Nevados Yerupajá e Yerupajá Chico
Para informações sobre a viagem do Brasil a Huaraz e sobre o período de aclimatação que fiz, leia o meu relato em http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2015/09/lagunas-69-churup-willcacocha-e-aguak.html.
Depois
de testar a minha adaptação à altitude em três caminhadas de uma dia
acima de 4400m, e ter por sorte uma excelente aclimatação, era hora de
encarar o meu grande objetivo nessa viagem ao Peru: o Circuito Huayhuash
em 8 dias.
Nas agências de Huaraz esse trekking é proposto para
8 dias (ou mais, se o cliente quiser e puder bancar), mas na realidade
caminha-se 6 dias e meio, com o primeiro dia todo tomado pelo
deslocamento até o primeiro acampamento, bem distante de Huaraz (quase
4h de viagem), e o último dia resumido a 4h30 de caminhada apenas, com o
deslocamento de volta no restante do dia.
O trajeto é todo ao
redor da Cordilheira Huayhuash, ao sul da Cordilheira Blanca, nas
imediações da cidade de Chiquian. O sentido mais comum é o horário, com
início no acampamento Cuartelwain e o final variando entre as
localidades de Pocpa e Llamac. Encontramos porém grupos fazendo no
sentido anti-horário.
Eu paguei 700 soles (US$ 222) por esse
trekking pela agência Monttrek, de Huaraz. Os integrantes do meu grupo
pagaram preços entre 450 e 650 soles através de outras agências ou pelo
hostel onde estavam hospedados. No fim o serviço foi todo prestado pela
agência Enjoy Huayhuash.
Estava incluído no preço o guia, o
assistente e o arrieiro (condutor da tropa de animais). Todos eles
cozinhavam e havia cinco refeições/lanches por dia. Também as barracas,
isolantes, sacos de dormir, a tenda-cozinha e a tenda-refeitório, tudo
carregado por uma tropa de cinco burros e duas mulas, além de um cavalo
de emergência. O deslocamento de/para Huaraz também estava incluído.
Laguna Gangrajanca com nevados Jirishanca e Jirishanca Chico
SOBRE O FRIO E AS ROUPAS
Nos
oito dias de trekking tivemos dias bastante ensolarados. O sol é muito
forte, um protetor solar é indispensável, porém o ar é sempre frio, o
que se percebe quando sopra o vento ou quando caminhamos na sombra.
Durante o dia portanto eu caminhava sempre com calça de tactel e
segunda-pele de manga longa de lã de merino lightweight, no mínimo. Às
vezes vestia um fleece fino ainda. Alguns colegas suportavam melhor o ar
frio e caminhavam de manga curta.
No começo do dia muitas vezes
caminhávamos um longo tempo pela sombra, dentro de um vale, e o frio da
manhã era intenso. Nessas condições eu saía do acampamento com as duas
blusas de fleece que tinha usado para dormir, uma mais fina e outra mais
grossa (Polartec), além da segunda-pele de manga longa de lã de merino.
Ainda gorro e luvas de fleece.
No fim do dia, quando o sol sumia
atrás das montanhas, a temperatura despencava muito rapidamente. Eu
vestia sobre a segunda-pele as duas blusas de fleece e mais uma jaqueta
impermeável/respirável para reter o calor. Para as pernas levei uma
calça segunda-pele de lã de merino midweight para colocar sob a calça
de tactel, mas não foi suficiente, sempre sentia muito frio nas pernas.
Tentava reter o calor com uma calça impermeável/respirável. Além disso
gorro e luvas de fleece.
Durante a madrugada, a temperatura
sempre caía abaixo de zero, o que podia ser conferido na quantidade
maior ou menor de cristais de gelo na parte externa da barraca todas as
manhãs. Eu levei um saco de dormir Marmot Alpha, de pluma de ganso, de
especificação: conforto 2,6ºC, limite -2,8ºC e extremo -19ºC. Em algumas
noites ele não foi suficiente, principalmente nas pernas, e tive de
usar além dele um Deuter Orbit +5 de especificação: conforto 9ºC, limite
5ºC e extremo -9ºC. Aí sim dormia bem aquecido.
Acampamento Cuartelwain. À esquerda: Jirishanca, Ninashanca, Rondoy e Rasac
30/07/15 - 1º DIA: DE HUARAZ AO ACAMPAMENTO CUARTELWAIN
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash1DiaPeruJul15.
Às
8h15 a van passou no hostel para me apanhar. Fui o primeiro a entrar,
mas logo comecei a conhecer meus companheiros de (longa) caminhada:
Annie (americana de 55 anos), Joel (suíço de 37 anos), Antônio (Tony,
espanhol de 56 anos), Robert (inglês de 27 anos), Ofri (israelense de 25
anos), Or (israelense de 26 anos) e Yoav (israelense de 28 anos).
Saindo
de Huaraz no sentido sul a primeira parada foi no povoado de Catac para
comprar guloseimas de última hora e usar os baños (banheiros). Em
seguida uma longa viagem passando pela cidade de Chiquian, onde trocamos
o asfalto pelas poeirentas e pedregosas estradas de terra, depois
Llamac e uma parada em Pocpa. Ali conhecemos o nosso guia Teo e seu
assistente Henry, e seguimos de van até o acampamento Cuartelwain.
Em
Llamac e Pocpa pagamos as primeiras taxas de "protección", num total de
30 soles. Na verdade, é um pedágio que as comunidades cobram ao longo
de todo o percurso do circuito, o que totaliza 195 soles. Nosso guia Teo
recolheria na manhã seguinte o valor restante de 165 soles de cada um
para tornar mais ágil o pagamento durante a caminhada. Lembrando que
toda essa área pertence a particulares, não faz parte de nenhum parque
nacional.
Em Cuartelwain, às 14h10, as barracas e tendas foram
rapidamente montadas. Altitude de 4172m. Tivemos nosso primeiro contato
visual com as montanhas nevadas de Huayhuash, porém ainda bem discretas
diante do que estava por vir. Quando o sol desapareceu atrás das
montanhas, tivemos nossa primeira amostra do que seria o frio dentro dos
vales. E muito mais depois, durante a noite e madrugada.
O
jantar sempre tinha sopa como entrada, todos os dias uma sopa diferente.
O prato principal nessa primeira noite foi peixe frito, supostamente
truta. Eu, evitando comer carne durante o trekking, fiquei no ovo frito
mesmo. Depois chá bem quente e dormir para se preparar para o início da
caminhada.
