quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Travessia Diamantina-Biribiri pela Serra dos Cristais (MG) - mai/15

ImageSerra na direção de Mendanha

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaDiamantinaBiribiriPelaSerraDosCristaisMGMai15.

Sempre tive vontade de conhecer a vila de Biribiri por sua importância histórica. Ali existiu uma das primeiras comunidades fabris do estado de Minas, graças à fábrica de tecidos criada pelo Bispo Dom João Antônio dos Santos em 1876. A vila tinha geração própria de energia elétrica, armazém, escola, barbearia, igreja, restaurante e até clube. A fábrica foi desativada em 1972 e atualmente a vila é uma área particular administrada pela empresa Estamparia S/A.

Como não existe transporte público para o local e o trajeto de 15km pela estrada seria muito entediante para caminhada (interessante para bicicleta), vasculhei nas imagens do Google as possíveis trilhas no alto da serra entre a vila e Diamantina. Tracei para a ida uma rota que aproveitava a parte inicial da travessia Diamantina-Mendanha, chamada de Caminho dos Escravos, porém com um desvio em determinado ponto. E para a volta descobri uma trilha que parte da Cachoeira dos Cristais diretamente para o sul, reencontrando o Caminhos dos Escravos já próximo da rodovia BR-367. Dessa forma, desenhei um circuito bem bonito e interessante utilizando muito pouca estrada no percurso (exceto no desvio obrigatório que fiz pela rodovia por causa da falta de segurança na periferia de Diamantina).

1º DIA: DE DIAMANTINA À SERRA PRÓXIMA A BIRIBIRI

Às 11h25 parti do famoso mercado municipal de Diamantina descendo a Rua do Burgalhau, exatamente onde está fincada uma placa com informações sobre a travessia para Mendanha (Caminho dos Escravos). Desci toda a ladeira e na trifurcação da praça fui em frente (nem direita nem esquerda), pegando a Rua do Areião. Na bifurcação seguinte fui à direita e com mais 100m passei por um posto BR à esquerda. Na trifurcação a seguir fui para a esquerda, seguindo a placa do Caminho dos Escravos. Mas logo fui alertado pelos moradores de que havia ocorrido um assalto a um grupo de caminhantes naquela mesma manhã, além de outros casos nos últimos meses. Tive de buscar uma alternativa mais segura para continuar. Voltei ao posto BR e tomei a rua à direita às 11h49. Passei por um mercado à esquerda junto à pequena rotatória e na bifurcação subi à direita pois à esquerda voltaria ao centro. Essa é a Avenida Barão de Paraúna, que logo vira uma estrada sem acostamento que sobe até o trevo/rotatória de Biribiri, aonde cheguei às 12h16. Se fosse para a vila pela estrada é aqui que eu entraria, numa rua à esquerda, que também é o acesso à portaria do Parque Estadual do Biribiri. Esse trevo/rotatória fica exatamente na BR-367, longa rodovia que liga a cidade de Gouveia ao sul da Bahia. E foi por ela que caminhei 2,2km, até o local em que o Caminho dos Escravos a cruza, no km 585, sinalizado por várias placas. Ali as pessoas costumam parar o carro para visitar o grande calçamento feito pelos escravos no século 18, que fica a poucos metros da rodovia.

ImagePepalantus

Com esse desvio compulsório caminhei 1,6km a mais do que da outra vez, quando pude percorrer o caminho oficial, sem problemas de segurança. O relato dessa travessia está em travessia-diamantina-mendanha-pelo-caminho-dos-escravos-serra-do-espinhaco-mg-jun-12-t73278.html.

Retomei assim o Caminho às 12h58 subindo pela trilha à esquerda da rodovia (norte). Uma placa me diz que estou entrando no Parque Estadual do Biribiri, e nele permanecerei durante quase toda a caminhada. A água que corre ali vem das nascentes do Córrego Água Limpa, mas é bem vermelha e não pareceu confiável. A visão de Diamantina para trás vai se ampliando à medida que subo mas desaparece quando alcanço os campos acima. Estou em plena Serra dos Cristais e surge no horizonte a sudeste uma montanha onde já estive e onde poria os meus pés novamente daí a alguns dias, o Pico do Itambé. O caminho é largo e bem marcado, e há diversas placas registrando a distância já percorrida (números válidos desde que se faça o caminho oficial). Uma trilha surge à direita mas a placa manda seguir em frente (esse parece ser um atalho pouco usado). Cerca de 400m depois uma estradinha entronca à esquerda. Mais à frente uma trilha vem da direita, justamente a do atalho. Passo a caminhar exatamente na direção dos prédios da Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri, campus JK.

A estradinha desce e junto a um eucalipto solitário uma placa sinaliza que eu devo entrar na trilha à esquerda, abandonando a estrada. A trilha cruza outra estrada de terra e se aproxima um pouco mais dos prédios da universidade, que ficam do outro lado da BR-367. Porém faz uma curva para a esquerda e entra num trecho de 500m de mata, retomando a direção norte. Essa é uma das raras sombras de toda essa caminhada. Ao sair da mata há uma grande erosão à esquerda. Às 14h05 cruzo um riacho (afluente do Córrego da Roda) por uma ponte de troncos mas o acesso a ele não é tão fácil e não pego água. Onze minutos depois atravesso uma estrada de terra, mas continuo caminhando pela trilha. Às 14h21 chego à placa que chama a atenção para os picos que serviram de referência para os tropeiros: Pico do Itambé e Pico Dois Irmãos, ambos visíveis nesse dia. Bem mais próximo, a nordeste, destaca-se uma serra (sem nome na carta) em cujo lado esquerdo passa a trilha para Mendanha.

ImageCórrego Soberbo

Uns 350m depois da placa dos picos, uma trilha dupla entronca à direita e alcanço outra placa que diz "km 8,268 - não use atalhos", junto a uma trilha à direita. Aqui abandono o Caminho dos Escravos (para Mendanha) e tomo a direção que me levará à vila de Biribiri, ou seja, ignoro essa trilha à direita onde está a placa e sigo em frente pela estradinha. Assim volto à direção norte (após ter caminhado um trecho para nordeste) e me afasto definitivamente da BR-367. Logo a estradinha começa a descer mais inclinada e chego a uma porteira de ferro com cadeado. Pulei-a às 14h53, subi um pouco à esquerda e quando a visão se abre novamente observo um cânion abaixo à esquerda, mas não me aproximo para explorar. Desço bastante até encontrar uma casa isolada às margens do rio do cânion, o Córrego da Roda, onde apenas uns cachorros assustados deram sinal de vida. Ali não há saída. Voltei 80m acima da casa e peguei uma trilha à esquerda (nem a notei à direita na descida), cruzei uma tronqueira e nas duas bifurcações a seguir fui à esquerda e à direita, logo entrando na sombra da mata.

Às 15h28, ainda dentro da mata, peguei a direita numa bifurcação e com apenas 25m cheguei ao Córrego Soberbo, um local bem aprazível, ótima parada para um lanche. Ali não é difícil atravessá-lo pelas pedras. Se tivesse pego a esquerda na bifurcação poderia cruzá-lo num único salto, após uma tronqueira. Retomando a caminhada às 16h cruzei o Soberbo pelas pedras e peguei a trilha da direita, me afastando do rio. Mas antes abasteci os cantis pois seria a última água corrente do dia. Segui sempre pelo caminho mais aberto até chegar às 16h17 a uma estrada larga de terra, para minha surpresa até com marcas de pneu. Quando ela bifurcou, fui para a esquerda. Cruzei uma porteira azul de ferro e uns 20m depois entrei numa trilha à direita, deixando a estrada, que desce numa curva para a esquerda. A trilha subiu bastante e no alto encontrei o trecho de paisagem mais bonita do dia ao caminhar entre jardins de rochas de formato curioso e estranho. Ao me afastar um pouco desses jardins de pedra e ganhar o campo, a trilha dá uma guinada para a esquerda (de norte para oeste) na direção de um serrote de pedras, desviando do grande platô que eu avistava à frente (17h04). Ela desenha um zigue e um zague para subir a serrinha e no alto cruza uma tronqueira. A paisagem muda novamente, com um típico cerrado à minha volta agora, em lugar dos campos rupestres. Após uma outra tronqueira, às 17h30, tratei de encontrar um local para montar acampamento pois ainda faltava muito para chegar a Biribiri.

Altitude de 1263m.
Nesse dia caminhei 17,9km (descontados os erros e explorações).

ImageCampos rupestres

2º DIA: CHEGADA A BIRIBIRI E A VOLTA A DIAMANTINA

Apesar do céu estrelado da noite anterior, amanheceu bastante encoberto e com neblina, mas nada que prejudicasse a visualização do caminho.

Nesse dia deveria chegar à vila de Biribiri e retornar por trilha a Diamantina a tempo de pegar o ônibus das 15h para São Gonçalo do Rio Preto, mas como não conhecia nada do caminho tive de apertar o passo.

Comecei a caminhar às 6h42. A trilha seguiu bem batida entre as árvores do cerrado, mas quase desapareceu no capim ao chegar ao campo aberto. Na procura foram aparecendo outras picadas pouco usadas. Mas foi só caminhar por uma delas para oeste pelo campo que logo me deparei com um duplo trilho vindo da direita, até com marcas de pneu! Cruzei uma porteira de arame (estava aberta) e o caminho já virou uma estrada precária. Uns 330m depois da porteira abandonei a estradinha em favor de uma trilha à direita que subiu bastante. Ao atingir o topo às 7h08, imediatamente comecei a descer, inicialmente de forma suave, quase em nível, mas numa guinada para a direita desci de vez para o grande vale que se avista do alto. Nessa guinada há uma bifurcação na descida, tomei a direita, a trilha pareceu sumir mas reapareceu e encontrou logo o ramo da esquerda da bifurcação. No fundo do vale salto o riacho às 7h38 (afluente do Córrego Mocotó) e 10 minutos depois cruzo pelas pedras o próprio Córrego Mocotó. É a primeira água do dia. Na subida fui à esquerda na bifurcação por ser o caminho mais curto, mas tanto faz.

No alto, às 8h04, uma bifurcação que merece atenção pois o lado mais batido é o da direita, porém o meu caminho tinha de ser para a esquerda, descendo, logo tendo visão das estradas no vale. Passei por um interessante muro de arrimo feito de pedras para sustentar a trilha, um registro histórico. Mais abaixo, numa curva para a direita, explorei uma trilha saindo à esquerda e cheguei a uma bonita cachoeira do Córrego Mocotó. Às 8h42 entrei na mata ciliar do Ribeirão das Pedras (ou Rio Biribiri) e aí o momento que eu acho muito chato, tirar as botas para atravessar o rio, pois não avistei local fácil de travessia. Procurei a continuação da trilha na outra margem e estava à esquerda, invadida pelo capim alto no início. Tomei a esquerda na bifurcação na direção de um poste e às 8h59 alcancei a estrada de terra Diamantina-Biribiri. Fui para a direita para conhecer a vila. Caminhei 140m até o portal e desci, chegando às 9h10. Visitei a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, de 1876 (por fora), o agradável gramadão cercado de casinhas brancas e azuis, a antiga fábrica e o Ribeirão das Pedras, o mesmo que atravessara minutos antes.

Saí de lá às 9h24, subi de volta ao portal e continuei pela estrada. Cruzei o Ribeirão das Pedras por uma ponte de madeira e 180m depois entrei à esquerda na estrada para a Cachoeira dos Cristais, com placa. Às 10h passei pelo estacionamento, cruzei a ponte sobre o Córrego dos Cristais e com mais 5 minutos cheguei à cachoeira, não muito alta mas com um grande e convidativo poço. Comecei a procurar a trilha para Diamantina (que vai pelo alto da Serra dos Cristais) e gastei uma hora para encontrá-la. Mas aqui eu entrego o serviço completo e você não vai bater cabeça como eu. Uns 55m após a ponte do estacionamento fique atento a uma trilha larga que sai à esquerda do caminho da cachoeira. É só subir por ela, desprezar uma trilha que sai à direita na primeira curva (essa morre no rio e é difícil atravessar) e uns 50m após entrar na sombra da mata descer por uma trilha à direita cujo início está coberto pelo capim. Ela leva ao Córrego dos Cristais num local de travessia fácil pelas pedras. E depois toma o rumo sul quase sem variações pela Serra dos Cristais até reencontrar o Caminho dos Escravos, já bem perto da BR-367. Porém é uma subida constante, prepare-se.

ImageIgreja do Sagrado Coração de Jesus, de 1876, em Biribiri

Agora era pé na trilha para recuperar o tempo perdido na procura do caminho certo. Subi às 11h16 a ladeira de pedrinhas brancas me afastando do Córrego dos Cristais e da cachoeira, e em meia hora alcancei um platô cercado de serras por todos os lados, inclusive à minha frente, sinal de que ainda subiria mais e mais a Serra dos Cristais. Cruzei três riachos (todos afluentes do Córrego dos Cristais), sendo que o último corria pela própria trilha por vários metros (e olha que não estava chovendo!). Ainda subindo, avisto três torres junto a uma casa bem no alto à direita, deve ser a Casa dos Ventos do parque estadual. Às 12h18 me deparo com uma cerca atravessando de leste para oeste, com um pasto (!) à frente e visão novamente dos prédios da universidade. A trilha continua para a direita (oeste) e sobe acompanhando a cerca, mas após a quina da cerca ela desaparece. Continuo na mesma direção (oeste) e vou retomando o rumo sul aos poucos até encontrar uma trilha de pedras escuras que vai exatamente nessa direção. Esse é o ponto mais alto da caminhada: 1440m. Às 12h33 cruzo em ângulo um caminho mais largo, mas continuo pela mesma trilha pois será um trajeto mais curto do que tomar esse caminho mais largo para a direita. À esquerda vão aparecendo casas a uma certa distância e ainda vejo a universidade.

