubut, no norte da Patagônia. Sua sinalização são duas faixas horizontais de cores azul e branca. A trilha do Lago Krügger faz parte da etapa de número 39 desse caminho de longo curso (mais informações aqui e aqui).

Essa trilha a Puerto Limonao corre paralela à estrada (agora de rípio) e tem painéis identificando algumas espécies de árvores. Algumas janelas na mata deixam ver o bonito Lago Futalaufquen. 

Às 10h32 saí numa estradinha secundária e a placa de Puerto Limonao mandava seguir para a direita. Passei por Puerto Bustillo e 110m depois reentrei na trilha à direita. Às 10h57 uma bifurcação: Puerto Limonao em frente e Cinco Saltos/Lago Krügger à esquerda. Meu destino era o lago mas fui em frente para conhecer Puerto Limonao. Até aí foram sete riachos cruzados, mas eu preferi pegar água mais acima. 

Cheguei às 11h07 a Puerto Limonao. Esse é o porto da vila de Futalaufquen e dele saem barcos para o Lago Krügger. Tirei fotos da linda vista e retornei (pela estrada) à bifurcação para Cinco Saltos/Lago Krügger, entrando nessa trilha às 11h20. No começo é uma estradinha fechada a carros por uma cancela. Depois da ponte do Arroyo Los Pumas vira uma trilha mesmo. Passei pelos fundos da Hosteria Futalaufquen e às 11h39 encontro a bifurcação da cachoeira Cinco Saltos. Altitude de 564m. 

Subi à esquerda para conhecê-la, saindo do bosque. Às 12h02 cheguei a um mirante (altitude de 726m). Ignorei uma placa de "cerrado por mantenimiento" e continuei. Subi um pouco mais (até 748m) e desci para me aproximar do riacho, o mesmo Arroyo Los Pumas, mas vi apenas pequenas quedas e pocinhos. Nesse trecho a trilha não está mesmo em bom estado e atravessa um bosque queimado.

Mutisia decurrens
Voltei ao mirante, comi um lanche e desci de volta à bifurcação, retomando a trilha do Lago Krügger às 13h27. Nos próximos 2km, aproximadamente, a trilha percorre a encosta do Lago Futalaufquen no sentido noroeste para depois subir. Esse trecho é bonito pelas vistas do lago mas a trilha em si é ruim de caminhar pois é inclinada, caindo para a direita. Além disso, atravessa uma área em recuperação de incêndio, com pouca sombra por conta das árvores queimadas. 

Cruzei cinco riachos e é bom se abastecer aí pois logo vem uma subida mais cansativa. Às 14h10 passei por um local dentro de um bosque com uma placa de Cementerio de Puesto Rozas (família Rozas) e um cruzeiro de madeira, mas não há túmulos aparentes. 

A trilha começa a subir e se afastar do lago. Faz uma curva para a esquerda, toma o rumo sul como se estivesse voltando e atravessa um bosque vivo às 14h49. Depois retoma o sentido noroeste e atinge a altitude de 1026m. Essa é a primeira das duas subidas mais acentuadas desse dia. Na descida, reentro no bosque e encontro às 15h35 um riacho com a placa de "último arroyo". Esta é a última água antes do Portezuelo, o ponto mais alto da travessia, portanto melhor encher os cantis. Parei para comer.

Saio do bosque e a trilha aponta para uma colina recoberta de floresta, mas antes de alcançá-la ela quebra para a esquerda (oeste) e passa a acompanhar uma vala profunda que é o limite dessa colina. Me dirijo para um campo entre as colinas e baixo para a altitude de 947m, mas logo volto a subir.

Subo por um vale com algumas matinhas e às 16h43 atinjo o ponto mais alto, chamado de Portezuelo (=passo de montanha). Altitude de 1079m. A vista é magnífica, parei um bom tempo para admirar e tirar fotos. Mais alguns metros e já avisto a Playa Blanca bem abaixo. 

A partir do Portezuelo a trilha despenca para a Playa Blanca. Sim, é muito íngreme! Bastão ou cajado muito importantes para não estourar os joelhos. Reentrei no bosque às 17h07 e a primeira água apareceu às 17h57, já bem perto do Lago Futalaufquen. Cheguei à Playa Blanca às 18h25. Um riacho deságua nela, portanto há água fácil.

O lugar é tão bonito e tranquilo que nem pensei em continuar até o Lago Krügger nesse dia. Nas praias a recomendação é acampar nas áreas sinalizadas com plaquinhas nas pedras e não sobre a vegetação, que é muito frágil. O camping na Playa Blanca é selvagem, não há banheiro ou outra estrutura.

Altitude de 526m.

Temperatura mínima durante a noite fora da barraca: 4,8ºC

Playa Blanca
2º DIA - 15/03/20 - da Playa Blanca ao Lago Krügger (e fechamento dos parques nacionais pela pandemia do coronavírus)

Distância: 7,8km
Maior altitude: 676m
Menor altitude: 526m à margem dos lagos Futalaufquen e Krügger
Resumo: esse dia teve uma variação de altitude bem menor que o anterior, com duas subidas de 150m e 148m, sempre na sombra do bosque

Comecei a caminhar às 11h19. Tive de esperar o sobreteto da barraca secar ao sol pois de tão molhado pingava até dentro da barraca. A trilha sai para oeste por dentro do bosque e já começa com subida. Encontrei um argentino que estava no Centro de Informes no dia anterior fazendo o registro e ele fez todo o percurso até o Lago Krügger num dia só em 9h. O meu tempo, descontadas as idas a Puerto Limonao e Cinco Saltos, totalizaria 10h. 