As refeições foram todas fartas e com possibilidade de
repetir quando quisesse. A enorme porção de arroz que vinha no prato
era um tormento para os colegas europeus, não acostumados a isso, mas
para mim, brasileiro, era uma quantidade que podia dar conta. Só sentia
falta de um pouco de feijão para acompanhar tamanha quantidade de arroz.
Uma novidade para mim nesse trekking (muito diferente do Monte
Roraima) foi a existência de banheiros em todos os acampamentos, uns
muito bons (e até limpos) e outros sem condições de uso. Em Cuartelwain
havia uma casinha com quatro portas, mas apenas duas estavam abertas. Lá
dentro vaso sanitário com caixa de descarga acoplada. Um luxo!
Nevados Siulá e Yerupajá
ACLIMATAÇÃO: COMO MEU ORGANISMO REAGIU À ALTITUDE
Planejei
essa viagem reservando quatro dias de aclimatação à altitude antes de
iniciar o Circuito Huayhuash. Seriam quatro trekkings de um dia com
altitudes de até 4600m retornando a Huaraz para dormir. O relato dessas
caminhadas está em
http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2015/09/lagunas-69-churup-willcacocha-e-aguak.html.
Como
seria minha primeira experiência de caminhada acima dos 3000m estava
preparado para tudo, inclusive a possibilidade de meu organismo reagir
de forma muito negativa nesses quatro dias e eu nem tentar fazer o
circuito. Logo na primeira noite em Huaraz comecei a minha dieta de mate
de coca para ajudar na aclimatação. Não sei se foi bom, tem gente que
diz que é placebo, mas sei que felizmente tive uma excelente aclimatação
durante os quatro dias, sentindo apenas um pouco de dor de cabeça no
primeiro dia, na Laguna 69.
Por recomendação médica, não
utilizei os medicamentos Diamox e Decadron, que supostamente ajudam na
aclimatação. Durante a caminhada, continuei tomando o mate de coca duas
vezes por dia, feito da infusão da própria folha, que eu mastigava
depois.
O problema que eu tive durante o circuito, que começou
leve nos primeiros dias e depois foi piorando, foi com relação ao sono.
Dormia das 20h até por volta de 0h30 ou 1h da madrugada e acordava com o
nariz tampado. Dali em diante não dormia direito ou não conseguia
dormir mais, mesmo assuando o nariz várias vezes para desobstrui-lo. Ao
deitar o nariz entupia de novo e não conseguia pegar no sono. A noite
maldormida tinha consequências no dia seguinte já que não estava
suficientemente descansado para enfrentar o dia puxado de caminhada.
Carnicero, Siulá, Yerupajá e Yerupajá Chico
31/07/15 - 2º DIA: DE CUARTELWAIN À LAGUNA CARHUACOCHA
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash2DiaPeruJul15.
Nossa
rotina pela manhã seria igual todos os dias: às 6h30 todos tinham que
estar na tenda-refeitório tomando o desayuno, com as respectivas
barracas vazias e as mochilas cargueiras entregues ao arrieiro. Às 7h
todos com as mochilas de ataque nas costas para iniciar a caminhada,
faça o frio que fizer. E como fazia! Às vezes arrumava a mochila sem
sentir os dedos das mãos. Um pacotinho com o lanche de trilha do dia era
entregue a cada um antes de iniciar a caminhada.
Nesse dia nosso
guia Teo não foi tão rígido e começamos a andar às 7h17. Adentramos o
vale gelado no sentido nordeste por 22 minutos e começamos a subida da
encosta à nossa direita em direção ao primeiro passo do dia, o
Cacananpunta. A subida foi longa e cansativa, quase toda feita na sombra
e no frio. Eu mantive o meu passo devagar-e-sempre: devagar para não
sentir falta de ar e chegar a uma respiração estável, e sempre pois não
fazia paradas para não ter de iniciar o trabalho de respiração de novo.
Alguns
colegas consideraram esse passo um dos mais difíceis, alguns já ficaram
bem para trás. Vencido o desnível de 508m, cheguei ao Passo
Cacananpunta às 9h. Altitude de 4680m. Parada para se aquecer ao sol e
contemplar o imenso vale à nossa frente, o qual iríamos contornar pela
direita. Às 9h36 começamos a descida do passo, toda em ziguezagues
também. Cruzamos com um ou mais grupos que estavam fazendo a caminhada
no sentido anti-horário. Às 9h52 a longa descida teve fim próximo a uma
cruz fincada em homenagem ao alpinista polonês Radoslaw Koscinski, que
morreu explorando as nascentes do Rio Amazonas-Maranhão na Cordilheira
Huayhuash em 1998. Por incrível que pareça estamos na bacia do Rio
Amazonas!
Seguimos pela encosta direita do grande vale avistado
do passo até alcançar uma placa de boas vindas ao "melhor trekking do
mundo". Nesse ponto a trilha quebra de leste para sul e temos a primeira
empolgante visão dos nevados da Cordilheira Huayhuash: Jirishanca
Chico, Yerupajá, Jirishanca, Rondoy e Ninashanca. Parada para fotos,
claro, já que o dia estava espetacular!
Às 11h alcançamos o posto
de "protección" de Janca (pronuncia-se ranca). Há inclusive um portão
de ferro para intimidar quem porventura não queira pagar o pedágio.
Nosso guia Teo já havia recolhido o valor total dos pedágios de cada um e
o pagamento então ocorreu sob sua responsabilidade. Assim, todos
aproveitamos para descansar um pouco e mastigar algum lanche.
Jirishanca Chico, Yerupajá, Jirishanca, Rondoy e Ninashanca
Liberada
a nossa passagem, cruzamos o Rio Janca e começamos a longa e suave subida
para o Passo Carhuac ao sul. Infelizmente não estava no nosso percurso a
Laguna Mitucocha. No meio da subida paramos para o almoço, às 11h44.