Reencontrei o Córrego da Roda largo e raso, de travessia fácil pelas pedras, porém escorreguei no limo e entrou um pouco de água na bota direita. Uns 250m depois fui à direita na bifurcação (poderia ter ido à esquerda, tanto faz). Passei embaixo das linhas de alta tensão, cruzei uma estrada e pontualmente às 13h reencontrei o Caminho dos Escravos, onde fui para a direita. Em 7 minutos já tenho visão de Diamantina novamente e às 13h16 alcanço a BR-367. Poderia muito bem ter esperado o ônibus para São Gonçalo do Rio Preto ali mesmo já que estava no caminho, mas algumas indagações me rondavam a cabeça, como: será que o ônibus para aqui nessa subida da rodovia? será que virá lotado? Depois constatei que as respostas eram todas favoráveis, mas na dúvida (e por ser o último ônibus do dia) preferi caminhar até a rodoviária, o que teve seus pontos positivos (me informei sobre horários de outros ônibus que me interessavam, por exemplo). Mas antes fiz uma pausa para descanso e um lanche, e às 13h32 retomei a caminhada pela lateral da rodovia sem acostamento. Em 25 minutos passei pelo trevo de Biribiri e entrei na rua/estrada à esquerda, a mesma pela qual cheguei ao trevo no dia anterior. Desci 760m por ela e subi à direita a Rua Arraial dos Forros. Depois de várias ladeiras e ruas cujos nomes não identifiquei, cheguei à rodoviária às 14h27.

Altitude de 1284m.
Nesse dia caminhei 21,8km (descontados os erros e explorações).
Total da caminhada: 39,7km

Caminhada de Diamantina a Biribiri: 23,9km
Caminhada de Biribiri a Diamantina: 15,3km

Ponto mais alto da caminhada: 1440m

ImageCachoeira dos Cristais

Informações adicionais:

A empresa que faz a linha São Paulo-Diamantina é a Gontijo (www.gontijo.com.br) e a que faz BH-Diamantina é a Pássaro Verde (http://gabrasil.com.br).

O site oficial do Parque Estadual do Biribiri é www.ief.mg.gov.br/areas-protegidas/200.

A vila de Biribiri pode ser visitada todos os dias das 7h às 18h.

Carta topográfica de Diamantina: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SE-23-Z-A-III.jpg

As denominações de rios e serras usadas aqui foram extraídas das cartas topográficas do IBGE e podem não coincidir com as denominações dadas pelos moradores da região, ou podem mesmo estar erradas.

Rafael Santiago
maio/2015

Percurso na carta topográfica

Percurso na imagem do Google Earth

Percurso na carta topográfica - parte 1

Percurso na imagem do Google Earth - parte 1

Percurso na carta topográfica - parte 2

Percurso na imagem do Google Earth - parte 2

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Circuito Três Irmãos e Cânion do Peixe Tolo (Serra do Cipó-MG) - abr/15

ImageCânion do Peixe Tolo

Imaginei esse circuito pelo setor norte da Serra do Cipó inicialmente como uma ligação entre a região da Lapinha e a vila do Tabuleiro por uma rota mais ao norte, tal como já havia feito o meu amigo Chico (www.chicotrekking.com.br/2014/04/lapinha-tabuleiro-pela-rota-norte-uma.html). Isso incluiria locais inéditos para mim como o Cânion do Peixe Tolo e a Cachoeira Rabo de Cavalo. Porém eu tinha bastante tempo e resolvi iniciar e finalizar o percurso na rodovia MG-010, apesar dos problemas de caminhar pelas propriedades situadas ali. Para completar, incluí a subida dos Três Irmãos pois eram montanhas que me chamavam a atenção havia muito tempo.

1º DIA: DA RODOVIA MG-010 À SERRA DA LAPINHA

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoTresIrmaosEPeixeToloSerraDoCipoMGAbr151Dia

Tomei o ônibus da viação Serro em BH às 6h com destino à Fazenda Palácio, porém saltei um pouco antes, na subida da serra após Cardeal Mota, em frente às placas do Balneário Serras Azuis, 4,3km depois do Camping Véu da Noiva. Comi alguma coisa rapidamente e dei os primeiros passos dessa longa caminhada às 8h55 descendo a estrada poeirenta de terra à esquerda da rodovia. Em 16 minutos passei em frente à Pousada Serra d'Água e na bifurcação fui à direita. Toda a área à esquerda é propriedade da Cia Cedro, como avisam as placas, e abriga a parte superior de uma usina da empresa. Às 9h49 vou à esquerda na bifurcação seguindo a placa da Fazenda Parauninha (à direita iria para os campings Serras Azuis e Serra Morena). Em seguida tomo a esquerda novamente e me aproximo do largo e fundo Rio Parauninha, exatamente onde havia vários carros estacionados. Ali há uma balsa rústica para a travessia mas não havia ninguém e a balsa parecia presa na outra margem. Caminhei rio acima um pouco e acabei voltando à estradinha, e chegando a outro estacionamento, o da Fazenda Parauninha, com outra balsa. Uma placa de boas-vindas informava os preços de visita, passeio de barco e camping, e havia uma campainha embaixo. Toquei-a para chamar alguém e perguntar como atravessar o rio. Logo apareceu um senhor muito solícito, que me levou à outra margem sem pestanejar. Porém ele me levou à sede, a 160m dali, e veio com uma conversa de que cabe a eles dar todo o apoio aos caminhantes que passam ali com destino à Lapinha, inclusive com resgate e enfermeira, se necessário. A maior conversa mole. E ao final disse que eu deveria pagar R$20 por esse serviço para poder continuar a caminhada. Dá pra acreditar num negócio desse? Disse-lhe que eu dispensava os seus serviços e se o pagamento fosse obrigatório eu voltaria dali mesmo. Ele cedeu, mas ainda me falou aquelas ladainhas de cobra, acidente, blá, blá, blá...

Consegui me livrar do sujeito às 10h30 e botei o pé na trilha o mais rápido que pude pois aquela encheção toda me atrasou um pouco. E antes que algum outro quisesse me cobrar pedágio também. Dali eu tinha duas opções para chegar à Serra da Lapinha (ou Serra do Breu): pelo vale do Córrego Mata-Capim ou pelo alto da serra. O primeiro trajeto, que fiz no ano passado (relato em http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2014/06/travessia-cardeal-mota-lapinha-serra-do.html), não era o mais indicado dessa vez pois me levaria à Lagoa da Lapinha, de onde teria que subir a serra pela trilha da travessia tradicional Lapinha-Tabuleiro. O segundo trajeto seria interessante pois me manteria sempre no alto, além de ser em parte inédito para mim (um trecho intermediário dele já foi descrito no relato http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2012/07/relato-travessia-cachoeira-da-capivara_5324.html).

A direção-mestra na primeira metade dessa caminhada é norte. Me manterei nessa direção para alcançar a Serra da Lapinha e ir muito além, até o momento de descer no sentido leste a Serra do Abreu, no terceiro dia. Dessa forma, saí da Fazenda Parauninha no sentido das casas mais acima, cruzei uma cerca e subi um pouco mais (noroeste) até encontrar uma trilha mais marcada vindo do rio e cruzando o meu caminho. Tomei-a à direita, quebrando 90º para o norte. Logo entroncou uma outra vindo da direita, um atalho que eu poderia ter pego ao cruzar a cerca. Atravesso o Córrego Capivari pelas pedras e em seguida uma porteira de ferro. Subo 350m e passo um portão de ferro com uma casa à direita. Uns 180m acima outro portão de ferro, e sigo à esquerda na bifurcação junto a uma erosão.

Às 11h21 passo por uma última casa à direita que parecia estar deserta e depois a trilha sobe por um caminho lajotado com o vale do Capivari se aprofundando à esquerda. Numa bifurcação, a direita (leste) estava mais pisada e subi por esse lado (na verdade, tanto faz) até alcançar a crista, logo após uma tronqueira. A visão se amplia para leste e avisto mais casas, mas a minha direção é norte, assim abandono essa trilha e caminho pelo capim na direção de uma porteira de arame à esquerda. Após cruzá-la, prossigo pelo duplo trilho que logo se transforma em estradinha de terra. Uma outra estradinha entronca à direita, vindo de uma casa, mas continuo em frente.

ImageCampos rupestres

Às 12h04 passei por uma cerca aberta e 340m depois sigo em frente enquanto uma trilha larga cruza a estradinha. Mais 120m e outra estrada sai para a esquerda, mas cruzo a porteira de arame em frente. Uns 60m depois fico em dúvida na bifurcação mas tomo a esquerda na esperança de logo encontrar uma trilha e deixar a estrada. Mas me dou mal. Onde uma outra estrada entronca à direita havia uma casa (com carro no quintal). Passei direto por ela e em vez de encontrar uma trilha, cheguei na verdade ao final da estrada, sem saída aparentemente. Ao retornar, o pessoal da casa achou que eu queria invadir a propriedade e me mandou subir pela outra estrada (aquela que entroncou à direita). Hoje não é o meu dia... devia ter ido para a direita naquela bifurcação da dúvida e evitado assim a bronca desnecessária que levei.

Da frente da casa subi a estrada que entroncou, mas ela seguia no rumo leste, nada interessante para mim. Procurei um caminho que fosse para a esquerda (norte) e encontrei uma trilha uns 350m acima da casa, meio indefinida no princípio mas bem marcada após alguns metros, quando cruzo uma tronqueira. Finalmente volto a caminhar por trilhas. Durante a subida que se segue avisto pela primeira vez a Serra da Lapinha. Na descida a seguir alcanço às 12h48 uma outra tronqueira, exatamente onde esse percurso encontra o que fiz na travessia da Cachoeira da Capivara para a Lapinha em 2012 (relato em http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2012/07/relato-travessia-cachoeira-da-capivara_5324.html). Mas se eu quiser me manter no alto da serra e caminhar por trilhas em vez de estradas não devo cruzar essa tronqueira, e sim tomar uma trilha discreta à esquerda dela e descer pouca coisa. Por uns 15 minutos vou trocar a direção norte pela oeste (grosso modo) para alcançar a trilha que corre pelos campos altos mais próximos da crista da serra, como fiz naquela ocasião.

A trilha discreta se torna bem definida em seguida e contorna um morrote pela esquerda. Na bifurcação segui à direita mas antes de alcançar o córrego a trilha sumiu, como é muito comum com as trilhas de gado. Elas aparecem prometendo nos levar longe e desaparecem sem mais nem menos. Mas sem problema. Chego à margem do córrego (um dos formadores do Córrego Capivari, aquele que cruzei logo depois da fazenda) às 13h07 e aproveito a sombra para descanso e um lanche. Bebo de sua água, que mesmo não sendo corrente estava límpida. Às 14h06 atravesso-o facilmente num salto para reencontrar a trilha subindo bem marcada novamente e me encaminhando para o norte outra vez, minha direção-mestra na primeira metade dessa caminhada, como disse. Cruzo um portão azul no meio do nada e logo surge um riacho de água corrente à minha direita, o qual atravesso às 14h30.

Aqui caminho no rumo norte pela vertente leste de um espigão com visão panorâmica para o vale do Parauninha à direita (leste) e as terras do ParNa Serra do Cipó para trás (sul). Bem abaixo avisto uma casa que talvez pertença à empresa Cedro, dona de grande parte das terras desse lado. Cruzo a porteira seguinte e continuo em frente mas vejo que uma trilha acompanha toda a extensão da cerca encosta acima (e abaixo), o que sugere outros caminhos ainda mais altos. E talvez ainda mais interessantes.

Uns 80m depois, às 15h, alcanço o ponto mais alto desse dia (1361m) e avisto a Serra da Lapinha inteira, ou melhor, toda sua face sul, desde o Pico da Lapinha até o Pico do Breu. Imediatamente começa a suave descida e para trás o ParNa Serra do Cipó deixa de ser visível. Cruzo uma porteira e na seguinte às 15h51 encontro uma estradinha precária correndo de sul para norte também, mas não me interessa tomá-la pois sabia que minha direção tenderia para noroeste muito em breve. Portanto não cruzei a cerca para a direita para caminhar pela estradinha. Pela trilha paralela à cerca continuei para o norte e depois noroeste para desviar (à esquerda) do morro à frente e ganhar o campo onde sei que há uma casa. Na bifurcação nesse campo melhor manter a esquerda pois a trilha é mais contínua e leva a um ponto de travessia fácil do córrego cuja mata ciliar já é visível. Mas antes de cruzá-lo me embrenhei na samambaia que cresceu junto à margem para revisitar uma singela cachoeira de duas quedinhas paralelas e um bonito poço, tudo bem escondido na sombra da matinha.

Depois cruzei a porteira e passei para a outra margem através de duas tábuas colocadas sobre o córrego, às 16h53. Essas águas vão depois descer a serra a oeste e encontrar o Córrego Mata-Capim lá embaixo. Estava a 150m da casa mas não fui até ela pois havia alguns sujeitos ali fazendo bastante barulho, pareciam embriagados. Em vez disso cruzei um pequeno afluente do último córrego e subi à direita (paralelamente a ele) por uma trilha que logo sumiu, mas foi só retomar a minha infalível direção norte que surgiu uma trilha, aparentemente vinda da casa. Mas era outra trilha de gado que sumiu logo... continuei pelo capim baixo na direção de uma porteira, cruzei-a e segui para o norte encontrando e perdendo pedaços de trilhas. Quando o morro rochoso à minha direita terminou (aquele mesmo do qual eu desviara 1h30 antes), a paisagem se abriu para todos os lados, com vista agora para a Serra do Abreu a nordeste e o grande vale das nascentes do Rio Parauninha ao norte. Já eram 17h46 e esse local privilegiado, com vista magnífica da Serra da Lapinha já muito próxima, foi meu hotel mil estrelas por essa noite.

Altitude de 1337m.
Nesse dia caminhei 21,8km (descontados os erros e explorações).

ImageRio Parauninha

2º DIA: PELA SERRA DA LAPINHA (OU SERRA DO BREU)

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoTresIrmaosEPeixeToloSerraDoCipoMGAbr152Dia

O objetivo principal desse dia era explorar as montanhas da Serra da Lapinha conhecidas como Três Irmãos, que se encontram ao norte do Pico do Breu e se alinham na direção noroeste-sudeste, com a mais baixa delas ao sul e a mais alta ao norte.

Deixei o acampamento às 8h12 e segui firme na direção norte, descendo até uma porteira velha e carcomida. Cruzando-a subi suavemente por trilhas de vaca e logo desci na direção de uma casa encaixada num vale arborizado. Porém 250m antes da casa tropecei em várias trilhas paralelas que me diziam que eu estava encontrando com a rota tradicional da famosa (e saturada) travessia Lapinha-Tabuleiro. Decidi trocar então o rumo norte pelo nordeste aproveitando o caminho já bem demarcado dessa travessia para chegar à Prainha, depois de lá subir o Rio Parauninha e me aproximar dos Três Irmãos. Fui portanto para a direita, sentido distrito do Tabuleiro (se fosse para a esquerda logo desceria à Lapinha). Depois de um riacho, uma porteira e outro riacho, cruzei a porteira da velha placa da Fazenda Azevedo e finalmente o Rio Parauninha pulando as pedras do leito raso às 9h25. O Parauninha aqui também é largo e fundo, como se vê na curva da Prainha, mas felizmente há essa passagem muito fácil.