Nessa primeira subida cheguei aos 676m (desnível de 150m) às 12h16 e desci de novo ao nível do Lago Futalaufquen, com algumas vistas bonitas dele por entre as árvores. Perto da margem me deparei às 13h16 com um riacho correndo por uma vala e a ponte é um tronco atravessado, porém estreito e escorregadio. Procurei nas laterais uma alternativa mais segura e acabei cruzando o riacho à direita do tronco, varando um matinho. Essa é a primeira água desde a Playa Blanca.

A trilha sobe novamente, chega aos 674m (desnível de 148m) às 14h24 e desce ao lago outra vez exatamente onde há um riacho de água boa (segunda água do dia). Mas agora o lago é o Krügger, não mais o Futalaufquen. 

Cheguei ao início da praia de pedrinhas do Lago Krügger às 14h47, mas a área de acampamento e o posto do guardaparque ainda estavam mais à frente. Passei pela antiga área de acampamento e estava interditada. Cheguei ao posto do guardaparque às 15h e estava fechado. Na hosteria ao lado estavam encaixotando tudo para fechar e ir embora. 

Lago Krügger
Perguntei do guardaparque ao pessoal da hosteria e disseram que ele estava trabalhando numa trilha. Vi a placa da trilha Las Palanganas (=as bacias) mas estava com aviso de "cerrado por mantenimiento". Porém o rapaz da hosteria disse que eu poderia ir por ela até um local chamado Naufragio del Frey, no meio do caminho. E foi o que fiz. 

Essa trilha Las Palanganas tem 9km ida e volta e eu tinha programado percorrê-la para completar esse dia de caminhada. Ela margeia o Lago Krügger e depois o belo Rio Frey. Quando cheguei aos 1,2km desde a hosteria me deparei com a trilha em mau estado, interditada com faixas e uma seta apontando para a direita. Fui para a direita e desci 140m (horizontais) até a margem do Rio Frey nesse local de nome Naufragio del Frey. Lugar muito bonito, com o rio de águas esverdeadas e transparentes. 

Voltei ao ponto de interdição e tive coceira de continuar, mas se o guardaparque estava trabalhando numa trilha só podia ser nessa. E ele não ia gostar nem um pouco de me ver nela. Voltei à hosteria e o rapaz me orientou onde deveria acampar: na praia, sobre as pedrinhas mesmo, nos lugares sinalizados com uma plaquinha. Assim como na Playa Blanca, camping gratuito e sem banheiro.

Na praia conversei com um rapaz de Buenos Aires e ele foi o primeiro a me dizer que os parques nacionais estavam sendo fechados naquele dia pela pandemia do coronavírus e que nós deveríamos sair no dia seguinte. Como não poderíamos refazer o trajeto de volta pela trilha, o guardaparque iria nos levar de bote. O problema é que ele ia nos levar até Punta Mattos e não até Puerto Limonao. E Punta Mattos fica a 18,8km da vila de Futalaufquen, onde nós dois tínhamos deixado parte de nossas bagagens. 

Somente à noite encontrei o guardaparque e ele confirmou tudo isso. Disse que não poderia nos levar a Puerto Limonao por ser muito longe... Assim estávamos sendo "despejados" da trilha num local distante de onde começamos e com chance muito menor de conseguir uma carona. E ainda proibidos de acampar mais uma noite caso não conseguíssemos sair do parque.

Altitude de 526m.

Temperatura mínima durante a noite fora da barraca: 5,5ºC

Rio Frey no local conhecido como Naufragio del Frey
3º DIA - 16/03/20 - do Lago Krügger à vila de Futalaufquen (e saída forçada do parque nacional fechado pela pandemia)

Distância: 18,8km (de estrada)
Maior altitude: 593m
Menor altitude: 526m no Camping Rahué
Resumo: saí do Lago Krügger no bote do guardaparque e encarei 18,8km de estrada para voltar ao Camping Rahué (maior desnível positivo de 57m)

Às 8h40 da manhã estava 7,9ºC.

Às 9h45 saímos eu e o portenho num pequeno bote inflável a motor com o guardaparque. Cruzamos o Lago Krügger, o Estrecho de los Monstruos (água de 2,5m de profundidade totalmente transparente com as trutas nadando) e navegamos pelo Lago Futalaufquen até o ancoradouro de Punta Mattos, chegando às 10h05. 

Tentamos ver no posto de guardaparques ali se iriam sair para o sul para nos dar carona até a vila de Futalaufquen mas a resposta foi negativa. O ônibus que passa ali uma vez por dia só passaria na quarta-feira (dois dias depois) pois após 11 de março a frequência passa a ser de três vezes por semana (sábado, domingo e quarta-feira).

O meu parceiro imediatamente tomou a estrada e foi embora para a vila. Eu fiquei na beira da estrada de rípio para tentar a sorte numa carona. Mesmo com o parque fechado essa estrada estava aberta pois serve de ligação entre vilas e cidades vizinhas. O problema é que não havia mais turistas e os raros que passavam tinham medo de dar carona pelo risco de contaminação. 

Esperei até 12h56 (cerca de 2h30) e nada. Resolvi ir caminhando mesmo... afinal ainda tinha que pegar as minhas coisas no camping e dar um jeito de sair do parque pois não era permitido mais acampar dentro dele. 