Tony, nosso amigo espanhol, já dava sinais de cansaço e reclamava de uma
dor no joelho. Findo o almoço, às 12h35 continuamos a lenta subida ao
Passo Carhuac, aonde cheguei às 13h30. Altitude de 4628m. No passo e na
descida que se seguiu, à nossa direita vão surgindo mais próximos os
altos e majestosos picos nevados da cordilheira, até que às 14h50 temos
de um mirante à direita da trilha a estonteante visão da Laguna
Carhuacocha aos pés dos principais picos da cordilheira. Entre eles o
Yerupajá Grande, 6634m de altitude, segunda montanha mais alta do Peru
(só perde para o Huascarán, 6768m). Após alguns minutos de admiração da
magnífica paisagem, bastou descer pela face norte da laguna até o
acampamento, aonde cheguei às 15h20. Altitude de 4196m.
Nosso
acampamento estava montado na parte alta da face norte, próximo a uma
fonte de água e dos banheiros. Tínhamos apenas um grupo vizinho. Porém
nas margens da lagoa, bem abaixo de nós, havia diversos outros grupos
acampados. A visão dali para a cordilheira era ainda mais ampla e
pudemos identificar, além do Yerupajá Grande, o Siulá (6344m), o
Yerupajá Chico (6121m), o Jirishanca (6094m) e o Jirishanca Chico
(5445m).
Todos os acampamentos do trekking foram em lugares de
grande beleza, sempre com visão dos nevados da Cordilheira Huayhuash,
mas na minha opinião os mais bonitos foram este de Carhuacocha e o
Incahuayin, junto às lagunas Jahuacocha e Solteracocha, no sétimo dia de
caminhada.
O jantar foi arroz com frango ensopado, mas para mim
batatas. Depois sempre tinha um chá bem quente para espantar o frio, ou
pelo menos tentar.
O banheiro ali era um buraco no chão com os
lugares certos para colocar os pés, e ao lado um reservatório de água
com uma vasilha para dar a "descarga". Casinha com duas portas.
Nesse dia caminhamos 16,8km.
A ÁGUA DURANTE O TREKKING
A
questão da água para beber nesse trekking foi mais complicada do que eu
imaginava. Em alguns dias havia água abundante, já em outros havia
pouca água corrente ao longo do trajeto. Mas o problema é que sempre
havia vacas, ovelhas, cavalos, além das pessoas que estavam passando ou
que eram fixas. Com isso, tratar ou ferver a água era algo
imprescindível. Eu não levei produtos para purificar a água pois não uso
isso durante as travessias no Brasil. E não me agradava a idéia de
usá-los durante oito dias seguidos. A solução foi aproveitar a água
fervida (ou apenas esquentada, não sei) todos os dias para o chá e
encher as minhas duas garrafinhas de 500ml para consumir ao longo do
dia. Alguns colegas usavam Micropur Classic para tratar a água, disseram
que é ótimo, porém deve-se esperar duas horas antes de bebê-la.
Yerupajá e Yerupajá Chico
01/08/15 - 3º DIA: DA LAGUNA CARHUACOCHA AO ACAMPAMENTO HUAYHUASH
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash3DiaPeruAgo15.
O
frio desta noite foi intenso e pela manhã uma camada mais grossa de
cristais de gelo cobria as barracas e todo o gramado. Mas a fonte de
água não chegou a congelar. Felizmente estávamos no alto e logo o sol
começou a nos aquecer.
Nesse dia começamos a caminhar às 7h16.
Descemos até a extremidade leste da laguna, passamos pelos outros
acampamentos, Teo pagou a nossa "protección" e contornamos a Laguna
Carhuacocha por toda a face sul até entrar para um vale à esquerda
(sul).
Pouco antes de atingir a Laguna Siulá fizemos uma pausa às
9h11 para quem quisesse subir ao mirante da Laguna Gangrajanca, alguns
metros acima à direita. Quase todos subiram pois a vista vale todo o
esforço. Essas duas lagunas fazem parte de um conjunto de três (com a
Quesillococha, mais acima) que são um dos cartões postais de Huayhuash,
de tão belas e fotografadas que são.
De volta à trilha
principal, cruzamos às 10h04 o riacho que brota da Laguna Siulá e
prosseguimos pela sua esquerda. Ali conhecemos um casal francês que
estava fazendo um caminho alternativo e sem guia ou mulas, carregando
todo o peso da comida e equipamentos nas costas. Estavam muito bem
aclimatados e em ótima condição física!
Em determinado ponto às
margens da Laguna Siulá a trilha quebra para a esquerda e se dirige para
o Passo Siulá, 526m acima. Começamos a subida de verdade às 10h34. Essa
foi bem cansativa também, na base do devagar-e-sempre, e por sorte o
mirante das três lagunas está no meio dela para quebrar a ascensão em
duas fases, com um bom descanso no mirante às 11h06 fotografando as
belíssimas lagunas com os nevados ao fundo: Siulá, Yerupajá, Yerupajá
Chico, Jirishanca e Jirishanca Chico.
Ali conheci o meu xará
Rafael, de Porto Alegre, que estava fazendo um percurso um pouco
diferente do nosso, com um guia particular. Conversamos pouco ali pois o
meu grupo já estava de saída.
Mirante das 3 lagunas: Quesillococha, Siulá e Gangrajanca. Ao fundo nevados Jirishanca e Jirishanca Chico
Retomamos
a subida às 11h38, cruzamos um vale mais plano e em seguida a subida
final com muitas pedras soltas. Cheguei ao Passo Siulá às 12h23.
Altitude de 4823m com a primeira visão dos nevados Carnicero (5960m) e
Sarapo (6127m). Joel, nosso colega superativo, já estava voltando de um
mirante acima do passo, e disse que valia a pena dar uma espiada.
Continuei então pela crista à esquerda e fui até 4869m, num mirante que
valeu mesmo o esforço extra. Além de uma outra laguna verde escondida
entre as montanhas, tive a primeira visão dos nevados Trapecio (5644m) e
Jurau (5650m).
De volta ao passo descemos menos de 200m para
fazer o almoço pois no alto ventava muito. Às 13h38 retomamos a
caminhada descendo o restante do passo. À nossa direita os
impressionantes nevados Trapecio, Jurau, Carnicero, Siulá e Yerupajá. O
grupo todo disparou na frente, ansiosos (não sei por quê) em chegar ao
acampamento. Ficamos eu e o Tony para trás, junto com o Henry
(assistente do guia), tentando identificar pelos mapas os nevados que
podíamos avistar ao nosso lado. Sem nenhuma pressa, ainda paramos uns 20
minutos para descanso e fotos na Laguna Carnicero, às 14h47.