Na primeira curva à direita que a trilha fez para iniciar a subida à casa da falecida Dona Ana Benta, abandonei-a para me reaproximar do rio e subi-lo no rumo norte por caminho desconhecido. Felizmente depois de 80m encontrei uma trilha! À minha esquerda já tenho bem próximo, logo além do rio, o grande maciço da Serra da Lapinha e aproveito para observar alguma trilha que leve até a base do Pico do Breu, mas daqui não visualizo nenhuma. Era só uma sondagem para futuras incursões.

Às 9h53 atravessei um afluente pelas lajes inclinadas, cruzei uma tronqueira aberta e fui à esquerda numa trilha meio coberta pelo capim. Cerca de 120m depois fui à esquerda na bifurcação. Com mais 1,1km de caminhada a trilha sumiu, mas foi só caminhar 100m que alcancei outro rio, aparentemente outro afluente do Parauninha, porém a carta me diz que é o próprio. Segundo ela, as nascentes do Parauninha estão espalhadas pelas encostas da Serra do Abreu a leste, as águas se juntam para correr no sentido oeste por algum tempo e fazer uma curva de 90º para o sul perto deste ponto, onde recebe as águas de um afluente que vem do norte. Cruzei então às 10h56 o Parauninha pelas pedras e uma cerca em seguida, encontrando uma trilha logo acima, que tomei para a esquerda. Uns 100m depois fui à direita na bifurcação para me manter na direção norte mas a trilha logo desapareceu.

O que tenho agora visualmente são os picos Três Irmãos a noroeste e o afluente norte do Parauninha logo abaixo na mesma direção. Depois dele um terreno de lajes e pedras, e aparentemente nada de trilha daqui para a frente. Segui na direção dos picos mas por não haver caminho marcado e ter de estudar o terreno a todo momento, o avanço passou a ser bem mais lento.

ImageAfluente do Rio Parauninha

Desci então às 12h ao córrego (sem trilha) e tive de procurar um ponto em que pudesse entrar na mata ciliar e atravessá-lo. Com boa sombra e água fresca aproveitei para uma pausa para o lanche. Às 12h33 cruzei esse afluente norte pelas pedras e subi pelas lajes (onde descia um pouco de água) para comprovar que na outra margem não havia mesmo trilha, nem de vaca... Tomei a direção noroeste (a dos picos) e passo a caminhar pelo capim baixo e lajes rochosas, subindo suavemente.

Visualizo o Pico Menor dos Três Irmãos e para ir ao seu encontro cruzo um riacho pelas lajes e subo. As três montanhas estão atrás de uma linha de morrotes e ao conseguir encontrar uma passagem entre eles (caminhando no sentido oeste um pouco), atinjo às 14h21 um ponto privilegiado de observação, um belo mirante para os Três Irmãos, com um vale ainda entre nós a ser vencido. Apesar de esse mirante ficar no alto de um paredão a descida não foi difícil. E a passagem pelo vale também foi tranquila. Não encontrei água corrente ali, apenas água parada, mas a curiosidade é que são as últimas águas da bacia do Parauninha com que tenho contato nessa caminhada. As próximas águas já pertencerão à bacia do Rio das Pedras.

Ao cruzar o vale decidi não subir o Pico Menor pois avaliei que o esforço para ir até sua base e voltar (sem trilha) não teria a devida recompensa visual já que ele é muito mais baixo que as montanhas todas ao redor. Ao cruzar o vale então fui retomando aos poucos o rumo noroeste na direção do Pico Médio. Ao final de um aclive mais íngreme cheguei enfim à base do Pico Médio. Escondi a cargueira e iniciei a subida às 15h14, sem trilha demarcada mas sem dificuldade, atingindo o cume às 15h40. Altitude de 1590m com desnível de 124m. Do alto avista-se o Pico Menor e o Pico do Breu a sudeste, o Pico Maior a noroeste, o vale do Parauninha e a Serra do Abreu a leste, e mais distante no horizonte: a norte-nordeste a Serra da Bocaina, a Serra da Penha, a Serra de São José e o Pico do Itambé. Iniciei a descida às 16h23 e em 28 minutos estava na base novamente, resgatando a mochila.

Do alto havia estudado a aproximação para o Pico Maior e um local estratégico para o acampamento. Continuei na direção norte tendo uma parede baixa de pedras à minha direita, mas procurando um ponto propício para subi-la e ganhar o grande campo que visualizei lá de cima do pico, ótimo para o pernoite. Não foi difícil e às 17h30 já estava montando o rancho estrelado dessa noite, próximo a um córrego cujas águas contribuem para a beleza do majestoso Rio das Pedras mais ao norte.

Uma observação sobre as montanhas da Serra do Cipó e do Espinhaço: o relevo característico de toda essa serra é formado por placas ou lajes inclinadas mais ou menos a 45º na direção oeste. Isso pode ser observado tanto nas pequenas pedras fincadas no solo quanto nas mais altas montanhas. Resulta disso que a aproximação de uma montanha pelo lado oeste vai encontrar quase sempre uma parede de pedras de difícil ascensão pois deve-se encarar as extremidades das placas/lajes rochosas, ao passo que pela face leste a conformação é de uma grande rampa pois a encosta da montanha desse lado é exatamente a face das placas/lajes mais externas do conjunto.

Altitude de 1409m.
Nesse dia caminhei 10,7km (descontados os erros e explorações).

ImagePico Médio e Pico do Breu vistos do cume do Pico Maior dos Três Irmãos

3º DIA: DO PICO MAIOR DOS TRÊS IRMÃOS À SERRA DO ABREU

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoTresIrmaosEPeixeToloSerraDoCipoMGAbr153Dia

Às 7h13 parti para a subida do Pico Maior deixando a barraca montada. Mesmo a sua face leste sendo a mais fácil, parecia-me inclinada demais. Estudei possíveis rotas de ascensão mais fáceis, menos íngremes, mas por fim resolvi encarar mesmo uma linha reta ao cume. Em 10 minutos estava na sua base e iniciei a subida, que foi mais fácil do que eu pensava. Às 8h04 já estava no falso cume e em mais 4 minutos no cume verdadeiro. Altitude de 1676m com desnível de 254m desde a base. Pela proximidade e pela pouca diferença de altitude (86m), a vista é muito parecida com a do Pico Médio, porém a surpresa foi a linda visão de um enorme vale ao norte com os afluentes do Rio das Pedras, vale esse limitado a oeste por uma extensão da Serra da Lapinha. Ao localizar a barraca lá embaixo vi muito próximo dela um final de trilha que se dirigia para a estradinha que vai para o norte, ou seja, o caminho que eu deveria tomar para a continuação do meu roteiro. Comecei a descida às 9h10 e em 50 minutos estava de volta ao acampamento. Desmontei tudo e saí às 10h49 na direção leste, logo encontrando a trilha avistada lá de cima. Ela sumiu por mais de 100 metros, depois reapareceu e logo eu caminhava sobre um divisor de bacias, uma discreta (mas interessante) crista, com as águas que formam o Rio das Pedras ao norte e as que formam o Rio Parauninha ao sul. Cruzei uma cerca enferrujada e arrebentada, desci por trilhas paralelas, tomei a esquerda na bifurcação e subi por rastros paralelos no capim até atingir às 11h36 a estradinha de terra que vai para o norte. Do outro lado da estrada, um pouco distante, havia uma casa, mas não avistei ninguém.

Aqui deixo de lado um pouco a aventura das trilhas que aparecem e desaparecem, as travessias de rios saltando pedras, e por algumas horas (4 horas e 20 minutos, para ser exato) vou me deixar levar por essa estradinha deserta para o norte até o momento certo de descer a Serra do Abreu para leste.

Após a porteira da RPPN Vargem do Rio das Pedras (12h) a estrada está mais coberta de capim, o que mostra seu pouco uso. A paisagem é das mais bonitas, com uma grande planície (dos afluentes do Rio das Pedras, que avistei do Pico Maior) à esquerda (oeste) e os paredões da Serra do Abreu à direita (leste). Mas o curso principal do Rio das Pedras está à minha direita também, encaixado entre a estradinha e os paredões a leste, sem que eu perceba.

ImageVale dos afluentes do Rio das Pedras visto do cume do Pico Maior

Na bifurcação às 13h04 fui para a direita por ser mais marcada. Em 5 minutos começo a descer na direção de uma mata ciliar e sou encarado temerariamente por um boi parado bem no meio da estradinha. Bois quietos e parados são um perigo... Entrei na mata ciliar e cruzei o córrego facilmente pelas pedras, verifiquei a carta e era o próprio Rio das Pedras, que quase passa despercebido! Para quem não sabe, ele vai despencar na forma de belíssima cachoeira 4,6km abaixo (em linha reta), a famosa Cachoeira do Bicame. É a primeira água corrente desde o acampamento, às 13h14, e aproveito para encher os cantis.

Saio logo da matinha e passo sob fios de energia. Numa guinada para a esquerda (oeste), atravesso um córrego pelas lajes, um afluente do Rio das Pedras que vem das encostas ao norte. A partir daí encaro uma subida um pouco longa e cansativa voltando aos poucos ao rumo norte. A curiosidade aqui é a cerca elétrica instalada à esquerda da estradinha, mas que parecia nem funcionar mais (não testei, obviamente). Passo por mais algumas vacas junto a um cocho coberto por um telhadinho e às 14h20 topo com um marco de madeira do projeto "Bem-vindo caminhante" apontando para Congonhas do Norte à direita na bifurcação, para onde sigo. À esquerda iria para a RPPN Ermo das Gerais e Cachoeira do Bicame. A estradinha sobe sob a forma de vários caminhos paralelos de pedras brancas que já havia avistado de longe. Ao cruzar com três vaqueiros (fazia tempo que não via gente!) saí um pouco de lado para não assustar o gado que eles tocavam. Continuei subindo e do alto a visão de todo o vale percorrido foi o prêmio. Depois subi à esquerda na bifurcação seguindo outro marco "Bem-vindo caminhante" e na curta descida a seguir cruzei uma porteira de arame. Pronto, já estava no alto da serra, agora a estradinha volta a ter inclinações mais suaves.

Passadas algumas curvas, quando ela retoma a direção norte de verdade há um terceiro marco de madeira que serve de referência pois 330m depois dele uma trilha cruza a estrada. Tomei-a para a direita (leste) às 15h56. Aqui abandono de vez o rumo norte para descer a Serra do Abreu no sentido geral leste e depois continuar a caminhada na parte baixa para o sul na direção da vila do Tabuleiro. Fui à direita nas duas bifurcações e cruzei às 16h15 um córrego pelas lajes, um afluente bem alto do Rio das Pedras (última água do dia). Fui à esquerda na trifurcação e no final da subida cruzo às 16h33 uma estradinha que corre de sul para norte (e me deixa curioso em saber sua origem). Uns 200m depois já vejo o outro lado da serra, podendo identificar a Serra da Penha, a Serra de São José, a Serra de Ouro Fino, a Serra da Bocaina e o Pico do Itambé bem distante. Desci a serra por 1h05 e ao alcançar um belo mirante, às 17h38, resolvo encerrar as atividades do dia, porém água nas redondezas não havia. A visão é privilegiada para as serras e montanhas citadas, e à noite se distinguiam as luzes do pequeno povoado de Candeias, no sopé da Serra da Penha.

Altitude de 1257m.
Nesse dia caminhei 20,7km (descontados os erros e explorações).

ImageCânion do Peixe Tolo

4º DIA: DA SERRA DO ABREU À CACHOEIRA RABO DE CAVALO

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoTresIrmaosEPeixeToloSerraDoCipoMGAbr154Dia

No local onde acampei havia uma bifurcação em que o lado da esquerda descia imediatamente a serra, enquanto o da direita se aproximava de uma matinha para depois iniciar a descida. Ao sair às 8h12 preferi o ramo da esquerda, mas depois percebi que tomei o caminho mais longo. Desci pelas pedras brancas soltas e a trilha começou a inclinar para a esquerda (norte) até encontrar outra. Fui para a esquerda nessa bifurcação por curiosidade e encontrei um casebre vazio e trancado, com um cavalo pastando próximo. Esse foi o ponto mais ao norte que atingi nessa caminhada. Voltei e segui em frente na bifurcação para retomar a direção leste. Após o terceiro riacho quase seco, a outra trilha de descida da serra (a mais curta) entroncou à direita. Me mantive à direita na próxima bifurcação, passei por uma grande laje e a descida se tornou mais inclinada, com pedras soltas.

Após os restos de uma cerca, cheguei a um gramado junto a uma mata com um córrego. Essas águas são os primeiros afluentes do Ribeirão Peixe Tolo que encontro, ainda no alto da serra. Às 9h19 fiz uma pausa de oito minutos num belo riacho de água fresca e abundante que surgiu à esquerda do caminho. Depois cruzei uma porteira próxima e passei para o outro lado do riacho à esquerda pelas lajes. Logo a paisagem se abre e avisto à esquerda a Serra da Penha, em frente o vale do Rio Parauninha (não confundir com aquele por onde passei, da Serra da Lapinha) e à direita todo o vale dos ribeirões Teodoro e Peixe Tolo. As pedras soltas continuam e causam inevitavelmente alguns belos escorregões. Me aproximo de um fundo cânion à esquerda. Às 10h22 cruzo uma tronqueira (com um marco geodésico ao lado), enquanto à direita já avisto os paredões da entrada do Cânion do Peixe Tolo. Como referência da boca do cânion há uma "borboleta estampada" no paredão, como dizem os guias por lá. Se é delírio ou não, pelo menos serve como referência.

Às 10h33 a longa descida termina numa porteira, onde passo a caminhar com mata de ambos os lados. Fui à esquerda numa bifurcação por ser mais larga e às 10h39, ao sair da mata, alcanço um fim de estrada em que sigo à direita (do lado esquerdo há uma porteira) e 30m depois à esquerda. Porém caminho só mais 50m por essa estrada e a abandono para entrar numa trilha à direita que subiu e do alto me proporcionou a primeira visão da entrada do imponente Cânion do Peixe Tolo. Mas ali a chuva me pegou. Cruzei uma porteira torta e contornei pela direita o morrote com uma pequena torre. Às 12h07, com a passagem da chuva, parei numa parte alta da trilha para descansar e admirar a grande entrada do cânion e todo o restante da paisagem.