Durante a minha caminhada de 18,8km passaram vários carros, quase todos indo para o norte, e os poucos para o sul não quiseram parar. Todos os atrativos, campings e hosterias do caminho estavam fechados. 

Cheguei ao Camping Rahué às 17h29, descansei, peguei as coisas e voltei ao trevinho da vila para pedir carona para Esquel ou Trevelin, as cidades mais próximas. Quando estava quase anoitecendo um caminhão de lenha parou e me levou até Esquel, aonde cheguei somente às 22h por problemas que o motorista teve na portaria do parque para sair com lenha sem a guia de autorização. Em Esquel fui para o Camping La Colina.

Rio Frey
Informações adicionais:

. ônibus das cidades de Lago Puelo e Esquel ao Parque Nacional Los Alerces (Transportes Esquel)
no verão (de 19/12 a 11/03): diário
após 11/03: quarta, sábado e domingo
sai de Lago Puelo às 15h30 e passa nos setores Lago Rivadavia (18h), Lago Verde (18h40), Vila Futalaufquen (19h40). Chega a Esquel às 20h40.
sai de Esquel às 8h e passa nos setores Vila Futalaufquen (9h15), Lago Verde (10h30), Lago Rivadavia (10h50). Chega a Lago Puelo às 13h30.
o valor do trajeto Lago Verde-Vila Futalaufquen é ARS200 (R$12,50 pelo câmbio não-oficial em Bariloche)

. a taxa de entrada no Parque Nacional Los Alerces para estrangeiros é ARS400 (R$25)

. site do parque: www.argentina.gob.ar/parquesnacionales/losalerces

. o Centro de Informes do Parque Nacional Los Alerces em Vila Futalaufquen funciona de 8h a 19h na alta temporada e de 8h a 16h na baixa temporada

. na vila de Futalaufquen há sinal de celular 

. o Camping Rahué tem: proveeduría (mercadinho básico), duchas e torneiras quentes o dia todo, tanques ao lado dos banheiros, luz e tomada no módulo, wifi, pão caseiro feito pelo dono e guarda de bagagem para fazer trilhas. Não tem cozinha mas cada módulo tem uma churrasqueira que eles chamam de fogón. 
Preço por pessoa: ARS350 (R$21,88)

. o Camping Los Maitenes conta com restaurante, bar e margem do Lago Futalaufquen. Possui: proveeduría (mercadinho básico), ducha quente só de manhã e à noite, luz e tomada no módulo, não tem wifi, guarda de bagagem para fazer trilhas. Não tem cozinha para os campistas mas cada módulo tem uma churrasqueira que eles chamam de fogón.
Preços por pessoa: alta temporada ARS400 (R$25); baixa temporada ARS350 (R$21,88)
Site: www.campinglosmaitenes.com

. o Camping Libre Las Rocas tem: banheiros e lavatórios, mas estava sem água. Não tem cozinha mas cada módulo tem uma churrasqueira que eles chamam de fogón.
Preço por pessoa: gratuito

. o parque exige que se faça registro de trekking para as trilhas do Lago Krügger e do Cerro Cocinero. Para o Lago Krügger o registro deve ser feito no Centro de Informes de Vila Futalaufquen pela manhã, com saída no máximo até 10h. Do Cerro Cocinero deve ser feito no Centro de Informes de Vila Futalaufquen ou na Portada Centro (12,4km dali pela Ruta 71), com saída no máximo até 10h. Ao final deve-se registrar o horário de retorno.

Rafael Santiago
março/2020


Parque Nacional Los Alerces - setor Lago Verde (Argentina) - mar/20

Encontro do Rio Arrayanes com o Rio Menéndez visto da Pasarela
O Parque Nacional Los Alerces foi criado em 1937 com o objetivo principal de proteger os bosques de alerce (lahuán em idioma mapuche), árvore gigante e ancestral da Patagônia. Tem basicamente quatro núcleos: Lago Rivadavia e Lago Verde/Rio Arrayanes na zona norte, Vila Futalaufquen na zona centro e Lago Amutui Quimei na zona sul. Escolhi os núcleos Lago Verde/Rio Arrayanes e Vila Futalaufquen pois me pareceram ter as trilhas mais interessantes, com mais montanhas.

Eu estava na cidade de Lago Puelo e tinha acabado de fazer a trilha do Cerro Currumahuida (relato aqui). Para chegar ao setor Lago Verde do parque tomei o ônibus das 15h30 da empresa Transportes Esquel. A viagem foi longa por estradas de asfalto e rípio. Entramos no parque pela Portada Norte (Lago Rivadavia) e desci para pagar a taxa de entrada de ARS400 (R$25 pelo câmbio não-oficial em Bariloche) para estrangeiro (ARS180 para argentinos). Chegamos ao trevinho do Camping Lago Verde, na Ruta 71, às 18h45. Da Ruta desci 700m até o camping. Ao final da estradinha, junto ao Lago Verde, há o Camping Agreste Lago Verde à esquerda e o El Aura Lodge com camping organizado à direita. Há também o posto do guardaparque. Como o camping agreste tinha tudo o que eu precisava e o organizado custa o dobro, não tive dúvida. Veja nas Informações Adicionais ao final do relato o que cada camping oferece e seus preços.

Altitude de 534m.