Cerca
de 1km depois da laguna (às 15h32) uma outra trilha entroncou à
esquerda, é a trilha pela qual vêm os burros e mulas já que a subida do
Passo Siulá é mais arriscada para eles, podem cair e se machucar nas
pedras. E também causar excesso de erosão na trilha íngreme. Cinco
minutos depois já avistávamos do alto o acampamento Huayhuash. Foram
mais 15 minutos de descida até ele. Cheguei às 16h. Altitude de 4357m.
No fundo do vale (sul) tínhamos o Nevado Puscanturpa e a oeste o Jurau e
Carnicero.
Nosso acampamento estava montado bem ao lado de um
riacho de águas limpas e geladas. Nosso guia Teo pagou "protección" aqui
também. Uma placa dá as boas vindas à comunidade de Tupac Amaru, porém
ela fica a 5km dali por estrada.
Mais tarde reencontrei o Rafael
de Porto Alegre e pudemos conversar mais. Soube que havia um grupo de
quatro brasileiros também, mas não estavam ali no acampamento.
O
jantar nesse dia foi arroz com lomo saltado. Para mim só o saltado, sem o
lomo... risos. Tony, nosso amigo espanhol, perguntava a todos se
estavam conseguindo dormir bem já que ele estava tendo bastante
dificuldade.
O banheiro desse acampamento é requintado, tem vaso
sanitário com caixa de descarga acoplada e ainda lavatório. Casinha com
duas portas.
Nesse dia caminhamos 14,3km.
Trapecio
02/08/15 - 4º DIA: DO ACAMPAMENTO HUAYHUASH A ÁGUAS CALIENTES
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash4DiaPeruAgo15.
Esse foi o dia mais tranquilo do trekking, ou melhor seria dizer que foi o único dia tranquilo...
Deixamos
o acampamento às 7h09 na direção sul subindo suavemente pela encosta
esquerda de um grande vale. O sol já iluminava e aquecia quase todo o
vale, porém boa parte da trilha ainda estava na sombra, então mantive as
roupas mais quentes. Em trechos mais úmidos havia água congelada no
chão, ou seja, a temperatura foi negativa novamente durante a madrugada.
Subíamos tendo os nevados Jurau e Carnicero como sentinelas à nossa
direita, um pouco distantes. Mais próximo estavam o belo Nevado
Trapecio, que aqui tem forma piramidal, e o Nevado Puscanturpa. Às 8h10 o
Oliver (nosso arrieiro) nos ultrapassou com a tropa.
Às 8h40 a
trilha atravessa uma área de desmoronamento, com o caminho aberto entre
grandes blocos de pedra, e às 9h05 chegamos ao Passo Portachuelo.
Altitude de 4776m, com 419m de desnível desde o acampamento feito em
duas horas, ou seja, um passo bem tranquilo comparado aos outros.
Enquanto esperávamos os colegas para reagrupar, Robert e Annie subiram
um morro próximo para ter uma visão mais panorâmica.
Às 9h33
continuamos escoltados pelo Puscanturpa à direita (oeste), porém a
sudeste surge um outro conjunto de nevados apartado de Huayhuash, é a
bela Cordilheira Raura, que ficará sob nosso olhar ainda até o dia
seguinte. A descida do passo foi bem suave também, com a trilha
apontando diretamente para o Nevado Millpo, bem distante.
Às
10h20 avistamos a grande Laguna Viconga, represa construída para gerar
energia, segundo Teo. Em 20 minutos cheguei próximo às suas margens,
porém a trilha passa bem acima da água. Pudemos caminhar pela trilha
mais baixa, mas quando o nível da represa está mais alto é preciso tomar
a direita numa bifurcação e caminhar pela trilha mais acima. A visão da
laguna com o grande Nevado Leon Huacanan (da Cordilheira Raura) ao
fundo é espetacular.
De uma forma ou de outra tivemos que subir e
passar por um portão onde havia dois homens cobrando a "protección".
Como eu estava sozinho, eles perguntaram o nome do meu guia e liberaram a
passagem. Aproveitei para perguntar o nome dos nevados avistados: Cuyoc
(5550m) e Puscanturpa (5442m) a noroeste e Pumarinri (5450m) a oeste
(no dia seguinte passaríamos entre eles, no Passo Cuyoc).
Acampamento Águas Calientes
Após
o portão a descida é inclinada e em ziguezagues em direção ao grande
vale por onde corre o rio que extravasa da represa e desce furiosamente a
íngreme encosta. Ao final da descida uma grande e caudalosa cachoeira.
Depois o rio serpenteia vale abaixo um pouco mais manso e passa bem ao
lado do acampamento Águas Calientes, aonde chegamos ao meio-dia em
ponto. Altitude de 4369m, o acampamento mais alto do trekking segundo o
meu gps. O dia realmente hoje foi fácil demais, uma forma de descansar
para o que viria pela frente. Nesse dia deu até tempo de os cozinheiros
prepararem um almoço quente, arroz com hambúrguer (ovo para mim).
O
grande atrativo aqui, além das montanhas e do bonito rio, como o
próprio nome já diz, são as piscinas de água quente. São três, a menor
sendo usada para o banho completo, com sabonete e xampu, porém não havia
vazão de água nela e o aspecto não era muito bom. A maioria foi direto
para a piscina do meio, de temperatura bem agradável. A outra piscina
grande estava com a água quente demais e ninguém conseguiu ficar.
Aproveitei um tanque ao lado para lavar as minhas roupas, as quais
secaram num instante por causa do vento e do ar seco.
Nesse
acampamento havia vários grupos também, inclusive um pessoal da Bélgica
que estava num esquema de muita mordomia. A equipe deles montou um
banheiro privativo para eles não terem que usar o do acampamento, que
foi o pior de todos: duas cabines de madeira sem porta e com um buraco
fétido no chão.
Passamos o resto do dia descansando e curtindo
aquele bonito lugar, primeiro nas piscinas, depois conversando na beira
do rio. Robert, o inglês, sacou o seu pequeno violão para algumas
bonitas canções intimistas. Joel, o suíço desinquieto, subiu uma
montanha ao sul do acampamento só para não enferrujar os músculos
ficando parado. Tony aproveitou para descansar e dormir um pouco, já que
não estava conseguindo dormir à noite. No jantar estava até mais
falante.
Encontrei o grupo de quatro brasileiros, todos de São
Paulo (se não estou enganado), e conversamos rapidamente. Eles estavam
com um guia brasileiro e um arrieiro para levar a maior parte do peso.