ImageRibeirão Peixe Tolo

Continuando a descida fui à direita na bifurcação para atalhar para a estrada abaixo já na direção do cânion. Caminhei apenas 100m pela estrada e entrei na trilha à direita com placa indicando o caminho do cânion. Desci bastante, cruzei um riachinho e às 12h55 adentrei a mata ciliar do Ribeirão Peixe Tolo. Cruzei um córrego e saí da mata. Parei um instante para ver de perto um casebre muito rudimentar à esquerda da trilha, com paredes de taipa e no interior camas de varas. Depois passei por outra faixa de mata, atravessei outro regato num pulo, entrei novamente na mata, outro riacho e às 13h39 chego a um belo recanto do interior do cânion, uma grande piscina natural, onde termino a minha exploração pois a partir dali não encontrei mais trilha. Se quisesse chegar à cachoeira mais ao fundo teria de seguir saltando pedras por centenas de metros, o que não estava nos planos para essa caminhada. Enchi os cantis pois não encontraria água boa até o final do dia.

Depois de um lanche e muitas fotos do rio e dos paredões ao redor, iniciei a volta às 14h54 pela outra margem, cruzando o rio sem dificuldade (e sem tirar as botas). A trilha não é tão aberta e pisada quanto a da margem esquerda, por onde cheguei, mas não oferece problema. De novo uma sucessão de faixas de mata e pequenos regatos até que saio da mata ciliar do Ribeirão Peixe Tolo, porém após uma tronqueira (que estava aberta) o reencontro numa de suas curvas. Novamente atravessei-o pelas pedras sem tirar as botas e fui para a direita pela margem de pedrinhas até reencontrar a trilha. Na bifurcação hesitei entre a direita e a esquerda pois queria evitar a casa logo acima, mas não tive como não passar pelo quintal dela. Saí discretamente pela porteira, subi o calçamento e ganhei a estradinha pela qual cheguei, passando por aquela placa que indica o caminho do cânion às 15h44. Meu objetivo agora era conhecer a Cachoeira Rabo de Cavalo, cuja queda mais alta já era visível. Subi pela estradinha, que teve uma parte plana e depois desceu até uma porteira preta com uma placa velha de boas-vindas à reserva particular do Peixe Tolo. Cruzei-a e descendo à direita quem ressurge? De novo ele, o Ribeirão Peixe Tolo, só que desta vez um pouco mais largo e fundo, me obrigando a tirar as botas.

Na subida que se segue passo por um bar à direita que fica exatamente no final de uma estrada de terra. A estrada faz uma curva de 90º à direita acompanhando uma cerca, mas 50m depois a abandono em favor de uma trilha à direita que continua acompanhando a cerca. Passei por uma abertura numa cerca que atravessa o caminho e na bifurcação preferi subir à esquerda. Após uma pinguela encontrei um cruzamento de trilhas e fui para a direita, saindo numa outra estrada de terra ao lado de uma casa verde às 16h42. Ali topei com um funcionário do Parque Estadual Serra do Intendente, que me informou que a cachoeira tem horário de visitação, e naquele dia já não seria mais possível. Perguntei-lhe onde poderia acampar e ele me disse para ir até o trailer fixo (sem rodas) que fica no início da trilha da cachoeira e aguardar pelo Sérgio, outro funcionário (posso estar enganado quanto ao nome pois não anotei). Desci pela estradinha até um córrego, atravessei-o pelas pedras e fui para a esquerda seguindo a placa de "Rabo de Cavalo". Esse é um afluente do Córrego Teodoro, que é o rio da cachoeira. Na bifurcação fui para a direita e cheguei ao trailer às 17h. A casa do Sérgio fica ao lado.

Ele não demorou a chegar e já sabia pelo rádio que eu o aguardava. Disse que eu poderia acampar somente na área particular que pertence a ele, não na área do parque logo ao lado, e que cobraria uma "mixaria", mais exatamente R$30 sem direito a uso do banheiro... negociei e consegui baixar um pouco esse valor.

Altitude de 694m.
Nesse dia caminhei 14,3km (descontados os erros e explorações).

ImageCachoeira Rabo de Cavalo

5º DIA: DA CACHOEIRA RABO DE CAVALO À VILA DO TABULEIRO

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoTresIrmaosEPeixeToloSerraDoCipoMGAbr155Dia

Desmontei o acampamento e deixei a cargueira na casa do Sérgio às 8h32 para visitar a cachoeira. Não é cobrada nenhuma taxa de visitação. A trilha começa à direita do trailer, desce um pouco e segue para a direita na bifurcação. Atravessei o Córrego Teodoro duas vezes pelas pedras e cheguei à cachoeira às 9h07. Das duas quedas paralelas havia praticamente só uma, a da direita, que vem de um córrego mais volumoso. A da esquerda eram só respingos. Mesmo assim o conjunto todo é encantador, com o sol da manhã batendo nos paredões. Tirei fotos e voltei pelo mesmo caminho. Peguei a mochila, abasteci os cantis com água gelada do Sérgio e comecei a caminhada em direção à vila do Tabuleiro às 10h14. Ele me ensinou um caminho para evitar uma grande volta que daria pela estrada. Saí de sua casa por uma trilha no sentido leste, cruzei uma estrada, logo depois uma porteira e me aproximei de uma casa ainda a leste. Desci acompanhando a cerca à direita da casa até cruzar uma porteira e atravessar o riacho (afluente do Córrego Teodoro) pelas pedras. A trilha subiu toda a encosta, bifurcou (fui à direita) e às 10h55, após tomar uma chuva passageira, alcancei uma estradinha que deve ser muito pouco usada, exatamente onde há uma porteira. Fui para a direita para tomar o rumo sul de vez e para trás vou deixando a bonita paisagem dos vales dos rios Teodoro, Peixe Tolo e Parauninha.

A estrada subiu, desceu e numa curva à direita bifurcou. Fui para a direita subindo. Cruzei uma porteira de arame com porteirinha de madeira do lado. Em seguida desci, na bifurcação fui à esquerda e cruzei um riacho (afluente do Córrego Teodoro), com a estrada virando uma trilha larga e subindo de novo. Dali ainda tenho visão para trás da trilha de descida da serra e da entrada do Cânion do Peixe Tolo. A trilha desembocou novamente na estrada, bem numa curva, e fui para a esquerda. Mais 90m e subo à esquerda de novo (onde à direita se vê uma porteira logo à frente). Às 12h02 cheguei a uma estrada um pouco mais larga (essa com marcas de pneu) e uma casa com mangueiras à esquerda, mas fui à direita, descendo. Aos poucos minha direção vai mudando de sul para sudeste.

Cruzei outra porteira de arame com porteirinha de madeira do lado e fui para a direita na bifurcação, passando por outra porteira de arame. A estrada se converte em trilha e ao alcançar outra porteira uma estradinha entronca à direita e uma trilha desce à esquerda, mas continuei em frente. Mais uma porteira+porteirinha (o pessoal por aqui gosta disso... rs) onde outra trilha desce à esquerda (para trás), mas continuo em frente por trilha também e avisto uma casa com varanda uns 200m à esquerda. Cruzo uma porteira preta com vista para o vale à esquerda (mata fechada à direita). Reparo numa cruzinha fincada à direita da trilha. Para trás ainda vejo o alto do paredão que serve de portal para o Cânion do Peixe Tolo. E para a frente já avisto o cume da Serra das Três Barras, em cujos pés passaria no dia seguinte. Desci e cruzei por uma ponte o Córrego da Cerca, cujo vale estava à minha esquerda havia algum tempo, mas não peguei da água por causa do gado próximo. Volto a subir com cercas e pastos de ambos os lados e uma casinha na encosta à esquerda. Cruzo outra porteira+porteirinha e no alto, quando a trilha vai se alargando, surge uma outra mais estreita porém bem marcada acompanhando a cerca à direita.

ImageÀ direita desse paredão está o Cânion do Peixe Tolo, à esquerda a Cachoeira Rabo de Cavalo

Nesse alto tenho uma visão privilegiada dos arredores, com alguns pontos de referência: topo da Cachoeira do Tabuleiro ao sul, Serra das Três Barras a sudeste, topo dos paredões do Cânion do Rio Preto a oeste, topo do paredão que serve de portal para o Cânion do Peixe Tolo a noroeste.

Resolvo tomar a trilha mais estreita da direita na esperança de descer mais rapidamente ao caminho da Cachoeira Congonhas, atrativo que devo visitar antes do Tabuleiro. Mas acho que não fiz bom negócio pois ela simplesmente acompanhou o trajeto da trilha acima, e numa posição mais baixa e enfiada na mata, o que me prejudicou a visão da paisagem de montanhas que ia se abrindo à direita. Reencontrei a trilha acima numa porteira, onde uma estrada termina. Desci pela estrada 215m e na curva fechada para a esquerda cruzei uma porteira à direita com uma placa indicando a Cachoeira Congonhas a 3km (no meu gps deu 2,7km). Eram 13h24. No alto do morrote, a menos de 100m, está o cemitério do Tabuleiro.

Desci pela trilha indicada pela placa, cruzei um trecho de mata e finalmente encontrei água boa, numa bica bem na saída da mata. Continuei descendo e tomei a esquerda pois a direita parece levar às casas. Passada uma porteira, cruzo o Rio Preto pelas pedras e entro na mata, onde imediatamente encontro uma bifurcação. A direita leva a uma prainha do rio, então continuo pela esquerda. Mais alguns passos e tomo a direita seguindo a placa, saindo em seguida da mata e acompanhando o manso e bonito Rio Preto à minha direita. Cruzo um afluente seu pelas lajes, depois outro afluente, e desço enfim às lajes da margem direita do Rio Preto. Deixo a cargueira ali pois a passagem por uma paredinha seria complicada com ela. Subo pela margem por 100m e encontro outro córrego vindo da esquerda, exatamente da Cachoeira Congonhas. Cruzo-o pelas lajes e me deparo com outra placa, que indica a cachoeira à esquerda e o Cânion do Rio Preto à direita. Tomo a trilha à esquerda e em 11 minutos estou no poço da Cachoeira Congonhas, às 14h39. É a segunda vez que venho aqui e a vejo com muito pouca água... e ainda estamos em abril! Logo inicio o retorno e na placa apenas observo o Rio Preto na direção do cânion pois sua exploração tomaria um bom tempo e não estava no programa dessa caminhada. Na volta parei nas lajes à beira do rio para descanso e lanche (e contemplação daquele aprazível local, claro) por 40 minutos. Refiz o mesmo caminho (onde cruzei com dois caboclos com varas de pescar) e às 16h52 estava na estrada novamente. Após a porteira da placa da cachoeira, desci e tomei a direita, passando outra porteira.

Às 17h11 vem da direita a estrada que desce do Parque Natural Municipal Ribeirão do Campo, onde fica a famosa Cachoeira do Tabuleiro, como confirmam as placas. Cinco minutos depois passei pela capela da vila (no alto do gramado à esquerda) e fui parar no Restaurante Rupestre, dos meus amigos de longa data Gil e Solange, para matar a saudade e colocar os assuntos em dia.

Altitude de 648m.
Nesse dia caminhei 19km (descontados os erros e explorações).

ImageRio Preto

6º DIA: DA VILA DO TABULEIRO AO ALTO DA SERRA A CAMINHO DA FAZENDA CAPIVARA

Meu objetivo era completar esse grande circuito pela porção norte da Serra do Cipó voltando à rodovia MG-010 por trilhas a partir do Tabuleiro. Estudei uma forma de pegar o mínimo possível de estradinhas, discuti a rota com o Gil e resolvi que iria terminar a caminhada no Alto do Palácio (desde que não tivesse problemas para sair pela Fazenda Capivara). Dali teria alguns horários de ônibus da viação Serro e da Saritur para voltar a BH. Preferi esse caminho ao usado pelo pessoal do pedal, que alcança a MG-010 num local chamado Campo Redondo, por este ter muito mais estrada de terra/cascalho. Porém a chuva e garoa me seguraram no Tabuleiro mais do que eu planejava ficar.

Com a melhora do tempo, resolvi sair do Tabuleiro às 15h30 da Sexta-feira da Paixão, quando o vilarejo já estava ficando barulhento demais para mim. Saí do Restaurante Rupestre na direção da Pousada Gameleira. Depois do Poço do Val e da ponte sobre o Rio Preto subi à direita, retomando a direção sul. A subida é constante e aos poucos o vilarejo vai diminuindo na paisagem das montanhas. No topo passei por uma porteira e imediatamente comecei a descer. Mantendo-me sempre na estrada principal, cruzei outra porteira. Após uma curva à esquerda, passei por uma porteira (aberta) com duas casas à esquerda e uma ponte precária com um grande buraco. Dei uma guinada para a direita e após outra ponte (Córrego do Nono) comecei a subir de novo. Após várias outras porteiras e casas, cheguei às 16h49 ao final da estrada, com a casa de uma senhora à direita. Cruzei a porteira e continuei subindo pela trilha. Estou finalmente aos pés da Serra das Três Barras, avistada desde o início da tarde do dia anterior. Para trás uma vista panorâmica do caminho percorrido desde o Tabuleiro.

Uns 200m após a porteira do fim da estrada entro na mata. Na próxima porteira sigo na trilha da direita por ser bem mais aberta. Passei por uma porteira caída, peguei água no riacho (a única água boa de todo o percurso de hoje) e numa bifurcação às 17h17 fui à direita, numa trilha mais estreita que a da esquerda, mas que me serve de atalho já que a esquerda é o caminho para a Cachoeira Três Barras (segundo o gps). Nesse momento troco a direção sul (grosso modo) pela oeste por algum tempo. Às 17h33 entroncou à esquerda o outro acesso à trilha para a Três Barras. Em 3 minutos cruzei uma porteira e passei a caminhar por uma crista com vista aberta para os dois lados, inclusive da vila do Tabuleiro, já a quase 5km (em linha reta). O horário me obrigava a procurar um local para o pernoite e foi ali perto da porteira mesmo, com vista para o Tabuleiro quando a neblina deixava.

Altitude de 1091m.
Nesse dia caminhei 7,4km (descontados os erros e explorações).