1º DIA - 08/03/20 - trilhas Viejo Lahuán, Lahuán Solitario, Puerto Chucao, Mirador Glaciar Torrecillas, Puerto Mermoud

Distância: 14,5km
Maior altitude: 594m perto do estacionamento da Pasarela
Menor altitude: 517m às margens do Lago Verde
Resumo: nesse primeiro dia no parque emendei as trilhas mais curtas do setor Lago Verde, todas com variação muito pequena de altitude

Às 10h saí do camping não pela estradinha que sobe à Ruta 71 mas pelos fundos, onde tomei uma trilha para a direita. Essa trilha margeou o Lago Verde por algum tempo depois subiu e se afastou dele. Há trechos estreitos com queda para o lago - uma placa ao final alerta: "trilha não apta para pessoas com vertigem de altura". Ela terminou num estacionamento junto à Ruta 71 às 10h25. Dali poderia pegar a trilha diretamente para a Pasarela para visitar a maioria dos lugares que havia planejado ver nesse dia, mas antes fui conhecer o Viejo Lahuán (velho alerce), um pouco mais distante. 

Do estacionamento tomei a Ruta 71 por 1,1km no sentido sul e entrei às 11h14 numa trilha à direita com um pequeno estacionamento e sinalização da Huella Andina, duas faixas horizontais de cores azul e branca. Essa trilha faz parte da etapa de número 37 desse caminho de longo curso.

Rio Menéndez
A Huella Andina é uma trilha argentina de 570km de extensão dividida em 42 etapas. Vai da província de Neuquén à província de Chubut, no norte da Patagônia (mais informações aqui e aqui). Atravessando este parque ela interliga os vários setores, porém tem algumas interrupções e por ter seu trajeto quase sempre próximo da Ruta 71 não desperta tanto interesse.

Essa trilha seguiu pela margem esquerda do belo Rio Arrayanes. Às 11h46 cheguei ao Camping Agreste Rio Arrayanes e parei para conhecer (preços e mais detalhes em Informações Adicionais). Voltei a caminhar às 12h29 ainda pela margem do verdíssimo Rio Arrayanes e passei por um curioso bosque de... arrayanes, com seus troncos cor de canela que geralmente crescem inclinados. Parei para fotos. Cheguei ao Viejo Lahuán (velho alerce) às 13h24, mas me decepcionei. A velha árvore havia perdido seu topo e há uma abertura grande na parte inferior do tronco. Até pensei que estivesse morta, mas vi que tem galhos crescidos no outro lado. Fiquei bastante tempo por ali e fiz um lanche. 

Iniciei o retorno às 15h. Passei novamente pelo Camping Rio Arrayanes porque li num relato que haveria wifi, mas não havia. Voltei pelo mesmo caminho e às 16h37 estava de volta à Ruta 71, onde vacas pastavam... não é um parque nacional? Voltei 680m pela estrada e 370m antes do estacionamento desci uma estradinha à esquerda, chegando à Pasarela, uma ponte suspensa sobre o Rio Arrayanes com um visual espetacular e de onde se vê o encontro deste rio com o Rio Menéndez. À direita está o Lago Verde.

Ao cruzar a "vibrante" Pasarela inicia à esquerda uma trilha interpretativa chamada Sendero Lahuán Solitario, de 1,5km de extensão dali até Puerto Chucao. Depois o caminho continua em forma de estradinha até Puerto Mermoud e então volta a ser trilha, retornando à Pasarela. Portanto um percurso em formato circular que totaliza 3,5km. Fui para a esquerda, percorri a margem esquerda do belo Rio Menéndez e cheguei às 17h39 ao Lahuán Solitario, um alerce de aproximadamente 300 anos. Lahuán é a palavra mapuche para alerce e significa avô. Esse está bem mais bonito e majestoso que o Viejo Lahuán. 

Na continuação encontrei uma placa alertando para a presença de pumas (já é a segunda) e para não caminhar sozinho... medo! Fui à esquerda na bifurcação e às 17h54 cheguei a Puerto Chucao, já às margens do Lago Menéndez. Dali saem passeios de barco para o bosque de alerces milenários. Continuando o pequeno circuito passei pelo Mirador do Glaciar Torrecillas, também às margens do Lago Menéndez, às 18h04. Desde Puerto Chucao a trilha virou uma estradinha que o liga ao Puerto Mermoud. Na bifurcação com placa de Sendero Lago de las Juntas tomei essa trilha para a esquerda mas tanto faz. Lago de las Juntas é o nome antigo do Lago Verde, aonde cheguei às 18h28, exatamente em Puerto Mermoud, um píer de madeira. 

Seguindo no circuito encontrei uma bifurcação com placa: à esquerda se chega à Pasarela pela costa (500m), à direita se chega à Pasarela pela escadaria (700m). Preferi ir para a esquerda para tirar fotos do Lago Verde mais de perto. Atravessei a Pasarela às 18h56, subi ao estacionamento e voltei ao camping pela mesma trilha da manhã, chegando às 19h35.

Vista do Cerro Alto El Petiso: Lago Menéndez e Lago Futalaufquen ao fundo
2º DIA - 09/03/20 - trilha do Cerro Alto El Petiso

Distância: 17,5km (ida e volta a partir do Camping Agreste Lago Verde)
Maior altitude: 1777m no cume do Cerro Alto El Petiso
Menor altitude: 517m às margens do Lago Verde
Resumo: a trilha do Cerro Alto El Petiso é a mais pesada do setor Lago Verde, com desnível de 1260m, trechos longos só de pedras e subida íngreme para atingir o cume

Na noite anterior fui ao posto do guardaparque e ele me deu todas as orientações de como é a trilha para o Cerro Alto El Petiso. É uma das caminhadas mais difíceis do parque e por isso exige que se faça o registro de trekking na hora da saída. Há também horários-limite: 9h para registrar e sair, 10h para passar por Puerto Mermoud (início da subida) e 15h para iniciar o retorno, esteja onde estiver.