À noite o jantar foi espaguete com (poucos) legumes. Chá quente e cama!
Nesse dia caminhamos 11,5km.
Nevados Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero vistos do Mirador San Antonio
03/08/15 - 5º DIA: DE ÁGUAS CALIENTES A GUANACPATAY COM SUBIDA DO MIRADOR SAN ANTONIO
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash5DiaPeruAgo15.
O
acampamento Águas Calientes foi o ponto extremo sul do nosso percurso.
Para completar a volta ao redor da Cordilheira Huayhuash iniciamos
gradualmente o retorno para o norte.
Começamos a caminhada do dia
às 7h14 retornando pelo mesmo caminho do dia anterior até a ponte sobre
o rio que vem da represa. Ali mudamos o rumo e tomamos a trilha que
sobe a encosta na direção norte. Apesar de o sol já iluminar e aquecer
todo o vale, essa subida foi toda na sombra, com muito frio.
Uma
dica que deixo aqui é a seguinte: ao fazer esse trekking com o tempo
firme e estável como pegamos, o melhor é sair do acampamento com o
mínimo de roupa grossa possível, mesmo aguentando um pouco de frio no
começo da caminhada. Se possível apenas uma segunda-pele e um fleece
mais fino. Depois que se atinge o sol, todas as roupas quentes vão para a
mochila de ataque, fazendo peso e volume para se carregar pelo resto do
dia, um pequeno incômodo na minha opinião. Mas o impermeável precisa
ficar na mochila de ataque sempre, pois nunca se sabe quando o tempo vai
mudar, e ficar molhado num lugar frio como esse é um pulo para uma
hipotermia.
Nessa subida para o Passo Cuyoc nosso amigo Tony
ficou muito para trás (na verdade não o vi mais, como contarei mais à
frente). Após um primeiro e longo aclive, vem um trecho plano emoldurado
pelos lindos nevados Cuyoc e Puscanturpa. Ali ultrapassamos os quatro
brasileiros e foi a última vez que os vi também. No segundo aclive,
pouco inclinado, vai se formando atrás de nós uma linda visão panorâmica
da Cordilheira Raura, aquela que conhecemos no dia anterior no Passo
Portachuelo. À direita, é surpreendente a grossura das camadas de neve
sobre o Nevado Cuyoc, parece que a montanha está coberta por um espesso
chantilly. Por ali, às 9h30, o Oliver nos ultrapassou com os burros e
mulas.
Às 9h43 cheguei ao impressionante e árido Passo Cuyoc, o
ponto mais alto do trekking, com 5034m no meu gps. Desnível de 665m
desde o acampamento, porém sem muita dificuldade. A visão para todos os
lados é de cair o queixo, tudo maravilhosamente iluminado por um dia de
sol e céu azul sem uma nuvem sequer. Uma recompensa por todo o esforço
para se chegar até ali. A paisagem era tão inspiradora que nosso amigo
Robert sentou-se para desenhar as montanhas em seu caderno de viagens.
Para
trás (sudeste) tínhamos uma visão ainda mais ampla da Cordilheira
Raura, à direita (nordeste) a montanha de chantilly sobre o Nevado
Cuyoc, ao sul o cume duplo do Pumarinri e à nossa frente (noroeste) a
vista grandiosa de um imenso vale com os nevados da Cordilheira
Huayhuash à direita: Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero. Ali o
nosso guia Teo nos apontou onde ficava o Mirador/Passo San Antonio, e já
deu para ter uma idéia da dificuldade que seria subi-lo. O San Antonio
não estava no nosso trajeto e sua subida era opcional.
A pior
parte do Passo Cuyoc estava por vir: a sua descida. Uma pirambeira de
pedras soltas num ziguezague que parecia não ter fim. Desci com cuidado
para não torcer o pé nas pedras e levei 36 minutos para chegar ao vale.
Apesar da dificuldade, alguns dispararam na frente.
No vale
voltamos a ter visão do Nevado Trapecio, agora num outro ângulo. Às
11h03 paramos numa bifurcação. Quem fosse subir o San Antonio deveria
descer a um outro vale à direita, quem não fosse subir seguiria em
frente para o acampamento com Teo. Só Annie optou por não subir. Tony
estava muito para trás, nem o vimos no passo, e Henry o acompanhava com o
cavalo à disposição, se necessário. Seguimos portanto nós seis para o
San Antonio sem guia.
Passo Cuyoc. À esquerda: Ancocancha (Rosario), Caramarca e Tsacra Chico. À direita: Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero
Eu
parei um pouco na bifurcação para comer algo e me distanciei do
pessoal. Atravessei o vale meio encharcado (que na época das chuvas deve
virar uma lagoa) e alcancei o Or (um dos israelenses) no sopé da
montanha onde se encontra o mirador, às 11h31. O sol já estava forte.
Comecei a subir pela ladeira de pedras e meu coração disparou, sentindo
uma ligeira falta de ar. Quase desisti ali mesmo, pensando se valia
mesmo a pena subir até os 5000m de novo (estava a 4524m). Mas insisti e
pensei em subir até o primeiro platô, um pasto com vacas, para ter uma
visão melhor do caminho e avaliar. Ao chegar lá os outros estavam me
esperando (menos Joel, que quis bater o recorde de um israelense que
subiu em 34 minutos). Isso me animou a continuar, mesmo sem ver como
seria o caminho até o topo. Desse platô subimos pela encosta esquerda do
vale, primeiro por trilha depois por um leito pedregoso cujo córrego
ainda tinha placas de gelo, mas sem ter que molhar a bota. Só no alto é
que pudemos ver como ainda seria difícil a chegada ao mirador, com a
trilha bastante inclinada. Continuamos pelo caminho bem marcado entre
pedras até alcançar a subida final, que foi se tornando mais e mais
íngreme até virar uma trilha em ziguezague, que era a forma de evitar
escorregar para trás ao dar o passo.
Cheguei enfim ao Mirador San
Antonio às 12h49, altitude de 5008m, ligeiramente mais baixo que o
Passo Cuyoc pelo meu gps, porém isso varia por ser um altímetro
barométrico, baseado na pressão atmosférica. E posso dizer que valeu a
pena o esforço. É uma paisagem grandiosa, quase inacreditável, de tantos
picos nevados e lagunas perdidas pelos vales abaixo deles. À direita
temos o Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero. À esquerda,
Jullutahuarco, Caramarca e Tsacra Chico. Lagunas Jurau, Santa Rosa e
Sarapococha nos vales. Para trás o Passo Cuyoc e ali no alto só o nosso
grupo, depois chegaram alguns israelenses.