ImageCachoeira Congonhas

7º DIA: DO ALTO DA SERRA À FAZENDA CAPIVARA

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoTresIrmaosEPeixeToloSerraDoCipoMGAbr157Dia

Levantei acampamento às 7h04 com a intenção de chegar à MG-010 a tempo de pegar o ônibus da viação Serro que passa pouco antes das 15h. Da porteira percorri a crista citada e, numa curva à esquerda, antes de começar a descer, entrei numa porteira de ferro à direita e tomei a trilha estreita subindo suavemente pela crista de pasto. Poderia ter seguido em frente (e não à direita na porteira), mas iria subir e descer mais, num trajeto mais longo. Cruzei outra porteira de ferro e às 7h32 atinjo o alto, com os campos se abrindo em muitas direções. Uma placa azul muito velha à direita da trilha diz "entrada proibida - propriedade particular" enquanto ao lado uma trilha dupla leva à parte alta da Cachoeira do Tabuleiro, que fica a apenas 1,5km ao norte dali. Nesse local tenho a última visão da vila do Tabuleiro. Quebrando o isolamento do lugar, surge uma casa um pouco distante à esquerda. Cruzo um riacho às 7h50 que corre para o vale do Córrego Lambari à esquerda (essa é a primeira água do dia, a próxima só daí a 4h). Tomo a direita na bifurcação evitando uma poça de lama à frente, mas não escapo do brejo a seguir. Cruzo uma porteira de ferro e subo pelas lajes rochosas, logo chegando a um "estacionamento".

Explicando: é um final de estrada onde os donos de 4x4 (e outros loucos donos de carros baixos) deixam os veículos para caminhar ao alto da Cachoeira do Tabuleiro. Um placa ali aponta a direção da cachoeira. De baixo, à esquerda (oeste) vem uma trilha, é aquela que abandonei na porteira de ferro e que faz um trajeto mais longo, pela parte baixa e passando por algumas casas. Por algum tempo (2h15min para ser mais exato) vou caminhar pela estradinha precária. Ali retomo a direção sul, que manterei até o final da caminhada (grosseiramente falando, já que há pequenas variações). Cruzo duas porteiras, atravesso uma faixa de mata e às 8h50 passo uma porteira azul, caindo em outra estrada, onde vou para a esquerda (à direita voltaria para o alto da Serra do Abreu). Acompanho uma cerca à minha esquerda e cruzo uma porteira de ferro com muitas vacas. Olhando para a direita (um pouco para trás) surgem o Pico do Breu e os Três Irmãos, numa ligação visual com o princípio dessa longa caminhada. Na descida cruzo com dois bikers e 20 minutos depois com um grupo, num Fiat Uno, meio perdido procurando a cachoeira. Às 10h02 passo por uma placa do Parque Estadual Serra do Intendente, num local que parece ser o seu limite mais ao sul.

Às 10h26 uma bifurcação importante: à esquerda, depois da porteira de ferro verde, iria para o Campo Redondo, de onde vem esse pessoal de carro e bicicleta. Eu, para evitar mais estradinha, tomei a direita (oeste) antes da porteira e arrisquei sair pela Fazenda Capivara, onde parece que trilheiros não são muito bem-vindos. Acompanhei uma cerca à minha esquerda e no alto uma bifurcação: fui para a esquerda (sul) cruzando a porteira de madeira (à direita há uma outra de ferro). Ao me aproximar de um morrote à frente a trilha quebra para a esquerda, com outra porteira, e o contorna. Sigo outra cerca à direita e alcanço às 11h12 uma porteira (com cadeado) que dá acesso a uma estradinha, onde vou para a direita (depois descobri que à esquerda sairia em algum ponto da MG-010 também).

Ao me aproximar de outro morro baixo, desprezo uma trilha dupla que sai à esquerda e o contorno pela direita. Na próxima bifurcação o caminho mais natural é o da direita, mas o meu é para a esquerda, ao lado da erosão. Cruzei três riachos (um deles com um tronco como pinguela, e todos afluentes do Córrego Criciúma) e numa curva bem fechada da estradinha poderia ter atalhado pelo capim baixo à esquerda (não vi trilha). Mais dois riachos e às 12h37 me deparo com o vão deixado por uma ponte que não existe mais, mas a travessia do córrego pelas lajes foi fácil pela esquerda. Uns 100m depois a mesma situação, porém dessa vez tive que cruzar uma cerca por baixo para atravessar o córrego. À minha direita surge o receptor de todas essas águas, o Córrego Criciúma.

E às 12h52 um momento tenso e inesperado da caminhada: a ponte sobre o largo e fundo Ribeirão Capivara não existe mais. Era bem alta e só ficaram as bases em cada margem. E agora, onde atravessá-lo? Procurei à direita mas a confluência com o Córrego Criciúma complica ainda mais a situação. Subi então para a esquerda da ponte até encontrar um local em que o rio não fosse muito fundo e de correnteza, e com alguma possibilidade de saída do outro lado. Só achei um lugar assim cerca de 300m rio acima. Tirei as botas, arranjei um cajado e atravessei o rio sem dificuldade, mas fica o aviso de que com chuva essa travessia não deve ser possível. Na outra margem a mata ciliar não era muito fechada, foi só cruzar uma cerca por baixo, ganhar o campo e retomar a trajetória da trilha junto aos restos da ponte às 13h35. E agora correr para não perder o ônibus pois essa manobra me tomou um tempo precioso. Às 13h47 avistei uma das casas da Fazenda Capivara bem abaixo e cheguei a uma estrada, que à direita leva a ela. Mas subi à esquerda, onde havia um carro estacionado. Saí dali o mais rápido possível, encontrando outro carro parado no caminho. Às 14h18 alcancei enfim a porteira da fazenda na MG-010, com tempinho para um lanche antes de embarcar no ônibus da viação Serro, que passou às 14h45 com destino a Belzonte.

Altitude de 1389m.
Nesse dia caminhei 24,7km (descontados os erros e explorações).
Total da caminhada: 118,6km

ImageSerra da Lapinha (ou Serra do Breu)

Informações adicionais:

As empresas que fazem São Paulo-Belo Horizonte são a Cometa (www.viacaocometa.com.br) e a Gontijo (www.gontijo.com.br).

Para subir a serra após Cardeal Mota deve-se pegar em Belo Horizonte:
1. qualquer ônibus da viação Serro (www.serro.com.br) que vá para ou passe em Conceição do Mato Dentro:
seg e qua: 6h, 8h, 9h, 13h, 15h, 17h
ter e qui: 6h, 8h, 9h, 11h, 13h, 15h, 17h
sex: 6h, 9h, 13h, 15h, 17h, 19h, 20h
sáb: 6h, 8h, 10h, 13h, 15h, 17h
dom: 6h, 8h, 9h, 13h, 15h, 17h, 19h, 21h

2. as linhas da empresa Saritur (www.saritur.com.br) que vão para Carmésia e Morro do Pilar:
seg a qui: 6h30, 14h
sex: 6h30, 14h, 18h45
sáb: 6h30, 14h, 16h45
dom: 6h30, 20h

Do Alto do Palácio/Fazenda Capivara para BH os horários são aproximados (segundo informações do posto de atendimento ao turista de Cardeal Mota):
1. viação Serro:
seg e qua: 8h, 9h30, 11h, 11h30, 15h, 16h30, 19h
ter, qui e sáb: 8h, 9h30, 11h, 11h30, 15h, 19h
sex: 8h, 9h30, 11h, 11h30, 15h, 16h30, 19h, 20h30
dom: 9h30, 11h30, 15h, 16h30, 17h30, 19h

2. viação Saritur: diário às 9h15

Para quem for terminar ou iniciar essa (ou outra) travessia na vila do Tabuleiro os horários de ônibus são bem escassos:
. Tabuleiro-Conceição do Mato Dentro: seg, qua, sex e sáb às 8h (exceto feriados)
. Conceição do Mato Dentro-Tabuleiro: seg, qua, sex às 15h, sáb às 14h (exceto feriados)

O site do Parque Estadual Serra do Intendente é www.ief.mg.gov.br/areas-protegidas/249.

Cartas topográficas:
. Baldim: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SE-23-Z-C-III.jpg
. Presidente Kubitschek: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SE-23-Z-A-VI.jpg

As denominações de rios e serras usadas aqui foram extraídas das cartas topográficas do IBGE e podem não coincidir com as denominações dadas pelos moradores da região, ou podem mesmo estar erradas.

Rafael Santiago
abril/2015

Percurso completo na imagem do Google Earth

Percurso do 1º dia (esq) e do 7º dia (dir) na carta topográfica

Percurso do 1º dia (esq) e do 7º dia (dir) na imagem do Google Earth
Percurso do 2º dia (esq) e do 6º dia (dir) na carta topográfica

Percurso do 2º dia (esq) e do 6º dia (dir) na imagem do Google Earth
Percurso do 3º dia (esq), do 4º dia (alto) e do 5º dia (dir) na carta topográfica

Percurso do 3º dia (esq), do 4º dia (alto) e do 5º dia (dir) na imagem do Google Earth

Circuito pela Cordilheira Huayhuash (Peru) - ago/15

ImageNevados Yerupajá e Yerupajá Chico

Para informações sobre a viagem do Brasil a Huaraz e sobre o período de aclimatação que fiz, leia o meu relato em http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2015/09/lagunas-69-churup-willcacocha-e-aguak.html.

Depois de testar a minha adaptação à altitude em três caminhadas de uma dia acima de 4400m, e ter por sorte uma excelente aclimatação, era hora de encarar o meu grande objetivo nessa viagem ao Peru: o Circuito Huayhuash em 8 dias.

Nas agências de Huaraz esse trekking é proposto para 8 dias (ou mais, se o cliente quiser e puder bancar), mas na realidade caminha-se 6 dias e meio, com o primeiro dia todo tomado pelo deslocamento até o primeiro acampamento, bem distante de Huaraz (quase 4h de viagem), e o último dia resumido a 4h30 de caminhada apenas, com o deslocamento de volta no restante do dia.

O trajeto é todo ao redor da Cordilheira Huayhuash, ao sul da Cordilheira Blanca, nas imediações da cidade de Chiquian. O sentido mais comum é o horário, com início no acampamento Cuartelwain e o final variando entre as localidades de Pocpa e Llamac. Encontramos porém grupos fazendo no sentido anti-horário.

Eu paguei 700 soles (US$ 222) por esse trekking pela agência Monttrek, de Huaraz. Os integrantes do meu grupo pagaram preços entre 450 e 650 soles através de outras agências ou pelo hostel onde estavam hospedados. No fim o serviço foi todo prestado pela agência Enjoy Huayhuash.

Estava incluído no preço o guia, o assistente e o arrieiro (condutor da tropa de animais). Todos eles cozinhavam e havia cinco refeições/lanches por dia. Também as barracas, isolantes, sacos de dormir, a tenda-cozinha e a tenda-refeitório, tudo carregado por uma tropa de cinco burros e duas mulas, além de um cavalo de emergência. O deslocamento de/para Huaraz também estava incluído.

ImageLaguna Gangrajanca com nevados Jirishanca e Jirishanca Chico

SOBRE O FRIO E AS ROUPAS

Nos oito dias de trekking tivemos dias bastante ensolarados. O sol é muito forte, um protetor solar é indispensável, porém o ar é sempre frio, o que se percebe quando sopra o vento ou quando caminhamos na sombra. Durante o dia portanto eu caminhava sempre com calça de tactel e segunda-pele de manga longa de lã de merino lightweight, no mínimo. Às vezes vestia um fleece fino ainda. Alguns colegas suportavam melhor o ar frio e caminhavam de manga curta.

No começo do dia muitas vezes caminhávamos um longo tempo pela sombra, dentro de um vale, e o frio da manhã era intenso. Nessas condições eu saía do acampamento com as duas blusas de fleece que tinha usado para dormir, uma mais fina e outra mais grossa (Polartec), além da segunda-pele de manga longa de lã de merino. Ainda gorro e luvas de fleece.

No fim do dia, quando o sol sumia atrás das montanhas, a temperatura despencava muito rapidamente. Eu vestia sobre a segunda-pele as duas blusas de fleece e mais uma jaqueta impermeável/respirável para reter o calor. Para as pernas levei uma calça segunda-pele de lã de merino midweight para colocar sob a calça de tactel, mas não foi suficiente, sempre sentia muito frio nas pernas. Tentava reter o calor com uma calça impermeável/respirável. Além disso gorro e luvas de fleece.

Durante a madrugada, a temperatura sempre caía abaixo de zero, o que podia ser conferido na quantidade maior ou menor de cristais de gelo na parte externa da barraca todas as manhãs. Eu levei um saco de dormir Marmot Alpha, de pluma de ganso, de especificação: conforto 2,6ºC, limite -2,8ºC e extremo -19ºC. Em algumas noites ele não foi suficiente, principalmente nas pernas, e tive de usar além dele um Deuter Orbit +5 de especificação: conforto 9ºC, limite 5ºC e extremo -9ºC. Aí sim dormia bem aquecido.

ImageAcampamento Cuartelwain. À esquerda: Jirishanca, Ninashanca, Rondoy e Rasac

30/07/15 - 1º DIA: DE HUARAZ AO ACAMPAMENTO CUARTELWAIN

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash1DiaPeruJul15.

Às 8h15 a van passou no hostel para me apanhar. Fui o primeiro a entrar, mas logo comecei a conhecer meus companheiros de (longa) caminhada: Annie (americana de 55 anos), Joel (suíço de 37 anos), Antônio (Tony, espanhol de 56 anos), Robert (inglês de 27 anos), Ofri (israelense de 25 anos), Or (israelense de 26 anos) e Yoav (israelense de 28 anos).

Saindo de Huaraz no sentido sul a primeira parada foi no povoado de Catac para comprar guloseimas de última hora e usar os baños (banheiros). Em seguida uma longa viagem passando pela cidade de Chiquian, onde trocamos o asfalto pelas poeirentas e pedregosas estradas de terra, depois Llamac e uma parada em Pocpa. Ali conhecemos o nosso guia Teo e seu assistente Henry, e seguimos de van até o acampamento Cuartelwain.

Em Llamac e Pocpa pagamos as primeiras taxas de "protección", num total de 30 soles. Na verdade, é um pedágio que as comunidades cobram ao longo de todo o percurso do circuito, o que totaliza 195 soles. Nosso guia Teo recolheria na manhã seguinte o valor restante de 165 soles de cada um para tornar mais ágil o pagamento durante a caminhada. Lembrando que toda essa área pertence a particulares, não faz parte de nenhum parque nacional.