Nesse dia fiz o registro no livro que fica pendurado ao lado da porta da casa do guardaparque e saí às 8h22. Havia o registro de uma brasileira três dias antes. Novamente saí pelos fundos do camping, passei pelo estacionamento e depois da Pasarela fui para a direita, descendo ao Lago Verde. Cheguei ao píer de Puerto Mermoud às 9h12 e 30m acima está a placa que marca o início da trilha Cerro Alto El Petiso. Altitude de 520m. Placas indicam a presença de huemules, fiquei torcendo para ver um.

Entrei no bosque às 9h23 e já inicia a subida, que será constante e sem trégua. Às 10h27 cruzei um riacho por pedras e troncos e 3min depois saí do bosque encontrando o Arroyo Zanjón Hondo (zanjón=vala grande e hondo=funda), um riacho repleto de blocos de pedra. Altitude de 911m. O caminho continua pelas pedras do rio, à direita, sempre subindo. Trecho longo e muito chato esse. São só 1,1km pelo leito pedregoso do rio, mas parece muito mais. É preciso escolher a todo momento em que margem caminhar/saltar pelas pedras, atravessando o riacho várias vezes. Alguns paus fincados servem de orientação. Ultrapassei um casal bem jovem, a garota estava com dificuldade para andar nas pedras. 

Lago Menéndez e Glaciar Torrecillas vistos do Cerro Alto El Petiso
Às 11h05, na altitude de 1129m, abandonei o Arroyo Zanjón Hondo e subi por uma crista estreita e alta à direita (no mapa do parque aparece como espina), conforme as instruções do guardaparque. Depois soube que o casal desistiu ao ver essa subida. A crista é tão estreita e empinada que fiquei pensando como seria a descida por ela na volta... Atravessei um trecho de lengas baixas e, ao sair delas às 11h33, parei para um lanche por 14min. Altitude de 1339m. Essa parada serviu para tomar um fôlego também pois agora vinha a parte mais dura, uma subida íngreme de pedras soltas até o cume (zona de pedrero no mapa do parque). A trilha está bem marcada, até tem variantes em alguns pontos. Em parte da subida ainda há vegetação rasteira, mais acima só pedras mesmo. 

Cheguei ao cume às 12h38. Altitude de 1777m. Logo depois chegou um casal francês que encontrei em alguns pontos da subida. O cume é bem amplo na direção SO-NE. Só havia neve em uma encosta perto do cume (o guardaparque disse que eu precisaria cruzar uma mancha de neve). Primeiro fui para a ponta NE e dali se avistam o Lago Rivadavia a nordeste, o vale do Rio Rivadavia a leste, o Lago Menéndez e o Glaciar Torrecillas a oeste, o Cerro Techado Blanco a sudoeste. Depois fui para a ponta SO, que tem um visual ainda mais bonito. Para o sul o Rio Arrayanes e o Lago Futalaufquen, com o Cerro Alto El Dedal ao fundo. Não se vê o Lago Verde.

Faltando meia hora para o horário-limite de retorno (15h) chegou uma austríaca solitária que nem registro fez pois não encontrou o guardaparque. Comecei a descer às 15h02 e ainda encontrei duas garotas argentinas na subida. Estavam bem perto do cume, mas desistiram e voltaram. Na descida inclinada de pedras soltas é recomendável ter um bastão ou cajado para ajudar a frear e não forçar tanto os joelhos.

Passei pelas lengas às 15h49 e cheguei à crista estreita. Não senti segurança em descer por ela, então baixei diretamente para a esquerda em direção a um pedregal parecido com o leito do riacho. Não estava bom caminhar/saltar pelos blocos de pedra ali, mas acho que foi melhor. Às 16h29 esse caminho convergiu para o Arroyo Zanjón Hondo, que desce pelo valezinho do outro lado da crista estreita. Desci por ele saltando incontáveis blocos de pedra e às 17h10 cheguei à seta amarela que aponta a entrada no bosque. Parei para descansar e comer alguma coisa. A austríaca vinha logo atrás de mim e parou também. As garotas argentinas ficaram bem para trás. Às 17h31 entrei no bosque, desci e às 18h29 estava de volta ao Puerto Mermoud no Lago Verde. 

Contornei o lago mas, diferente do dia anterior, escolhi retornar à Pasarela pela escadaria (não pela margem). Valeu a pena a subida pois há bonitos mirantes do lago. Cruzei a Pasarela às 19h12 e cheguei ao camping às 19h49. Fui ao posto do guardaparque registrar o meu horário de retorno.

Laguna Escondida
3º DIA - 10/03/20 - trilhas Laguna Escondida e Mirador Lago Verde

Distância: 17,1km
Maior altitude: 909m na subida para a Laguna Escondida
Menor altitude: 534m no Camping Agreste Lago Verde
Resumo: a trilha da Laguna Escondida tem uma inclinação um pouco acentuada e desnível positivo de 339m desde a Ruta 71. A trilha do Mirador Lago Verde é fácil e tem um desnível de 166m desde o trevinho do Camping Lago Verde (que foi onde a iniciei)

Saí do camping às 9h17 e dessa vez não tomei a trilha nos fundos. Para variar subi pela estrada até o trevinho da Ruta 71 e segui para a direita (sul). Passei pelo estacionamento, pelo acesso ao Camping Rio Arrayanes e cheguei às 10h12 à entrada da trilha para a Laguna Escondida, sinalizada apenas com uma seta amarela, sem nenhuma placa (foram 3,1km desde o trevinho). Altitude de 570m e ali já começa a subida. 