Iniciamos a descida às
13h47 pelo mesmo caminho. Ao chegarmos ao primeiro platô (onde eles me
esperaram) o Henry nos aguardava com o almoço. Depois terminamos de
descer ao vale por um outro caminho, já na direção do acampamento
(oeste). O grupo dos belgas acampou nesse vale, segundo o Henry eles iam
subir o San Antonio e descer para o outro lado.
Continuamos
descendo na direção oeste, passamos por casas construídas de pura pedra,
e chegamos ao acampamento Guanacpatay às 16h13. Altitude de 4316m. Esse
acampamento fica bastante isolado dentro do vale, apenas com essas
casas de pedra a uma certa distância.
Mal cheguei e já soube que
o guia Teo havia descido para a vila de Huayllapa levando o Tony, que
se sentia extremamente cansado e com dores de cabeça mais fortes. Ele
infelizmente estava saindo do trekking. Desde o começo ele dizia que
tinha problemas à noite, não conseguia dormir, ao pegar no sono dava um
pulo e acordava. Isso o deixava cansado, ficando sempre bem para trás do
grupo. Nas subidas tinha bastante dificuldade, desde o primeiro passo
no primeiro dia. Aquela noite ele dormiria em Huayllapa, depois em
Cajatambo e só chegaria de volta a Huaraz dois dias depois. As rotas de
fuga desse trekking são bastante complicadas. Teo ainda retornou naquela
mesma noite ao acampamento.
O jantar foi arroz, purê de batata e ovo frito (veg para todos nesse dia).
O
banheiro tinha vaso sanitário com caixa acoplada, ainda com assento e
tampa. Luxo total. Era uma casinha com duas portas. Se não me engano
havia um lavatório ao lado.
Nesse dia caminhamos 17,8km.
Diablo Mudo
04/08/15 - 6º DIA: DE GUANACPATAY A HUATIAC COM PARADA NA VILA DE HUAYLLAPA
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash6DiaPeruAgo15.
Deixamos
o acampamento Guanacpatay às 7h04 e caminhamos bastante tempo por
dentro do vale, sempre na sombra, com muito frio. Às 7h53, ao final
desse vale, tivemos finalmente o calor do sol e uma bonita vista de
outros vales bem mais abaixo, porém era o início de uma descida quase
vertical onde foi preciso ir devagar e com cuidado. Logo vimos que
estávamos descendo a encosta ao lado de uma grande cachoeira! E o fim da
descida vertiginosa foi às margens do riacho que vinha dela, o Rio Guanacpatay.
Pausa
para curtir o sol. Numa outra encosta para dentro do vale do Rio
Calinca uma nuvem de poeira sinalizava que nossa tropa vinha por um
outro caminho, já que aquele nosso seria muito arriscado para os
animais.
Às 8h43 continuamos descendo pelo vale do Rio Huayllapa
(resultado da junção dos rios Calinca e Guanacpatay) tendo-o à nossa
direita a princípio, depois à nossa esquerda ao cruzar uma ponte onde a
nossa tropa de burros e mulas nos ultrapassou. Paramos todos num portão
onde Teo fez o pagamento da "protección" para a comunidade de Huayllapa.
Dali já avistávamos a pequena vila mais abaixo e logo chegamos a uma
bifurcação: subindo à direita o caminho para o acampamento Huatiac,
descendo em frente a vila. O guia perguntou quem queria descer à vila e
todos aceitaram. A princípio eu e outros não gostamos da idéia pois
queríamos nos manter "longe da civilização" pelo máximo de tempo
possível, imaginando que iríamos encontrar ali carros buzinando e outras
neuroses do tipo (trauma de Huaraz), porém na vila só andamos por
vielas em que nem cabem carros, e o lugar é tão primitivo que valeu a
pena conhecer.
Paramos às 10h09 na Bodega Sol de Yerupajá para
tomar algo gelado enquanto alguns colegas aproveitavam para recarregar
as baterias de algum aparelho eletrônico. No salão dos fundos há dois
interessantes mapas topográficos bem grandes na parede.
Saímos às
10h46 e subimos de volta à bifurcação para Huatiac, tomando a trilha
que sobe à esquerda. E como sobe! E que sol forte estava! Dos 3509m de
altitude da vila subimos direto até os 4012m, onde paramos para o almoço
às 12h05. Robert já estava passando mal com a subida constante sob o
sol tão quente.
Rio Huayllapa
Toda
essa subida foi feita ao longo do vale do Rio Milo, que desce das
montanhas. No princípio tínhamos o rio bem próximo, até o cruzamos em
determinado ponto, e vimos bonitos poços de água cristalina e pequenas
quedas. A direção geral da caminhada, que era oeste (grosso modo) desde a
descida do Mirador San Antonio, passou a ser norte, o que se manteria
até o meio do dia seguinte.
Após a pausa do almoço, retomamos a
subida às 12h54. Mais acima cruzei pelas pedras um afluente do rio
principal do vale e curiosamente encontrei uma senhora com roupas
típicas, muito coloridas, andando pela trilha num local em que parecia
não haver casa ou morador nenhum. Sua casa devia estar bem mais acima,
mas numa outra direção. Será que eu já estava tendo alucinações? Culpa
do mate de coca... kkkkk
Subi ainda mais um pouco e quando já
pensava em parar para descansar a trilha nivelou e já pude avistar o
acampamento Huatiac para dentro de um grande vale, a Quebrada Huancho. Cheguei a ele às
13h51, cruzando o Rio Huancho pelas pedras. O Henry se desequilibrou nessas
pedras e caiu na água. Teve de trocar rapidamente as roupas molhadas.
Altitude
de 4309m, exatamente 800m de desnível desde a vila de Huayllapa. No
fundo desse vale o famoso Diablo Mudo (5223m), que algumas pessoas
escalam durante o trekking, desde que contratado previamente com a
agência pois é preciso levar equipamento para neve. A leste o Nevado
Jullutahuarco.