Em Cuartelwain, às 14h10, as barracas e tendas foram rapidamente montadas. Altitude de 4172m. Tivemos nosso primeiro contato visual com as montanhas nevadas de Huayhuash, porém ainda bem discretas diante do que estava por vir. Quando o sol desapareceu atrás das montanhas, tivemos nossa primeira amostra do que seria o frio dentro dos vales. E muito mais depois, durante a noite e madrugada.

O jantar sempre tinha sopa como entrada, todos os dias uma sopa diferente. O prato principal nessa primeira noite foi peixe frito, supostamente truta. Eu, evitando comer carne durante o trekking, fiquei no ovo frito mesmo. Depois chá bem quente e dormir para se preparar para o início da caminhada.

As refeições foram todas fartas e com possibilidade de repetir quando quisesse. A enorme porção de arroz que vinha no prato era um tormento para os colegas europeus, não acostumados a isso, mas para mim, brasileiro, era uma quantidade que podia dar conta. Só sentia falta de um pouco de feijão para acompanhar tamanha quantidade de arroz.

Uma novidade para mim nesse trekking (muito diferente do Monte Roraima) foi a existência de banheiros em todos os acampamentos, uns muito bons (e até limpos) e outros sem condições de uso. Em Cuartelwain havia uma casinha com quatro portas, mas apenas duas estavam abertas. Lá dentro vaso sanitário com caixa de descarga acoplada. Um luxo!

ImageNevados Siulá e Yerupajá

ACLIMATAÇÃO: COMO MEU ORGANISMO REAGIU À ALTITUDE

Planejei essa viagem reservando quatro dias de aclimatação à altitude antes de iniciar o Circuito Huayhuash. Seriam quatro trekkings de um dia com altitudes de até 4600m retornando a Huaraz para dormir. O relato dessas caminhadas está em http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2015/09/lagunas-69-churup-willcacocha-e-aguak.html.

Como seria minha primeira experiência de caminhada acima dos 3000m estava preparado para tudo, inclusive a possibilidade de meu organismo reagir de forma muito negativa nesses quatro dias e eu nem tentar fazer o circuito. Logo na primeira noite em Huaraz comecei a minha dieta de mate de coca para ajudar na aclimatação. Não sei se foi bom, tem gente que diz que é placebo, mas sei que felizmente tive uma excelente aclimatação durante os quatro dias, sentindo apenas um pouco de dor de cabeça no primeiro dia, na Laguna 69.

Por recomendação médica, não utilizei os medicamentos Diamox e Decadron, que supostamente ajudam na aclimatação. Durante a caminhada, continuei tomando o mate de coca duas vezes por dia, feito da infusão da própria folha, que eu mastigava depois.

O problema que eu tive durante o circuito, que começou leve nos primeiros dias e depois foi piorando, foi com relação ao sono. Dormia das 20h até por volta de 0h30 ou 1h da madrugada e acordava com o nariz tampado. Dali em diante não dormia direito ou não conseguia dormir mais, mesmo assuando o nariz várias vezes para desobstrui-lo. Ao deitar o nariz entupia de novo e não conseguia pegar no sono. A noite maldormida tinha consequências no dia seguinte já que não estava suficientemente descansado para enfrentar o dia puxado de caminhada.

ImageCarnicero, Siulá, Yerupajá e Yerupajá Chico

31/07/15 - 2º DIA: DE CUARTELWAIN À LAGUNA CARHUACOCHA

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash2DiaPeruJul15.

Nossa rotina pela manhã seria igual todos os dias: às 6h30 todos tinham que estar na tenda-refeitório tomando o desayuno, com as respectivas barracas vazias e as mochilas cargueiras entregues ao arrieiro. Às 7h todos com as mochilas de ataque nas costas para iniciar a caminhada, faça o frio que fizer. E como fazia! Às vezes arrumava a mochila sem sentir os dedos das mãos. Um pacotinho com o lanche de trilha do dia era entregue a cada um antes de iniciar a caminhada.

Nesse dia nosso guia Teo não foi tão rígido e começamos a andar às 7h17. Adentramos o vale gelado no sentido nordeste por 22 minutos e começamos a subida da encosta à nossa direita em direção ao primeiro passo do dia, o Cacananpunta. A subida foi longa e cansativa, quase toda feita na sombra e no frio. Eu mantive o meu passo devagar-e-sempre: devagar para não sentir falta de ar e chegar a uma respiração estável, e sempre pois não fazia paradas para não ter de iniciar o trabalho de respiração de novo.

Alguns colegas consideraram esse passo um dos mais difíceis, alguns já ficaram bem para trás. Vencido o desnível de 508m, cheguei ao Passo Cacananpunta às 9h. Altitude de 4680m. Parada para se aquecer ao sol e contemplar o imenso vale à nossa frente, o qual iríamos contornar pela direita. Às 9h36 começamos a descida do passo, toda em ziguezagues também. Cruzamos com um ou mais grupos que estavam fazendo a caminhada no sentido anti-horário. Às 9h52 a longa descida teve fim próximo a uma cruz fincada em homenagem ao alpinista polonês Radoslaw Koscinski, que morreu explorando as nascentes do Rio Amazonas-Maranhão na Cordilheira Huayhuash em 1998. Por incrível que pareça estamos na bacia do Rio Amazonas!

Seguimos pela encosta direita do grande vale avistado do passo até alcançar uma placa de boas vindas ao "melhor trekking do mundo". Nesse ponto a trilha quebra de leste para sul e temos a primeira empolgante visão dos nevados da Cordilheira Huayhuash: Jirishanca Chico, Yerupajá, Jirishanca, Rondoy e Ninashanca. Parada para fotos, claro, já que o dia estava espetacular!

Às 11h alcançamos o posto de "protección" de Janca (pronuncia-se ranca). Há inclusive um portão de ferro para intimidar quem porventura não queira pagar o pedágio. Nosso guia Teo já havia recolhido o valor total dos pedágios de cada um e o pagamento então ocorreu sob sua responsabilidade. Assim, todos aproveitamos para descansar um pouco e mastigar algum lanche.

ImageJirishanca Chico, Yerupajá, Jirishanca, Rondoy e Ninashanca

Liberada a nossa passagem, cruzamos o Rio Janca e começamos a longa e suave subida para o Passo Carhuac ao sul. Infelizmente não estava no nosso percurso a Laguna Mitucocha. No meio da subida paramos para o almoço, às 11h44. Tony, nosso amigo espanhol, já dava sinais de cansaço e reclamava de uma dor no joelho. Findo o almoço, às 12h35 continuamos a lenta subida ao Passo Carhuac, aonde cheguei às 13h30. Altitude de 4628m. No passo e na descida que se seguiu, à nossa direita vão surgindo mais próximos os altos e majestosos picos nevados da cordilheira, até que às 14h50 temos de um mirante à direita da trilha a estonteante visão da Laguna Carhuacocha aos pés dos principais picos da cordilheira. Entre eles o Yerupajá Grande, 6634m de altitude, segunda montanha mais alta do Peru (só perde para o Huascarán, 6768m). Após alguns minutos de admiração da magnífica paisagem, bastou descer pela face norte da laguna até o acampamento, aonde cheguei às 15h20. Altitude de 4196m.

Nosso acampamento estava montado na parte alta da face norte, próximo a uma fonte de água e dos banheiros. Tínhamos apenas um grupo vizinho. Porém nas margens da lagoa, bem abaixo de nós, havia diversos outros grupos acampados. A visão dali para a cordilheira era ainda mais ampla e pudemos identificar, além do Yerupajá Grande, o Siulá (6344m), o Yerupajá Chico (6121m), o Jirishanca (6094m) e o Jirishanca Chico (5445m).

Todos os acampamentos do trekking foram em lugares de grande beleza, sempre com visão dos nevados da Cordilheira Huayhuash, mas na minha opinião os mais bonitos foram este de Carhuacocha e o Incahuayin, junto às lagunas Jahuacocha e Solteracocha, no sétimo dia de caminhada.

O jantar foi arroz com frango ensopado, mas para mim batatas. Depois sempre tinha um chá bem quente para espantar o frio, ou pelo menos tentar.

O banheiro ali era um buraco no chão com os lugares certos para colocar os pés, e ao lado um reservatório de água com uma vasilha para dar a "descarga". Casinha com duas portas.

Nesse dia caminhamos 16,8km.

A ÁGUA DURANTE O TREKKING

A questão da água para beber nesse trekking foi mais complicada do que eu imaginava. Em alguns dias havia água abundante, já em outros havia pouca água corrente ao longo do trajeto. Mas o problema é que sempre havia vacas, ovelhas, cavalos, além das pessoas que estavam passando ou que eram fixas. Com isso, tratar ou ferver a água era algo imprescindível. Eu não levei produtos para purificar a água pois não uso isso durante as travessias no Brasil. E não me agradava a idéia de usá-los durante oito dias seguidos. A solução foi aproveitar a água fervida (ou apenas esquentada, não sei) todos os dias para o chá e encher as minhas duas garrafinhas de 500ml para consumir ao longo do dia. Alguns colegas usavam Micropur Classic para tratar a água, disseram que é ótimo, porém deve-se esperar duas horas antes de bebê-la.

ImageYerupajá e Yerupajá Chico

01/08/15 - 3º DIA: DA LAGUNA CARHUACOCHA AO ACAMPAMENTO HUAYHUASH

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash3DiaPeruAgo15.

O frio desta noite foi intenso e pela manhã uma camada mais grossa de cristais de gelo cobria as barracas e todo o gramado. Mas a fonte de água não chegou a congelar. Felizmente estávamos no alto e logo o sol começou a nos aquecer.

Nesse dia começamos a caminhar às 7h16. Descemos até a extremidade leste da laguna, passamos pelos outros acampamentos, Teo pagou a nossa "protección" e contornamos a Laguna Carhuacocha por toda a face sul até entrar para um vale à esquerda (sul).

Pouco antes de atingir a Laguna Siulá fizemos uma pausa às 9h11 para quem quisesse subir ao mirante da Laguna Gangrajanca, alguns metros acima à direita. Quase todos subiram pois a vista vale todo o esforço. Essas duas lagunas fazem parte de um conjunto de três (com a Quesillococha, mais acima) que são um dos cartões postais de Huayhuash, de tão belas e fotografadas que são.

De volta à trilha principal, cruzamos às 10h04 o riacho que brota da Laguna Siulá e prosseguimos pela sua esquerda. Ali conhecemos um casal francês que estava fazendo um caminho alternativo e sem guia ou mulas, carregando todo o peso da comida e equipamentos nas costas. Estavam muito bem aclimatados e em ótima condição física!

Em determinado ponto às margens da Laguna Siulá a trilha quebra para a esquerda e se dirige para o Passo Siulá, 526m acima. Começamos a subida de verdade às 10h34. Essa foi bem cansativa também, na base do devagar-e-sempre, e por sorte o mirante das três lagunas está no meio dela para quebrar a ascensão em duas fases, com um bom descanso no mirante às 11h06 fotografando as belíssimas lagunas com os nevados ao fundo: Siulá, Yerupajá, Yerupajá Chico, Jirishanca e Jirishanca Chico.

Ali conheci o meu xará Rafael, de Porto Alegre, que estava fazendo um percurso um pouco diferente do nosso, com um guia particular. Conversamos pouco ali pois o meu grupo já estava de saída.

ImageMirante das 3 lagunas: Quesillococha, Siulá e Gangrajanca. Ao fundo nevados Jirishanca e Jirishanca Chico

Retomamos a subida às 11h38, cruzamos um vale mais plano e em seguida a subida final com muitas pedras soltas. Cheguei ao Passo Siulá às 12h23. Altitude de 4823m com a primeira visão dos nevados Carnicero (5960m) e Sarapo (6127m). Joel, nosso colega superativo, já estava voltando de um mirante acima do passo, e disse que valia a pena dar uma espiada. Continuei então pela crista à esquerda e fui até 4869m, num mirante que valeu mesmo o esforço extra. Além de uma outra laguna verde escondida entre as montanhas, tive a primeira visão dos nevados Trapecio (5644m) e Jurau (5650m).

De volta ao passo descemos menos de 200m para fazer o almoço pois no alto ventava muito. Às 13h38 retomamos a caminhada descendo o restante do passo. À nossa direita os impressionantes nevados Trapecio, Jurau, Carnicero, Siulá e Yerupajá. O grupo todo disparou na frente, ansiosos (não sei por quê) em chegar ao acampamento. Ficamos eu e o Tony para trás, junto com o Henry (assistente do guia), tentando identificar pelos mapas os nevados que podíamos avistar ao nosso lado. Sem nenhuma pressa, ainda paramos uns 20 minutos para descanso e fotos na Laguna Carnicero, às 14h47.

Cerca de 1km depois da laguna (às 15h32) uma outra trilha entroncou à esquerda, é a trilha pela qual vêm os burros e mulas já que a subida do Passo Siulá é mais arriscada para eles, podem cair e se machucar nas pedras. E também causar excesso de erosão na trilha íngreme. Cinco minutos depois já avistávamos do alto o acampamento Huayhuash. Foram mais 15 minutos de descida até ele. Cheguei às 16h. Altitude de 4357m. No fundo do vale (sul) tínhamos o Nevado Puscanturpa e a oeste o Jurau e Carnicero.

Nosso acampamento estava montado bem ao lado de um riacho de águas limpas e geladas. Nosso guia Teo pagou "protección" aqui também. Uma placa dá as boas vindas à comunidade de Tupac Amaru, porém ela fica a 5km dali por estrada.

Mais tarde reencontrei o Rafael de Porto Alegre e pudemos conversar mais. Soube que havia um grupo de quatro brasileiros também, mas não estavam ali no acampamento.

O jantar nesse dia foi arroz com lomo saltado. Para mim só o saltado, sem o lomo... risos. Tony, nosso amigo espanhol, perguntava a todos se estavam conseguindo dormir bem já que ele estava tendo bastante dificuldade.

O banheiro desse acampamento é requintado, tem vaso sanitário com caixa de descarga acoplada e ainda lavatório. Casinha com duas portas.

Nesse dia caminhamos 14,3km.

ImageTrapecio

02/08/15 - 4º DIA: DO ACAMPAMENTO HUAYHUASH A ÁGUAS CALIENTES

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash4DiaPeruAgo15.