O parque exige que se faça registro de trekking para essa trilha também. Deve ser feito no guardaparque do Rio Arrayanes, mas eu não fui até lá fazer. 

Embora não tenha a sinalização no início, essa trilha também é parte da etapa 37 da Huella Andina. Iniciando a subida, com uns 70m de trilha é preciso passar para o outro lado da cerca - degraus feitos de troncos grossos ajudam nessa manobra. Subindo mais alcanço um mirante com bonita vista para o Lago Menéndez e o Glaciar Torrecillas ao fundo. Também se veem o Rio Arrayanes, o Lago Verde e acima dele o Cerro Alto El Petiso. 

A trilha alcança os 909m (maior altitude desse dia) e desce um pouco. Aí encontrei o rapaz do casal francês do dia anterior no Cerro Alto El Petiso. A garota não conseguiu sair para essa trilha, ficou descansando. A trilha nivela e às 11h12 chego a uma bifurcação apontando Huella Andina em frente (esquerda) e Laguna Escondida à direita (apenas 30m, segundo a placa, mas 90m na realidade). Altitude de 891m. Laguna de cor verde-esmeralda mas não tão bonita quanto as outras. Talvez pela falta de sol as cores do lugar não se sobressaíram. Aproveitei mesmo foram os calafates maduros e doces. É proibido acampar na laguna, aliás em qualquer lugar do parque que não seja camping estabelecido. 

Saí às 12h43 e às 13h33 estava de volta à Ruta 71. Caminhei os 3,1km até o trevinho do Camping Lago Verde e entrei às 14h15 numa trilha paralela à Ruta 71 que me levará à trilha do Mirador Lago Verde. Altitude de 600m. Essa trilha aponta para leste e inicia cruzando uma ponte onde encontro a sinalização da Huella Andina. Ela também é parte da etapa 37 desse caminho.

Lago Verde visto do Mirador Lago Verde
Uns 120m após a ponte cruzo uma estrada secundária bem na porteira de um sítio (há áreas particulares dentro do parque). Acompanho uma cerca. A trilha continua paralela à Ruta 71 e suas curvas, e passo por dois pontos de água. Surge uma escada pula-cerca mas nem é preciso usá-la pois a cerca está aberta à esquerda. Às 14h42 alcanço enfim a trilha do Mirador Lago Verde. Há um pequeno estacionamento à direita na Ruta 71 e à esquerda um portal com placa de informações sobre essa trilha.

Seguindo à esquerda em 140m há um desvio para a esquerda e em seguida uma bifurcação. A Huella Andina continua em frente e a trilha do mirante vai para a esquerda. Às 14h57 cheguei ao Mirador Lago Verde, com painel indicando o nome das montanhas. Além do Lago Verde se vê o Rio Rivadavia e o Lago Rivadavia a norte-nordeste e ainda o Cerro Alto El Petiso a norte-noroeste. Altitude de 761m. 

Saí às 15h25 e às 16h10 estava de volta ao Camping Agreste Lago Verde. Comi um lanche, desmontei a barraca e subi de volta à Ruta 71 para tomar o ônibus das 18h40 (único do dia) para Vila Futalaufquen, aonde cheguei às 19h40. Nesse setor planejei fazer diversas trilhas, mas surgiram alguns problemas (relato aqui). 

Informações adicionais:

. ônibus das cidades de Lago Puelo e Esquel ao Parque Nacional Los Alerces (Transportes Esquel)
no verão (de 19/12 a 11/03): diário
após 11/03: quarta, sábado e domingo
sai de Lago Puelo às 15h30 e passa nos setores Lago Rivadavia (18h), Lago Verde (18h40), Vila Futalaufquen (19h40). Chega a Esquel às 20h40.
sai de Esquel às 8h e passa nos setores Vila Futalaufquen (9h15), Lago Verde (10h30), Lago Rivadavia (10h50). Chega a Lago Puelo às 13h30.
o valor do trajeto cidade de Lago Puelo-Lago Verde é ARS450 (R$28)

. a taxa de entrada no Parque Nacional Los Alerces para estrangeiros é ARS400 (R$25)

. site do parque: www.argentina.gob.ar/parquesnacionales/losalerces

. o Camping Agreste Lago Verde é o mais barato desse setor. Possui: proveeduría (mercadinho básico), duchas e torneiras quentes das 19h às 22h (a lenha), lavatórios e tanques ao lado dos banheiros, não tem luz nem tomada no módulo (mas o anfitrião carrega baterias na proveeduría), não tem wifi nem sinal de celular. Não tem cozinha mas cada módulo tem uma churrasqueira que eles chamam de fogón. 
Preços por pessoa: temporada alta (jan e fev) ARS400 (R$25), 3 dias ou mais ARS350 (R$21,88) por dia; temporada baixa (dez e mar) ARS250 (R$15,63), 3 dias ou mais ARS220 (R$13,75) por dia
Site: fronterasur.com/experiencias/camping-lago-verde