Depois do habitual chá com pipoca da tarde,
colocamos as cadeiras fora da tenda-refeitório para conversar aquecidos
pelo sol. Porém à medida que o sol ia se escondendo atrás da montanha
íamos mudando o círculo de conversa para mais longe do acampamento em
busca do calor do sol e fugindo do frio da sombra. Até que desistimos
pois todo o vale ficou na sombra.
O jantar foi espaguete com
molho de tomate, em grande quantidade. Annie reclamou da carência de
proteína na nossa alimentação e eles fritaram um ovo para ela.
Tivemos
apenas um grupo como vizinhos esta noite, e foi um pessoal que chegou
bem mais tarde pois fizeram um caminho diferente, pelas montanhas.
O
banheiro desse acampamento é uma casinha com duas portas com vaso
sanitário e descarga acoplada, porém só um deles estava em condições de
uso, o outro estava entupido com papéis.
Nesse dia caminhamos 13,9km.
Diablo Mudo e Laguna Susucocha
05/08/15 - 7º DIA: DE HUATIAC AO ACAMPAMENTO INCAHUAYIN/JAHUACOCHA
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash7DiaPeruAgo15.
Como ninguém do grupo ia escalar o Diablo Mudo, saímos todos juntos às 7h11.
Esse
dia para mim foi bastante desgastante, em parte pelo cansaço acumulado
dos últimos dois dias e em parte por ter tido uma noite muito ruim, sem
conseguir dormir depois da 1h da madrugada. E por falta de sorte foi um
dia pesado, principalmente por causa do Passo Yaucha.
A subida
para o Passo Tapush não foi difícil, mas me cansei bastante mesmo assim.
Grande parte dela foi feita pela sombra, com muito frio. Cheguei ao
passo às 8h51. Altitude de 4770m, desnível de 461m desde Huatiac. Joel, o
agitado, já estava no topo de uma montanha bem alta próxima, para
espanto até do guia.
Iniciamos a descida às 9h24 e logo fomos
ultrapassados pela nossa poeirenta tropa. A bela Laguna Susucocha, à
nossa direita, rendeu boas fotos. Após a laguna, a descida se torna bem
mais inclinada e com muitas pedras soltas, até alcançarmos no vale o
acampamento Gashpapampa, sem nenhuma barraca, apenas uma placa dando as
boas vindas e uma cabine metálica que deve ser o banheiro.
Às
10h11 nos deparamos com um imenso vale bem à frente. Nessa hora a
direção da caminhada muda de norte para leste para adentrarmos o vale em
direção às cabeceiras. É a Quebrada Angocancha. A boa surpresa são os
bonitos bosques de queñuales, árvores que desprendem a casca como um
papel. A má notícia é a visão do Passo Yaucha, muito acima de nós,
fechando a cabeceira do vale. Da encosta sul (à direita) em que estávamos passamos
para a encosta norte do vale atravessando o Rio Angocancha pelas pedras, onde
Teo pagou mais uma "protección".
O grupo estava por ali
descansando e se preparando para a difícil subida do passo. Eu, como
vinha por último, mal cheguei e todos já partiram, não descansei. Aliás
nesse dia eu substituí o Tony como companhia para o Henry na rabeira do
grupo. Aproveitei para exercitar meu portunhol conversando com ele,
fazer o quê?
E lá vamos nós para o Passo Yaucha! Segui no meu
passo devagar-e-sempre mas tive que parar uma vez e sentar numa pedra
para descansar um pouco. O Henry me oferecia o cavalo o tempo todo mas
quem subiu montado nele foi mesmo o Or.
Ninashanca, Rondoy, Jirishanca, Yerupajá Chico e Yerupajá vistos do Passo Yaucha
Cheguei
ao Passo Yaucha às 11h45, altitude de 4838m, e não sabia se sentava ou
se continuava andando por inércia. Não foi fácil! Permaneci alguns
minutos no topo e logo descemos um pouco para o almoço num gramado logo
abaixo.
A visão da Cordilheira Huayuash era espetacular, com a
face oeste das montanhas que vimos nos primeiros dias: Ninashanca,
Rondoy, Jirishanca, Yerupajá Chico, Yerupajá, Rasac e Siulá.
Retomamos
a caminhada às 12h38, agora descendo tudo o que subimos. Oh, vida
besta! Risos. Voltamos à direção geral norte. Durante toda a descida a
vista para os nevados da cordilheira era espetacular, com muitas paradas
para fotos, o que me distanciou completamente do restante do grupo,
sempre afoito para chegar ao acampamento (e passar o resto do dia
fazendo nada). Lá atrás éramos eu, o Henry e o Pajarito (o cavalo de
emergência).
Às 14h uma das mais lindas paisagens de todo o
trekking, como já disse anteriormente: a vista do acampamento Incahuayin
com as duas lagunas, Jahuacocha e Solteracocha, e os nevados
Ninashanca, Rondoy e Jirishanca ao fundo. Momento sublime!
A
descida foi por uma superpoeirenta trilha em ziguezague até o vale e
depois uma breve caminhada por ele até o acampamento Incahuayin/Inka
Wain (também chamado de Jahuacocha, pelo nome da laguna), aonde cheguei
às 14h30. Altitude de 4082m, o acampamento mais baixo do trekking. Pela
primeira vez tive de me deitar ao chegar para tentar dormir um pouco.
Quase não fui à sessão de chá com pipoca da tarde. Mas fiz um esforço e
fui tomar o chá com Joel, que já estava de volta de um passeio pelas
duas lagunas e a tentativa de subir ainda a outra que ficava aos pés dos
nevados. Haja energia!
Este acampamento estava relativamente
cheio, com diversos grupos terminando ou iniciando o circuito. Algumas
pessoas pescavam trutas no límpido e gelado rio. Reencontrei o Rafael
gaúcho e contamos nossas aventuras e dificuldades durante o trekking,
cujos trajetos foram bem diferentes.
Nosso último jantar foi sopa
de entrada (como sempre) e um pratão de arroz, tomate, beterraba,
batata frita e croquetes. De novo veg para todo mundo (e desespero da
Annie, pela falta de proteína).
Esse acampamento tinha dois
banheiros. O do nosso lado do rio era bem ruim: duas cabines de metal
sem porta e com um buraco fétido no chão. Do outro lado do rio duas
cabines de madeira com uma bancadinha para se sentar, uma delas com
assento plástico. Bem melhor!
Nesse dia caminhamos 15,9km.