Esse foi o dia mais tranquilo do trekking, ou melhor seria dizer que foi o único dia tranquilo...

Deixamos o acampamento às 7h09 na direção sul subindo suavemente pela encosta esquerda de um grande vale. O sol já iluminava e aquecia quase todo o vale, porém boa parte da trilha ainda estava na sombra, então mantive as roupas mais quentes. Em trechos mais úmidos havia água congelada no chão, ou seja, a temperatura foi negativa novamente durante a madrugada. Subíamos tendo os nevados Jurau e Carnicero como sentinelas à nossa direita, um pouco distantes. Mais próximo estavam o belo Nevado Trapecio, que aqui tem forma piramidal, e o Nevado Puscanturpa. Às 8h10 o Oliver (nosso arrieiro) nos ultrapassou com a tropa.

Às 8h40 a trilha atravessa uma área de desmoronamento, com o caminho aberto entre grandes blocos de pedra, e às 9h05 chegamos ao Passo Portachuelo. Altitude de 4776m, com 419m de desnível desde o acampamento feito em duas horas, ou seja, um passo bem tranquilo comparado aos outros. Enquanto esperávamos os colegas para reagrupar, Robert e Annie subiram um morro próximo para ter uma visão mais panorâmica.

Às 9h33 continuamos escoltados pelo Puscanturpa à direita (oeste), porém a sudeste surge um outro conjunto de nevados apartado de Huayhuash, é a bela Cordilheira Raura, que ficará sob nosso olhar ainda até o dia seguinte. A descida do passo foi bem suave também, com a trilha apontando diretamente para o Nevado Millpo, bem distante.

Às 10h20 avistamos a grande Laguna Viconga, represa construída para gerar energia, segundo Teo. Em 20 minutos cheguei próximo às suas margens, porém a trilha passa bem acima da água. Pudemos caminhar pela trilha mais baixa, mas quando o nível da represa está mais alto é preciso tomar a direita numa bifurcação e caminhar pela trilha mais acima. A visão da laguna com o grande Nevado Leon Huacanan (da Cordilheira Raura) ao fundo é espetacular.

De uma forma ou de outra tivemos que subir e passar por um portão onde havia dois homens cobrando a "protección". Como eu estava sozinho, eles perguntaram o nome do meu guia e liberaram a passagem. Aproveitei para perguntar o nome dos nevados avistados: Cuyoc (5550m) e Puscanturpa (5442m) a noroeste e Pumarinri (5450m) a oeste (no dia seguinte passaríamos entre eles, no Passo Cuyoc).

ImageAcampamento Águas Calientes

Após o portão a descida é inclinada e em ziguezagues em direção ao grande vale por onde corre o rio que extravasa da represa e desce furiosamente a íngreme encosta. Ao final da descida uma grande e caudalosa cachoeira. Depois o rio serpenteia vale abaixo um pouco mais manso e passa bem ao lado do acampamento Águas Calientes, aonde chegamos ao meio-dia em ponto. Altitude de 4369m, o acampamento mais alto do trekking segundo o meu gps. O dia realmente hoje foi fácil demais, uma forma de descansar para o que viria pela frente. Nesse dia deu até tempo de os cozinheiros prepararem um almoço quente, arroz com hambúrguer (ovo para mim).

O grande atrativo aqui, além das montanhas e do bonito rio, como o próprio nome já diz, são as piscinas de água quente. São três, a menor sendo usada para o banho completo, com sabonete e xampu, porém não havia vazão de água nela e o aspecto não era muito bom. A maioria foi direto para a piscina do meio, de temperatura bem agradável. A outra piscina grande estava com a água quente demais e ninguém conseguiu ficar. Aproveitei um tanque ao lado para lavar as minhas roupas, as quais secaram num instante por causa do vento e do ar seco.

Nesse acampamento havia vários grupos também, inclusive um pessoal da Bélgica que estava num esquema de muita mordomia. A equipe deles montou um banheiro privativo para eles não terem que usar o do acampamento, que foi o pior de todos: duas cabines de madeira sem porta e com um buraco fétido no chão.

Passamos o resto do dia descansando e curtindo aquele bonito lugar, primeiro nas piscinas, depois conversando na beira do rio. Robert, o inglês, sacou o seu pequeno violão para algumas bonitas canções intimistas. Joel, o suíço desinquieto, subiu uma montanha ao sul do acampamento só para não enferrujar os músculos ficando parado. Tony aproveitou para descansar e dormir um pouco, já que não estava conseguindo dormir à noite. No jantar estava até mais falante.

Encontrei o grupo de quatro brasileiros, todos de São Paulo (se não estou enganado), e conversamos rapidamente. Eles estavam com um guia brasileiro e um arrieiro para levar a maior parte do peso.

À noite o jantar foi espaguete com (poucos) legumes. Chá quente e cama!

Nesse dia caminhamos 11,5km.

ImageNevados Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero vistos do Mirador San Antonio

03/08/15 - 5º DIA: DE ÁGUAS CALIENTES A GUANACPATAY COM SUBIDA DO MIRADOR SAN ANTONIO

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash5DiaPeruAgo15.

O acampamento Águas Calientes foi o ponto extremo sul do nosso percurso. Para completar a volta ao redor da Cordilheira Huayhuash iniciamos gradualmente o retorno para o norte.

Começamos a caminhada do dia às 7h14 retornando pelo mesmo caminho do dia anterior até a ponte sobre o rio que vem da represa. Ali mudamos o rumo e tomamos a trilha que sobe a encosta na direção norte. Apesar de o sol já iluminar e aquecer todo o vale, essa subida foi toda na sombra, com muito frio.

Uma dica que deixo aqui é a seguinte: ao fazer esse trekking com o tempo firme e estável como pegamos, o melhor é sair do acampamento com o mínimo de roupa grossa possível, mesmo aguentando um pouco de frio no começo da caminhada. Se possível apenas uma segunda-pele e um fleece mais fino. Depois que se atinge o sol, todas as roupas quentes vão para a mochila de ataque, fazendo peso e volume para se carregar pelo resto do dia, um pequeno incômodo na minha opinião. Mas o impermeável precisa ficar na mochila de ataque sempre, pois nunca se sabe quando o tempo vai mudar, e ficar molhado num lugar frio como esse é um pulo para uma hipotermia.

Nessa subida para o Passo Cuyoc nosso amigo Tony ficou muito para trás (na verdade não o vi mais, como contarei mais à frente). Após um primeiro e longo aclive, vem um trecho plano emoldurado pelos lindos nevados Cuyoc e Puscanturpa. Ali ultrapassamos os quatro brasileiros e foi a última vez que os vi também. No segundo aclive, pouco inclinado, vai se formando atrás de nós uma linda visão panorâmica da Cordilheira Raura, aquela que conhecemos no dia anterior no Passo Portachuelo. À direita, é surpreendente a grossura das camadas de neve sobre o Nevado Cuyoc, parece que a montanha está coberta por um espesso chantilly. Por ali, às 9h30, o Oliver nos ultrapassou com os burros e mulas.

Às 9h43 cheguei ao impressionante e árido Passo Cuyoc, o ponto mais alto do trekking, com 5034m no meu gps. Desnível de 665m desde o acampamento, porém sem muita dificuldade. A visão para todos os lados é de cair o queixo, tudo maravilhosamente iluminado por um dia de sol e céu azul sem uma nuvem sequer. Uma recompensa por todo o esforço para se chegar até ali. A paisagem era tão inspiradora que nosso amigo Robert sentou-se para desenhar as montanhas em seu caderno de viagens.

Para trás (sudeste) tínhamos uma visão ainda mais ampla da Cordilheira Raura, à direita (nordeste) a montanha de chantilly sobre o Nevado Cuyoc, ao sul o cume duplo do Pumarinri e à nossa frente (noroeste) a vista grandiosa de um imenso vale com os nevados da Cordilheira Huayhuash à direita: Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero. Ali o nosso guia Teo nos apontou onde ficava o Mirador/Passo San Antonio, e já deu para ter uma idéia da dificuldade que seria subi-lo. O San Antonio não estava no nosso trajeto e sua subida era opcional.

A pior parte do Passo Cuyoc estava por vir: a sua descida. Uma pirambeira de pedras soltas num ziguezague que parecia não ter fim. Desci com cuidado para não torcer o pé nas pedras e levei 36 minutos para chegar ao vale. Apesar da dificuldade, alguns dispararam na frente.

No vale voltamos a ter visão do Nevado Trapecio, agora num outro ângulo. Às 11h03 paramos numa bifurcação. Quem fosse subir o San Antonio deveria descer a um outro vale à direita, quem não fosse subir seguiria em frente para o acampamento com Teo. Só Annie optou por não subir. Tony estava muito para trás, nem o vimos no passo, e Henry o acompanhava com o cavalo à disposição, se necessário. Seguimos portanto nós seis para o San Antonio sem guia.

ImagePasso Cuyoc. À esquerda: Ancocancha (Rosario), Caramarca e Tsacra Chico. À direita: Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero

Eu parei um pouco na bifurcação para comer algo e me distanciei do pessoal. Atravessei o vale meio encharcado (que na época das chuvas deve virar uma lagoa) e alcancei o Or (um dos israelenses) no sopé da montanha onde se encontra o mirador, às 11h31. O sol já estava forte. Comecei a subir pela ladeira de pedras e meu coração disparou, sentindo uma ligeira falta de ar. Quase desisti ali mesmo, pensando se valia mesmo a pena subir até os 5000m de novo (estava a 4524m). Mas insisti e pensei em subir até o primeiro platô, um pasto com vacas, para ter uma visão melhor do caminho e avaliar. Ao chegar lá os outros estavam me esperando (menos Joel, que quis bater o recorde de um israelense que subiu em 34 minutos). Isso me animou a continuar, mesmo sem ver como seria o caminho até o topo. Desse platô subimos pela encosta esquerda do vale, primeiro por trilha depois por um leito pedregoso cujo córrego ainda tinha placas de gelo, mas sem ter que molhar a bota. Só no alto é que pudemos ver como ainda seria difícil a chegada ao mirador, com a trilha bastante inclinada. Continuamos pelo caminho bem marcado entre pedras até alcançar a subida final, que foi se tornando mais e mais íngreme até virar uma trilha em ziguezague, que era a forma de evitar escorregar para trás ao dar o passo.

Cheguei enfim ao Mirador San Antonio às 12h49, altitude de 5008m, ligeiramente mais baixo que o Passo Cuyoc pelo meu gps, porém isso varia por ser um altímetro barométrico, baseado na pressão atmosférica. E posso dizer que valeu a pena o esforço. É uma paisagem grandiosa, quase inacreditável, de tantos picos nevados e lagunas perdidas pelos vales abaixo deles. À direita temos o Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero. À esquerda, Jullutahuarco, Caramarca e Tsacra Chico. Lagunas Jurau, Santa Rosa e Sarapococha nos vales. Para trás o Passo Cuyoc e ali no alto só o nosso grupo, depois chegaram alguns israelenses.

Iniciamos a descida às 13h47 pelo mesmo caminho. Ao chegarmos ao primeiro platô (onde eles me esperaram) o Henry nos aguardava com o almoço. Depois terminamos de descer ao vale por um outro caminho, já na direção do acampamento (oeste). O grupo dos belgas acampou nesse vale, segundo o Henry eles iam subir o San Antonio e descer para o outro lado.

Continuamos descendo na direção oeste, passamos por casas construídas de pura pedra, e chegamos ao acampamento Guanacpatay às 16h13. Altitude de 4316m. Esse acampamento fica bastante isolado dentro do vale, apenas com essas casas de pedra a uma certa distância.

Mal cheguei e já soube que o guia Teo havia descido para a vila de Huayllapa levando o Tony, que se sentia extremamente cansado e com dores de cabeça mais fortes. Ele infelizmente estava saindo do trekking. Desde o começo ele dizia que tinha problemas à noite, não conseguia dormir, ao pegar no sono dava um pulo e acordava. Isso o deixava cansado, ficando sempre bem para trás do grupo. Nas subidas tinha bastante dificuldade, desde o primeiro passo no primeiro dia. Aquela noite ele dormiria em Huayllapa, depois em Cajatambo e só chegaria de volta a Huaraz dois dias depois. As rotas de fuga desse trekking são bastante complicadas. Teo ainda retornou naquela mesma noite ao acampamento.

O jantar foi arroz, purê de batata e ovo frito (veg para todos nesse dia).

O banheiro tinha vaso sanitário com caixa acoplada, ainda com assento e tampa. Luxo total. Era uma casinha com duas portas. Se não me engano havia um lavatório ao lado.

Nesse dia caminhamos 17,8km.

ImageDiablo Mudo

04/08/15 - 6º DIA: DE GUANACPATAY A HUATIAC COM PARADA NA VILA DE HUAYLLAPA

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash6DiaPeruAgo15.

Deixamos o acampamento Guanacpatay às 7h04 e caminhamos bastante tempo por dentro do vale, sempre na sombra, com muito frio. Às 7h53, ao final desse vale, tivemos finalmente o calor do sol e uma bonita vista de outros vales bem mais abaixo, porém era o início de uma descida quase vertical onde foi preciso ir devagar e com cuidado. Logo vimos que estávamos descendo a encosta ao lado de uma grande cachoeira! E o fim da descida vertiginosa foi às margens do riacho que vinha dela, o Rio Guanacpatay.

Pausa para curtir o sol. Numa outra encosta para dentro do vale do Rio Calinca uma nuvem de poeira sinalizava que nossa tropa vinha por um outro caminho, já que aquele nosso seria muito arriscado para os animais.

Às 8h43 continuamos descendo pelo vale do Rio Huayllapa (resultado da junção dos rios Calinca e Guanacpatay) tendo-o à nossa direita a princípio, depois à nossa esquerda ao cruzar uma ponte onde a nossa tropa de burros e mulas nos ultrapassou. Paramos todos num portão onde Teo fez o pagamento da "protección" para a comunidade de Huayllapa. Dali já avistávamos a pequena vila mais abaixo e logo chegamos a uma bifurcação: subindo à direita o caminho para o acampamento Huatiac, descendo em frente a vila. O guia perguntou quem queria descer à vila e todos aceitaram. A princípio eu e outros não gostamos da idéia pois queríamos nos manter "longe da civilização" pelo máximo de tempo possível, imaginando que iríamos encontrar ali carros buzinando e outras neuroses do tipo (trauma de Huaraz), porém na vila só andamos por vielas em que nem cabem carros, e o lugar é tão primitivo que valeu a pena conhecer.