. o Camping Organizado Lago Verde é bem mais caro e conta com restaurante, café, cabanas e até domos. Possui: proveeduría (mercadinho básico), ducha quente só de manhã e à noite, luz e tomada no módulo (nem todos), não tem wifi nem sinal de celular. Não tem cozinha para os campistas mas cada módulo tem uma churrasqueira que eles chamam de fogón. 
Preços por pessoa: temporada alta ARS600 (R$37,50); temporada baixa ARS500 (R$31,25)
Site: www.elaurapatagonia.com/es/el-lodge/72-tabs/camping/195-camping

. o Camping Agreste Rio Arrayanes tem: proveeduría (mercadinho básico), ducha quente das 8h às 23h, pias ao lado dos banheiros, não tem luz nem tomada no módulo, não tem wifi nem sinal de celular. Não tem cozinha para os campistas mas cada módulo tem uma churrasqueira que eles chamam de fogón. Servem comidas rápidas como sanduíches, minipizzas e empanadas.
Preço por pessoa: ARS500 (R$31,25)

. o parque exige que se faça registro de trekking para as trilhas do Cerro Alto El Petiso e da Laguna Escondida. Para o Cerro Alto El Petiso o registro deve ser feito no guardaparque do Lago Verde ou do Rio Arrayanes, com saída no máximo até 9h. Da Laguna Escondida deve ser feito no guardaparque do Rio Arrayanes. No posto do Lago Verde não é preciso encontrar o guarda para preencher o registro, basta anotar na folha que está atrás do aviso de horários-limite dessa trilha. Esse aviso fica ao lado da porta da casa. Ao final deve-se registrar o horário de retorno.

Rafael Santiago
março/2020


dia 1

dia 2

dia 3

Cerro Currumahuida (Lago Puelo, Argentina) - mar/20

Lago Puelo e delta do Rio Azul
Início: cemitério de Lago Puelo
Final: porto de Lago Puelo
Distância: 16,1km
Maior altitude: 1197m no cume do Cerro Currumahuida
Menor altitude: 198m na margem do Lago Puelo
Dificuldade: alta pois a inclinação é bem forte para atingir o cume do Cerro Currumahuida, exigindo um pouco de escalaminhada meio exposta. Desníveis positivos de 405m e 724m do cemitério ao cume.

A leste e sudeste da cidade de Lago Puelo se estende o Cerro Currumahuida, cujo cume está na porção central da cadeia montanhosa, a 1197m de altitude, de frente para o lindo Lago Puelo. Esse curioso nome significa morro preto em idioma mapuche (curru=preto e mahuida=morro). Infelizmente a encosta mais próxima ao cume sofreu incêndios em 2015 e 2011 e uma parte da subida se dá entre troncos caídos e queimados.

06/03/2020 - Saí do Camping Las Rosas às 10h13 e caminhei 1,2km até o cemitério municipal, ao sul do centro da cidade, na Avenida Los Alerces. Altitude de 225m. Na frente do cemitério há um grande painel dando as boas-vindas à Área do Cerro Currumahuida e mostrando num mapa as quatro trilhas principais: La Virgen, La Cruz, Camino del Faldeo e Subida La Lidia. Dessas meu plano era percorrer o Camino del Faldeo (ou Sendero El Faldeo) até o Puesto Maninga, em seguida subida ao cume do Currumahuida (não mostrado nesse mapa) e então descida pela "Bajada a La Playita", com final no Lago Puelo e retorno ao centro de ônibus. 

Esse percurso tem a seguinte altimetria: sobe dos 225m do cemitério aos 630m, depois desce aos 473m no Puesto Maninga. Sobe aos 1197m do cume e finaliza baixando aos 198m na margem do Lago Puelo.

Entrei na rua à esquerda do cemitério às 10h38 e em 100m inicia uma trilha com placa de Sendero La Virgen. E já começa com uma subida bem íngreme dentro do bosque. Mais acima aparece uma sinalização de duas faixas horizontais de cores verde e branca. 

Vista do cume do Currumahuida: Cerro Três Picos e Cerro Plataforma à esquerda; Cerro Cuevas e Cerro Aguja Sur à direita
Às 11h14 cheguei aos escombros de uma cabana de madeira com uma placa "Puesto Tatin Fernandez" e o primeiro mirante para o Lago Puelo, já a 512m de altitude. Depois vieram trilhas da direita e da esquerda mas me mantive na principal. Subi até os 630m de altitude e comecei a baixar. Às 12h23 parei em outro mirante para fotos da cidade e do lago. Cruzei um bosque de pinheiros com o chão repleto de cones (pinhas) e às 12h51 cheguei a uma bifurcação em T com um banco para descanso. A trilha que vem da direita é outro acesso desde a cidade e se chama Subida La Lidia, segundo a placa no cemitério.

Segui para a esquerda e encontrei o primeiro riacho da caminhada, porém era apenas um fio d'água. Muito recomendável trazer água suficiente para o dia todo desde a cidade. Às 13h cheguei a um cruzamento de trilhas num local chamado Puesto Maninga. Há restos de uma cabana ali também. A sinalização agora é de duas faixas horizontais de cores azul e branca e aponta para a esquerda, que é o caminho ao cume. 

Essa sinalização verde/branca e azul/branca parece ser uma convenção local para o Cerro Currumahuida, mas nesse trecho a trilha de cores azul/branca coincide com o traçado da Huella Andina, que tem exatamente essas cores. A Huella Andina é uma trilha argentina de 570km de extensão dividida em 42 etapas. Vai da província de Neuquén à província de Chubut, no norte da Patagônia. A subida do Currumahuida, porém pela Playita e não pelo cemitério, é parte da Etapa 33: PN Lago Puelo-El Desemboque (informações aqui e aqui). 