Yerupajá Chico, Yerupajá, Rasac, Tsacra Chico e Tsacra Grande
06/08/15 - 8º DIA: DE INCAHUAYIN/JAHUACOCHA A POCPA
As fotos estão em
https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash8DiaPeruAgo15.
Saímos
do acampamento para o nosso último dia de caminhada um pouco mais cedo,
às 6h51. Nossa direção era oposta às lagunas, como que saindo do vale.
Cruzamos então a ponte do Rio Achin (que brota das lagunas) e fomos na direção oeste até o pé da encosta à
direita, lado oposto ao que descemos no dia anterior. Tomamos a direita
numa bifurcação logo após um portão e em seguida começamos a subir a
íngreme encosta. Se tivéssemos ido para a esquerda, pela trilha mais
larga, sairíamos em Llamac.
Nesse dia me sentia bem melhor,
resultado da soneca da tarde anterior e da noite mais bem dormida.
Durante a madrugada fez menos frio também.
Na subida da encosta
uma nota muito triste. Paramos um pouco junto às pedras que foram
colocadas no exato local onde um rapaz israelense de 24 anos havia
morrido duas semanas antes em seu último dia de trekking. E o guia era o
próprio Teo, que nos contou que o rapaz parecia não estar bem desde o
primeiro dia, pedindo sempre o cavalo. Talvez tivesse algum problema de
pulmão, uma bronquite ou algo assim. Era uma suposição.
Continuamos
a subida e só alcançamos o sol às 8h25, todo esse tempo caminhamos pela
sombra gelada. Olhando para trás temos a última visão espetacular nesse
trekking recheado de tantas paisagens belíssimas. O sol inundando o
vale e iluminando a grande cordilheira com as montanhas que foram os
protagonistas desses nossos oito dias de aventura: Rondoy, Jirishanca,
Yerupajá Chico, Yerupajá, Rasac, Tsacra Chico e Tsacra Grande.
Chegamos
ao Passo Shulca, o último passo do trekking, às 8h55. Altitude de
4559m, desnível de 477m desde o acampamento. De lá do alto já era
possível ver a pequena Pocpa, muito abaixo de nós, no fundo do vale do
Rio Llamac.
Iniciamos a descida às 9h13 e parecia não ter fim
nunca mais aquele ziguezague montanha abaixo. Não paramos nenhuma vez,
os ligeirinhos como sempre sumiram na frente. Eu fiquei na retaguarda
com Henry, logo atrás de Teo e Annie. As partes mais bonitas dessa
descida são os densos bosques de queñuales.
Às 11h22 finalmente
alcançamos a vila de Pocpa, onde no início do trekking fizemos uma
parada para carregar a van e conhecemos nossos guias. Altitude de 3498m,
simplesmente 1061m de descida! Ali um almoço nos esperava. Depois fotos
do grupo todo, infelizmente sem o nosso amigo Tony, e zarpar para
Huaraz. Annie ficou por lá pois ia continuar sua cicloviagem pelo Peru. A
entrega da gorjeta para a nossa equipe ficou a cargo de cada um, de
acordo com o valor que achasse justo.
Partimos logo depois do
meio-dia, passamos novamente por Llamac, Chiquian, Catac e outros
vilarejos até chegar a Huaraz às 15h48. A van deixou cada um em seu
hostel e eu fiquei nas imediações da Plaza de Armas para procurar um
hostel melhor e mais central do que o Santa Cruz Trek Hostel.
Nesse dia caminhamos 10,7km.
Total do Circuito Huayhuash: 100,9km.
Eu, Or, Yoav, Joel, Ofri, Robert, Oliver (arrieiro), Henry (guia). À frente: Annie e Teo (guia)
Informações adicionais:
Mapas em escala 1:70.000 do Ministério da Educação:
. de Cuartelwain ao Passo Cacananpunta:
http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367926/ugel_bolognesi_2018.pdf
. do Passo Cacananpunta ao Passo Portachuelo:
http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367933/ugel_lauricocha_2018.pdf
. do Passo Portachuelo ao Passo Tapush:
http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367939/ugel_11_cajatambo_2018.pdf
. do Passo Tapush a Pocpa:
http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367926/ugel_bolognesi_2018.pdf
Alguns sites de agências de Huaraz que fazem o trekking Huayhuash:
.
www.monttrek.com.pe
.
www.andeanskyexpedition.com
.
www.galaxia-expeditions.com
.
www.schelerhuayhuashtrek.com
.
www.andesexplorerperu.com
.
www.enjoyhuayhuash.com
.
www.miradortourshuaraz.com
.
www.k2-peru.com
.
www.activeperu.com
Não
vou indicar nenhuma agência pois penso que cada um deve procurar os
serviços que estiverem dentro das suas expectativas e do seu orçamento. O
nosso trekking foi perfeito, serviço muito bom, mas tem gente que
prefere mais privacidade, caminhando num grupo bem reduzido ou mesmo
somente com o guia e arrieiro. Outros preferem fazer em 9, 10 ou até 12
dias, com menos caminhada por dia e mais tempo para curtir os lugares.
Vale a pena fazer contato com as agências acima e escolher o trekking
que melhor se encaixar no que você procura
Sem querer assustar ou
desanimar ninguém, acho bastante recomendável consultar um
cardiologista ou clínico geral para exames básicos, principalmente de
coração e pulmão, antes de partir para um trekking como esse. As
condições lá são muito diferentes do que temos aqui no Brasil. A
altitude, a baixa temperatura e o ar extremamente seco podem causar
sérios problemas de saúde a quem esteja vulnerável ou agravar algum
problema que já se tenha. Não custa nada se precaver. Em caso de uma
emergência durante o trekking as condições de resgate são precárias e
demoradas demais, e mesmo as rotas de fuga são bastante complicadas.
Quem leu o relato até o final sabe por que estou falando isso. Pense
seriamente nisso!
Rafael Santiago
agosto/2015
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Percurso na imagem do Google Earth |
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Percurso do 2º dia na imagem do Google Earth |
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Percurso do 3º dia na imagem do Google Earth |
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Percurso do 4º dia na imagem do Google Earth (em amarelo) |
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Percurso do 5º dia na imagem do Google Earth (em amarelo) |
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Percurso do 6º dia na imagem do Google Earth (em amarelo) |
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Percurso do 7º dia na imagem do Google Earth (em amarelo) |
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Percurso do 8º dia na imagem do Google Earth (em amarelo) |