Paramos às 10h09 na Bodega Sol de Yerupajá para tomar algo gelado enquanto alguns colegas aproveitavam para recarregar as baterias de algum aparelho eletrônico. No salão dos fundos há dois interessantes mapas topográficos bem grandes na parede.

Saímos às 10h46 e subimos de volta à bifurcação para Huatiac, tomando a trilha que sobe à esquerda. E como sobe! E que sol forte estava! Dos 3509m de altitude da vila subimos direto até os 4012m, onde paramos para o almoço às 12h05. Robert já estava passando mal com a subida constante sob o sol tão quente.

ImageRio Huayllapa

Toda essa subida foi feita ao longo do vale do Rio Milo, que desce das montanhas. No princípio tínhamos o rio bem próximo, até o cruzamos em determinado ponto, e vimos bonitos poços de água cristalina e pequenas quedas. A direção geral da caminhada, que era oeste (grosso modo) desde a descida do Mirador San Antonio, passou a ser norte, o que se manteria até o meio do dia seguinte.

Após a pausa do almoço, retomamos a subida às 12h54. Mais acima cruzei pelas pedras um afluente do rio principal do vale e curiosamente encontrei uma senhora com roupas típicas, muito coloridas, andando pela trilha num local em que parecia não haver casa ou morador nenhum. Sua casa devia estar bem mais acima, mas numa outra direção. Será que eu já estava tendo alucinações? Culpa do mate de coca... kkkkk

Subi ainda mais um pouco e quando já pensava em parar para descansar a trilha nivelou e já pude avistar o acampamento Huatiac para dentro de um grande vale, a Quebrada Huancho. Cheguei a ele às 13h51, cruzando o Rio Huancho pelas pedras. O Henry se desequilibrou nessas pedras e caiu na água. Teve de trocar rapidamente as roupas molhadas.

Altitude de 4309m, exatamente 800m de desnível desde a vila de Huayllapa. No fundo desse vale o famoso Diablo Mudo (5223m), que algumas pessoas escalam durante o trekking, desde que contratado previamente com a agência pois é preciso levar equipamento para neve. A leste o Nevado Jullutahuarco.

Depois do habitual chá com pipoca da tarde, colocamos as cadeiras fora da tenda-refeitório para conversar aquecidos pelo sol. Porém à medida que o sol ia se escondendo atrás da montanha íamos mudando o círculo de conversa para mais longe do acampamento em busca do calor do sol e fugindo do frio da sombra. Até que desistimos pois todo o vale ficou na sombra.

O jantar foi espaguete com molho de tomate, em grande quantidade. Annie reclamou da carência de proteína na nossa alimentação e eles fritaram um ovo para ela.

Tivemos apenas um grupo como vizinhos esta noite, e foi um pessoal que chegou bem mais tarde pois fizeram um caminho diferente, pelas montanhas.

O banheiro desse acampamento é uma casinha com duas portas com vaso sanitário e descarga acoplada, porém só um deles estava em condições de uso, o outro estava entupido com papéis.

Nesse dia caminhamos 13,9km.

ImageDiablo Mudo e Laguna Susucocha

05/08/15 - 7º DIA: DE HUATIAC AO ACAMPAMENTO INCAHUAYIN/JAHUACOCHA

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash7DiaPeruAgo15.

Como ninguém do grupo ia escalar o Diablo Mudo, saímos todos juntos às 7h11.

Esse dia para mim foi bastante desgastante, em parte pelo cansaço acumulado dos últimos dois dias e em parte por ter tido uma noite muito ruim, sem conseguir dormir depois da 1h da madrugada. E por falta de sorte foi um dia pesado, principalmente por causa do Passo Yaucha.

A subida para o Passo Tapush não foi difícil, mas me cansei bastante mesmo assim. Grande parte dela foi feita pela sombra, com muito frio. Cheguei ao passo às 8h51. Altitude de 4770m, desnível de 461m desde Huatiac. Joel, o agitado, já estava no topo de uma montanha bem alta próxima, para espanto até do guia.

Iniciamos a descida às 9h24 e logo fomos ultrapassados pela nossa poeirenta tropa. A bela Laguna Susucocha, à nossa direita, rendeu boas fotos. Após a laguna, a descida se torna bem mais inclinada e com muitas pedras soltas, até alcançarmos no vale o acampamento Gashpapampa, sem nenhuma barraca, apenas uma placa dando as boas vindas e uma cabine metálica que deve ser o banheiro.

Às 10h11 nos deparamos com um imenso vale bem à frente. Nessa hora a direção da caminhada muda de norte para leste para adentrarmos o vale em direção às cabeceiras. É a Quebrada Angocancha. A boa surpresa são os bonitos bosques de queñuales, árvores que desprendem a casca como um papel. A má notícia é a visão do Passo Yaucha, muito acima de nós, fechando a cabeceira do vale. Da encosta sul (à direita) em que estávamos passamos para a encosta norte do vale atravessando o Rio Angocancha pelas pedras, onde Teo pagou mais uma "protección".

O grupo estava por ali descansando e se preparando para a difícil subida do passo. Eu, como vinha por último, mal cheguei e todos já partiram, não descansei. Aliás nesse dia eu substituí o Tony como companhia para o Henry na rabeira do grupo. Aproveitei para exercitar meu portunhol conversando com ele, fazer o quê?

E lá vamos nós para o Passo Yaucha! Segui no meu passo devagar-e-sempre mas tive que parar uma vez e sentar numa pedra para descansar um pouco. O Henry me oferecia o cavalo o tempo todo mas quem subiu montado nele foi mesmo o Or.

ImageNinashanca, Rondoy, Jirishanca, Yerupajá Chico e Yerupajá vistos do Passo Yaucha

Cheguei ao Passo Yaucha às 11h45, altitude de 4838m, e não sabia se sentava ou se continuava andando por inércia. Não foi fácil! Permaneci alguns minutos no topo e logo descemos um pouco para o almoço num gramado logo abaixo.

A visão da Cordilheira Huayuash era espetacular, com a face oeste das montanhas que vimos nos primeiros dias: Ninashanca, Rondoy, Jirishanca, Yerupajá Chico, Yerupajá, Rasac e Siulá.

Retomamos a caminhada às 12h38, agora descendo tudo o que subimos. Oh, vida besta! Risos. Voltamos à direção geral norte. Durante toda a descida a vista para os nevados da cordilheira era espetacular, com muitas paradas para fotos, o que me distanciou completamente do restante do grupo, sempre afoito para chegar ao acampamento (e passar o resto do dia fazendo nada). Lá atrás éramos eu, o Henry e o Pajarito (o cavalo de emergência).

Às 14h uma das mais lindas paisagens de todo o trekking, como já disse anteriormente: a vista do acampamento Incahuayin com as duas lagunas, Jahuacocha e Solteracocha, e os nevados Ninashanca, Rondoy e Jirishanca ao fundo. Momento sublime!

A descida foi por uma superpoeirenta trilha em ziguezague até o vale e depois uma breve caminhada por ele até o acampamento Incahuayin/Inka Wain (também chamado de Jahuacocha, pelo nome da laguna), aonde cheguei às 14h30. Altitude de 4082m, o acampamento mais baixo do trekking. Pela primeira vez tive de me deitar ao chegar para tentar dormir um pouco. Quase não fui à sessão de chá com pipoca da tarde. Mas fiz um esforço e fui tomar o chá com Joel, que já estava de volta de um passeio pelas duas lagunas e a tentativa de subir ainda a outra que ficava aos pés dos nevados. Haja energia!

Este acampamento estava relativamente cheio, com diversos grupos terminando ou iniciando o circuito. Algumas pessoas pescavam trutas no límpido e gelado rio. Reencontrei o Rafael gaúcho e contamos nossas aventuras e dificuldades durante o trekking, cujos trajetos foram bem diferentes.

Nosso último jantar foi sopa de entrada (como sempre) e um pratão de arroz, tomate, beterraba, batata frita e croquetes. De novo veg para todo mundo (e desespero da Annie, pela falta de proteína).

Esse acampamento tinha dois banheiros. O do nosso lado do rio era bem ruim: duas cabines de metal sem porta e com um buraco fétido no chão. Do outro lado do rio duas cabines de madeira com uma bancadinha para se sentar, uma delas com assento plástico. Bem melhor!

Nesse dia caminhamos 15,9km.

ImageYerupajá Chico, Yerupajá, Rasac, Tsacra Chico e Tsacra Grande

06/08/15 - 8º DIA: DE INCAHUAYIN/JAHUACOCHA A POCPA

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash8DiaPeruAgo15.

Saímos do acampamento para o nosso último dia de caminhada um pouco mais cedo, às 6h51. Nossa direção era oposta às lagunas, como que saindo do vale. Cruzamos então a ponte do Rio Achin (que brota das lagunas) e fomos na direção oeste até o pé da encosta à direita, lado oposto ao que descemos no dia anterior. Tomamos a direita numa bifurcação logo após um portão e em seguida começamos a subir a íngreme encosta. Se tivéssemos ido para a esquerda, pela trilha mais larga, sairíamos em Llamac.

Nesse dia me sentia bem melhor, resultado da soneca da tarde anterior e da noite mais bem dormida. Durante a madrugada fez menos frio também.

Na subida da encosta uma nota muito triste. Paramos um pouco junto às pedras que foram colocadas no exato local onde um rapaz israelense de 24 anos havia morrido duas semanas antes em seu último dia de trekking. E o guia era o próprio Teo, que nos contou que o rapaz parecia não estar bem desde o primeiro dia, pedindo sempre o cavalo. Talvez tivesse algum problema de pulmão, uma bronquite ou algo assim. Era uma suposição.

Continuamos a subida e só alcançamos o sol às 8h25, todo esse tempo caminhamos pela sombra gelada. Olhando para trás temos a última visão espetacular nesse trekking recheado de tantas paisagens belíssimas. O sol inundando o vale e iluminando a grande cordilheira com as montanhas que foram os protagonistas desses nossos oito dias de aventura: Rondoy, Jirishanca, Yerupajá Chico, Yerupajá, Rasac, Tsacra Chico e Tsacra Grande.

Chegamos ao Passo Shulca, o último passo do trekking, às 8h55. Altitude de 4559m, desnível de 477m desde o acampamento. De lá do alto já era possível ver a pequena Pocpa, muito abaixo de nós, no fundo do vale do Rio Llamac.

Iniciamos a descida às 9h13 e parecia não ter fim nunca mais aquele ziguezague montanha abaixo. Não paramos nenhuma vez, os ligeirinhos como sempre sumiram na frente. Eu fiquei na retaguarda com Henry, logo atrás de Teo e Annie. As partes mais bonitas dessa descida são os densos bosques de queñuales.

Às 11h22 finalmente alcançamos a vila de Pocpa, onde no início do trekking fizemos uma parada para carregar a van e conhecemos nossos guias. Altitude de 3498m, simplesmente 1061m de descida! Ali um almoço nos esperava. Depois fotos do grupo todo, infelizmente sem o nosso amigo Tony, e zarpar para Huaraz. Annie ficou por lá pois ia continuar sua cicloviagem pelo Peru. A entrega da gorjeta para a nossa equipe ficou a cargo de cada um, de acordo com o valor que achasse justo.

Partimos logo depois do meio-dia, passamos novamente por Llamac, Chiquian, Catac e outros vilarejos até chegar a Huaraz às 15h48. A van deixou cada um em seu hostel e eu fiquei nas imediações da Plaza de Armas para procurar um hostel melhor e mais central do que o Santa Cruz Trek Hostel.

Nesse dia caminhamos 10,7km.
Total do Circuito Huayhuash: 100,9km.

ImageEu, Or, Yoav, Joel, Ofri, Robert, Oliver (arrieiro), Henry (guia). À frente: Annie e Teo (guia)

Informações adicionais:

Mapas em escala 1:70.000 do Ministério da Educação:
. de Cuartelwain ao Passo Cacananpunta: http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367926/ugel_bolognesi_2018.pdf

. do Passo Cacananpunta ao Passo Portachuelo: http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367933/ugel_lauricocha_2018.pdf

. do Passo Portachuelo ao Passo Tapush: http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367939/ugel_11_cajatambo_2018.pdf

. do Passo Tapush a Pocpa: http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367926/ugel_bolognesi_2018.pdf

Alguns sites de agências de Huaraz que fazem o trekking Huayhuash:
. www.monttrek.com.pe
. www.andeanskyexpedition.com
. www.galaxia-expeditions.com
. www.schelerhuayhuashtrek.com
. www.andesexplorerperu.com
. www.enjoyhuayhuash.com
. www.miradortourshuaraz.com
. www.k2-peru.com
. www.activeperu.com

Não vou indicar nenhuma agência pois penso que cada um deve procurar os serviços que estiverem dentro das suas expectativas e do seu orçamento. O nosso trekking foi perfeito, serviço muito bom, mas tem gente que prefere mais privacidade, caminhando num grupo bem reduzido ou mesmo somente com o guia e arrieiro. Outros preferem fazer em 9, 10 ou até 12 dias, com menos caminhada por dia e mais tempo para curtir os lugares. Vale a pena fazer contato com as agências acima e escolher o trekking que melhor se encaixar no que você procura

Sem querer assustar ou desanimar ninguém, acho bastante recomendável consultar um cardiologista ou clínico geral para exames básicos, principalmente de coração e pulmão, antes de partir para um trekking como esse. As condições lá são muito diferentes do que temos aqui no Brasil. A altitude, a baixa temperatura e o ar extremamente seco podem causar sérios problemas de saúde a quem esteja vulnerável ou agravar algum problema que já se tenha. Não custa nada se precaver. Em caso de uma emergência durante o trekking as condições de resgate são precárias e demoradas demais, e mesmo as rotas de fuga são bastante complicadas. Quem leu o relato até o final sabe por que estou falando isso. Pense seriamente nisso!

Rafael Santiago
agosto/2015

Percurso na imagem do Google Earth
Percurso do 2º dia na imagem do Google Earth
Percurso do 3º dia na imagem do Google Earth
Percurso do 4º dia na imagem do Google Earth (em amarelo)
Percurso do 5º dia na imagem do Google Earth (em amarelo)
Percurso do 6º dia na imagem do Google Earth (em amarelo)
Percurso do 7º dia na imagem do Google Earth (em amarelo)
Percurso do 8º dia na imagem do Google Earth (em amarelo)