Seguindo em frente nesse cruzamento a trilha desaparece no bosque. A direita no cruzamento é a trilha que desce para La Playita e Lago Puelo, que tomarei na volta. Mas antes de continuar me fartei com as amoras maduras que havia ali.

Para chegar a esse cruzamento havia descido até a altitude de 473m. Agora volto a subir, e bastante! A trilha continua para o sul e aparece uma sinalização branca e vermelha também. Saio do bosque e encontro água, mas estava parada. Nova paisagem do Lago Puelo à direita. Às 13h46 cruzo o limite do Parque Nacional Lago Puelo com um portal simples e uma placa. Uns 5min depois uma seta vermelha manda subir para a esquerda, aparentemente sem bifurcação nenhuma, porém ela existia e foi soterrada por árvores que caíram. A trilha da direita seria a continuação da Huella Andina contornando o Cerro Currumahuida pelo sul até El Desemboque.

O cume já estava próximo se olharmos no mapa mas o pior ainda estava por vir. Logo inicia uma ladeira longa e íngreme de pura terra solta numa área devastada por incêndio. Lugar muito ruim de caminhar pois a terra solta muito fina subia como poeira a cada passada e as árvores queimadas sujam a roupa de carvão. A recompensa é a vista cada vez mais larga do azul Lago Puelo. Alcancei um platô onde a trilha se tornou menos íngreme. Numa bifurcação fui à esquerda e na seguinte à direita, alcançando às 14h58 um gramado bom para acampar (há água de um lago não muito distante). A trilha segue em nível por uns 150m e uma seta pintada na pedra manda subir à direita. Já se vê o cume e é um grande rochedo de paredes bastante íngremes. 

Cheguei à base desse rochedo e não conseguia visualizar alguma trilha subindo, mas havia. Subi com cuidado e até usando as mãos pois alguns trechos eram muito inclinados mesmo. Atingi o topo às 15h23. Há dois cumes: leste e oeste. Fui primeiro ao cume leste, onde há restos de um cruzeiro de madeira. Depois ao cume oeste, onde há um pau fincado, talvez restos de um outro cruzeiro. Altitude de 1197m em ambos. Dali se avista, além do Lago Puelo e da cidade homônima, o Lago Epuyen a sudeste; o Cerro Três Picos e Cerro Plataforma ao sul-sudoeste; Cerro Aguja Sul a oeste-sudoeste; o Lago Inferior (no Chile) a oeste; Cerro Aguja Norte a noroeste; El Bolsón e Cerro Piltriquitron a norte-nordeste. 

Cume escarpado do Currumahuida
Iniciei o descenso às 15h55. Desci do rochedo com bastante cuidado, passei pelo gramado e depois o trecho ruim de terra solta com a ladeira bem inclinada. Ali cruzei com três pessoas subindo, os primeiros que encontro na trilha. Às 17h02 passei pela placa do Parque Nacional, reentrei no bosque e cheguei ao cruzamento Puesto Maninga às 17h30. Ali segui em frente (oeste), descendo, e em 280m chego a uma bifurcação em que sigo à esquerda. Às 18h06 me deparo com uma placa do parque nacional apontando para o "Ciprés Abuelo" (cipreste avô) a 100m e fui conhecer esse bonito exemplar datado de 1850 e que sobreviveu a tantos incêndios. Mais 220m de descida e alcanço uma bifurcação: a trilha continua à direita, mas vou à esquerda conhecer o Mirador del Lago. A caminho dele há um riacho, única água corrente do dia. O mirante tem painel com o nome das montanhas.

Voltei à trilha principal e continuei a descida. Logo convergiu uma trilha à direita chamada Sendero El Chucao, mas continuei em frente. Uns 80m depois cruzei um portal e para a direita sai uma trilha com placa apontando Sendero Pitranto Grande, mas ainda continuei em frente. Cheguei ao Lago Puelo às 19h e fui visitar a Playita, um lugar bem sem graça. Voltei ao portal e segui à esquerda a trilha Pitranto Grande. Em 15min aparece o pitranto, que é um bosque de pitras preservado neste parque e que fora dele tende a desaparecer pela urbanização, segundo ensina a placa. 

Continuando na direção do porto principal (oeste) passei às 19h30 pela entrada da trilha (à direita) para o Jardim Botânico e Sendero Antiguos Pobladores, mas não havia tempo para conhecer, infelizmente. Segui em frente e com mais 200m cheguei à entrada da trilha do Bosque de las Sombras, e esse eu queria muito conhecer, então entrei. Essa trilha tem um trajeto circular de 400m por plataformas ainda dentro do bosque pitranto. 

Saindo dele tomei o caminho mais próximo à margem do lago, passei pelo porto principal (de concreto) e consegui alcançar o ônibus das 20h para o centro de Lago Puelo.

Informações adicionais:

. o ônibus que vai do Lago Puelo (parque nacional) até o centro da cidade de Lago Puelo (e continua para El Bolsón) é diário e sai a cada hora redonda (13h, 14h, 15h,...), segundo me informaram. Na internet há tabelas mostrando saídas a cada 30min de 11h a 22h. Valor da passagem ARS20 (R$1,25). Transportes La Golondrina.

. site do Parque Nacional Lago Puelo: www.argentina.gob.ar/parquesnacionales/lagopuelo

Rafael Santiago
março/2020